As gramáticas de referência – por exemplo, Celso Cunha e Lindley Cintra, Nova Gramática do Português Contemporâneo, 1984; Eduadro B. Piava Raposo e outros, Gramática do Português da Fundação Calouste Gulbenkian, 2013, p. 897 – incluem quer o pronome vós quer as formas correspondentes da flexão verbal. Não se verifica, portanto, a exclusão de tais formas da descrição linguística nem da exposição das regras gramaticais.
O que parece estar em causa é, sobretudo a partir da segunda metade do século XX, tais obras anotarem que vós não é usado na norma-padrão do português, subsistindo porém no uso dos falares portugueses sobretudo do interior norte e centro. Este aspeto decorre do facto de a norma-padrão ser baseada nos falares urbanos e cultos de Lisboa e Coimbra (hoje, cada vez vez mais Lisboa e grande parte do litoral, e talvez menos Coimbra), nos quais não ocorre vós (a não ser em certos registos, como no discurso de caráter religioso: «Pai nosso, que estais no céu...», como se diz na versão portuguesa do Padre-Nosso). Esta é a modalidade linguística da administração; no ensino, no contexto do português como língua estrangeira, é também a forma que costuma ser transmitida, o que não impede que os professores possam trabalhar tal uso com os seus alunos. Em Portugal, tem toda a legitimidade manter-se no ensino tais formas, sobretudo entre alunos que tenham um falar regional em que perdurem vós e a respetiva flexão.