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Por Ciberdúvidas da Língua Portuguesa

1. O número de novos casos de infeção pelo novo coronavírus continua a subir na Europa e em muitos outros locais deste nosso planeta, tendo já atingido mais de 280 mil pessoas e provocado mais de 11 mil mortes. A pandemia ocupa de forma quase plena não só o espaço mediático como também as conversas privadas. Desde as medidas profiláticas às políticas, desde as especialidades médicas às áreas da ciência envolvidas, desde o tratamento estatístico dos dados à sua análise, tudo envolve léxico para ser verbalizado e significações que devem ser claras. Por esta razão, o Ciberdúvidas assume também como sua a missão de esclarecer sem deixar de cuidar a língua portuguesa, o que nos leva a retomar neste espaço a explicação de termos que têm sido mobilizados para falar / escrever sobre a situação que se vive (A este propósito, consulte-se também as explicações já divulgadas aqui, aqui e aqui):

Primeira imagem: COM'tacto, composição gráfica de Josefa Reis, 2020

Achatamento da curva. Redução ou abrandamento do crescimento do número de infetados, afastando-se dos números previstos pelos modelos matemáticos.

Anestesiologia. Área da medicina que estuda técnicas de anestesia e reanimação.

— Anestesiologista. Especialista em anestesiologia.

— Centro de rastreio. Local onde se realizam testes para despistar a presença de algo (na atual situação, do vírus SARS-CoV-2).

— Cogula. Espécie de carapuço que os profissionais de saúde vestem por cima da máscara e dos óculos, protegendo-os na face e na região cervical. Com a viseira colocada por cima, seu uso é recomendado para médicos e enferrmeiros que prestam cuidados de saúde mais invasivos — como é o caso dos intensivistas, dos infecciologistas e dos internistas

— Comorbidade. Associação de duas ou mais doenças na mesma pessoa.

ConfinamentoEstado de quem está fechado numa área reservada, afastado do contacto com os outros; na atual situação, aplica-se a quem está em casa, sem contactos sociais no exterior.

— Curva de contágio. Percurso de crescimento/ rajetória seguida pelo número de contágios num dado espaço físico e num dado intervalo temporal.

Curva sombrero. Por regra, um surto epidémico desenvolve-se de acordo com uma curva com uma forma que muitos comparam à de um “sombrero” mexicano. Saber se os sistemas de saúde lidam bem ou mal com esses surtos epidémicos depende da altura do “sombrero”. A imagem aqui (em inglês: Flattening the Coronavirus Curve) e aqui.

— Epidemiologia. Ciência que estuda as epidemias.

— Epidemiologista. Especialista na área da epidemiologia.

— Imunidade: invulnerabilidade do organismo ao ataque de agentes infecciosos.

 Isolamento. Situação em que fica alguém com teste positivo de covid-18.

— Infecciologia/Infectologia: palavras sinónimas que referem a área da medicina que estuda as doenças infecciosas.

— Infecciologista/Infectologista: palavras sinónimas que referem o especialista em infecciologia / infectologia.

— Infetado vs. Infestado: pessoa que está contagiada está infetada; infestado é o que está invadido por alguma coisa (por exemplo, por parasitas que causam doenças).

— Internista. Médico especialista de medicina interna

 Medicina interna. Área da medicina que avalia o doente como um todo; atividade exercida sobretudo nas urgências hospitalares, fazendo o estudo e orientação inicial do doente na fase de internamento;

— Microbiologia. Ciência que estuda os micróbios.

— Microbiólogo/Microbiologista. Palavras sinónimas; especialista em microbiologia. 

— Percentagem/Porcentagem. Designa uma dada proporção em relação a cem; porcentagem é termo usado no português do Brasil.

Planalto. É quando a curva de contágios deixa de subir, estabilizando o número de infetados.

PneumologiaÁrea da medicina que estuda os pulmões.

Pneumologista. Especialista em pneumologia.

— Quarentenar: verbo intransitivo que significa «fazer quarentena».

— Severo vs. Grave: severo significa acentuado, enquanto grave significa duro, sério.

Sintomatologia: conjunto de sintomas de uma determinada doença; no caso da covid-19, pessoas assintomáticas poder ser  transmissoras do vírus, mais do que se supunha no início do surto pandémico.

— Taxa (ou coeficiente) de mortalidade (e não ‘taxa de mortandade’). Indice demográfico que normalmente indica o número de mortes por mil habitantes. Diferente de taxa de letalidade: a proporção entre o número de mortes por uma doença e o número total de doentes que sofrem dessa doença, ao longo de um determinado período de tempo. É geralmente expressa em percentagem.

Viseira. Equipamento para proteção facial dos profissionais de saúde em serviço hospitalar de risco acrescido de contágio, como no tratamento de doentes com a covid-19.

 

Destaque também para a dinâmica da língua que, dando resposta às necessidades da realidade, se abre à criação lexical. A nova "palavra" coronabonds é disso exemplo. O termo da área da economia, formado a partir da palavra eurobond (palavra já dicionarizada e usada para referir as obrigações emitidas pelos países da eurozona)*, tem sido usado para referir a possibilidade de emissão de dívida a muito longo prazo pelos países europeus para fazer face à crise provocada pela pandemia do novo coronavírus (cf. notícias aqui, aqui e aqui).  

* Obs.: Apesar de eurobond ser termo corrente na comunicação social, convém assinalar que existe um termo português equivalente, euro-obrigação, que está registado no dicionário de português da Porto Editora (em linha na Infopédia). Transpondo este caso para o de coronabons, pode formar-se em português o neologismo coronaobrigações., constituído por corona-, de coronavírus, e obrigação, tradução do inglês bond, nas aceçõs de «obrigação» e «título de dívida».

 

2. Dúvidas das mais diferentes áreas continuam a chegar ao Consultório do Ciberdúvidas. A etimologia é, com muita frequência, uma área de interesse que motiva novas questões relacionadas com a história das palavras. Desta vez, a palavra eleita foi poesia. É sobre a sua etimologia e ortografia esta nova resposta. É também a história das palavras e da sua evolução e eventual distribuição geográfica que justifica o cotejo entre «grão de arroz» e «bago de arroz». Já no plano da sintaxe, regressamos ao tratamento das orações subordinadas infinitivas para avaliar as situações em que se deve recorrer ao infinitivo pessoal (a partir da expressão «julgamos ser eternos») e a correção do recurso à preposição a em «ouvir alguém a pedir ajuda». Para finalizar, uma resposta que esclarece qual o plural do termo associação-membro.

3. O vocábulo insula deu origem a inúmeras palavras (sobretudo topónimos) que, nas línguas europeias, guardam o conceito de "ilha" na sua significação. É esta a história que nos conta o professor João Nogueira Costa neste apontamento, fazendo ainda uma viagem em busca da identificação da influência do termo árabe que designa ilha (jazira) na designação de várias localidades do Norte de África, de Espanha e de Portugal. 

