DÚVIDAS

A colocação do pronome (em Portugal e no Brasil)

Sou estudante de Letras e trabalho com revisão de textos. Já consultei inúmeras vezes o Ciberdúvidas e agradeço pelo ótimo trabalho desenvolvido por esta equipe. Mas apesar de consultar as respostas de colocação pronominal disponíveis no “site”, ainda tenho uma dúvida em relação a um detalhe que não ficou bem esclarecido, pelo menos para mim! Na frase abaixo:

«João, calmo, opõe-se à prorrogação.»

Está correta a colocação do pronome? Por quê? Caso houvesse uma palavra atrativa antes da vírgula, ou seja, a uma certa distância do verbo, é obrigatório a ênclise, ou a próclise também pode ser usada??

Peço encarecidamente que me ajudem a esclarecer esta dúvida.

Desde já agradeço.

Resposta

A sua dúvida tem razão de ser, prezada consulente, no âmbito do português que se convencionou chamar Português europeu: o exemplo apresentado, no que se refere à colocação do pronome, é característico da norma gramatical portuguesa, que, neste aspecto, difere da brasileira. Trata-se, de facto, de uma frase não marcada, isto é, que não está sujeita a mudanças exigidas pelas tais palavras atractivas de que a consulente fala. Nesta situação, em Portugal, na norma culta, diz-se «… opõe-se…», enquanto no Brasil, em igualdade de circunstâncias se dirá «… se opõe…».

Se acontecer existir na frase uma dessas palavras atractivas, deverá, em Portugal, ocorrer a próclise, isto é, o pronome deverá vir para uma posição imediatamente anterior ao verbo, independentemente da distância que se verifique entre a palavra ou expressão e esse verbo [excepto com palavras como o advérbio de negação não, que, quando modifica um verbo, vem sempre próximo dele]. Vejam-se os exemplos:
«O João, calmo, opõe-se à prorrogação.» (frase não marcada)

«O João, calmo, não se opõe à prorrogação.»
«Também o João (, calmo,) se opõe à prorrogação.»
«Dizem que o João (, calmo,) se opõe à prorrogação.»

Note-se que, para que a frase corresponda, efectivamente, a uma frase do Português europeu, eu introduzi o artigo definido antes do nome próprio, uma vez que, pelo contexto, se deduz que este João não é uma figura pública de renome (João Paulo II) nem uma figura histórica (Luís XIV).

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