Caro Barata-Feyo,
Obrigado pela sua chamada de atenção, neste Dia Mundial do Português. Tem toda a razão e o Público continua de parabéns pela sua incansável – e infelizmente inútil, teme-se – luta pela língua, falada e escrita.
Mas… santos de casa não fazem milagres, e numa primeira leitura rápida do jornal deparei-me logo com um erro de Português. Na coluna “Ex-chanceler alemão Schröder abandona petrolífera estatal russa” [20/05/2022] lê-se a dado passo: «[... o Parlamento Europeu pede aos Estados-membros da União Europeia para alargarem as sanções económicas...] a personalidades políticas europeias que estão a ser pagas para promover…»
«Estejam», não «estão»! O conjuntivo está a desaparecer, e grande parte da culpa é dos jornalistas – em menor grau os do Público, entenda-se –, que contribuem activamente para a ignorância generalizada.
Elysio Correia Ribeiro, Lisboa
[N. E. – Carta ao diretor do Público, 22/05/2022, na sequência do artigo "O Dia Mundial do Portinglês", que o jornalista José Manuel Barata-Feyo assinou no referido jornal em 21/05/2022.]
Farto de tropeçar em palavras e expressões inglesas [...] venho aqui desabafar esse meu enfado a propósito da mensagem do ministro dos Negócios Estrangeiros, publicada quinta-feira neste jornal [Públcio, 07/05/2022]. Eis o desabafo: li com sincero apreço, diria até com discreto orgulho a entusiástica mensagem do ministro, que visava celebrar o Dia Mundial da Língua Portuguesa: são inegáveis as «virtualidades como ferramenta de comunicação» da Língua Portuguesa, é notável a sua “plasticidade”, e com isso, mas não só, se tornou ela, no vasto universo dos seus falantes, «uma língua cheia de mundo». Mas ao ler com o devido carinho, também ri – ri à maneira do Caeiro, «como quem tem chorado muito» – por ver a alma (língua) lusa tantas vezes rejeitada onde e quando menos se esperava: digam-me dessa visita ao Quake, tremendo museu e espaço de imersão em Lisboa! Digam-me dessa descoberta do Open house Lisboa 2022, dedicado à promoção do «património edificado, bem como a sua história, de modo a aproximar os cidadãos da cidade» (sic)! E pague por contactless, e trabalhe «em home office» (assim falou quarta-feira um eminente político!), contribuindo dessa forma ao louvável (e eficaz) esforço do processo "task force".
Eu sei que andamos muito precisados do inglês, mas não podemos promover a Língua Portuguesa no mundo desprezando-a cá em casa.
["Cartas ao diretor", Público, em 7 de maio de 2022. Respeitou-se a norma ortográfica de 1945 do original.]
Carta do médico João Xavier de Almeida, transcrita do jornal Público do dia 19 de julho de 2021.
Só venho mesmo cumprimentar. Senti necessidade de encontrar os termos exactos para definir a designação de significado literal das palavras e os eu contexto simbólico, esquecida que estava dos conceitos de denotação e conotação que sabia existirem. A vossa explicação é muito clara.
Obrigada.
P.S.:—Esta necessidade surgiu de uma tentativa, já longa de escrever uns versos para uma canção a pedido dos meus filhos, que querem um texto sobre a Nazaré para musicar. Comecei por criar uma lista de palavras para definir a Nazaré, com âmbitos diferentes, e comecei a arrumá-las segundo um ritmo de acordo com a fonética e com o seu contexto. Conclusão: surgiram várias hipóteses de arrumação e pensei em criar um exercício que consistiria em dar a oportunidade às pessoas de construírem o seu próprio poema.
Para explicar, terei que dizer como surgiu a ideia.
