Aberturas - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
 
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Por Ciberdúvidas da Língua Portuguesa

1. O Carnaval, com lugar a 16 de fevereiro, não dará no ano de 2021 lugar aos tradicionais desfiles que mobilizam multidões, em Portugal e sobretudo no Brasil. Cancelados devido à pandemia de covid-19, os desfiles serão, no máximo, virtuais.  As festas que alegram os foliões ficam também adiadas à espera de dias mais felizes e mais saudáveis. Esta é mais uma data festiva que ficará por celebrar a bem do controlo da doença. Em Portugal, terá início a 15 de fevereiro o Estado de emergência XI, que se prolongará até ao dia 1 de março, deixando no ar a certeza de que o desconfinamento global ainda não está próximo, para além de que as tradicionais festividades da Páscoa estão, à partida, comprometidas. O novo Estado de emergência traz ainda novidades relacionadas com a venda de livros, o ruído em zonas habitacionais e o regressos às aulas presenciais. Não obstante, a manutenção de medidas restritivas continuará a imperar, em muito devido à proteína E484K, já identificada na variante brasileira (ou P1), na variante sul-africana (ou B.1.351) e numa mutação da variante inglesa (ou B.1.1.7, também conhecida como variante de Kent), uma evolução que tornou o vírus muito mais contagioso e que poderá vir a ser responsável por um aumento exponencial da positividade. As palavras / expressões assinaladas constituem novas entradas no glossário A covid-19 na língua. A estas juntam-se ainda «Arma principal», Consensualização científica,  Coronafobia, Demência, (Dois)  fatores de risco, E@D, Erasmus, IPST, Linhas vermelhas, Livrarias, «[A] mão ...»... e «o pé na mola», Dois mil/dia, [A] mortalidade em contexto hospitalar, MRR, Novas variantes, 70 por centoSuperdisseminadores, Taxa de transmissão, Unidades de retaguardaVentilação não invasiva e Sobrantes.

A chegada da época de Carnaval constitui um excelente motivo para recordar alguns textos / respostas relacionadas com o tema, já publicadas no Ciberdúvidas: «"Enfezar o carnaval": etimologia, mais uma vez», «"Enfezar o carnaval": etimologia», «O Carnaval e o futebol são o ópio do povo», «Natal, Carnaval, Páscoa: palavras variáveis», «Do Carnaval ao futebol», «Partidas de Carnaval», «O grandioso desfile do verbo haver» e «Portugal, Alentejo, no Carnaval»

2. A grafia incorreta do termo bojarda (que foi grafado com -u-), num artigo jornalístico, motiva a primeira dúvida constante na nova atualização do Consultório. De natureza ortográfica é também a questão associada à palavra oleo-hidráulico. Noutro plano, é sabido que a identificação de funções sintáticas oferece, não raro, dificuldades de diversa ordem, o que justifica que se regresse à distinção entre modificador (do grupo verbal) e complemento (oblíquo). Neste plano também, analisa-se uma estrutura clivada e a natureza das orações que seguem os advérbios felizmente sempre. Ainda uma resposta que trata a diferença entre as palavras estrategoestrategaestrategista e uma outra que aborda a fórmula de despedida «até mais». Por fim, esclarecem-se aspetos da sintaxe do verbo alugar

3.  A história da primeira reforma ortográfica proposta por José Medeiros e Albuquerque à Academia Brasileira, em 1907, está na base da obra de Cândido de Figueiredo, intitulada A ortografia no Brasil. História e Crítica, que se recorda num texto de divulgação disponível na Montra de Livros. 

4. As palavras sacrilégio, lenha e colega estão na base do apontamento do professor João Nogueira da Costa, onde se explica que todas têm na sua raiz o verbo latino legere

5. O Núcleo de Toponímia do Departamento do Património Cultural de Lisboa passa em revista um conjunto de topónimos lisboetas de origem religiosa, não esquecendo também a justificação mítica para a existência das sete colinas na cidade (texto divulgado originalmente na página de facebook do projeto e aqui transcrito com a devida vénia). 

6. A professora universitária e linguista Margarita Correia traz para a ordem do dia a questão das mulheres com funções executivas em lugares cimeiros, o que lhe permite apontar razões para o facto de a percentagem de mulheres nestas funções se encontrar, em Portugal, abaixo da média da União Europeia (artigo publicado no Diário de Notícias e aqui transcrito com a devida vénia).  

7. Entre as notícias relacionadas com Angola, destaque aqui para as seguintes: 

— Lançamento das obras Cultura do Provérbio e Frases de Alteza Simbólica, do Padre Belchior Tchihópio;

Encerramento de diversas livrarias, sobretudo na cidade de Luanda, devido a uma conjugação de fatores que alia a pandemia aos baixos índices de leitura no país;

— A tradução para turco da obra completa do escritor e político António Agostinho Neto.

8. Um estudo desenvolvido por investigadores da Universidade do Minho aborda as diferentes variáveis associadas à colaboração ativa na produção de conteúdos para a Wikipédia. Entre os resultados do estudo preliminar destacou-se o conflito assente na variante do português usada, a baixa participação de mulheres e a possibilidade da manipulação da informação divulgada (notícia aqui, transcrita com a devida vénia do jornal Público).

9. Entre as notícias de atualidade, destacamos: 

— O projeto de apoio escolar online da rede DLBC (Associação para o Desenvolvimento Local de Base Comunitária de Lisboa), que tem como fim auxiliar alunos em risco de insucesso escolar, através da disponibilização de meios materiais e de programas de acompanhamento educativo.

— A realização da quinta série de Histórias BLX em formato online intitulada «Com uma Lenda por dia não sabe o Portugal que descobria», onde, a cada programa, se exploram duas lendas de cada distrito de Portugal (incluindo as regiões autónomas) em episódios que estarão disponíveis no Facebook e no YouTube, de segunda a sexta feira às 11h00 (a partir de 15 de fevereiro).

— O recrutamento de mais de uma centenas de professores para o ensino do português em Timor-Leste. Estes iniciarão funções em meados de março (notícia aqui). 

10. Outros registos:

— Em 13 de fevereiro, assinala-se o Dia Mundial da Rádio

Recordem-se algumas publicações relacionadas com a temática da rádio: «Radiodespertador vs. rádio-despertador», «Rádios-piratas», «Zigzag - rádio portuguesa ou rádio francesa», «A rádio e o rádio», «O português na rádio e na TV», «Falar mal na rádio e na TV», «Radiouvinte», «Pela língua portuguesa, na rádio e na televisão».

— Também em 13 de fevereiro faz 115 anos do nascimento do pedagogo, filósofo, ensaísta Agostinho da Silva.

— Em 14 de fevereiro, celebra-se o dia de São Valentim (o Dia dos Namorados). 

 Também o Dia dos Namorados tem motivado diversos textos no Ciberdúvidas: «Origem e significado do nome Valentim», «Qual a origem das palavras «coração», «amor» e «desejo»?», «Filipina: etimologia», «Enamorado namorado».

11.  Nos programas produzidos para a rádio pública pela Associação Ciberdúvidas, pode acompanhar-se uma entrevista a Joice Elói Guimarães* e passa-se em revista a obra da linguista Maria Fernanda Bacelar do Nascimento** (e ainda a apresentação da nova coleção Uma língua com vista para o Mar, Estudos de Língua Portuguesa e a crónica da professora Carla Marques sobre o termo covid e a família de palavras que está a gerar).

* No programa Língua de Todos, emitido pela RDP África, na sexta-feira, 12 de fevereiro, pelas 13h20* (repetido no dia seguinte, depois do noticiário das 09h00*).