4. Há línguas escritas, outras apenas faladas, mas também há línguas assobiadas. No Norte da Turquia, os habitantes de Kuşköy (a "ilha dos pássaros", numa tradução para português) comunicam através de uma língua assobiada, que inclui uma estrutura lexical e sintática e que permite comunicar a longas distâncias. Uma linguagem cujo processo de produção e compreensão mobiliza os dois hemisférios cerebrais (enquanto a linguagem escrita ou falada se associa apenas ao hemisfério esquerdo) (cf. notícia).

5. O isolamento a que estamos obrigados durante o estado de emergência pode ser transformado numa oportunidade cultural. Temos aqui dado notícia de algumas propostas que têm surgido. Hoje, deixamos mais algumas:

– assistir a concertos (por exemplo da Filarmonia de Berlim);

– visionar filmes (acompanhando, por exemplo, a Quarentena Cinéfila da Medeia filmes);

– assistir a uma peça de teatro (a partir, por exemplo, do D. Maria em Casa ou com as propostas do Teatro Aberto);

– visitar virtualmente museus (por exemplo, o Museu do Prado, o Museu Britânico ou o Museu Guggenheim); 

– Ler poesia, romances, ensaios ou acompanhar o Festival de poesia à mesa, consultar os livros disponibilizados pela Rede Nacional de Bibliotecas Públicas ou pelo Plano Nacional de Leitura na sua (Anti)quarentena de Leitura;

– A todas as sugestões que deixamos, acrescentamos a leitura do poema que o poeta Manuel Alegre dedicou a Lisboa em época que estado de emergência:

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Lisboa Ainda

Lisboa não tem beijos nem abraços

não tem risos nem esplanadas

não tem passos

nem raparigas e rapazes de mãos dadas

tem praças cheias de ninguém

ainda tem sol mas não tem

nem gaivota de Amália nem canoa

sem restaurantes, sem bares, nem cinemas

ainda é fado ainda é poemas

fechada dentro de si mesma ainda é Lisboa

cidade aberta

ainda é Lisboa de Pessoa alegre e triste

e em cada rua deserta

ainda resiste.

20 de março de 2020, Manuel Alegre

Por Ciberdúvidas da Língua Portuguesa

1. Em Portugal, o Presidente da República Marcelo Rebelo de Sousa declarou estado de emergência durante 15 dias (de 19/03 até 02/04). Esta declaração permitiu a suspensão de um conjunto de direitos e liberdades dos cidadãos portugueses (notícia aqui e aqui). Na sequência desta decisão, o governo definiu um pacote de medidas que visam defender a saúde pública (ver aqui as medidas em vigor), entre as quais se destaca a restrição do direito de livre circulação. As consequências que advêm destas medidas vão exigir dos portugueses coragem, persistência e resiliência. Entretanto, no Brasil foi declarado o estado de calamidade pública para combater a pandemia de COVID-19, que estará em vigor até ao final do ano que permite que os gastos públicos sejam aumentados, mesmo que violem as metas fiscais definidas nos Orçamentos do Estado.  

2. O avanço do novo coronavírus um pouco por todo o mundo (acompanhe a evolução da situação mundial através do mapa da Johns Hopkins University, em constante atualização e/ou neste outro) tem obrigado as populações a adotarem um estilo de vida muito diferente do que conheciam até ao momento. Isolamento social e higiene são palavras de ordem, numa altura em que as medidas de combate à propagação da infeção assumem formas mais duras. No plano linguístico, a situação que se vive está a levar ao desenvolvimento de um campo lexical, até aqui inexistente, em torno da doença COVID-19. Este novo contexto tem pressionado a língua a reestruturar o seu campo de significações e a realidade desencadeada pelo coronavírus tem atraído palavras e expressões inusitadas, algumas das quais eram usadas apenas em contextos de ficção científica ou num plano de análise teórica. Mas, porque essas palavras entraram no campo da referência à realidade efetiva que todos vivemos no momento atual, importa saber o que significam. Além do que já anteriormente foi registado (aqui, aqui e aqui, por exemplo), deixamos mais este  contributo do Ciberdúvidas:

Calamidade pública. Situação caracterizada por um grande mal que constitui perigo para muitos cidadãos.

Cerca sanitária. Encerramento de um determinado território por razões de saúde, o que implica o impedimento de entrada e saída de uma região, para além de outras medidas restritivas e/ou suspensivas.

Confinamento compulsivo. Ato de encerramento de um indivíduo num dado espaço, com eventual recurso à força persuasiva ou física.

— Contagiar vs. infetar. Transmitir uma doença por contágio.

Crime de desobediência Crime que corresponde ao desrespeito a uma ordem dada por alguém com poder legitimado.

Suspensão de direitos e liberdadesInterrupção temporária de determinados direitos e liberdades consagrados na Constituição.

 Enquanto nos protegemos e protegemos os outros, esperamos com confiança e força o dia em que esta situação difícil virá a ser superada. Trata-se de uma tarefa hercúlea que todos temos de levar até ao fim (por «tarefa hercúlea» entenda-se algo que exige muito esforço, uma ideia que assenta na figura mitológica de Hércules, caracterizada pela sua força sobre-humana).

Para quem se interessa pelo esperanto, deixamos aqui uma lista de termos médicos com a designação e respetiva explicação em esperanto, da autoria dos nosso consultor Miguel Faria de Bastos

  •  endemio: kronika aῠ  recidiva homa malsano enradikiĝinta en difinita regiono kaj  lando aῠ aro da landoj. Ekz.: malario, en subsahara Afriko kaj en Centra Ameriko (escepte de Kubo). 

[endemia: doença humana crónica ou recidivante em determinada região ou país ou conjunto de países. Ex.: malária (paludismo), na África subsariana e na América Central (exceto Cuba); 

  • epidemio: infekta homa malsano samtempe kaj samregione trafanta individuojn de unu aῠ pluraj apudaj landoj. Ekz.: ebolo, en Gvineo-Bisaῠo, Serraleono kaj Liberio

[epidemia: doença humana infecciosa que, ao mesmo tempo e na mesma região, atinge indivíduos de um ou mais países vizinhos. Ex..: ébola, na Guiné-Bissau, na Serra Leoa e na Libéria];

  • pandemio: infekta homa malsano tutplaneda aῠ  preskaῠ   tutplaneda. Ekz.: koronviruso, en ĉiu kontinento.

[pandemia: doença humana infeciosa estendida a nível planetário ou quase planetário. Ex.: coronavírus, em todos os continentes].

3. O facto de o novo coronavírus e de a doença COVID-19 se terem tornado os temas centrais da atualidade mediática leva a que muito se escreva sobre o assunto. Neste plano, continua a ser importante, por isso, respeitar a correção linguística. Algumas sugestões que podem auxiliar a redação de textos (algumas destas sugestões são adaptadas das recomendações para o espanhol da Fundéu BBVA):

– a palavra anticoronavírus é correta e deve ser grafada sem hífen;
– o termo anti-COVID-19 pode ser usado, mas com hífen a separar o prefixo do acrónimo, que é um nome próprio; todavia, se este acrónimo for usado como nome comum, já se escreverá anticovid-19 (refira-se que a palavra covid-19 está já dicionarizada em alguns dicionários eletrónicos: cf. aqui e aqui);
– a palavra pandemia deve ser usada sozinha, não devendo aparecer em expressões como «pandemia global» ou «pandemia mundial», uma vez que são redudantes;
– a palavra epicentro (do vírus) deve também ser usada sozinha, sendo a expressão «epicentro do foco (do vírus)» redundante;
– a expressão «morte por coronavírus» centra-se na causa da morte (o vírus SARS-CoV-2), enquanto «morte com coronavírus» se aplica a quem, tendo outras enfermidades, morre infetado pelo vírus, sem que se possa determinar se foi este o responsável pelo falecimento;
– a expressão inglesa take-away tem equivalente em português, pelo que é preferível utilizar «entrega em casa» ou «venda para fora». 

