DÚVIDAS

O verbo tornar-se, outra vez

Consultei este site para encontrar resposta a uma questão que não via respondida em gramáticas nem prontuários.

«Tornar-se em» é algo que lemos frequentemente nos jornais e que soa claramente mal.

A resposta que encontro no Ciberdúvidas aponta como justificação para a correcção da expressão «tornar-se em» o facto de Camões, há 500 anos (e com a liberdade que a poesia, mesmo no seu tempo, lhe conferia), ter escrito, n´Os Lusíadas:

«Que afagos tão suaves, que ira tão honesta,
Que em risinhos alegres se tornam!» (IX, 83).

Gostava de obter uma explicação, se tal for possível, sobre a correcção ou incorrecção da expressão «tornar-se em».

É que sempre pensei que «alguém se transformava num», mas que se «tornava um».

Obrigada.

Resposta

Embora no Dicionário Estrutural Estilístico e Sintáctico da Língua Portuguesa se considere o verbo tornar-se em («puseram o vinho no congelador e ele tornou-se em gelo»), a mesma situação não é considerada no Dicionário da Língua Portuguesa Contemporânea, da Academia das Ciências.

O facto de essa construção surgir em Camões pode considerar-se uma liberdade poética, à semelhança de outras liberdades tomadas por tantos outros poetas e romancistas.

Exemplos: «penso-te...»; «lembro a tarde em que cheguei...»; «esqueci o ramo de flores...»

Tem razão, pois ao verbo tornar, conjugado reflexamente, não se segue preposição; ex.: «tornou-se perigoso»; «tornou-se gente» (= «chegou à idade adulta»).

ISCTE-Instituto Universitário de Lisboa ISCTE-Instituto Universitário de LisboaISCTE-Instituto Universitário de Lisboa ISCTE-Instituto Universitário de Lisboa