DÚVIDAS

Outra vez complemento nominal ‘vs.’ adjunto adnominal (Brasil)

Sei que o tema já foi exaustivamente tratado – e com muita propriedade – neste sítio. Todavia, espero que concordem comigo, é aspecto difícil de nossa língua. Trata-se da velha confusão entre adjunto adnominal e complemento nominal. Na sua Gramática Metódica da Língua Portuguesa, 36.ª edição, o ilustre professor Napoleão Mendes da Almeida escreve na página 423: «“O amor de minha mãe me fortalece." "De minha mãe" pode ser adjunto adnominal e pode ser complemento nominal; no primeiro caso, mãe é o sujeito de amor, isto é, é o amor dela para comigo; no segundo, é o objeto, ou seja, é o meu amor para com ela. Sendo, pois, complemento nominal, dir-se-á, para maior clareza: "O amor a minha mãe me fortalece."»
Entendi o emprego da preposição «a» para maior clareza. Entretanto, quanto à classificação sintática dos termos, essas idéias parecem colidir com aquilo que o mesmo gramático ensina logo abaixo, na mesma página, quando explica que o complemento nominal pode ser um genitivo objetivo ou subjetivo.
Baseando-me também na resposta de Maria Regina Rocha em Ciberdúvidas, em 11/06/2001, pergunto: na frase em questão – seja «a minha mãe» ou «de minha mãe» – não se trata sempre de complemento nominal (se for amor meu para com minha mãe – genitivo objetivo; se for amor da minha mãe para comigo – genitivo subjetivo)?

Resposta

À luz do que diz Evanildo Bechara (Moderna Gramática Portuguesa, p. 453/454), a sequência constituída por amor e uma expressão à direita é uma nominalização cujo valor semântico-sintáctico pode ser posto em correspondência com a sintaxe do verbo amar. Se este verbo se constrói com um sujeito («a mãe») e um objecto directo («o filho»), então as nominalizações «o amor da mãe» e «o amor ao filho» têm ambas complementos nominais, porque estes são «termos argumentais», isto é, são elementos obrigatoriamente associados ao nome. Por outras palavras, ao interpretar a expressão «amor da mãe ao filho», temos um primeiro complemento [como diz o consulente, um «genitivo subjectivo»], equivalente ao sujeito de amar, e um segundo complemento [“genitivo objectivo] que é equivalente ao objecto do mesmo verbo.

Costuma haver dúvidas quanto à função do constituinte que na nominalização corresponde ao sujeito («a mãe ama» = «o amor da mãe»), mas Bechara não vê sentido em considerar o constituinte de função subjectiva como adjunto (idem, pág. 453): «Estando a nominalização presente quer no complemento nominal de função primária subjetiva ("a resolução do diretor ← o diretor resolveu"), quer no de função primária objetiva ("a descoberta da imprensa ← Gutenberg descobriu a imprensa"), não cabe classificar, no exemplo "a resolução do diretor", "do diretor" como adjunto adnominal, enquanto, no exemplo "a descoberta da imprensa", "da imprensa" como complemento nominal.»

Do mesmo modo, não faz sentido que consideremos, em «o amor ao filho», «ao filho» como complemento nominal e, em «da mãe», como adjunto. Em conclusão, em «o amor da mãe», «o amor ao filho» e «o amor da mãe ao filho» temos sempre complementos nominais.

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