4. Apesar da situação de pandemia que se vive, o Ciberdúvidas mantém o seu Consultório aberto e as dúvidas linguísticas continuam a chegar e a encontrar resposta neste espaço dedicado à lingua portuguesa. Na nova atualização, poderá conhecer as respostas às seguintes questões: «É possível omitir o pronome pessoal em «avise-me»?», «Por que razão a pronúncia de Balcãs é diferente em Portugal e no Brasil?», «Qual a sintaxe do verbo implorar?», «Que verbos se associam ao nome paleio?» e «Quais os recursos expressivos presentes no poema "Tormenta", de Fernando Pessoa?»

5. Com o intuito de auxiliar a aprendizagem do Português Língua Estrangeira / Português Língua não materna numa altura de isolamento social, e numa perspetiva de serviço público, a Ciberescola da Língua Portuguesa e os Cibercursos da Língua Portuguesa colocaram em linha aberta, disponível a qualquer utilizador, a sua base de dados de exercícios e as suas fichas em formato pdf (cf. notícia).  

6.  O professor João Nogueira da Costa, enumerando primeiro alguns pares vocabulares que exibem fenómenos de alternância vocálica muito antigos (ano/biénioapto/ineptoarte/inerte), revela depois uma etimologia, para muitos, talvez inesperada, a de imbecil. Um texto que o autor publicou na sua página de Facebook e que aqui se transcreve.

7. Dia do Pai foi celebrado a 19 de março. Tratou-se de uma comemoração atípica, com muitos pais e filhos em situações de distanciamento físico. O tradutor e professor universitário Marco Neves não deixou de recordar o dia, encetando uma viagem à origem da palavra pai e às palavras usadas em diferentes línguas para referir a realidade (crónica disponibilizada no blogue Certas Palavras). 

8. Várias entidades têm vindo a promover ações que visam quer o acompanhamento informado da evolução da pandemia e das situações que esta implica quer a ocupação do tempo da população que se encontra em isolamento. Destacamos aqui:

– Sítio oficial de apoio à evolução da COVID-19, designado Estamos on;

– Oferta cultural do Teatro Aberto, que disponbilizou em linha alguns dos espetáculos que produziu (mais informação aqui).

9. Os programas que a Associação Ciberdúvidas da Língua Portuguesa produz para a rádio pública portuguesa são também uma forma de ocupar o tempo de modo significativo. Esta semana, propomos que acompanhe as entrevistas ao escritor cabo-verdiano Germano de Almeida ( no programa Língua de Todos*, transmitido pela RDP África) e a José Carlos Vasconcelos, fundador e diretor do JL – Jornal de Letras, Artes e Ideias (no programa Página de Português**, emitido pela Antena 2).

*O programa Língua de Todos irá para o ar a 20 de março, pelas 13h20, sendo repetido no sábado, dia 21 de março, depois do noticiário das 09h00.

**O Páginas de Português  é difundido a 22 de março, pelas 12h30, com repetição no sábado, dia 29 de março, às 15h30.

Hora oficial de Portugal continental, ficando ambos os programas disponíveis posteriormente aqui e aqui.

Por Ciberdúvidas da Língua Portuguesa

1. São dias que hão de com certeza ficar profundamente gravados na memória coletiva mundial. Com o alastramento do novo coronavírus (SARS-CoV-2), e tal como acontece noutros países, em especial na vizinha Espanha, também Portugal se encontra prestes a adotar medidas de exceção com forte impacto linguístico, testemunhado pela velocidade com que entram em circulação palavras menos habituais ou neologismos simples e compostos. Do vocabulário recorrente, destaca-se a locução estado de emergência, uma medida controversa que está prevista pela Constituição da República Portuguesa e suspende direitos, liberdades e garantias dos cidadãos, embora sujeita ao respeito do princípio da proporcionalidade e limitada ao «estritamente necessário ao pronto restabelecimento da normalidade constitucional» (art.º 19.º n.º4 da Constituição portuguesa. CfPúblico, 16/03/2020 + RTP Notícias, 17/03/2020); e, ainda, o artigo do jornalista Ferreira Fernandes, Portugueses declaram estado de resistência). Mas outros termos se repetem com os conceitos associados (às vezes muito técnicos) no discurso mediático, permitindo elaborar uma pequena lista não exaustiva, com breves referências aos contextos de cada um deles:

Declaração de requisição civil: expressão novamente usada em Portugal em referência à forma de travar a greve dos estivadores do porto de Lisboa, ativa apesar da situação de pandemia (ler aqui) e que o Decreto-Lei 637/74 define como «o conjunto de medidas determinadas pelo Governo necessárias para, em circunstâncias particularmente graves, se assegurar o regular funcionamento de serviços essenciais de interesse público ou de sectores vitais da economia nacional».  Em 2019, a expressão apareceu com alguma frequência nos media portugueses, sobretudo a respeito de duas greves então realizadas: a dos enfermeiros e a dos motoristas de matérias perigosas (ler mais num artigo do jornal Sol, 07/02/2019).

Distância social, distanciamento social: denomina a necessidade ou o dever de cada indivíduo de manter certo afastamento em relação a outros, de modo a evitar o contágio (na imagem, o cartune  Bartoon  de Luís Afonso, em alusão humorística a este imperativo – jornal Público, 17/03/2020).

Disciplina social: outra expressão que se torna recorrente no discurso, para frisar a responsabilidade que cabe a cada um na tomada de precauções contra a propagação do vírus.

Estado de calamidade pública: conforme se escreve num artigo do jornal Observador (17/03/2020), «[d]e acordo com a Lei de Bases da Proteção Civil, o estado de calamidade é declarado pelo Governo, após resolução do Conselho de Ministros»; pode «ser antecipado por um “despacho de urgência” conjunto do primeiro-ministro e da ministra da Administração Interna». É a situação decretada a partir de 17/03/2020 na cidade portuguesa de Ovar (distrito de Aveiro) por causa da infeção do coronavírus.

Ensino a distância: em Portugal, com as aulas presenciais suspensas, o ensino universitário e não universitário recorre ao ensino à distância, como forma de contornar a crise. Há escolas ainda abertas para garantir refeições ou para filhos de pessoas cuja atividade exige presença no local habitual de trabalho, como acontece com os profissionais de saúde, embora não sejam numerosas (cf. TVI 24). Entretanto, apesar dos esforços para reforçar e melhorar os meios de ensino à distância, o ano letivo de 2019/2020 parece comprometido, falando-se na eventual suspensão de exames e estágios, visto estes coincidirem com o pico previsível do surto viral. Mesmo assim, novas regras permitem fazer em linha as inscrições nos exames e provas nacionais, tendo o Ministério da Educação também alargado o prazo até 3 de abril (ler notícia no jornal Observador, 17/03/2020).

