Sobre um vocativo em soneto de Camões
Deparei-me recentemente com um soneto camoniano, cuja análise sintáctica me suscitou algumas dúvidas, designadamente o seguinte contexto:
«Lembranças que lembrais meu bem passado
para que sinta mais o mal presente,
deixai-me (se quereis) viver contente
não me deixeis morrer em tal estado.»
Gostaria de saber qual a função sintáctica de «lembranças» (v.1). Julgo ser um vocativo, todavia a ausência de vírgula gera algumas dúvidas. A oração principal será «lembranças ... deixai-me viver contente». Pelo meio ficam a relativa e a final. O sujeito da principal só poderá ser um «vós» subentendido, nunca «lembranças», que assim apenas poderá ser um vocativo.
Estarei correcta?
Grata.
