DÚVIDAS

Próclise após o "que"

Gostaria de saber em que casos é obrigatória a próclise após a partícula "que" no português de Portugal.
Tenho essa dúvida pois ao consultar Ciberdúvidas vi, por um lado, que na frase "Se a pergunta for difícil, avise-me, que eu lhe enviarei a resposta" (6/7/2001) era possível também utilizar o pronome em posição mesoclítica se a frase fosse dita pausadamente.
Por outro lado, ao comentar as diferenças sintáticas entre o português de Portugal e do Brasil (17/03/1999), afirmou-se que no Brasil há freqüentemente trocas entre ênclise e próclise, em relação ao que é usual em Portugal (ex: que se diz/ que diz-se).
Talvez a colocação pronominal dependa da eufonia da frase, ou de se o "que" tem função de conjunção ou de relativo.

Resposta

O princípio da eufonia é o critério fundamental para a colocação pronominal.
Assim, para o falante europeu é mais agradável o uso generalizado da ênclise (ex.: Empresta-me o jornal.) enquanto para os brasileiros é mais natural a próclise (ex: Me empresta o jornal. Me faz um favor).
De qualquer modo, o padrão culto/escrito, regido pela gramática normativa, obedece determinadas regras de colocação que guardam forte influência do português europeu. Quanto ao que, seja conjunção integrante ou pronome relativo, atrai o pronome oblíquo, na forma da próclise.
Pensei que lhe ofereceriam flores no aniversário. A menina que me chamou era sua aluna.
O uso da mesóclise, no Brasil, é considerado pernóstico, excessivamente formal, mesmo no falar/escrever culto, ficando restrito às formas do futuro do presente e futuro do pretérito, desde que o brasileiro não encontre outra saída, o que freqüentemente ocorre.
A posse de Lula realizar-se- á dia 1/01/03. A posse de Lula vai ser/será no dia 1/01/03.
Oferecer-lhe-ia hospedagem, se tivesse vaga. Ofereceria hospedagem a ele, se tivesse vaga.

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