DÚVIDAS

A formação de microcefálico

Como devo classificar a palavra microcefálico quanto ao seu processo de formação? A dúvida surge relativamente ao elemento micro, que surge na gramática de Mira Mateus como um prefixo avaliativo (pág. 964), quando me parece estar perante um caso de composição morfológica.

Resposta

Trata-se de uma palavra que à sua forma-base – cefálico – acrescenta o prefixo micro-. Celso Cunha e Lindley Cintra (Nova Gramática do Português Contemporâneo, 1984, p. 115) incluem micro- entre os pseudoprefixos1, que na prática se comportam como os prefixos. Esta perspetiva permite, portanto, encarar microcefálico como um derivado prefixal.

Contudo, há também fontes que classificam micro- como um radical que figura em vários compostos; tal é a posição do Dicionário Eletrônico Houaiss (edição de 2001), que regista micro- como elemento de composição: «antepositivo [...] na [significação] original de "pequeno", "curto" (não raro antonimizada com macro- ou mega- e megalo-, "grande", em meio de cujos pólos ocorre, por vezes, meso-, "meio", "médio", como em microcéfalo, "de cabeça pequena ou diminutiva", mesocéfalo, "de tamanho médio de cabeça", e macrocéfalo, "de cabeça grande"); ocorre em vocábulos em geral da terminologia científica, do sXIX em diante [...].»

Refira-se ainda a perspetiva da gramática de Mateus et al. (2003), à qual não é necessário recorrer, pois, embora proponha um tipo de análise dos diminutivos que é válida e adequada teoricamente, não é a praticada nos ensinos básico e secundário de Portugal. Com efeito, o Dicionário Terminológico, que se destina a esses níveis de escolaridade, prevê os derivados prefixais e os compostos morfológicos, mas não contempla a existência de prefixos avaliativos.

1 «Os pseudoprefixos caracterizam-se: a) por apresentarem um acentuado grau de independência; b) por possuirem «uma significação mais ou menos delimitada e presente à consciência dos falantes, de tal modo que o significado do todo a que pertence se aproxima de um conceito complexo, e portanto de um sintagma"; c) por terem, de um modo geral, menor rendimento do que os prefixos propriamente ditos» (Cunha e Cintra, 1984, p. 114).

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