A redação proposta teria sido mais adequada, uma vez que, como demonstra o consulente de forma certeira, «massacre judaico» é uma expressão ambígua. Com efeito, pressupondo o verbo massacrar, que tem sujeito e complemento direto («alguém massacra alguém»), o substantivo massacre pode ocorrer com um complemento suscetível de tanto remeter para o autor do massacre como para a sua vítima; tal complemento pode ser expresso por um adjetivo relacional como no exemplo em questão – judaico. O contexto e a informação enciclopédica levam-nos a favorecer mais uma leitura do que outra: se falarmos do Portugal quinhentista, da Rússia dos pogroms ou da Alemanha nazi, a expressão «o massacre dos judeus» refere-se inevitavelmente a vítimas de nação e confissão judaicas. Mas, se se atender ao conflito israelo-árabe a partir de 1948, e mesmo sabendo que muitos judeus continuam a ser vítimas, já é mais provável que outros judeus passem a ser autores de massacres.
Seja como for, o substantivo massacre também aceita um segundo complemento, introduzido pela preposição por e de valor agentivo, que desambigua tudo, como se ilustra em «o massacre dos judeus pelos cristãos de Lisboa». Neste exemplo, não restam dúvidas de que, mesmo que se faça a substituição de «dos judeus» por «judaico» («massacre judaico»), foram os judeus as vítimas, e não os lisboetas que iam à missa.
Cf.: Sobrenomes Judaicos (Sefarditas) em Portugal e no Brasil