DÚVIDAS

Novo acordo, consoantes mudas, semiaberto, valor

Aqui d'El-Rei!!
Foi-me ensinado por Gaspar Machado e al. de igual valôr (como ao tempo se escrevia), já lá vai tempo (serão sessenta anos?) que as letras "não lidas", p. ex. "P", "c", etc.,
– BaPtismo, coreCção, ... – além do mais, serviam para abrir as vogais (que as antecediam).
Hoje, D' Silvas Filho perora, mas quanto a isto nada diz, antes pelo contrário; ipsis verbis: "semi- aberto".
Quem tem razão?
Será que "mudam-se os tempos, mudam-se ..." e, assim, ambos estariam correctos!
Quid iuris?!

Resposta

Sessenta anos é muito tempo na evolução da língua. Aprecio as suas observações, mas peço que atenda a que temos de viver no presente. Os conhecimentos da humanidade estão agora a duplicar em poucos anos, num crescimento exponencial (os processadores mudam quase todos os anos...).
Na língua somos mais respeitadores da história das palavras, mas a mudança acontece com as várias gerações de falantes, quer queiramos quer não.
É muito curiosa a análise ortográfica do excelente texto (1931) de Fernando Pessoa, com o título A Minha Pátria é a Língua Portuguesa, posto em linha pelo Ciberdúvidas, na Antologia. Repare-se que as proparoxítonas não são acentuadas (o que certamente fará pensar quem julga hoje o acento indispensável...). E repare-se também nas seguintes diferenças: palavras com dois ll, *`chóro, teem, noute, creança, idéas, ideas, ha, instincto, magua, symphonica, incommodassem, portuguez, syntaxe, orthograhia, escripta´; e, sobretudo, a intransigente frase (sic): «a orthografia sem ípsilon, como escarro directo que me enoja independentemente de quem o cuspisse.»...
Pouco tempo depois deixou de se escrever assim, e o ípsilon foi mesmo abolido, não obstante o escândalo (não só de Fernando Pessoa...).
A língua muda, muda mesmo... E, quanto à sua observação de base, repare que, em accionar ou didactismo, o c não abre nada a vogal; como não serve também para nada em didáctico. Da mesma maneira que na palavra `escripta´ de Fernando Pessoa, o p não fazia nada e foi abolido. Devemos respeitar a história da língua, mas, qualquer que seja a nossa idade, um espírito que se deseja sempre jovem não fica parado no tempo, senão a comunicação com os mais novos torna-se difícil.
Mais um exemplo: se consultar dicionários actualizados, reparará que, contrariamente ao que escreveu, agora se grafa valor sem acento, e semiaberto como eu escrevo, o que parece censurar...
Quanto ao novo acordo, sublinho, como já tenho dito, que o defendo não porque aprecie as suas virtudes técnicas (desejaria uma reforma mais profunda, também na linha de pensamento do Prof. Dr. Peixoto da Fonseca). Faço-o unicamente porque traz maior unificação, conveniente na comunicação global e indispensável para uma franca universalidade da comum língua de oito pátrias.

Ao seu dispor,

ISCTE-Instituto Universitário de Lisboa ISCTE-Instituto Universitário de LisboaISCTE-Instituto Universitário de Lisboa ISCTE-Instituto Universitário de Lisboa