O nome e adjetivo tripulante, tal como o nome tripulação e o verbo tripular, ocorre geralmente em referência a quem dirige ou mantém em viagem uma embarcação, um avião ou, até, uma nave espacial, mas não se aplica ao condutor nem ao simples passageiro dum automóvel.
Observe-se que Maria Helena das Neves Moura, no seu Guia de Uso do Português (São paulo, Editora UNESP, 2003), regista tripulação como um «[...] coletivo para pessoas empregadas em uma embarcação ou uma aeronave. • Era um cargueiro de bandeira liberiana e TRIPULAÇÃO italiana que seguia para os Estados Unidos [...]. • O avião tinha uma escala prevista na Namíbia, mas a TRIPULAÇÃO preferiu pousar no Rio para abastecer [...]». Daqui se infere, portanto, que tripulante denota o indivíduo que trabalha num barco ou num avião.
O dicionário da Academia das Ciências de Lisboa (2001), numa visão um pouco mais alargada, que inclui naves espaciais, define tripulante como quem «tripula», isto é, quem «dirige uma embarcação, um avião ou uma nave espacial» ou quem «faz parte do pessoal de bordo». A mesma fonte também não inclui o automóvel entre os meios de locomoção abrangidos pela atividade que o verbo tripular denota: «[tripular] 1. Prover um meio de transporte marítimo ou aéreo de recursos humanos necessários à sua condução, controle ou manutenção; dotar de tripulação. 2. Dirigir um transporte marítimo ou aéreo. ≃ CONDUZIR, GOVERNAR. 3. Desempenhar, alguém, num navio ou avião tarefas que estão relacionadas com determinada função. Cinco homens tripulavam o navio.»
Acrescente-se, no entanto, que tripulante figura também no discurso referente à condução de comboios e autocarros, no que parece constituir um uso marginal do termo, de qualquer modo, limitado à condução e manutenção de transportes públicos (sublinhado meu): «Em Portugal, só os comboios de mercadorias levam dois tripulantes na cabine [...]» ("Acidentes abrem debate sobre as vantagens de um segundo maquinista a conduzir comboios", Público, 12/08/2018); «Quando estiver na paragem e pretender entrar na carreira que se aproxima, sinalize com a sua mão ao tripulante dessa carreira a sua intenção» ["Boas práticas", CARRIS (Companhia de Carris de Ferro de Lisboa); página consultada em 20/10/2018].
Em suma, o nome e adjetivo tripulante não faz parte do vocabulário que define o cenário da condução de um carro de uso particular.