DÚVIDAS

Plural de palavras em -ão: analogia com o castelhano

Sobre o plural de substantivos terminados em -ão, objeto de recentes consultas, gostaria de propor uma fórmula para uso daqueles que alguma intimidade têm com a língua espanhola.

Quando a tradução da palavra portuguesa para o castelhano resultar em vocábulo terminado em -ón (canção-canción; coração-corazón; nação-nación), é quase certo que o plural seja -ões.

Nos casos em que a tradução for uma palavra terminado em -án ou –na (alemão-alemán; capitão-capitán; pão-pan), boa possibilidade haverá de que o plural do vocábulo português termine em -ães.

Finalmente, quando a terminação espanhola for -ano (cidadão-ciudadanos; cristão-cristiano; irmão-hermano; mão-mano), a palavra portuguesa terá seu plural com -ãos.

Exceções haverá (verão-verano, plural "verões", muito embora se admita "verãos"), mas suponho que a analogia com o castelhano, na forma acima proposta, funcionará como regra em mais de 99% dos casos.

Obrigado.

Resposta

É uma boa sugestão, prezado consulente. Obrigada pelo contributo.

O castelhano e o português são línguas românicas, portanto com a mesma origem: o latim. Na evolução do latim para estas línguas, uma das marcas de distinção entre o castelhano e o português consiste precisamente na ditongação das terminações nasais das palavras em português a partir do século XV, enquanto no castelhano se mantém o n intervocálico ou as terminações -na e -on.

No período galaico-português da nossa língua (sécs. XII a XIV), podemos observar as terminações nasais em -om e -am ainda não ditongadas: “razom” (razão), “multidom” (multidão), “pam” (pão). A partir do século XV verifica-se a uniformização destas terminações no singular (no ditongo -ão), havendo no plural três ditongos (-ãos, -ães e -ões), reveladores da diferente etimologia: mãos (< manus), pães (< panes), leões (< leones). Costumamos ensinar precisamente que os diferentes ditongos no plural decorrem da etimologia.

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