Correio - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
 
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Maria Joãoo Mateus Lisboa - Portugal 1K

Gostaria de saber onde um adulto português pode aprender/aperfeiçoar a sua língua materna. Só encontro o ensino da língua dirigido a estrangeiros.

Obrigado.

Luís Amaral Afonso Lisboa – Portugal 1K

Meu caro senhor Carlos Rocha (18/02/2010)

Como diz, a propósito:

«Em resumo, compreendo as intenções satíricas do apontamento do consulente, mas sobra para mim a ingrata e pouco humorística tarefa de recordar mais uma vez, sem apelo ao ridículo, que os desvios linguísticos são uma boa oportunidade para reflectir sobre a historicidade e o convencionalismo das normas, que não deixam de ser necessárias, não o nego.»

Primeiro o mais importante.

Começo por pedir licença para esclarecer o seguinte, na minha pequenez, e agradecendo o tempo que lhe estou tomando:

Eu, ainda com resquícios de congénita confiança na excelência da generosidade das pessoas, muito embora a experiência em contrário de muitos anos de vida, detectei logo que o tom enfastiado, mesmo agastado, que preferiu tomar tem algo subjacente, não foi por acaso, como seja que de maneira nenhuma me considera um aliado, mas antes um exemplo acabado de assumido impertinente.

Na pretensão, pode afirmar-se, falhei completamente. Eu explico em duas linhas: o povo, com excepção dos jornais, cada vez lê menos: livros não adquire, frequentar bibliotecas, hábito que nunca teve. O que lhe resta? Por dia um par escasso de horas de televisão. E o que se lhe depara aí?

Considera que fica, no seu dia-a-dia, imitando inconscientemente, os eminentes da Nação, mais os comunicadores, mais os comentadores dos futebóis, mais os entrevistadores, com a consciência tranquila de que está absolutamente "no ponto" quanto à Língua, nem lhes passando pela cabeça sequer as bacoradas que estão a absorver epidermicamente. É este o caso e mais nada.

Agora, lá vão algumas notas adrede:

1) O político em causa (zurzido pelo "contexto") é Ricardo Rodrigues, revelo-o só agora, para que não seja acusado de intenções que não as referentes ao estrito contexto (!) da minha consulta. Quando se trata de adivinhar intenções, nunca se sabe a que profundezas vai parar o escrutínio...

2) Das tais intenções de ridicularizar, que me imputa, talvez esteja o amigo a exagerar um pouquinho. É que, afinal, apenas se me pode dar, quando muito, o obscuro papel do garoto de rua, ranhoso, a apontar com o dedo: o rei vai nu. Como deveria ir trajado, como se deveria apresentar, compete inteiramente, e por mérito próprio, a Ciberdúvidas.

3) Sempre ouvi afirmar que o riso é uma manifestação de inteligência, e como não quero passar por estúpido, ou, quem sabe?, desejando esconder que o seja, resulta daí a minha escolha de um tom bem-humorado.

4) Achou a sua tarefa, cito-o, ingrata e pouco humorística. Ora, desde sempre, se evoca o latinismo ridendo castigat mores. No entanto, permita-me a sugestão: é que, se, por vontade própria, optar por esta via, pode ser, quem sabe?, que consigamos que os visados arrepiem caminho e os demais leitores gozem de uma leitura mais amena: estou a lembrar-me a modos como o Cuidado com a Língua!. Não será isso que o meu amigo e eu pretendemos, afinal?

Acrescento, na defesa da minha tese, um pequeno mas significativo pormenor: tive a grata surpresa de ver o Daniel Catalão, logo no dia seguinte à publicação da vossa nota respondendo ao minha consulta, pronunciar polvos (embora tão a medo...) como deve ser. Foi necessário porque os suicidas moluscos teimaram em voltar ao noticiário.

Se o Ciberdúvidas conseguir ser feliz, circunscrevendo a sua acção a ensinar como se designam os habitantes de A-dos-Pardais, ou, cumulativamente, em desenrascar os professores da Língua, atrapalhados com o VOLP e com as chomskices da Gramática Generativa, tudo bem.