** No programa Páginas de Português, transmitido na Antena 2, no domingo 14 de fevereiro, pelas 12h30** (com repetição no sábado seguinte, 20 de fevereiro de, às 15h30**)

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1. Apesar dos muitos computadores em falta e dos problemas de conectividade, as escolas portuguesas retomaram a atividade em 8 de fevereiro p. p., com recurso ao ensino à distância, após uma interrupção de duas semanas. É um acontecimento de grande projeção mediática, assinalando-se que o regime de aulas não presenciais se confronta com opiniões desfavoráveis (ler aquiaqui e aqui), entre constrangimentos técnicos e disrupções em família. A vida prossegue, portanto, em (infernal?) confinamento, enquanto a luta contra a pandemia se revela extenuante, não só no caso dramático dos hospitais mas até em teletrabalho, devido aos abusos da teledisponibilidade. Este é um dos termos incluídos no conjunto de 12 novas entradas no glossário A covid-19 na língua: antivacinas, astronautas,  «autópsias virtuais», boxes, ECDC, «fervores crepitantes», «hipóxia feliz»,  «não deixes o vírus entrar», oxímetro, procedimentos post-mortem, e «tsunami de mortes».

2. Sobre as variantes concorrentes «ensino à distância» (com contração à) e «ensino a distância» (só com a preposição a), assinale-se que quem ouviu os vários professores entrevistados pela Antena 1 em 8 de fevereiro terá notado que praticamente todos eles fechavam o a, mesmo os docentes de Português, assim optando por «a distância», apenas com a preposição a. Como aqui foi apontado, encontram-se bons argumentos (históricos, lógico-semânticos, referenciais) para aceitar ambas as formas da locução; contudo, importa também seguir o uso, que uma amostra constituída por um programa de rádio, muito limitada e, portanto, não conclusiva, pode, no entanto, ajudar a definir.

3. Contrariando a obrigação do confinamento, sonha-se com a palavra liberdade, cuja definição pode gerar conflitos e doutrinas, como sejam o libertismo, por um lado, e o libertarismo (ou libertarianismo), por outro. No Consultório, comentam-se estes três termos, além de se abordarem quatro outros tópicos: a relação do pronome relativo que com a anáfora linguística; a colocação de vírgula antes da preposição com; o uso de faz em expressões de tempo; e a pronúncia do topónimo português Baguim.

4. Falando de catástrofes, por exemplo, do acidente nuclear de Chernobyl (1986), é previsível empregar o verbo evacuar, mas não é inevitável produzir frases erradas como «vinham colunas com pessoas "evacuadas"». No Pelourinho, regressa-se à sintaxe e à semântica corretas de evacuar num apontamento de Sara Mourato.

5. Para interpretar um poema basta lê-lo com atenção? O docente brasileiro Roberto Lota deu a resposta num artigo saído no mural de Língua e Tradição (Facebook, 05/02/2021), que também passa a estar acessível na rubrica Ensino.

6. Em Angola, «o português é a língua oficial em Angola» (art.º 19 da Constituição da República de Angola), mas este português não é o praticado pela população e é preciso haver uma política línguística. Esta é a opinião que o docente universitário angolano Nelson Soquessa expõe em artigo publicado no jornal O País (06/02/2021) e transcrito com a devida vénia em O nosso idioma. Na mesma rubrica, outro tema também relacionado com a história política e cultural portuguesa: em vídeo, a sessão de 14/01/2021 da Classe de Letras da Academia das Ciências de Lisboa, na qual foi orador o linguista, crítico literário e escritor Fernando Venâncio, com uma comunicação intitulada "Como pôde o português castelhanizar-se, e sobreviver?".

7. Os jornais dão precioso testemunho da vida de um país. Para incentivo ao conhecimento de Angola e da sua vida cultural, dá-se conta de notícias do jornal angolano O País: a tradução, para turco, da obra poética de Agostinho Neto (29/01/2021);  o desaparecimento das livrarias tradicionais em consequência da crise financeira e da falta da cultura da leitura (30/01/2021); e, pela editora angolana Chela, a publicação  de Cultura do Provérbio e Frases da Alteza Simbólica, do vigário Belchior Tchihópio, que assina sob o pseudónimo Kandimblé.

8. Finalmente, dois registos de igual significado cultural: em São Paulo, a confirmação da reabertura do Museu da Língua Portuguesa, provavelmente em julho; e, em Lisboa, a leitura é boa maneira de suportar o confinamento estrito, e a rede de bibliotecas da cidade (BLX) tem uma solução, o serviço BLX à sua porta, que traz a biblioteca ao domicílio de cada um.

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1. Em Portugal, enquanto se recebe assistência médica externa, descem ligeiramente os números da pandemia, e a comunicação social parece apontar para a referida redução ser correlativa do fecho das escolas. Nestas prepara-se o retomar das aulas, mas à distância, a partir de 8 de fevereiro p. f., no meio de grande discussão quanto à disponibilidade e à acessibilidade dos meios informáticos (ler aquiaqui e aqui). Entretanto, acumulam-se relatos sobre as vivências deste drama, por exemplo, entre os pacientes que sobrevivem, como aconteceu à médica e ativista Isabel do Carmo – que, entrevistada pelo jornalista Vítor Gonçalves (Grande Entrevista, RTP 3, 03/02/2021), fala com "um saber de experiência feito" das ciladas do novo coronavírus e salienta a importância do Serviço Nacional de Saúde. Destas e doutras situações, são reflexo as novas entradas no glossário "A covid-19 na língua":  Abdala, «ditadura da covid-19», Ivermectina, Mambisa, museus, PIB, passaporte de vacinação, porta a porta, «sinais de alarme», Soberana I + Soberana II, Tapsigargina task force.

2. São seis os novos tópicos abordados no Consultório: um teste para distinguir dois tipos de oração relativa; a ambiguidade da frase «quem se humilha será exaltado»; a preposição desde, a par da locução conjuntiva «sempre que»; o significado e o aportuguesamento do anglicismo interrobang; a  etimologia do topónimo Candão (Oliveira do Hospital); e o uso da expressão «por baixo do pano».

3. Na rubrica O Nosso Idioma, transcrevem-se, com a devida vénia, três apontamentos saídos em diferentes publicações:

– A propósito da oposição manifestada pela Ordem dos Enfermeiros na contratação de enfermeiros estrangeiros, por não falarem a língua portuguesa, a linguista Margarita Correia fala da significação da palavra corporativismo (Diário de Notícias, em 1 de fevereiro de 2021);

– Perante a pandemia, acontece pensar em conceções teológicas como Céu e Inferno, nomes que o linguista Aldo Bizzocchi comenta etimologicamente em mais uma publicação no blogue Diário de um Linguista em 2 de fevereiro;

– Noutro registo, em tom bem-humorado, João Nogueira da Costa apresenta uma série de deturpações, clássicos do anedotário do uso linguístico, como a conhecida confusão cómica de «casas geminadas» com «casas germinadas» (mural do autor no Facebook, em 8 de agosto de 2019).

4. Nas Notícias, assinalam-se as palavras mais procuradas no Dicionário Priberam da Língua Portuguesa durante janeiro de 2021: entre utilizadores de Portugal, postigo, colapso ou profilático foram palavras muito procuradas, todas alusivas à crise pandémica.

5. No campo da formação relacionada com a transversalidade da língua portuguesa no ensino português, salientam-se:

–  A sessão Professor, que tenho de estudar? Processos de compreensão de texto, em 09/02/2021,às 17h30, em que é oradora a professora Carla Marques, numa iniciativa das Edições Asa;

– Dirigida pela professora Maria Regina Rocha, a ação de formação Didática da Gramática e a Interpretação Textual, a realizar como evento em linha, em 15/02/2021, das 14h00 às 17h00 (mais informação aqui).