Isolamento: recomenda-se ou impõe-se o recolhimento em casa e, havendo suspeitas ou confirmação de o vírus ter sido contraído, deve-se não contactar com ninguém. A etimologia deste termo foi abordada pelo professor universitário, tradutor e divulgador Marco Neves num texto igualmente divulgado nas páginas do Ciberdúvidas (ler aqui).

Internação: palavra modificada por vezes pelo adjetivo compulsória – «internação compulsória». É a forma empregada no Brasil;  em Portugal, usa-se geralmente internamento.

Mapa pandémicoA que países já chegou o coronavírus?

– Quarentena: costumava significar «período de 40 adias», mas com a presente crise tornou-se sinónimo de «período de isolamento», o que quer dizer que pode não ter a duração do referido intervalo. Sobre a situação na França, ler aqui . A respeito das medidas que se aplicam ou se discutem no Brasil, ler aqui  e aqui.

Teletrabalho: o trabalho feito a distância que os atuais meios eletrónicos e digitais proporcionam. Ver mais acima Ensino a distância.

No registo da terminologia mais específica à volta desta pandemia mundial, a informação jornalística pode ser responsável por muita imprecisão lexical. É o que assinala O Observatório da Ética Jornalística (objETHOS), do Departamento de Jornalismo e do Programa de Pós-Graduação em Jornalismo (POSJOR) da Universidade Federal de Santa Catarina, no Brasil. «Qual é a diferença entre cobertura intensiva e alarmismo social? Como abordar um tema urgente sem alimentar histeria coletiva? De que maneira o jornalismo pode ajudar a combater a pandemia? Jornalistas devem apenas contabilizar casos de contaminação e mortos? Como responsabilizar autoridades e não agravar a crise de confiança nas instituições num momento tão delicado?As perguntas são muitas, mas elas poderiam ser resumidas numa só: qual é a responsabilidade do jornalismo em meio à crise do coronavírus?» Pormenores aqui.
 

Na imagem à esquerda, cartune da série Bartoon, de Luís Afonso (Público, 18/03/2020).

2. No Consultório, quatro novas perguntas: a locução latina de cujus; as construções «enquanto crianças» e e«em crianças»; a análise sintática de uma frase de Camilo Castelo Branco; e a ordem interna a que pode obedecer em português uma sequência de adjetivos.

3. O sal costuma prestar-se a metáforas, para sugerir aquilo que pode dar graça à vida, desde que não caia em excessos. A propósito da família de palavras de sal, o professor João Nogueira da Costa apresenta, na rubrica O nosso idioma, uma nova lista definida pela escala que vai do salgado ao insonso.

4. Como foi dito, as medidas de confinamento aconselhado ou imposto pelos governos levam a suspender as aulas presenciais, mas o mundo do ensino a distância move-se e testa os seus limites. Tal é o contexto do desafio que o professor e classicista português Frederico Lourenço propõe: aulas de latim a partir do zero na página de Facebook que criou para efeito. Material de apoio; o livro da sua autoria a Nova Gramática do Latim, publicada em 2019 (ver Montra de Livros).

5. As medidas de exceção alteram o nosso quotidiano, é verdade, mas reconheça-se que, mesmo sem teletrabalho, são muitas as opções para manter o espírito vivo e curioso, pondo-o em contacto com o mundo da cultura. Algumas sugestões com origem em Portugal:

– neste dia, pelas 19h00, a inauguração virtual em linha da exposição Julian Opie. Obras inéditas, no Museu Coleção Berardo;

– os projetos A Música Portuguesa a Gravar-se a ela própria, e A Dança Portuguesa a Gostar de si própria, desenvolvidos no âmbito das atividades de A Música Portuguesa a Gostar dela própria, do realizador-musicólogo Tiago Pereira;

– a "Quarentena Cinéfila", uma programação que a exibidora  portuguesa Medeia Filmes organiza e disponibiliza em linha;

– as plataformas de arquivo de livros digitalizados e eletrónicos, entre as quais se contam a biblioteca digital da Biblioteca Nacional de Portugal.

6. Nos programas que a Associação Ciberdúvidas da Língua Portuguesa produz para a rádio pública portuguesa, realce para três entrevistas:

– No programa Língua de Todostransmitido pela RDP África, na sexta-feira, dia 20 de março, pelas 13h20*, entrevista-se o escritor cabo-verdiano Germano de Almeida, que fala sobre o Jornal de Letras, Artes e Ideias – em Portugal, o conhecido JL – e a sua importância na divulgação das literaturas africanas em português.

– No Página de Português, emitido pela Antena 2, no domingo, 22 de março, pelas 12h30*, dá-se destaque à comemoração dos 40 anos de vida do JL – Jornal de Letras, Artes e Ideias com um depoimento do seu fundador e diretor, desde o início, José Carlos Vasconcelos.

O programa Língua de Todos é repetido no sábado, dia 21 de março, depois do noticiário das 09h00; e o  Páginas de Português  tem repetição no sábado, dia 29 de março, às 15h30. Hora oficial de Portugal continental, ficando ambos os programas disponíveis posteriormente aqui e aqui.

Por Ciberdúvidas da Língua Portuguesa

1. Os processo de formação de uma  língua consolidam-se no tempo, o que implica que a reconstituição do percurso efetuado seja um processo tanto apaixonante quanto complexo. Por exemplo, a mesóclise (colocação de um pronome átono entre o radical e a desinência do verbo, visível em formas como amá-lo-ei), fenómeno pleno de vitalidade na escrita e em registos mais formais do oral, encontra a sua origem em formas perifrásticas verbais características do latim vulgar, como se explica numa das respostas constantes da atualização do Consultório. A sintaxe volta a ser um assunto que dá origem a questões diversas, o que fica patente em duas respostas que tratam os complementos oblíquos do verbo voltar e a identificação de uma oração resultativa em «O que aconteceu para chegares tarde?» Discute-se, ainda, qual será a forma correta de uma parlenda: «hoje é domingo, pé de cachimbo» ou «hoje é domingo, pede cachimbo»? Finalmente, trata-se a questão da pronúncia do nome científico Erlichia canis (doença popularmente conhecida como «febre da carraça»): "erlíquia" ou "erlíchia"?

