Queria agradecer a todos aqueles que fazem existir este site!
Maria João Rocha
Lisboa - Portugal
Dizem muitos entendidos que a língua é como a roupa. Conforme a situação se usa. Assim como seria ridículo ir de fraque escalar os Alpes ou ir de botas de alpinista para um casamento, seria também ridículo usar linguagem erudita em situações coloquiais ou populares e vice-versa. Nada mais confuso, nada mais enganador! A comparação é boa, aliciante e sugestiva, por isso ela é extremamente perigosa e tem de ser denunciada, aos quatro cantos.
E por que está errada? A língua é de índole completamente diferente. A comparação, então, só se aplica parcialmente e, por isso, é tão enganadora.
A primeira grande diferença nesta comparação tem a ver com o uso. Geralmente, a roupa se conserva por não usar, e quanto mais se usa, mais se gasta e se deteriora até se ter de comprar uma nova. A língua é completamente ao contrário. Paradoxalmente, se não se usa, gasta-se e deteriora-se. Por outro lado, quanto mais se usa a língua, e se usa bem, mais nova, brilhante e vigorosa fica.
A segunda diferença tem a ver com a estrutura. A língua tem uma estrutura orgânica, mais parecida com o corpo humano do que com a roupa. De alguma forma, a gramática é o seu esqueleto. Ora, alguém, normalmente, pensa mudar de esqueleto, conforme as circunstâncias? Loucura!
A primeira conclusão que podemos tirar é de que devemos incentivar o uso do núcleo da linguagem erudita e ensiná-la desde a tenra idade, e não confundir as pessoas com padrões diversos: focar, ensinar e disseminar o padrão, e referir e explicar os desvios. Como diz o velho ditado “Para baixo todos os santos ajudam”. A vida encarregar-se-á de ensinar os desvios a cada um, que saberá encaixá-los no seu quotidiano. Só o uso frequente e o respeito por um padrão erudito nuclear aumentará a eficiência linguística e a comunicabilidade sem ambiguidade e confusão.
A segunda conclusão é de que se deve insistir no núcleo do padrão da linguagem erudita na grande maioria das situações. Isto não impedirá o uso de qualquer desvio em qualquer circunstância, pelo contrário, este terá um novo sabor se tivermos claro o padrão. Da mesma forma isto não será um desrespeito pelas diferenças. Antes, quanto mais claro, eficiente e unívoco for o idioma de intercomunicação, melhor repararemos nas diferenças regionais, sociais, etc, e as saborearemos e partilharemos, sem confusões.
Deste modo, não tem sentido, por exemplo, o fato de que são muito raros os filmes brasileiros onde seja respeitado o padrão linguístico exigido numa prova de vestibular; mesmo em filmes dublados, estrangeiros e referentes a épocas antigas.
O que muitos desses senhores que desejam a confusão querem, eu sei o que é: que o povo ande com roupa na língua, enquanto eles, com a sua nua e agitada, chicoteiam as massas, dominando-as. E àqueles que não conseguem dominar, entretêm-nos com atividades culturais, onde os elogios recíprocos os anestesia da situação atual do idioma, ou lhes dá uma falsa esperança de que essas atividades vão contribuir alguma coisa para a elevação cultural do povo.
Não tenho dúvidas: não há emancipação sem emancipação linguística. Não há igualdade de oportunidades sem a mesma fluência no padrão nuclear linguístico, para todos.
Como me defendo dos espanhóis quando dizem «não há uma Academia da Língua Portuguesa que imponha ou dê preferência a um uso»? Respondo-lhes que há uma norma/forma padrão mas que respeita/não ignora o processo de evolução do uso da língua?
É tão desconfortável viver com a existência de várias possibilidades de uso, umas agradáveis a uns e outras, a outros mas que são estranhas para os primeiros!
Talvez a solução seria divulgar aos nativos as várias formas para evitar discriminações/falta de respeito entre nativos e entre nativos e estrangeiros. Incomoda muito que estejam sempre a corrigir-nos.
Grata pela atenção de sempre.