6. Regista-se com pesar o recente desaparecimento de duas figuras que deram contributos valiosos para a promoção e o estudo da língua portuguesa: em 29/01/2021, em Maputo, faleceu Calane da Silva (n. 1945), escritor e linguista que desenvolveu investigação importante no domínio do léxico, no contexto de Moçambique (ver infra ponto 8); e o de Maria Fernanda Bacelar do Nascimento, investigadora aposentada do Centro de Linguística da Universidade de Lisboa (CLUL), que se destacou pelo seu trabalho pioneiro em Portugal na linguística de corpus e pela coordenação de obras como o Português Fundamental (1987) e a recente Gramática do Português, publicada pela Fundação Calouste Gulbenkian em 2013 e 2020 (cf. Notícias).

7.  Temas em foco nos programas produzidos pela Associação Ciberdúvidas da Língua Portuguesa a rádio pública portuguesa, na presente semana:

–  Uma evocação ao linguista, poeta e escritor moçambicano Raul Calane da Silva, falecido em 29 de janeiro de 2021, na direção do Conselho Científico do Instituto Internacional da Língua Portuguesa, num depoimento da professora  Margarita Correia – em  A língua de Todos (RDP África, sexta-feira, 5 de fevereiro, pelas 13h20*; repetido no dia seguinte, depois do noticiário das 09h00*); 

– Sobre livro O Mundo É Nosso, fruto do trabalho de alunos de diferentes anos de escolaridade do Agrupamento de Escolas de Paredes, com coordenação da professora Isabel Ferreira, em 2019/2020, o primeiro ano letivo marcado pela pandemia – no Páginas de Português (Antena 2, domingo, 7 de fevereiro, pelas 12h30*; com repetição no sábado seguinte, 13 de fevereiro, às 15h30*).

* Hora oficial de Portugal continental, ficando os programas A Língua de Todos e Páginas de Português disponíveis depois aqui e aqui, respetivamente.

8.  Outros destaques da atualidade:

♦ 5 de fevereiro: 

– Os 10 anos do nascimento do  denominado  movimento estudantil “Geração à Rasca”,  com a abertura da respetiva página na rede social Facebook.

♦ 6 de fevereiro:

–Os 120 anos do falecimento, aos 69 anos, do poeta e estadista Tomás Ribeiro.

♦ 7 de fevereiro:

– Os 45 anos da consagração em Portugal do direito de licença de parto por 90 dias a todas as mulheres trabalhadoras .

Cf. "Primo-infeção e preconcecional/pré-concecional"; "Dar à luz e parir"; "Séptuplo e nónuplo"; "Gémeo"; "Oxitocina e ocitocina".

– 2020: morre o médico chinês que alertou para a existência de um surto de um novo coronavírus, Li Wenliang.

♦ 8 de fevereiro: 

– Os 160 anos da  formação dos Estados Confederados da América, com a reunião dos Estados do Sul, pró-esclavagistas, na base da guerra da secessão dos EUA

Cf. "À volta da palavra (e do conceito) escravatura"; "Breve viagem às línguas dos Estados Unidos da América"; "Os significados de putreia e de potreia"; "Machado de Assis – o menino de rua que virou presidente da Academia Brasileira de Letras"; "Consciência e desobediência"; "Modalidade epistémica e modalidade apreciativa"; "Perder a tramontana», a influência das línguas africanas no português e a memória de Florbela Espanca e de Tom Jobim"; "Que língua é esta?"; "Acerca das palavras escravo e servo", "A relação entre o domínio da língua e o desenvolvimento do país"; "A origem da expressão 'dia de branco'"; "Português: influência francesa"; "Crioulos".

–  O centenário do falecimento do cantor lírico português Francisco de Andrade, com 62 anos.

Cf.  Uma ópera para o rei no centenário da República + A ópera em Portugal — Os Intérpretes: Luísa Todi e Irmãos Andrade (V)

 
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1. A pandemia trouxe consigo o "covidês", um conjunto de termos e expressões oriundos da realidade criada pela covid-19. A pesada realidade que se vive contrasta com uma fase extraordinária de criação e revitalização lexical. Neologismos lexicais e semânticos surgem em diferentes contextos, alguns até inesperados. Desta riqueza e deste dinamismo tem dado conta o glossário A covid-19 na língua, que desde março de 2020 tem vindo a compilar palavras e expressões que ganham relevo em função da dinâmica dos acontecimentos que vão ocorrendo em diferentes planos, explicando sentidos e clarificando contextos de uso. Nesta nova atualização, revelamos a criatividade linguística que tem ocorrido no plano morfológico: com os elementos compositivos coron- e covid- têm sido formados neologismos, ainda instáveis e de durabilidade questionável. Entre eles, Coronado, Coronaro, Covidar, Covidexit, Covidices e Covidivórcios. Para além destas entradas, poderão ainda ser consultados os termos «Anjos secretos», Birras, «Brigadas de intervenção rápida», «Campeões da vacinação», «Drenagem postural», Escalada, «"Evidência científica"», Imunoalergologia, Língua covid, Mastocitose, «Medicina de catástrofe», «17 milhões» e «Vacinação indevida».  

 2. Na atualização do Consultório, apresenta-se uma sistematização de alguns valores temporais associados ao uso do infinitivo simples e do infinitivo composto. De verbos ainda se trata quando se analisa a natureza do verbo arrastar e se classificam sintaticamente os constituintes que o acompanham na frase «Arrastou para a aventura toda a nobreza portuguesa». Ainda na análise da função dos constituintes situa-se a resposta que aborda o sintagma «inclusive eu» numa frase simples. No plano da lexicologia, ensaia-se uma possível explicação para a etimologia do topónimo Baceiros e exploram-se os significados do nome manualidades e da expressão idiomática brasileira «deixar quieto». Por fim, uma explicação relativa à necessidade de repetição de símbolos de unidade numa mesma frase. 

3. Afirma o povo que «no melhor pano cai a nódoa». Isso mesmo parece ter acontecido a Tiago Brandão Rodrigues, ministro da Educação português, ao afirmar que os alunos estão «"melhor" preparados», como explica, num apontamento para o Pelourinho, o cofundador do Ciberdúvidas da Língua Portuguesa José Mário Costa.  

4. As recentes eleições presidenciais em Portugal trouxeram consigo os nomes deverdireito. Sobre os seus significados em contexto de escolha e de abstenção reflete a professora Carla Marques na pequena crónica divulgada no programa Páginas de Português, da Antena 2 (aqui transcrita).

5. Os nomes de doenças são, não raro, usados como adjetivos insultuosos que se colocam ao serviço da agressão verbal. Estes usos populares esquecem, todavia, as pessoas que realmente têm essas doenças e a forma como poderão ser afetadas pelos usos abusivos das palavras que as designam. É dessa realidade que nos fala Rita Serra, bióloga e investigadora, num artigo que reflete sobre os usos indevidos do adjetivo autista e do nome autismo (publicado no jornal Público e aqui transcrito com a devida vénia).  

6.  A utilização imotivada (ou mal-intencionada) do verbo apanhar no título do jornal Público: «Presidente do Supremo valida escuta que apanhou Costa no caso do hidrogénio» desencadeou um conjunto de reações negativas a que José Manuel Barata-Feyo, o provedor do leitor do mesmo jornal, faz referência neste apontamento (transcrito com a devida vénia).

7. O glossário O léxico da covid-19 foi mencionado num artigo da responsabilidade da professora universitária Anabela Leal de Barros, que avalia o projeto de forma apressada e pouco informada, o que merece uma nota explicativa do Ciberdúvidas da Língua Portuguesa (na rubrica Controvérsias). 