2.  A comida que alimenta o corpo sustenta também o espírito. É o que parece comprovar a obra «Que cousa é chanfana?», que o jornalista e escritor Fernando-António Almeida arquitetou em torno de 9 sonetos dedicados à chafana pelo poeta satírico António Lobo Carvalho, em pleno século XVIII. Uma obra de natureza histórica, ensaística, que passa pelos ambientes literários e pelo mundo da restauração lisboeta e que «com aparente despretensão, marca uma diferença erudita e ao mesmo tempo de grande força sugestiva, quando evoca ambientes da Lisboa antiga, entre poetas devassos e galegos laboriosos. Assim se dá também alimento à curiosidade por um passado citadino, afinal, tão vivo nos nomes das ruas e praças lisboetas», como sintetiza Carlos Rocha, coordenador executivo do Ciberdúvidas, na apresentação que divulga na Montra de Livros

3. Nos dias que correm, as palavras mais ouvidas e lidas convergem para a situação provocada pela pandemia do coronavírus. COVID-19 é a palavra do momento, ainda não dicionarizada, mas por todos já reconhecida como tal e usada a cada hora. Todavia, a sua significação permanece instável, como é comum nas palavras recém-criadas. Por essa razão, recordamos aqui que COVID-19 é o nome da doença provocada pelo vírus que recebeu a designação de SARS-CoV-2 pelo Comité Internacional para a Taxonomia dos Vírus. Visto que o nome da doença está a sofrer um processo de lexicalização, poderá ser escrito em letra minúscula, usado como nome comum (covid-19), não se justificando o recurso a maiúscula inicial. Os usos dados à palavra estão a provocar uma instabilidade no seu género, pois esta é utilizada tanto para referir a doença («a covid-19») como, indevidamente, o vírus que a provoca («o covid-19»). Para evitar esta indefinição e a falta de rigor que causa, sugerimos que se utilize o termo no género feminino («a covid-19») exclusivamente para designar a doença, tal como definiu a Organização Mundial de Saúde, reservando para o vírus a designação técnica SARS-CoV-2, a expressão «novo coronavírus» ou ainda «2019-nCoV». No âmbito das decisões políticas associadas à pandemia, recordamos que as expressões «estado de alerta» e «estado de emergência» se escrevem com letra minúscula e teletrabalho se escreve com minúscula e sem hífen.

Algumas destas sugestões e ainda outras foram já apresentadas em aberturas anteriores do Ciberdúvidas: aqui, aqui e aqui

4. Também à volta das palavras da atualidade, o professor universitário e tradutor Marco Neves explica a origem do termo isolamento, esclarecendo que deriva do verbo isolar, que se formou a partir da palavra isola, derivada do termo latino insula. Uma história curiosa para acompanhar os dias de isolamento voluntário que marcam o nosso quotidiano e, já agora, sigamos os conselhos do autor: «Já que temos de ficar uns tempos armados em ilhas, usemos as palavras e as histórias para nos achegarmos uns aos outros. São um pequeno alívio nestes dias do vírus.» (crónica divulgada no blogue Certas Palavras e aqui transcrita, com a devida vénia).

5. É também à volta das palavras que o apontamento da jornalista Anabela Mota Ribeiro se constrói. São as palavras que nos podem estruturar e auxiliar nos tempos que vivemos: empatia, disciplina, obediência e confiança, mas também força e coragem. Esta é uma mensagem feita de palavras que nos auxilia na reinvenção dos nossos dias. 

6. Visões apocalíticas do devir do mundo consideram que a pandemia que vivemos pode ser o resultado de uma vingança divina. Tomando o tema sob a ótica do texto bíblico (de que é tradutor), o professor universitário Frederico Lourenço esclarece, no seu mural de Facebook, que na Bíblia as passagens que associam a doença à ira de Deus são residuais, o que invalida a generalização deste conceito. Uma visão esclarecida que denuncia usos abusivos e adulteradores que vingam com alguma facilidade nos tempos atuais.

 7.  Destacamos, neste ponto final,

– A colaboração da Porto Editora e da Leya, que decidiram abrir gratuitamente as suas plataformas digitais a todos os alunos e professores, como forma de auxiliar a reestruturação do ensino em função da nova realidade de ensino-aprendizagem (notícia);

– A apresentação, pelo jornal Nexo, de um panorama gráfico da obra do escritor brasileiro Guimarães Rosa, que trata aspetos como a avaliação dos leitores, as obras publicadas por idade e por número de páginas, entre outros aspetos (aqui);

– O passatempo, também divulgado pelo jornal Nexo, que convida o leitor a identificar a língua em que 10 músicas são cantadas (aqui). 

Por Ciberdúvidas da Língua Portuguesa

1. A atualidade económica e financeira é dominada pelo impacto da propagação da doença do coronavírus, mas, noutro quadrante, a queda do preço do petróleo, decorrente de um diferendo entre a Federação Russa e a Arábia Saudita, também se reflete nos mercados. A propósito de combustível barato, um jornal português fala até do preço mais elevado do litro de água, à volta dos "0,37 cêntimos". Mas será mesmo este o valor que se pretende referir? No Pelourinho, um apontamento do professor Guilherme de Almeida, especialista em termos e unidades de medida, mostra como o descaso com o registo de valores em euros e cêntimos pode levar as notícias ao absurdo.

2. Concebidos geralmente como um tipo de «publicação anual com calendário, diversas informações úteis para cada mês e textos de índole variada (de caráter literário, de divulgação científica, de cariz humorístico, etc.)» (Infopédia), os almanaques tiveram lugar importante nos consumos culturais em língua portuguesa: basta lembrar o antigo Almanach de Lembranças Luso-Brasileiras, publicado durante oito décadas, de 1851 a 1932. Retomando com engenho esta tradição, o professor universitário e tradutor Marco Neves escreveu e publicou recentemente mais um livro dedicado ao português: trata-se de Almanaque da Língua Portuguesa, obra que «reúne curiosidades e dificuldades de natureza linguística, num formato de almanaque, destinada ao grande público», conforme assinala Carla Marques, consultora permanente do Ciberdúvidas, na apresentação que fez para a Montra de Livros.

3. Com os prazeres da leitura oitocentista ou deste segundo milénio, conjuga-se bem um chá reconfortante, reforçado talvez com um duchesse, um éclair, um croissant, um... Para completar a série, consulte-se a lista de galicismos que o professor João Nogueira da Costa elaborou para a sua página de Facebook e que se transcreve agora em O nosso idioma.

4. No Consultório, duas perguntas da Polónia centram-se no uso de preposições com os verbos permitir e perguntar. Outra questão diz respeito a uma palavra derivada de elicitar, verbo que ainda não reúne consenso normativo. A sintaxe e a coesão textual também voltam a ser abordadas nesta atualização: será que um pronome pessoal, vós, por exemplo, pode ter a função de vocativo?  Numa frase como «a equipa visitante derrotou a equipa visita, mas esta tinha um jogador a mais», a que equipa se refere o demonstrativo esta?  

5. Continua imparável o fluxo de notícias sobre a propagação mundial da doença do coronavírus (COVID-19): depois de, em 11/03/2020 a Organização Mundial da Saúde (OMS) ter classificado a situação já como uma pandemia,* um pouco por todo o mundo há o registo da adoção de medidas drásticas para evitar a transmissão do coronavírus. É o caso de Portugal, cujo governo decretou em 12/03/2020 um conjunto de medidas restritivas, que inclui a suspensão de todas as atividades letivas –  também tendo já o mesmo acontecido no Brasil. Entretanto, para os aspetos terminológicos associados a este tema, releiam-se os registos e comentários das aberturas de 11/03/2020, 09/03/2020, 02/03/2020, 03/02/2020, 30/01/2020 e 24/01/2020.

