DÚVIDAS

Soneto da Fidelidade: análise sintáctica

Peço-vos para analisarem sintaticamente este lindo poema de Vinicius de Moraes, que p'ra mim virou um tormento. É o Soneto da Fidelidade.

Queria identificar os Termos Acessórios, Integrantes e Essenciais, além de Orações Subordinadas. Só consegui identificar sujeitos e verbos.

Soneto da Fidelidade

De tudo, ao meu amor serei atento
Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto
Que mesmo em face do maior encanto
Dele se encante mais meu pensamento.

Quero vivê-lo em cada vão momento
E em seu louvor hei de espalhar meu canto
E rir meu riso e derramar meu pranto
Ao seu pesar ou seu contentamento.

E assim, quando mais tarde me procure
Quem sabe a morte, angústia de quem vive
Quem sabe a solidão, fim de quem ama

Eu possa me dizer do amor (que tive):
Que não seja imortal posto que é chama
Mas que seja infinito enquanto dure.

Resposta

Já não é a primeira vez que os consulentes fazem perguntas a respeito deste lindo soneto. Não sei se compreendi bem o que pretende. Naturalmente que não quer que se faça a análise sintáctica de todo o soneto, tarefa de grande dimensão, que não cabe numa página destas, pelo que deduzo pretenda saber quais são as orações subordinadas e se elas funcionam, em relação a outras, como termos essenciais, integrantes ou acessórios.

Vou começar, então, por esclarecer estes conceitos. Numa oração, os termos essenciais são o sujeito e o predicado, os termos integrantes são o complemento nominal e os verbais (objecto directo e indirecto, predicativo do sujeito e do objecto, agente da passiva), e os termos acessórios são o adjunto adnominal, o adjunto adverbial, o aposto e o vocativo.

Quando estamos a analisar um período composto em que existem orações subordinadas, estas desempenham sempre uma função sintáctica em relação a outra oração, podendo essa função ser a de um termo essencial (sujeito), integrante (complemento nominal, objecto directo, indirecto, predicativo ou agente da passiva), ou a de um termo acessório (adjunto adnominal, adjunto adverbial ou aposto).

Podemos, então, referir neste soneto as seguintes orações subordinadas:

1.ª que mesmo em face do maior encanto dele se encante mais meu pensamento – oração subordinada consecutiva: é um termo acessório, pois desempenha a função de um adjunto adverbial da oração inicial;
2.ª quando mais tarde me procure quem sabe a morte, angústia, quem sabe a solidão, fim – oração subordinada temporal: é um termo acessório, pois desempenha a função de um adjunto adverbial da oração "eu possa me dizer do amor";
3.ª de quem vive – oração subordinada relativa: é um termo integrante, pois desempenha a função de complemento nominal de "angústia" (da oração na qual se integra);
4.ª de quem ama – oração subordinada relativa: é um termo integrante, pois desempenha a função de complemento nominal de "fim" (da oração na qual se integra);
5.ª que tive – oração subordinada relativa: é um termo acessório, pois desempenha a função de adjunto adnominal de "amor" (da oração "eu possa me dizer do amor");
6.ª que não seja imortal – oração subordinada integrante ou completiva: é um termo integrante, pois desempenha a função de objecto directo da oração "eu possa me dizer do amor";
7.ª posto que é chama – oração subordinada concessiva ou causal: é um termo acessório, pois desempenha a função de adjunto adverbial da oração "que não seja imortal";
8.ª que seja infinito – oração subordinada integrante ou completiva: é um termo integrante, pois desempenha a função de objecto directo da oração "eu possa me dizer do amor";
9.ª enquanto dure – oração subordinada temporal: é um termo acessório, pois desempenha a função de adjunto adverbial da oração "que seja infinito".

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