8. Finalmente, estes cinco registo de atualidade: 

— O Dia Mundial da Leitura em Voz alta foi celebrado a 1 de fevereiro. Trata-se de uma iniciativa criada pela organização não-governamental Litworld com o objetivo de erradicar a literacia;

— Em 2 de fevereiro,  assinala-se o Dia Mundial das Zonas Húmidas, que visa promover a gestão sustentada e racional destas regiões;

— O dia  3 de fevereiro marca a passagem de 55 anos da primeira «alunagem suave» de uma sonda espacial soviética (Luna 9) na Lua;

Vide, a propósito, algumas respostas disponíveis em arquivo: «A família de palavras de sol e de lua», «A formação de alunar», «Aterrar, amarar, alunar e...», «A saga dos erros cometidos na RTP», «Amartar?», «Aterrar (Portugal) e aterrissar (Brasil)»

— Em 4 de fevereiro decorrem 60 anos do início da luta armada pela independência de Angola. Depois de várias ações repressivas da polícia portuguesa, o MPLA ataca a Casa de Reclusão Militar, o quartel da PSP e a delegação da Emissora Nacional em Luanda. No norte do território, a UPA ataca fazendeiros brancos;

Questões relacionadas com Angola têm sido frequentemente tratadas no Ciberdúvidas. Por exemplo: «A língua portuguesa em Angola», «O português em Angola», «Governo de Angola», «A ortografia em Angola», «Angola, variantes da língua comum», «Angola e o Acordo Ortográfico» e «Língua e segurança nacional em Angola».

— Também em 4 de fevereiro (de 2020) foi registada a primeira morte na região administrativa especial chinesa e a segunda fora da China continental: um residente de Hong Kong de 39 anos, que morreu vítima de pneumonia viral causada pelo novo coronavírus;

— O Centro Português de Caracas, sob a direção de Sérgio Nunes, desenvolve um projeto para promover a cultura portuguesa na Venezuela, com particular atenção para o ensino da língua portuguesa (notícia aqui). 

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1. Em Portugal a escalada da pandemia, a angústia e o pânico motivam «falsas urgências», afetando o funcionamento dos hospitais (cf. «pressão hospitalar» e «oxigénio, falta de») e chegando a considerar-se a transferência de pacientes para o estrangeiro  (cf. «hospitalização internacional»). O impacto revela-se, portanto, dramático: enquanto surge o chamado «apoio extraordinário» para trabalhadores em perda de rendimentos, aumenta o mal-estar nas relações pessoais (cf. «violência doméstica). A situação já é, portanto, dantesca, de tal modo que o recém-reeleito presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, em discurso ao país em 28 de janeiro p.p, anunciou novo estado de emergência – o «Estado de Emergência X» –, preparando a população para «um confinamento mais longo do que se esperava». Tal é o triste cenário da presente atualização de A covid-19 na língua, que, além das expressões atrás assinaladas, inclui dois termos referentes à esperança de uma luz neste túnel por agora sem fim: «taxa de vacinação», que começa a ser recorrente nas notícias sobre a vacinação em vários países (Israel destaca-se); e um antiviral que vem de Espanha, denominado plitidepsina, que parece reduzir 99% da carga viral do SARS-CoV-2 nos pulmões.

2. Mas a vida continua, e, com ela, as palavras que devolvem o discurso às exigências e às constantes avaliações do quotidiano, como «pôr em dia» e «faz todo o sentido». Juntam-se a estas outras expressões no Consultório: o diminutivo de jornalista; e «caminho das pedras», que não se aplica a agruras, mas, sim a facilidades. Completam o conjunto de novas perguntas as que andam à volta da gramática e das suas dificuldades: o imperativo do verbo fazer; a noção de clítico; e, num sonho hoje impossível de «viajar, perder países», analisa-se a frase «viajou de carro pela América do Norte».

3. Num jornal português, a propósito de um relógio do apocalipse marcar apenas 100 segundos para a meia-noite, lia-se que tal «simboliza a eminência de um cataclismo planetário». No Pelourinho, a professora Carla Marques observa, em relação à notícia, que a "catástrofe" mais certa e concreta é a da confusão de iminente («prestes a acontecer») com eminente («elevado, importante»).

4. Muitos falantes de português emigraram e hoje veem dificultada a transmissão da língua aos seus descendentes nos países de acolhimento. Esta situação tem sido abordada numa área de investigação  conhecida como Português Língua de Herança (POLH). Em Montra de Livros, apresenta-se O POLH na Europa – Português como Língua de Herança, uma obra em dois volumes (o segundo foi recentemente publicado, em 2020), em que se reúne um conjunto de estudos com novos contributos para um diagnóstico e para programas de ação junto de tais comunidades.

5. A esmagadora força das contingências obriga ao confinamento, mas a leitura permite a crianças, jovens e adultos criarem ou recuperarem espaços de partilha. A que é feita em voz alta, atenta ao sentido das palavras e ao ritmo das frases, é o tema de um apontamento do pedagogo brasileiro William Cruz publicado na página Língua e Tradição (Facebook, 22/01/2021) e agora também divulgado na rubrica Ensino.

6. Acerca de quem, por exemplo, cante muito mal, emprega-se em inglês o termo cringe, que pode significar «encolher-se por causa de algum embaraço ou desconforto». Na Itália, terra do bel-canto, a palavra inglesa naturalizou-se como cringiare, adotada sem rebuço pelos falantes da língua de Dante e Petrarca, menos preocupados com heranças literárias. O caso é aproveitado pelo escritor Miguel Esteves Cardoso para, em crónica saída no jornal Público (28/01/2021) e transcrita, com a devida vénia, em O Nosso Idioma, se aventurar jocosamente num passeio pela neologia em português.

7. Apesar dos sucessivos estados de emergência, com efeitos devastadores no mundo da cultura, multiplicam-se as iniciativas por canal digital. Salientam-se:

– para vencer estereótipos, o lançamento do livro Histórias e Memórias de Mulheres de Cabo Verde em Portugal

– para desvendar o mundo pela poesia, o projeto Culto, nas redes sociais;

 – ou, para o descobrir pela narrativa, a publicação de Os Tempos das Palavras com Tempo, uma coletânea de contos em linha.

8. Evoquem-se algumas efemérides de alguma forma abordadas nas diferentes rubricas do Ciberdúvidas:

– 29 de janeiro – Assinalam-se os105 anos do nascimento, em Ponta Delgada, do jornalista, escritor, ficcionista, biógrafo e historiador açoriano Manuel Ferreira, (cf. "A grafia de açoriano").

– 30 de janeiro – Em 1961, o capitão português Henrique Galvão, que desviara o paquete Santa Maria no dia 22, entregava-se às autoridades brasileiras(cf. "Raptar, sequestrar"). Em 1996, morre, com 81 anos, Jerry Siegel, autor de Superman, herói da banda desenhada (cf. "O processo de formação de super-herói"). Em 2011, o líder histórico islâmico tunisino Rachid Gannuchi regressa a Tunes, depois de duas décadas no exílio, sendo recebido por alguns milhares de pessoas (cf. "Rua-árabe"); e onze pessoas morrem na colisão entre um comboio regional e outro de mercadorias perto de Oschersleben, Alemanha (cf. A grafia de topónimos estrangeiros"); e morre aos 77 anos o compositor John Barry, cinco vezes vencedor de um Óscar, que escreveu músicas para uma dúzia de filmes de James Bond, entre eles Só se vive duas vezes e 007 contra Goldfinger" (cf. "Oito 'Óscars' e oito óscares"). Faz um ano que a Organização Mundial de Saúde declarou o estado emergência de saúde pública internacional  por causa do surto do novo coranavírus na China, enquanto a Itália confirmava os dois primeiros casos de infeção por coronavírus no país (cf. O léxico da covid-19).