Pediram-me que criasse uns versos para musicar e o tema é a Nazaré (...). Comecei por definir o contexto e fiz uma listagem de aspectos que caracterizam o tema e que podia incluir no texto. Depois fui arrumando em versos, segundo o contexto lexical e uma espécie de cronologia da história da Nazaré. Formulei várias soluções possíveis, jogando com as palavras, mudando a relação entre elas, a sequência, o ritmo (...). Depois fiz uma lista de palavras que definem uma realidade concreta, mas também uma recordação que tem implícita uma emoção pessoal.
O ponto de partida foi o seguinte texto (...):
A Nazaré
É paisagem
Emoção
Recordação
Como onda, como nuvem, como céu
Como barco, como rede,
Como sol, como espaço, como aragem, como vento
Entretanto, fui jogando com as palavras e os conceitos e mudando também os subtemas, digamos assim : além da paisagem, também procurei explorar a tradição , a história, o contexto cultural... Difícil é decidir qual a solução mais adequada e e interessante além do próprio ritmo do texto para musicar (...)
Foi assim que surgiu a ideia de fazer uma oficina com criança e adultos (?) dando o tema e o contexto lexical e a partir dos exemplos, brincar com as palavras arrumando-as de varias maneiras (...).
O consulente segue a norma ortográfica de 45.
Muitíssimo obrigado [a Gonçalo Neves] pela resposta [de 06/11/2020]: longa, detalhada, muito bem pesquisada e com diversas fontes!
Ultrapassou em muito minhas expectativas e minha capacidade e fontes que tive quando tentei resolver essa minha dúvida.
Queridos colaboradores do site Ciberdúvidas da Língua Portuguesa,
Apenas um e-mail para lhes agradecer o excelente trabalho.
Tem sido um deleite consultar aleatoriamente as respostas do site.
Deus lhes pague!
Abraços de usuário entusiasta do Brasil.
Apresentam-se algumas das mensagens enviadas ao Ciberdúvidas da Língua Portuguesa por ocasião dos 23 anos da sua criação, em 15/01/1997.
♦ «Aplaudo e agradeço o vosso excelente trabalho.»
Manuel Malheiros
♦«Parabéns, Ciberdúvidas! Parabéns pelo excelente serviço prestado e pela perseverança!
Que conte muitos – e estejamos cá para ver!»
Ana
♦ «Ao Ciberdúvidas, em todos quantos o integram e generosamente nos apoiam, falantes e escritores da língua portuguesa, muitos parabéns neste dia de festa!
Em particular, por todas as minhas dúvidas sempre esclarecidas, um grande muito obrigada!»
Maria da Fé Peres
♦ «Muitos parabéns!»
Sandra Duarte Tavares
♦ «Parabéns a toda a equipe de Ciberdúvidas por todos estes anos de competência, dedicação e carinho para com a Última Flor do Lácio!»
Fernando Bueno
♦ Parabéns! 23 anos a serviço da língua portuguesa!
Wilton Fonseca
Gostaria de manifestar meu descontentamento com a replicação do artigo "10 expressões racistas que deveríamos tirar do nosso vocabulário", retirado do portal de pseudociências Universa.
O Universa é nada mais que uma seção do portal UOL no qual se publicam baboseiras como horóscopos e se dá respaldo a pseudociências "femininas" como as propriedades mágicas de ovos de pedra inseridos em vaginas e as mulheres que "largaram tudo para serem bruxas em tempo integral". Como era de se esperar tendo em vista o lastimável portal de origem do artigo, não lhe faltam erros e afirmações sem fontes com credibilidade.
O dicionário Michaelis não corrobora as historinhas contadas para atribuir a origem da maioria das expressões mencionadas. O artigo de Vera Menezes trata unicamente da metáfora negro, como em «lista negra», que é milenar e não tem conotação racial (a atribuição de sensações ruins a "escuro" é natural e verificada em inúmeras civilizações. Afinal, não é raro ter medo de escuro, mas não conheço ninguém que tenha medo do claro). Stephanie Ribeiro, por sua vez, é uma arquiteta especialista em escrever textões no Facebook, não em etimologia, linguística ou língua portuguesa. Não é fonte confiável, quer para a origem, quer para o significado, de nenhuma expressão. Denegrir, se de fato tem origem no latim denigrare (não encontrei fontes a respeito e o Michaelis aponta de+negro+ir), evidentemente antecede a própria existência da escravidão moderna e logicamente não tem conotação racial em sua etimologia. Entretanto, é compreensível o desconforto com a expressão nos dias de hoje.