Eu, por minha parte, vou tentando também ser feliz...

[...]

Francisco Miguel Valada Bruxelas - Bélgica 4K

Como saberá quem leu o texto do Acordo Ortográfico de 1990 (AO 90), fato e facto mantêm e manterão as respectivas grafias. Ponto final. Não se pode dizer, como disse José António Pinto Ribeiro, no Diário Económico (edição em linha de 6/2/2010)1, que «"Ato jurídico" é fácil, agora "fato" em vez de "facto"...». Não se podem produzir estas afirmações, por um motivo muito simples: fato em vez de facto significa (à luz do texto do AO 90) que o escrevente enquanto falante não pronuncia a oclusiva velar [k]. Trata-se do chamado "critério fonético" e das chamadas "dupla grafia" e “facultatividade”, erros crassos em matéria ortográfica e pedras angulares do AO 90. Recorde-se, no entanto, que, ao contrário da norma do português do Brasil, a norma do português europeu sanciona a pronunciação do c de facto. Logo, facto, sem margem para dúvidas, na norma do português europeu.

Como sabe quem leu o texto do AO 90 e quem comparou as opções técnicas nele inscritas com, entre outras, a teoria de Seymour, há dúvidas e mais que dúvidas «de que as escolhas linguísticas e filológicas tenham sido as mais adequadas» (ed. cit.). Que fazer perante a dúvida sobre a qualidade dum instrumento político? Adoptá-lo? Creio que não e tenho doutrinas para basear a minha asserção: doutrina jurídica e doutrina política.

Como disse o professor Freitas do Amaral (um defensor da regionalização): «Pior do que não ter a regionalização será fazer uma má regionalização, isto é, uma regionalização mal estudada, mal concebida ou mal executada. Bom seria, por conseguinte, que o assunto fosse objecto de um exame sério e profundo; que não se tomassem decisões precipitadas sem base em estudos sólidos de carácter técnico (...) Quando não, a regionalização do Continente português será fatalmente um projecto condenado à partida.»2

Como disse o presidente do Brasil, Lula da Silva, na Cimeira de Copenhaga: «O que nós não estamos de acordo é que as figuras mais importantes do planeta Terra assinem qualquer documento, para dizer que nós assinamos documento.»3

Não se compreende por que motivo, tendo o AO 90 celebrado, no dia 21 de Agosto de 2009, dezoito anos em Diário da República, ainda haja quem hoje confunda facto e fato e que não se tenham tomado em tempo útil medidas para dissipar as dúvidas sobre o facto «de que as escolhas linguísticas e filológicas tenham sido as mais adequadas». É essencial reler a Base IV do AO 90 e é urgente rever as "escolhas linguísticas" nela consagradas.

1  http://economico.sapo.pt/noticias/gostaria-de-ter-varias-vidas_80892.html

2 AMARAL, Diogo Freitas do (2009), Curso de Direito Administrativo, 3.ª ed., Coimbra, Almedina, Vol. I, p. 674

3 “Discurso do Presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, durante sessão plenária de debate informal na Conferência das Partes da Convenção das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP-15) - Copenhague/Dinamarca” (http://www.info.planalto.gov.br/).

Luís Afonso Lisboa - Portugal 1K

Mais um para a lista dos analfabetos:

Tive, já, a oportunidade de apontar um deles: António Costa. Chegou a vez de se lhe juntar um outro político: Alberto João Jardim. Sempre politicamente correcto, Ciberdúvidas considera exagerado/indecente/provocatório que se considere analfabetismo o facto de estes senhores teimarem em pronunciar acordos com o aberto. Que diriam à exigência (condição sine qua non para exercerem a profissão) de os políticos terem de renovar periodicamente a licença de uso e porte do português, nem que fosse apenas ao nível da Instrução Primária da II República?