– 31 de janeiro – Comemoram-se o Dia Mundial dos Leprosos (cf. "Gafanha") e o Dia Mundial do Mágico (cf. "O superlativo absoluto sintético de mágico). Faz 130 anos que se deu a revolta republicana do Porto. (cf. "Vivà República"). Há um ano, a Espanha anuncia o primeiro caso do novo coronavírus no país, um cidadão alemão de um grupo de cinco que estava em observação em La Gomera, nas Canárias (cf. "O natural das Canárias").

9. Temas principais, na presente semana, dos programas produzidos pela Associação Ciberdúvidas da Língua Portuguesa na rádio pública portuguesa:

– A palavra rubrica e o anglicismo podcast, amplamente usado na comunicação social portuguesa, são comentados pela professora Sandra Duarte Tavares no programa Língua de Todos, emitido pela RDP África, na sexta-feira, 29 de janeiro, pelas 13h20* (repetido no dia seguinte, depois do noticiário das 09h00*).

– Os vocábulos cidadania, dever e direito, palavras relacionadas quer com a recente eleição do presidente da República Portuguesa (em 24/01/2021), quer com a abstenção que a caracterizou, dão o mote a uma crónica da professora Carla Marques, no Páginas de Português, transmitido na  Antena 2, no domingo, 31 de janeiro, pelas 12h30** (com repetição no sábado seguinte, 6 de fevereiro, às 15h30**).

* Hora oficial de Portugal continental, ficando depois os programas A Língua de Todos e Páginas de Português disponíveis  aqui aqui, respetivamente.

Por Ciberdúvidas da Língua Portuguesa

1. Em Portugal, as eleições presidenciais realizadas no domingo, dia 24 de janeiro, ditaram a reeleição de Marcelo Rebelo de Sousa, que se prepara, deste modo, para um segundo mandato. Os principais desafios que enfrentará passarão naturalmente pelo contributo para a construção de respostas às consequências da pandemia, o que ficou bem registado no seu discurso, quando afirmou: «Temos de partir o quanto antes para podermos atingir a meta a tempo de não deixar esmorecer a esperança. Até porque a melhor homenagem que podemos prestar aos mortos é cuidar dos vivos e, com eles, recriar Portugal.» Apesar, no entanto, do clima de regeneração, que poderia trazer ao país algum alento, a realidade da pandemia continua a impor-se de forma inexorável, indiferente aos esforços e ao sofrimento dos humanos.

O tema das eleições é uma boa oportunidade para recordar algumas respostas do Ciberdúvidas relacionadas com aspetos linguísticos desta matéria: «Eleição e eleições», «"Eleições eleitorais"», «Cartazes eleitorais», «Abstenção e abstinência», «Pontuação: "O Sr. Presidente, Almeida Santos..."», «"Haverão" eleições, diz Costa. E diz mal» 

2. O aumento das infeções leva os hospitais a entrar numa situação de sobre-esforço do seu pessoal, a que acresce a dramática falta de camas, que tem levado à abertura de Estruturas de Apoio de Retaguarda. Entretanto, um pouco por todo o lado, o receio cresce, alimentado pelo perigo que representam os chamados vírus brasileiro e vírus sul-africano, ambos mutações com um poder infecioso muito superior ao das estirpes anteriores. Os trágicos números de infetados e de óbitos forçam os governos a apertar as medidas: em França e na Alemanha declara-se obrigatório o uso de máscaras de proteção FFP ou de máscaras KN95; em Portugal, as chamadas "multas covid", aplicadas a quem desrespeita o dever de confinamento, são aplicadas na hora. Enquanto isso, verificam-se atrasos na vacinação, e nem o desporto está imune aos efeito da pandemia, o que leva a que se fale de "covidade" desportiva. Os dez termos assinalados constituem as novas entradas no glossário A covid-19 na língua, onde poderão ser consultados. 

3. Ao Consultório chegam dois versos de «Lisboa, menina e moça», um poema de José Carlos Ary dos Santos, Joaquim Pessoa e Fernando Tordo, cantada por Carlos do Carmo, cujo sentido metafórico se esclarece. Uma dúvida centra-se na designação do fenómeno exemplificado pela formação do nome Manucha (a partir de Manuela). Aborda-se ainda a questão do uso do interrogativo qual em Portugal e no Brasil e também as diferenças entre o uso dos pronomes siele regidos por preposição. Por fim, uma explicação do sentido da locução «por virtude de», usada por Jerónimo Soares Barbosa, a análise da frase «o filme é divertido de assistir» e uma explicação relativa à alfabetação de um índice de títulos

4. A propósito da comemoração do Dia Internacional da Educação, a professora universitária e linguista Margarita Correia trata questões relacionadas com a educação em tempos de pandemia (artigo publicado no Diário de Notícias e aqui transcrito, com a devida vénia). 

5.  António Ramalho Eanes, presidente da República Portuguesa entre 1976 e 1986, publicou no jornal goês O Heraldo um artigo que condensa as memórias autobiográficas da sua permanência em Goa ao longo de dois anos (1958 e 1959). Um documento considerado de grande importância para salvaguardar a herança cultural de Goa, que poderá ser lido no Diário de Notícias, e que se apresenta neste artigo do jornalista Leonídio Paulo Ferreira.

6. A jornalista espanhola Ana Bulnes Fraga escreve um artigo sobre a importância das academias na estabilidade das línguas. Discute, neste âmbito, a situação da língua inglesa, que, não tendo uma academia, vai encontrando outras situações para regular a língua (uma tradução adaptada do texto publicado em em Verne, página associada ao diário espanhol El País).

7. Em pleno confinamento, o professor e tradutor Marco Neves decide encetar uma viagem ao mundo das línguas. Passa, assim, em revista factos relacionados com trinta e quatro idiomas (texto publicado no blogue do autor, Certas Palavras, aqui transcrito com a devida vénia). 

8. Devido ao agravamento da situação pandémica em Portugal, as escolas entraram em "férias" durante um período de 15 dias, uma interrupção que se prolongará até dia 8 de fevereiro. O regresso presencial ou a implementação do ensino à distância, após esta data, ficarão dependentes da evolução da pandemia. 

9. Recordamos aqui algumas efemérides:

— A 25 de janeiro, completaram-se 115 anos da criação do Jardim Botânico Tropical (com o nome de Jardim Colonial), por decreto régio, no contexto da organização dos serviços agrícolas coloniais e do Ensino Agronómico Colonial no Instituto de Agronomia e de Veterinária; também nesta data faleceu, há 75 anos, o poeta português Afonso Lopes Vieira, com 67 anos. 

— A 27 de janeiro, comemora-se o Dia Internacional de Comemoração em Memória das Vítimas do Holocausto; neste dia, completam-se 265 anos do nascimento, em Salzburgo, do compositor austríaco Wolfgang Amadeus Mozart; também nesta data, passam 120 anos do falecimento, em Milão, do compositor italiano Giuseppe Verdi, falecido com 87 anos; neste dia, em 2020, ocorreu a primeira morte pelo novo coronavírus confirmada em Pequim. 

— A 28 de janeiro, comemoram-se os 105 anos do nascimento do escritor português Vergílio Ferreira, autor de Manhã Submersa; nesta data, já em 2020, foram confirmados dois casos do novo coronavírus, um na Alemanha e outro no Japão, de doentes que não tinham estado na China e que foram infetados nos seus países por pessoas provenientes de Wuhan.