Na resposta a «O adjectivo relativo ao rio Tamisa (Inglaterra)» menciona-se, na bibliografia consultada, o «Dicionário de Gentílicos e Topónimos». Como confiar nele se contempla, por exemplo, "Toscânia", "Túnis" e "Trípoli" ou "lourenço-marquino" como gentílico de Maputo? (Os Maputenses não reclamam?) Mais: "Seycheles" (só arquipélago) tem os gentílicos seychellense e "seichelense"; Gibraltar tanto pertence à Europa como à Espanha; Guam ilha é na "Oceania", mas Guam região é na Oceânia; "Urais" dá uralense; Genebra pertence à "Suiça", e o Kosovo pertence à Sérvia e Montenegro... Tem erros, gralhas e lacunas que bastem para não poder ser referência. Concordam?
Curioso!
[Deparo-me com uma] entrevista, no jornal Metro [Lisboa, Portugal], ao famoso autor de banda desenhada Seth MacFarlane:
«Porque é que em Family Guy as personagens portuguesas falam com sotaque brasileiro? Não há muitos portugueses em Hollywood à procura de trabalhos como actores de voz... E é engraçado que ninguém no nosso “staff” consegue distinguir o sotaque. Espero que sirva de desculpa aos nossos espectadores portugueses, que estão, certamente, ofendidos pelo nosso retrato desrespeitador da sua cultura.»
Continuação do bom trabalho!
Gostaria de receber endereços para pesquisas de teses digitalizadas, assim como de obras na área de Linguística (principalmente Morfologia/Lexicologia/Lexicografia) em Portugal.
Tenho verificado muitas teses interessantes nessas áreas e gostaria de acessá-las integralmente.
Obrigado.
Vejo isto constantemente na minha profissão, e tal, devo confessar que
me intriga e me deixa deveras perplexo:
«As actividades do Outsourcing de Serviços incluem: (1) Business Process Outsourcing ; (2) Outsourcing de Infra-estruturas Informáticas; (3) Contact Centers e (4) IT Consulting.»
Extraído do sítio da rede de uma grande empresa portuguesa.
Isto é prática comum neste mercado! Estarão as novas tecnologias a defraudar os fundadores do português através de diversas gerações?
Até no espaço cibernético grafamos no navegador da rede "Ciberduvidas", e não Ciberdúvidas.
A que se deve a ausência de caracteres acentuados no espaço cibernético?
Gostaria de apresentar a toda a valorosa equipa do Ciberdúvidas as minhas condolências pela morte do nosso querido Fernando Venâncio Peixoto da Fonseca, grande erudito e grande consultor do Ciberdúvidas. Eu mesmo sou um devedor do Sr. Fonseca, pois várias das consultas que fiz a esse áureo consultório de língua portuguesa foram respondidas por ele. A sua concisão nas respostas era algo muito bonito.
Que Deus o tenha em muito bom lugar! Descanse em paz!
Muito obrigado.
Zeinal Bava, presidente do conselho de administração da Portugal Telecom, teve esta intervenção na Comissão de Ética, Sociedade e Cultura da Assembleia da República1, que até já mereceu notoriedade no YouTube. Mais do que justificada: toda aquela fluência sobre a aposta da sua empresa na "portugalização" (!?) dos seus conteúdos, mas como se estivesse a falar para… anglófonos. Monoplay para aqui, doubleplay para ali, spinoff para acolá... Enfim, um tristíssimo exemplo do linguajar de certas (ditas) elites deste pobre país que nem a sua própria língua já prezam.
1Dia 10 de Março de 2010.
O que vou colocar aqui não é uma dúvida, mas achei que vós, Ciberdúvidas da Língua Portuguesa, me poderíeis ajudar.
Frequento o 10.º ano, no curso de Ciências e Tecnologia, e gostava de que aconselhassem uma gramática com bons exercícios (da TLEBS nova) de Português.
Obrigado.
Este é um espaço de esclarecimento, informação, debate e promoção da língua portuguesa, numa perspetiva de afirmação dos valores culturais dos oito países de língua oficial portuguesa, fundado em 1997. Na diversidade de todos, o mesmo mar por onde navegamos e nos reconhecemos.
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