Maria Dulce Gonçalves - Docente na Universidade de Lisboa - Portugal 1K

Sou investigadora no domínio da Psicologia Educacional, no tema de dificuldades de leitura e escrita. Em termos internacionais, desenvolveram-se desde os anos 40, múltiplas fórmulas para calcular a designada "readability". Existem mesmo ferramentas disponíveis na rede (online)para determinar o grau de dificuldade ou acessibilidade de um texto.Isso permite melhorar o texto, aprender a escrever de forma mais acessível, legível, em função do público-alvo. Em termos educacionais,determinar o grau de legibilidade (alguns usam "leiturabilidade", que não existe, eu preferiria "acessibilidade") pode ser particularmente importante na produção de manuais escolares, na selecção de textos para provas de avaliação ou para procedimentos de investigação. No entanto,ainda não encontrei nenhum estudo ou trabalho que sugira fórmulas de cálculo adaptadas ou desenvolvidas para a Língua Portuguesa. Quando muito, nos poucos estudos que encontrei até agora, os autores limitam-se a utilizar uma das fórmulas para língua inglesa. Mas isso não nos assegura a adequação à nossa língua. Urge produzir normas, urge divulgar este assunto.

Que ajuda me podem dar neste sentido? Sabem de algum procedimento ou estudo disponível?

Mónica Gama (professora de Língua Portuguesa) Leiria — Portugal 2K

Gostaria de vos questionar sobre a forma como um professor de Português deve introduzir o novo acordo ortográfico nas suas aulas. Parece-vos correcto que, a partir deste momento, um docente aluda, sempre que possível, às alterações trazidas pelo novo acordo? E nas fichas de trabalho/de avaliação, deveremos, segundo o vosso parecer, registar, em nota de rodapé, as palavras que sofreram modificações?

No quadro, devemos utilizar as duas formas, por exemplo, directora de turma e diretora de turma?

Respondam-me, por favor, pois, neste momento, sinto que necessito de directrizes para encetar o meu trabalho da melhor forma possível.

Muito obrigada.

Gigi Melo Valente Portugal 2K

Pesquisei na Internet sobre o "português arcaico", porque estou a escrever uma ficção onde vou "transcrever" um documento que ocupa uma página A4 e gostaria, para dar mais verosimilhança, aproximar mais o texto do português escrito do século XV.

Gostaria de receber a vossa ajuda nesse sentido.

Muito obrigada.

Vital Santos Brasil 905

Muito bom esse site, importante ferramenta de informação da nossa Língua Portuguesa.

Abraço.

Francisco Miguel Valada Portugal 1K

«Línguas de cultura como o latim, o grego, o inglês, o francês, o alemão, o espanhol e o italiano estão unificadas há muito tempo» -Deonísio da Silva

Quando Deonísio da Silva diz que "Línguas de cultura como [...] o inglês [...] estão unificadas há muito tempo.",remeto para o que segue em post-scriptum.

[...] O debate em torno do Acordo Ortográfico está longe do epílogo. Mas mesmo que assim não fosse, permitam-me dizer que não seria o texto de Deonísio da Silva a ditá-lo.

P.S.

FONTE: New Oxford Dictionary of English (Oxford University Press, 1998)

theatre(US theater); realize (also –ise); defence (US defense); behaviour (USbehavior); instalment (US also installment); dialogue (US also dialog);cheque (US check); plough (US plow); draught (US draft); gauge (chieflyUS also gage); speciality (chiefly N. Amer. & Medicine alsospecialty); jeweller (US jeweler); sulphur (US & Chemistry sulfur);aluminium /US aluminum); sceptic (US skeptic); tyre (US tire); pyjamas(US pajamas); judgement (also judgment); storey (N. Amer. also story);cosy (US cozy); grey (US gray); dependant (also dependent); endorse (US& Law also indorse); Caesarean (also Caesarian), (US alsoCesarean); diarrhoea (US diarrhea); airplane – North American term forAEROPLANE.

Tiago Geraldo Portugal 987

Não sei se este é o meio adequado, mas não podia deixar de vos dar os parabéns pelo excelente trabalho que têm vindo a desenvolver.

Cumprimentos a toda a equipa.