 

Por Ciberdúvidas da Língua Portuguesa

1. No contexto da escalada da covid-19, depois de prolongada polémica pró e contra, o governo de Portugal decidiu fechar todas as escolas e suspender as atividades letivas durante quinze dias – das presenciais às do ensino à distância. É uma pausa de emergência a reavaliar dentro de duas semanas, que obriga a rever o calendário escolar de 20210/2021. Entretanto, a pandemia não para de pressionar os hospitais, num quadro «demolidor»,  de catástrofe, agravado pela veloz propagação do chamado «vírus inglês», a que se juntam o binómio «cansaço vs. banalização» e a perspetiva de os custos sanitários e outros atingirem os «15 mil milhões». São estas as expressões desalentadoras que fazem parte das novas entradas de  "A covid-19 na língua", onde felizmente o vocabulário também dá sinais de resiliência: «inverter a tendência» e voluntariado.

2. Por causa da pandemia ou, em Portugal, devido às eleições presidenciais de 24 de janeiro de 2021, o verbo preocupar é recorrente no que ultimamente se diz e escreve. No Consultório, uma resposta analisa a propósito o uso de «preocupar-se com» – por exemplo, em «preocupar-se com as eleições». E, querendo contextualizar a informação, descreve-se o conector «nesse cenário» e interpretam-se os paradoxos da poesia barroca. Completam este conjunto, esclarecimentos sobre o adjetivo tributário, o significado do nome pregão e a (não) relação  etimológica entre noite e oito, bem como um comentário à volta dos  topónimos portugueses Arruda dos Vinhos  e Calhandriz.

3. A respeito das confusões no uso dos pronomes pessoais átonos o e lhe, no Pelourinho disponibiliza-se um apontamento crítico do linguista brasileiro Aldo Bizzocchi (blogue Diário de um Linguista, em 18 de janeiro de 2019).

4. No Luxemburgo, radicou-se uma larga comunidade de portugueses que procura conservar a sua língua materna apesar de vários constrangimentos. Na rubrica Ensino, transcreve-se um interessante artigo do tradutor e jornalista António Raul Reis, que dá conta da situação do português naquele pequeno mas abastado país europeu (edição da Visão de 19 de janeiro de 2021).

5. Quando se fala de modelos de prosa literária, é obrigatório mencionar Eça de Queirós (1845-1900). Em O Nosso Idioma, divulgam-se as palavras de Guilherme d'Oliveira Martins publicadas no Diário de Notícias em 19 de janeiro de 2021, a propósito das honras de Panteão Nacional concedidas ao escritor português.

6. O mundo seguiu com atenção a tomada de posse de Joe Biden como novo presidente dos Estados Unidos da América, em Washington, em 20 de janeiro de 2020. É grande a expetativa em redor do novo ocupante da Casa Branca, sobretudo quando, do seu antecessor, Donald Trump, perdurará a memória incómoda e opressiva de um estilo ou linha política que os dicionários definem sob os termos trumpismo e trumpista. Também, nos anos recentes, foram frequentes as referências mediáticas a posições pró-Trump e anti-Trump (com hífen, sempre que os prefixos se associam a nomes próprios). Com a chegada de Biden, o ambiente parece, para já, bastante contrastante, com apelos à unidade dos Americanos na sua diversidade, como ilustra a participação da poetisa Amanda Gorman na referida cerimónia, com o poema "The hill we climb" ("O monte que subimos"), falando de rumos de entendimento e aceitação social. Aqui fica o registo desta intervenção (fonte: Público, 21/01/2021), em inglês, com legendas em português – para todos:

 

7. Da atualidade cujo tópico central é o português, assinalem-se as declarações do embaixador de Portugal em Brasília, Luís Faro Ramos, que diz estar prevista para março de 2021 a reabertura do Museu da Língua Portuguesa, na Estação da Luz, em São Paulo. Este espaço, fechado, recorde-se, desde dezembro de 2015 após um grande incêndio, foi totalmente reconstruído com esforços combinados dos Governos de Portugal e do Brasil, e o patrocínio de instituições privadas como a EDP e a Fundação Roberto Marinho.

8. Registo de duas efemérides:

– Em 1961, na madrugada de 22 de janeiro,  o assalto ao paquete Santa Maria. O acontecimento ficou também conhecido como «rapto (ou sequestro) do Santa Maria», como forma de denominar o que foi a mudança de rumo forçada (desvio) pelo comando de portugueses e espanhóis (galegos)  que tomaram conta do barco.

– Há um ano, em 23 de janeiro de 2020, o novo coronavírus voltava a ter destaque nas notícias, depois de as autoridades chinesas proibirem as entradas e saídas de Huanggang, a cerca de 70 quilómetros de Wuhan. Observe-se que as duas cidades têm em conjunto mais de 18 milhões de habitantes.

9. Nos programas produzidos pela Associação Ciberdúvidas da Língua Portuguesa para a rádio pública portuguesa, têm destaque:

 – O linguista brasileiro Sweder Souza fala do novo doutoramento da Universidade Federal do Paraná, em Curitiba, orientado para os professores de Português dos países africanos de língua portuguesa, em entrevista ao Língua de Todos, emitido pela RDP África, na sexta-feira, 22 de janeiro de 2020, pelas 13h20* (repetido no dia seguinte, depois do noticiário das 09h00*);

Jorge Baptista, professor da Universidade do Algarve, refere-se ao Dicionário Gramatical de Verbos do Português, um recente recurso em linha, no  Páginas de Português, transmitido na  Antena 2, no domingo, 24 de janeiro de 2020, pelas 12h30* (com repetição no sábado seguinte, 30 de janeiro, às 15h30*). No programa, inclui-se ainda uma crónica da linguista Edleise Mendes a respeito das palavras de origem africana e ameríndia no português do Brasil e do que terá restado da “língua geral” antes da proibição decretada pelo Marquês de Pombal.

*Hora oficial de Portugal continental, ficando ambos os programas disponíveis posteriormente aqui e aqui, respetivamente.

Por Ciberdúvidas da Língua Portuguesa

1. Em pleno período de confinamento em Portugal, o Governo aperta algumas medidas e pede responsabilidade individual, porque o número de infetados e de óbitos continua a crescer de forma exponencial, o que tem arrastado Portugal para a triste classificação de país do mundo com maior número diário de infetados por milhão de habitantes. A situação nos hospitais atinge também o seu limite, o que tem levado à abertura de estruturas de retaguarda para doentes covid em situação menos grave. Esta situação é ainda agravada pela quase inexistência de reservas de sangue e pela possibilidade de falta de oxigénio. O acompanhamento da situação por parte do Ciberdúvidas traz, mais uma vez, novas entradas no "A covid-19 na língua". São elas:  «Cenário de guerra», Confinar(-se), Confinamento endurecido, Coronavírus ao minuto, «Correr atrás do prejuízo», DevastadorIncubar, «Momento mais grave desta pandemia», «Por favor, fiquem em casa!» , Requisição civilSegunda dose e «Situação muito crítica». 

2. Joe Biden tomará posse como 46.º presidente do Estados Unidos no dia 20 de janeiro, numa cerimónia envolvida em medidas de segurança nunca vistas, devido a várias ameaças de violências que, de alguma forma, se relacionam sobretudo com a recente invasão do Capitólio por parte de apoiantes da candidatura do ainda presidente Donald Trump. Um acontecimento que não se pode desligar do processo de impugnação do presidente ("impeachment"), um processo de destituição inusitado não só porque se trata do único presidente a ser alvo de um segundo processo de destituição no mesmo mandato, mas também porque este coincide com o termo das suas funções (e prolongar-se-á para além disso). Esta tomada de posse está já associada a uma rutura com o estilo do anterior presidente, estando anunciado que algumas das medidas que aquele tomou serão revertidas logo no primeiro dia do mandato de Joe Biden. 