 * Consultar "Pandemia, epidemia e endemia". Recorde-se que COVID-19 (género feminino) é o termo adotado pela OMS para designar a doença do coronavírus. A denominação, que é nome próprio, também ocorre como nome comum, sob a forma covid-19, com letras minúsculas. Quanto ao vírus causador da doença, emprega-se correntemente o nome genérico coronavírus, que é aceitável, embora o Comité Internacional para a Taxonimia dos Virus lhe atribua o nome oficial de SARS-CoV-2, de modo a distingui-lo claramente de outros do género Coronavirus e da família Coronaviridae. Todas estas distinções terminológicas provêm das linhas de orientação que, para os usos mediáticos da língua espanhola, foram definidas pelFundéu BBVA, baseando-se nas decisões terminológicas das organizações internacionais médicas e sanitárias envolvidas no acompanhamento da atual crise. Para o português, parece faltar, por enquanto, a intervenção de entidades reconhecidas capazes de fixar com clareza a transposição de tais termos. Assim, dado não haver normas da língua portuguesa a respeito da ortografia destas denominações, afigura-se recomendável manter as grafias fixadas internacionalmente: COVID-19 ou covid-19, com hífen; e SARS-CoV-2, também hifenizado.

6. Temas com destaque nos programas que a Associação Ciberdúvidas da Língua Portuguesa produz para a rádio pública portuguesa: no Língua de Todostransmitido pela RDP África, na sexta-feira, dia 13 de março, pelas 13h20*, algumas questões da nossa língua comum como, por exemplo, a diferença entre neologismos, estrangeirismos e empréstimos; e no Página de Português, emitido pela Antena 2, no domingo, 15 de março, pelas 12h30*, o que vai ser feito na Guiné Equatorial quanto ao ensino do português de acordo com um depoimento da linguista  Margarita Correia, professora na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa e presidente do Conselho Científico do Instituto Internacional da Língua Portuguesa (IILP), na sequência da sua recente deslocação a este país, integrada numa delegação da CPLP.

O programa Língua de Todos é repetido no sábado, dia 14 de março, depois do noticiário das 09h00; e o  Páginas de Português  tem repetição no sábado, dia 21 de março, às 15h30. Hora oficial de Portugal continental, ficando ambos os programas disponíveis posteriormente aqui e aqui.

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1. A Guiné Equatorial foi integrada na Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) em 23 de julho de 2014 na Cimeira de Díli, sob duas condições: a abolição da pena de morte e a adotar o português como língua oficial, de par com o espanhol (ler aqui). Seis anos depois, o segundo  compromisso  estará, finalmente, prestes a ser concretizado. Pelo menos, Teodoro Obiang, presidente guinéu-equatoriano, parece assim disposto, conforme relata a jornalista Bárbara Reis no Público de 10/03/2020: «Se na Guiné Equatorial há uma escola espanhola, uma escola francesa e uma escola turca, porque não uma escola portuguesa? O presidente Teodoro Obiang Nguema Mbasogo gostou da ideia proposta pelo secretário-executivo da (...) CPLP [ o embaixador Francisco Ribeiro Telles], que esteve em visita oficial no país [juntamente com a linguista Margarita Correia, na sua qualidade de presidente do Conselho Científico do Instituto Internacional da Língua Portuguesa – Cf.  ponto 4, em baixo] e comprometeu-se a financiar uma futura escola de língua portuguesa gerida pela CPLP.» Entretanto, registe-se que a página oficial do governo da Guiné Equatorial continua a ter versões em espanhol, em francês e em inglês, mas em português ainda não: à data desta Abertura, o português, apesar de figurar na lista de línguas disponíveis (menu no topo da página à direita), não é uma opção ativa, porque os conteúdos se mantêm em espanhol.

Sobre  o compromisso assumido da abolição da pena de morte na Guiné Equatorial  transcreva-se o que se lê a dado passo na notícia  acima  citada: «Na reunião com a delegação da CPLP, o Presidente Obiang disse que o seu Governo terminou um projecto de reforma profunda do Código de Processo Penal (CPP), no qual está prevista a abolição da pena de morte, e que em breve deverá ser entregue ao parlamento. Há mais de um ano, no entanto, que o regime de Malabo diz que essa reforma legislativa está “quase pronta”.»

2. A presente crise sanitária mundial, decorrente do alastramento da doença do coronavírus, confronta a informação mediática com o uso de neologismos terminológicos, muitos grafados sob numerosas variantes. Pergunta-se, então: que palavras se aplicam internacionalmente a esta doença e à sua causa viral? Como grafá-las? O Consultório procura ir ao encontro destas interrogações com uma resposta à volta da forma COVID-19, acrónimo fixado em 11/02/2020 pela Organização Mundial da Saúde. Outra pergunta, ainda, da presente atualização: em que aceção se emprega mais o nome classismo? E duas questões sobre gramática e escrita literária: como classificar duas construções introduzidas pela conjunção como numa carta de Monteiro Lobato (1882-1948) ? Que importância têm os deíticos no estilo de José Saramago (1922-2010)?

Na imagem à direita, mapa mundial indicativo da situação, em 11/03/2020, dos países afetados pelo surto de COVID-19 (fonte: "Surto de COVID-19", Wikipédia, consultado em 11/03/2020).

2. Associada a uma guerra de preços do petróleo entre a Federação Russa e a Arábia Saudita, a situação criada pela COVID-19 entre a população mundial repercute-se também na economia globalizada e nos mercados financeiros. Nos títulos notíciosos são recorrentes vocábulos e expressão como colapso (das bolsas), queda (das bolsas), recessão.  Junta-se-lhes ainda o anglicismo sell-off, que pode ter vários equivalentes corretos em português, desde os simples venda ou liquidação a expressões compostas como «venda apressada (para se desfazer de ações na bolsa)», «venda (de ações) ao desbarato». Virando a atenção para o que se faz em línguas irmãs, refira-se que, para o espanhol, a Fundéu BBVA recomendou em 10/03/2020 o emprego alternativo de venta masiva e oleada de ventas, expressões adaptáveis sem dificuldade ao português como «venda maciça» e «onda de vendas». É fórmula correta, sobretudo, pela sua expressividade, a perífrase «onda de vendas», que já tem uso na escrita jornalística em português ("Onda de vendas acentua crise na Turquia", Dinheiro Vivo, 13/08/2018), com eventuais variações adjetivadas: «onda generalizada de venda».

3. A propósito de petróleo, ocorre evocar o nome geográfico Golfo Pérsico. Pois, passando ao domínio risonho dos prazeres da vida, entre eles, o de comer uma bela peça de fruta, quem havia de dizer que, por exemplo, a palavra pêssego é uma forma divergente de pérsico?  Este é um dos cinco nomes de frutos com origem em topónimos, isto é, derivados de nomes de lugares ou regiões, a que o colaborador João Nogueira da Costa dedicou na sua página de Facebook um interessante apontamento etimológico, que agora se divulga em  O nosso idioma.

4. Nos programas que a Associação Ciberdúvidas da Língua Portuguesa produz para a rádio pública portuguesa, são temas centrais:

– no programa Língua de Todostransmitido pela RDP África, na sexta-feira, dia 13 de março, pelas 13h20*, algumas questões da nossa língua comum esclarecidas e comentadas pela professora Sandra Duarte Tavares, colaboradora do Ciberdúvidas: qual a diferença entre neologismos, estrangeirismos e empréstimos?

