DÚVIDAS

Sobre a Academia das Ciências de Lisboa

Gostava imenso que dissessem qual é a postura da Academia das Ciências de Lisboa ante questões polémicas/temas controversos. Os meus alunos espanhóis questionam a existência destas questões havendo uma academia da língua portuguesa. Entendo que eles não queiram ou não tenham tempo de reflectir sobre estes temas.

Poderiam exemplificar isto falando do plural dos substantivos compostos? Se calhar há outro tema mais apropriado para responder à minha dúvida. Fiquem à vontade.

Por falar nisto, como os exames oficiais de língua portuguesa deveriam tratar tais situações?

Desde já agradeço imenso a vossa resposta.

Resposta

Em relação à Academia das Ciências de Lisboa, só consigo dar conta daquilo que se lê nos respectivos estatutos, disponíveis em http://academiadascienciasdelisboa.freehostia.com/joomla/:

«Artigo 4.º

São finalidades da Academia:

a) Praticar e incentivar a investigação cientifica, sempre que possível e necessário de forma interdisciplinar, e tornar públicos os resultados dessa investigação;

b) Estimular o enriquecimento e o estudo do pensamento, da literatura, da língua e demais formas de cultura nacional;

c) Promover o estudo da história portuguesa e suas relações com a dos outros povos e investigar e publicar as respectivas fontes documentais;

d) Colaborar em actividades de educação e ensino e fomentar a sua difusão e aperfeiçoamento;

e) Elaborar os pareceres que o Governo e outros serviços nacionais lhe solicitarem;

f) Participar no intercâmbio cultural com os países estrangeiros em espírito de aberta cooperação;

g) Contribuir, através da investigação, da extensão cultural e da discussão de ideias, para a valorização do povo português em todos os aspectos.

Artigo 5.º

A Academia é o órgão consultivo do Governo Português em matéria linguística.»

Nos estatutos, pode ainda ler-se no artigo 17.º que as sessões das classes académicas (a Academia tem duas classes, a de Ciência e a de Letras) podem ter por objecto «quaisquer outros assuntos que o presidente da classe, por iniciativa sua, por solicitação do presidente da Academia, ou de qualquer dos membros da classe, entenda dever submeter à discussão».

Parece-me que a conclusão a tirar, pelo menos, destes artigos é a de que a Academia das Ciências de Lisboa intervém em questões linguísticas e gramaticais controversas quando é instada a tal ou quando um dos seus membros decide manifestar-se directa ou indirectamente. Vemos, assim, que as suas funções são bem diferentes das atribuídas à Real Academia Espanhola (RAE), que tem explicitamente a  missão de velar por que as necessidades expressivas e comunicacionais dos falantes não quebrem a unidade da língua espanhola (cf. Breve História da RAE, em http://www.rae.es/rae.html).

Quanto aos compostos, os formados por dois nomes são bem um caso ilustrativo de como há falta de critérios claros e beneficiariam certamente com a intervenção esclarecida dos especialistas em Filologia e Linguística da classe de Letras da Academia das Ciências de Lisboa. Neste momento, ao que julgo, não se sabe ainda se e quando tais especialistas intervirão directamente na fixação da grafia destas ou de outras palavras, conforme o novo acordo ortográfico.

Finalmente, parece-me que o procedimento a adoptar em exames nacionais a respeito de áreas linguísticas menos padronizadas será o de alguma tolerância na avaliação do erro, tendo em conta os dados da descrição do uso linguístico, pelo menos, enquanto não houver intervenção que fixe a(s) forma(s) correcta(s).

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