A propósito do termo impeachment, recorde-se o que ficou dito na resposta «"Impeachment" = impugnação» e nas aberturas de 15/01/2021 e de 26/09/2019 e sobre a expressão «tomada de posse» as respostas: Sobre inauguração = tomada de posse e «Tem que ver» ou «tem a ver»? + «Tomada de posse» + Mandato ≠ mandato. E, ainda: América +  Estados Unidos: plural, ou singular? + Estado-unidense, estadunidense, norte-americano + Norte-americano ou americano? + A nova presidência dos EUA por palavras.  Vide, também, para o espanhol, as recomendações da Fundéu RAE. 

3. Em Portugal, ano a ano, a  expressão inglesa final four  persiste no uso oficial da fase final da Taça da Liga – denominada, já de si, Allianz Cup!... – com o acrítico respaldo da imprensa... tratando-se ela de uma final de uma competição portuguesa, realizada em Portugal, entre quatro equipas de futebol portuguesas

Cf .A Final Four disputou-se mesmo entre equipas portuguesas?

 4. Os topónimos e os seus usos levantam, não raro, dúvidas aos falantes. É o que se verifica numa resposta da atualização do Consultório do Ciberdúvidas relacionada com a grafia de Suçães e numa outra sobre a não acentuação de Fiji (e outros topónimos e gentílicos terminados em i). No âmbito da sintaxe, uma pergunta relacionada com o uso expletivo do advérbio não, outra sobre as funções sintáticas em «não percebo nada de informática» e, finalmente, uma dúvida sobre a concordância na sequência «uma colcha branca de algodão, com cheiro a lavado(a)».  

5. A História Global de Portugal é a obra organizada por Carlos FiolhaisJosé Eduardo Franco e José Pedro Paivaapresentada na Montra de Livros. Uma obra que visa «evidencia[r] a constante interação cultural que está não só na origem do país mas também na do seu devir».  

6. É ainda altura de se fazer o balanço lexical das palavras mais usadas no ano de 2020. Neste contexto, a Priberam, em parceria com a agência Lusa, veio divulgar as palavras mais procuradas no seu dicionário ao longo do ano que findou. Este foi o ponto de partida para a crónica da professora Carla Marques no programa Páginas de Português, da Antena 2, que aqui pode ser recordada. 

7. A professora universitária Edleise Mendes, na sua crónica apresentada no programa Páginas de Português, da Antena 2, elegeu como palavras para 2021 esperança, resistência e gratidão, num apontamento que aqui pode ser ouvido ou lido.

8. São também as palavras, mas na sua forma gráfica, que motivam a reflexão da professora universitária e linguista Margarita Correia sobre a história do alfabeto e a sua importância até aos dias de hoje (crónica divulgada no Diário de Notícias e aqui partilhada com a devida vénia). 

9. A palavra presidente está na ordem do dia devido à evolução da situação nos Estados Unidos e à tomada de posse de Joe Biden. Neste âmbito, o professor universitário e tradutor Marco Neves enceta uma viagem à história da palavra, passando por algumas figuras a ela ligada, numa crónica que transcrevemos com a devida vénia (divulgada no SAPO 24 e no blogue Certas Palavras).

10. Numa altura em que uma parte da sociedade defende que as escolas em Portugal deveriam fechar para travar a evolução do número de contágios, a professora Lúcia Vaz Pedro vem acrescentar um novo argumento para a reflexão: o ponto de vista dos alunos e da qualidade das aprendizagens que realizam atualmente (artigo divulgado em 19/11, no jornal Público e aqui transcrito com a devida vénia).

11. A velocidade que os atletas atingem nas provas de 100 m e de 200 m motiva uma reflexão que se associa também ao significado do termo sprint. Um apontamento do tradutor e professor Vítor Santos Lindgaard, publicado originalmente no blogue Travessa do Fala-Só.

12. Recordamos algumas datas de efemérides de relevo: 

— a 20 de janeiro, comemoram-se os 225 anos da criação da Real Biblioteca Pública da Corte (embrião da Biblioteca Nacional portuguesa), pela rainha  D. Maria I.

— a 21 de janeiro, perfazem 60 anos do falecimento e do ator e declamador português João Villaret, aos 47 anos. 

— em 21 de janeiro de 2020, era identificado, em Washington, o primeiro caso do novo coronavírus nos Estados Unidos, num doente regressado de Wuhan. 

Por Ciberdúvidas da Língua Portuguesa

1. O Ciberdúvidas da Língua Portuguesa comemora 24 anos neste dia. É quase um quarto de século de funcionamento como espaço de divulgação, esclarecimento e reflexão sobre as normas e os usos da língua portuguesa, na sua diversidade, onde quer que ela se fale e escreva. Em 15 de janeiro de 1997, quando a comunicação digital ainda não se generalizara, talvez se pudesse duvidar da adesão a este projeto. No entanto, com mais de duas décadas de trabalho, o desafio, que nunca foi nem será fácil, tem conseguido dar resposta à altura, mesmo em tempos de pandemia, confinamento e distância física, que pedem meios que reinventem a proximidade.

2. Sinal desta necessidade é a enorme procura do serviço público aqui prestado, gracioso e universal – sempre reforçada com constantes pedidos de esclarecimento e palavras de incentivo dos consulentes (cf. Consultório, Correio e página no Facebook). Além disso, o extenso arquivo acumulado* – ver O Português na 1.ª Pessoa e as demais três áreas temáticas, a que agora se soma, mais recentemente o glossário A covid-19 na língua (10 rubricas ao todo) – documentam um percurso conjunto, com a participação de quantos, por esse mundo fora, querem saber sempre mais sobre o idioma oficial de Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, Portugal, São Tomé e Príncipe e Timor-Leste  Espaço simultaneamente de esclarecimento, de informação (noticias e livros, por exemplo) de reflexão e de polémica, inclusive, dele dá conta pormenorizada a professora Carla Marques, num balanço registado na rubrica O nosso idioma.

Vide, ainda: Ciberdúvidas da Língua Portuguesa – em linha, ao serviço de todos

* No Consultório, contam-se mais de 36 000 respostas, e o número de artigos das demais rubricas aproxima-se dos 7000.

3. A data é aqui de festa, mas o presente aniversário coincide também com a entrada em vigor de novas medidas decretadas em Portugal, que se prolongam até 30 de janeiro p. f., com o objetivo de conter o alastramento da covid-19, e impõem um segundo confinamento – o confinamento II –, depois do de março e abril de 2020. Direta ou indiretamente relacionadas com a situação que se vive no país e no mundo, o glossário O léxico da covid-19 recebe 12 novas entradas: adiamento, alarmante,  «atividades culturais», «batismos, crismas e casamentos», «cansado da pandemia?»,  «confinamento II», descontrolo, «estado de emergência IX», «estirpe brasileira», «pandemia da pobreza», 500 mil, «voto antecipado».

4. Sobre a data e hora da entrada das medidas de confinamento, encontram-se usos desencontrados da palavra meia-noite, ora equivalendo ao momento final do dia, ora referindo o começo do seguinte, às 00h00. No Consultório, aborda-se esta questão, a par de outras: a conjugação pronominal reflexa correspondente a vós; a etimologia de óleo e azeite; e a datação da pronúncia nasal do ditongo de muito. Completam a atualização esclarecimentos sobre dois problemas de sintaxe – a classificação de senão numa frase; e o valor aspetual da frase «ele leu um livro».

5. Em Portugal, no contexto da campanha para eleição do Presidente da República em 24 de janeiro p. f., circula esporadicamente o adjetivo incumbente associado ao nome presidente («presidente incumbente»). Trata-se de decalque de «incumbent president», um anglicismo que se dispensa, porque há muito que em português se diz corretamente «presidente em exercício» ou «presidente em funções». Sobre este empréstimo do inglês, muito discutível, leia-se a resposta "Incumbente, de novo".