–  no Página de Português, emitido pela Antena 2, no domingo, 15 de março, pelas 12h30*, a linguista  Margarita Correia, professora na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa e presidente do Conselho Científico do Instituto Internacional da Língua Portuguesa (IILP),  aborda o que ficou  decidido sobre o ensino do português na Guiné Equatorial, na sequência da sua recente deslocação a este país, integrada numa delegação da CPLP [ver ponto 1, em cima].

O programa Língua de Todos é repetido no sábado, dia 14 de março, depois do noticiário das 09h00; e o  Páginas de Português  tem repetição no sábado, dia 21 de março, às 15h30. Hora oficial de Portugal continental, ficando ambos os programas disponíveis posteriormente aqui e aqui.

Por Ciberdúvidas da Língua Portuguesa

1. A oralidade é, muitas vezes, o espaço das grandes inovações linguísticas. Num lento processo, a língua falada lima, transforma, deturpa. Este é um contexto onde a vigilância e o controlo da norma são menos eficazes, o que contribui para a criação de novas realidades lexicais, semânticas e sintáticas. É neste âmbito que se insere a ação da erosão linguística sobre a expressão «raios me/te partam», como se explica numa das respostas divulgadas na nova atualização do Consultório. É também na oralidade que encontramos registos da construção «combinar para», que aqui se analisa em contraste com os usos normativos. Numa outra resposta, explica-se que a expressão de realce «é que» é uma construção cuja origem se perde no tempo, sendo possível identificar a sua utilização já em textos de Padre António Vieira, o que parece contrariar a tese do seu decalque da construção francesa «c'est que». Apresentamos ainda uma resposta que trata os significados do nome tempo enquanto termo que designa meteorologia e tempo cronológico. Por fim, abordamos uma questão que envolve as construções com o verbo insistir

2. Bem portuguesa é a questão-tag «não já?», usada no final de uma pergunta para confirmar uma determinada informação, cujos usos o jornalista e cronista Miguel Esteves Cardoso explora para concluir que os processos da significação se enredam em construções específicas que exigem um conhecimento profundo da língua para serem compreendidas. Exemplo disso é também o uso da expressão «pois não», cuja significação afasta o português do Brasil do português europeu (crónica divulgada no jornal Público, aqui transcrita com a devida vénia).

3. A palavra coronavírus entrou definitivamente no leque dos lexemas mais usados e ouvidos na atualidade. Numa viagem à sua origem, o professor universitário, escritor e tradutor Frederico Lourenço conta-nos parte da história dos caminhos da forma e da significação dos nomes corōna e vīrus, que se vieram a juntar para designar uma nova realidade. Duas palavras que «[p]or via da herança grega e latina, [...] têm uma história milenar, cuja viagem (pelo menos a reconstruível) começa com Homero e tem ponto de passagem no Novo Testamento», esclarece o autor num texto divulgado no seu mural de Facebook. Também o tradutor e professor universitário Marco Neves, influenciado pela omnipresença da palavra palavra da atualidade, enceta uma viagem à história da palavras vírus, que, ao longo do seu percurso de evolução, surge em Os Maias, de Eça de Queirós, numa altura em que o conhecimento desta nova realidade era considerado um real avanço da medicina (texto divulgado no blogue do autor, Certas Palavras, e aqui transcrito com a devida vénia). 

4. A evolução dos processos articulatórios no campo do desenvolvimento da linguagem humana é uma área de estudos muito interessante e de âmbito muito complexo, dada a dificuldade em encontrar evidências que comprovem as teorias desenvolvidas. A revista National Geographic divulgou um estudo, considerado uma hipótese controversa, que procura associar o início da produção das consoantes fricativas /f/ e /v/ à diversificação dos alimentos, realidade que veio a alterar o processo de desgaste dentário, facilitando, assim, a reprodução destes sons (artigo disponível em linha aqui).  

5. A leitura digital tem tido um crescimento extraordinário, tendo vindo a substituir, em inúmeras situações, a leitura em papel. Não obstante a rapidez e a facilidade associadas à leitura neste suporte, um estudo desenvolvido em Espanha demonstrou que a leitura em papel favorece a compreensão, até porque se associa a uma maior calma e concentração, que o mundo digital raramente propicia (ver notícia aqui). Estes resultados poderão também revelar-se pertinentes para a realidade portuguesa.Todavia, em sentido contrário, encontramos projetos que apostam no desenvolvimento das competências digitais, procurando, em muitos momentos, a centralidade das tecnologias no espaço da sala de aula (como nos relata a reportagem divulgada na Revista_2, separata do jornal Público). O equilíbrio entre a motivação que as tecnologias proporcionam e a construção da compreensão que o papel assegura mais eficazmente será um dos desafios da educação do século XXI. 

6. Entre os eventos relacionados com a língua portuguesa, divulgamos a realização do Festival do Roteiro da Língua Portuguesa – Guiões –, que pretende criar um espaço propício à criação de guiões / roteiros que possam promover a criação e a produção cinematográfica em língua portuguesa. Este festival decorrerá em Lisboa, no cinema São Jorge, na Universidade Lusófona e na Cinemateca Portuguesa, nos dias 11 a 13 de março. 

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1. Dia 8 de março celebra-se o Dia Internacional da Mulher, data instituída oficialmente em 1957, pelas Nacões Unidas. Embora haja quem associe o dia a um momento de festejo, o seu mais profundo intuito é de protesto pelos direitos que as mulheres ainda não conseguiram ver reconhecidos. E é por esta razão que este dia mantém a sua essência. Com efeito, em pleno século XXI, continuamos a verificar a existência de direitos diferentes com base apenas na discrimunação de género. As mulheres continuam a ter salários inferiores para o mesmo trabalho, continuam a ter dificuldades em aceder a cargos de chefia nos diferentes domínios e muitas continuam a acumular empregos com tarefas domésticas e exercício da maternidade, para já não falar de outras diferenças mais gritantes ainda que se observam em diferentes culturas e em diferentes pontos do planeta. Também a linguagem sinaliza estas assimetrias, funcionando como uma projeção da forma como se concebe a sociedade. Recordemos o caso das profissões que não têm feminino ou cujo feminino tem dificuldades em impor-se. A este propósito, deixamos aqui apontamento das muitas respostas que o Ciberdúvidas tem tratado a respeito deste tema: «O feminino de guarda-noturno», «O feminino de palhaço», «Feminino de piloto aviador», «Juíza + a aprendiza», «Capataz ou capataza?», «Ainda o feminino de capitão», «Feminino de escanção», «Qual o feminino de bombeiro?», «A tropa no feminino», «O feminino de gramático», «O feminino de músico», «Político-mulher» e ainda o artigo «Palavras à procura de feminino». A evocação dos direitos da mulher não nos deve permitir esquecer que continuam a fazer parte do quotidiano de muitíssimas mulheres terríveis situações de violência doméstica, algumas das quais resultam em feminícidio (palavra tratada aqui por diversas ocasiões «Ginocídio e feminicício», «Feminicício ≠ uxoricídio»).  Esta é uma luta que a todos convoca. O Dia da Mulher é também motivo bastante para que recordemos aqui o texto intitulado «Porque sou feminista»,  da jornalista Anabela Mota Ribeiro, no qual, assumindo-se como exemplo, esta evoca todo um percurso de libertação e conquistas da mulher portuguesa ao longo de três gerações, passando também pela pintura de Paula Rego e pelas personagens femininas do escritor brasileiro Machado de Assis. Da mulher e das suas histórias à arte e ao mundo, vistos a partir do espaço doméstico onde a mulher existe e se reconstrói (texto divulgado no blogue pessoal da autora e que foi lido  no International Seminar Female Public Intellectuals: critical thinking and social activism, com lugar na Universidade dos Açores, em 26 e 27 Setembro de 2019).