Por outro lado, a etimologia atribuída a criado-mudo aparenta ter sido criada no Twitter ou em alguma conversa de bar de militantes. Não é embasada por nenhum registro histórico ou linguístico e é extremamente inverossímil. Escravos sempre custaram caro. Não é crível que parcela significativa da população tivesse dinheiro para manter um escravo segurando coisas se penduradores e móveis já existem há milênios. Mesmo se o escravo não tivesse custo, ter uma pessoa prestando esse serviço não parece conveniente. Quanto ao "mudo", é muito mais provável que seja referência à quietude do móvel – que não fala! – que ao silêncio que deveria ser mantido pelo escravo (a propósito, imagino que a nenhum escravo doméstico era dado conversar na presença dos donos). Em suma, é mais provável que a origem do termo seja uma simples metáfora.
«Nas coxas», por sua vez, tem a explicação mais absurda desse texto. Não faltam professores e etimólogos explicando que essa expressão tem cunho sexual, não racista. Mesmo que não existisse essa explicação, nenhum historiador jamais registrou essa prática ilógica e estúpida de moldar telhas em coxas.
A explicação de mulata tem respaldo histórico, mas a autora omitiu a controvérsia e a possível explicação segundo a qual o termo vem do árabe.
«Ter um pé na cozinha», embora seja inegavelmente uma expressão racista, possivelmente tenha uma origem muito mais simples e lógica, análoga a «ter um pé na cova». «Ter um pé» seria metáfora para «ser parte». Então, ter um pé na cozinha ou na senzala seria sinônimo de ser parte escravo.
A «cor do pecado», por sua vez, não necessariamente tem a ver com peles "exóticas" ou mulheres negras (até porque é expressão que se usa também para homens), mas com peles bronzeadas. «Fulano está da cor do pecado» pode se referir a uma pessoa branca que tomou sol, por exemplo.
Doméstica, por sua vez, é tão obviamente mera redução de «empregada doméstica», que é espantoso acreditar que uma jornalista tenha caído numa invenção etimológica tão bizarra. Faltou, ainda, a fonte histórica para a afirmação de que as escravas domésticas tinham pele mais clara. Doméstico, por sua vez, significa «de casa», não "domesticado". Exatamente por isso o termo «empregado doméstico» é utilizado na legislação para tratar não somente de faxineiras, cozinheiras, babás e afins, mas também de jardineiros e seguranças residenciais. Questiono a autora sobre qual termo deveria ser usado em sua substituição: «moça que trabalha lá em casa», «secretária», ou outro eufemismo mais esdrúxulo?
[A propósito da resposta A escrita das siglas de três clubes de futebol portugueses ] lamento contrariá-los, mas, o que a prática tinha consagrado durante dezenas e dezenas de anos, como se poderá comprovar na imprensa escrita existente nos respectivos jornais ou nas bibliotecas, bem como nas diversas publicações da especialidade, escrevia-se F.C. do Porto, F.C.P., como aparece na história deste clube, etc.
Poderei anexar, se desejarem, diversa documentação que atesta o que escrevi.
Em boa verdade, a ausência dos pontos é muito recente, por uma questão de preguiça, presumo.
Este é um espaço de esclarecimento, informação, debate e promoção da língua portuguesa, numa perspetiva de afirmação dos valores culturais dos oito países de língua oficial portuguesa, fundado em 1997. Na diversidade de todos, o mesmo mar por onde navegamos e nos reconhecemos.
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