6. Continua também a acompanhar-se com atenção a atualidade política dos Estados Unidos, onde a Câmara dos Representantes aprovou o impeachment de Donald Trump, na sequência do assalto que instigou ao Capitólio. A comunicação social refere-se à situação pelo termo inglês, mas pode sem problema empregar impugnação, termo vernáculo equivalente, como houve aqui oportunidade de esclarecer. Leia-se, ainda a propósito, "Como traduzir impeachment?", um artigo que o professor universitário e tradutor Marco Neves publicou no blogue Certas Palavras em 30/01/2021.

7. No atual quadro de pandemia, a proximidade e apoio interpessoais tornam-se prementes para grupos e comunidades mais vulneráveis. A propósito da comunicação com pessoas surdas e das dificuldades que estas têm encontrado nos últimos meses, transcreve-se em Diversidades, um trabalho da jornalista Teresa Campos, com o título "A missão dos intérpretes de Língua Gestual Portuguesa" e publicado na edição digital da revista Visão (12/01/2021). Registe-se também a iniciativa da Antena 1, que passa a disponibilizar conteúdos traduzidos em língua gestual e legendas na RTP Play (ler aqui). A primeira peça neste formato, "Marco", da jornalista Rita Colaço, aborda a (má) experiência de um surdo de 21 anos nos seus primeiros meses de vida universitária.

8. Na rubrica O Nosso Idioma, ficam dois apontamentos sobre recursos estilísticos: um artigo sobre a interpretação da metáfora literária, do investigador brasileiro Roberto Lota; e, acerca do conceito de oxímoro, um  texto do professor João Nogueira da Costa.

9. Dois outros registos de ações do mundo académico como contributo para a promoção da língua: a abertura do Centro Nacional de Formação de Professores de Espanhol e Português pela Universidade de Estudos Estrangeiros de Pequim, com o objetivo de reforçar a qualidade do ensino da língua portuguesa na China; e a realização virtual da Conferência internacional "Literatura, Turismo e cidade" entre 3 e 5 de fevereiro p. f. (inscrições até 16/01/2021).

10. Destaque ainda para duas efemérides com data próxima, evocativas da diáspora dos povos. Em 16 de janeiro, o Dia Mundial do Migrante e do Refugiado, relativamente ao qual se sugere leitura de "Português para imigrantes refugiados" e  "Refugiados, e não migrantes". Em 17 de janeiro, o achamento da ilha do Príncipe, território de São Tomé e Príncipe, país que dá o tema linguístico a "Os naturais da ilha do Príncipe" e "Português de São Tomé".

11. Nos programas produzidos pela Associação Ciberdúvidas da Língua Portuguesa para a rádio pública portuguesa, são temas focados:

– Os vocábulos pandemia, máscara e refugiados, palavras do ano escolhidas em Angola, Cabo Verde e Moçambique respetivamente e abordadas pela professora Sandra Duarte Tavares quanto à sua etimologia e sinonímia – no Língua de Todos, emitido pela RDP África, sexta-feira, 15  de janeiro, às 13h20** (repete no dia seguinte, depois do noticiário das 09h00**);

– A tradução de saudade, palavra do ano de 2020 escolhida pela Porto Editora (ler aqui), numa entrevista a Pierre Léglise-Costa, e a lista que a Priberam fez das palavras mais procuradas no seu dicionário em linha, também durante 2020 (coronavírus, pandemia, quarentena, confinamento, zaragatoa, telescola, calamidade, antirracismo, assintomático, letalidade e femicídio), numa crónica da professora Carla Marques – no Páginas de Português, transmitido pela Antena 2, no domingo, 17 de janeiro, às 12h30** (com repetição no sábado seguinte, 23 de janeiro, às 15h30**).

** Hora oficial de Portugal, ficando ambos os programas disponíveis posteriormente aqui e aqui.

Por Ciberdúvidas da Língua Portuguesa

1. Foi em 13 de janeiro de 2020 que o primeiro caso de coronavírus foi identificado fora da China. Este acontecimento teve lugar na Tailândia e, desde esse momento, correu o planeta. Um ano depois, em Portugal, devido ao aumento do número de infeções e do número de mortos,  e face à gradual incapacidade de resposta dos hospitais, equaciona-se a possibilidade, cada vez mais certa, de medidas restritivas mais apertadas. O objetivo mantém-se: baixar a curva, travando novas infeções. Para que tal aconteça, as medidas terão de passar por um recolher obrigatório III, que, na Ilha da Madeira já se encontra em vigor e que no continente se alargará a um confinamento geral, o que será anunciado ainda no decurso desta semana. Enquanto a situação não se altera, são as consequências da covid em vários domínios que continuam a ocupar o lugar central, antes de mais com o anúncio de um teste positivo seguido de dois negativos do Presidente da República português Marcelo Rebelo de Sousa, o que motivou o uso da expressão vírus infiltrado nas presidenciais em Portugal, dadas as consequências ainda não definidas desta situação. Por outro lado, equaciona-se a possibilidade de um voto eletrónico a distância e olha-se com consternação para o número de 20 mil mortos na Bélgica. Assistimos, ainda, ao ritmo lento da vacinação de toda a população e as opções tomadas vão colocando dilemas éticos relacionados com as prioridades definidas. As expressões assinaladas marcam a fase mais recente da pandemia e da vida em pandemia, o que lhes confere entrada para o glossário A covid-19 na língua. Embora não se relacione diretamente com a atual pandemia, é também tempo de recordar o final de outra pandemia: o ébola, cujo fim foi declarado há cinco anos (em 14 de janeiro) pela OMS.

2. Na rubrica Diversidades, o coordenador executivo do Ciberdúvidas Carlos Rocha  subscreve um artigo sobre as relações entre a palavra descambiar, do espanhol, e destrocar, do português, que se aproximam por serem ambas palavras rejeitadas por autores normativos. No entanto, ambas parecem também ter conquistado o seu espaço devido ao seu uso cada vez mais generalizado. Mas, no plano do significado, serão palavras equivalentes ou apenas falsos amigos?

3. No Consultório apresentamos questões de âmbito diversificado. Uma dúvida relacionada com o uso da vírgulas em construções comparativas levanta ainda a questão da ambiguidade que se pode gerar. As construções clivadas são muito frequentes na oralidade ou na escrita informal. A sua intenção está associada apenas à colocação de foco num constituinte ou existem outros valores que se poderão assinalar? Ainda o significado da palavra teodidata, a grafia de torriense, a diferença entre os valores de probabilidade e possibilidade da modalidade epistémica e a colocação do pronome átono em construções com infinitivo

4. A professora universitária e investigadora Margarita Correia dedica um artigo ao uso da linguagem figurada, defendendo que esta pode revelar-se perigosa quer para quem a usa quer para quem a recebe, pois os processos de compreensão do interlocutor poderão não permitir a identificação da real intenção do locutor (texto publicado originalmente no Diário de Notícias e aqui transcrito com a devida vénia). 

5.  Uma viagem às línguas faladas nos Estados Unidos: esta é a proposta do professor e tradutor Marco Neves numa crónica em que se propõe contribuir para a mitigação da ideia de que os Estados Unidos são um país tendencialmente monolingue (crónica publicada no portal SAPO24 e aqui transcrita com a devida vénia). 

6. O provedor do leitor do jornal Público José Manuel Barata-Feyo reflete sobre a generalização do uso do verbo revelar, modismo que tem relegado para segundo plano um conjunto de verbos dicendi, que vão ficando esquecidos na escrita jornalística. Um texto que se transcreve no Pelourinho, com a devida vénia.