A propósito ainda do dia da «mais bela metade do mundo», como lhes chamou Jean-Jacques RosseauVestidas de Negro + O Dia Internacional da Mulher ainda é necessário? Sim! Saiba porquê

Primeira imagem: Anjo, Paula Rego, 1998.

2. A acentuação resulta de um conjunto de convenções que procuram, em simultâneo, resolver questões especificamente associadas à representação dos sons. O caso dos sons nasais e, em particular, dos ditongos nasais exige um olhar atento que se proporciona nesta resposta que integra a atualização do Consultório. Nesta secção, encontramos ainda uma análise aos complementos do verbo falar e às preposições que este rege bem como a identificação da função sintática do constituinte que acompanha o nome pergunta em «pergunta sobre o sentido que a dada altura nos assalta». Apresentamos também duas respostas de âmbito lexical: uma sobre a existência e significado do verbo desadensar e outra que coteja os adjetivos favoritopreferido

3. O preconceito racial confunde-se com a história de vários países. Portugal não é exceção e a sua língua, sendo permeável à cultura do povo que a fala, não permanece neutra, acabando por denunciar uma matriz discriminatória na base de algum do seu léxico. Partindo destes princípios, a professora e investigadora da Faculdade de Letras da Universidade de LisboaMargarita Correia propõe, num artigo intitulado «A discriminação racial nos dicionários de língua», colocar novas questões relativas à forma como as palavras que designam conceitos relacionados com a raça e com a etnia deverão ser abordadas num dicionário: deve procurar-se o socialmente correto ou optar-se por uma perspetiva meramente descritiva?

4. Entre as notícias que se relacionam com a língua portuguesa, damos destaque a dois eventos: 

– O Presidente português  Marcelo Rebelo de Sousa foi o último convidado do «Camões dá que falar», promovido no dia 4 de março pelo Camões – Instituto da Cooperação e da língua. Aqui se falou do desafio que coloca a expansão da língua portuguesa e do seu ensino pelo mundo, considerando o orador que o grande desafio é o de promover a língua portuguesa como «língua universal» (ver notícia);

– A peça «A menor língua do mundo» está em cena até dia 15 de março no Teatro Nacional D. Maria II, em Lisboa. Trata-se de um texto que resulta de uma viagem da equipa artística por diferentes regiões do país ao encontro das línguas e dialetos que em Portugal e na Península Ibérica estão ameaçadas: «a língua gestual portuguesa, o minderico, o aragonês, o barranquenho e o mirandês entre outras», lê-se no texto de apresentação do espetáculo. 

5. Nos programas que a Associação Ciberdúvidas da Língua Portuguesa produz para a rádio pública portuguesa, recordamos:

– A entrevista  ao linguista Fernando Venâncio a propósito da sua obra Assim Nasceu uma Língua, no programa Língua de Todostransmitido pela RDP África, na sexta-feira, dia 9 de março, pelas 13h20*;

– A entrevista dada pela professora Teresa Simão ao programa Página de Português, emitido pela Antena 2, no domingo, 8 de março, pelas 12h30*, abordando a sua obra Dicionário do Falar Raiano de Marvão

O programa Língua de Todos é repetido no sábado, dia 7 de março, depois do noticiário das 09h00; e o  Páginas de Português  tem repetição no sábado, dia 14 de março, às 15h30. Hora oficial de Portugal continental, ficando ambos os programas disponíveis posteriormente aqui e aqui.

 

Por Ciberdúvidas da Língua Portuguesa

1. Em Portugal, por precipitação, descaso ou ignorância, acumulam-se perigosos sinais de descuido no que se escreve no espaço público. O Pelourinho regista duas situações críticas. Primeiro, a de um concurso televisivo, novamente aqui mencionado num texto de Sara Mourato, desta vez, por causa de uma questão ortográfica que não deveria gerar dúvidas: a dos nomes compostos que denotam espécies botânicas e zoológicas, sempre hifenizados. A segunda é abordada num apontamento de Carla Marques e centra-se no cartaz na apresentação pública da candidatura de um político português à Presidência da República: os erros detetados são incompatíveis com um processo eleitoral sério.

2. Há mais de três décadas, na voz de António Variações (1944-1984), ouvia-se na rádio ou na televisão portuguesas um estribilho que ao som de música rock dizia assim : «toma o comprimido, que isso passa». Mas, se a ordem do trepidante criador português fosse «"bebe" o comprimido», estaria ele a cometer um claro erro de impropriedade vocabular? A interrogação vem a propósito de uma das perguntas da presente atualização do Consultório, no qual são igual motivo de dúvida o regionalismo «de enxotão» e a história fonética do possessivo nosso. Realce ainda para duas questões sobre advérbios que contribuem para a coesão do discurso: como se analisa gramaticalmente a associação de um advérbio e uma conjunção como «também porque»? E como classificar justamente na sequência «justamente porque»?

3. Em contexto escolar, em Portugal e não só, os cursos de Ciências e Tecnologias do ensino secundário têm um tratamento diferente dos de Línguas e Humanidades do mesmo ciclo de estudos. Na rubrica Ensino, transcreve-se, com a devida vénia, do blogue da historiadora Raquel Varela, um texto intitulado "A excelência das Letras", no qual esta autora lamenta atitudes que denunciam uma menorização das Humanidades no ensino – e deixa um aviso: «Este desequilíbrio de fazer das ciências sociais e humanas o parente pobre vai pagar-se caro no futuro, é uma coisa, aliás, de um país atrasado, sem estratégia autónoma. E todos vamos pagar caro, quer os de ciências quer os de letras.»

4. Entre obras editadas nos últimos meses com interesse para uma visão da língua como fator de comunicação intercultural, são de realçar:

–  O livro Alin-mane: Lusofonia e Cooperação na Área Educacional em Timor-Leste, organizado por Valdir Lamim-Guedes e Carlos Gontijo Rosa e sob a chancela da editora brasileira Na Raiz. Esta obra, disponível em formato eletrónico, dá conta da participação de um grupo de educadores brasileiros na atividade da Universidade Nacional de Timor-Leste, localizada em Díli, a capital timorense, no ano de 2012.

– A publicação de As Literaturas em Língua Portuguesa (Das Origens aos Nossos Dias), da autoria do professor José Carlos Seabra Pereira (Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra) e editado pela Gradiva com o apoio do Instituto Politécnico de Macau e do Conselho Coordenador dos Institutos Superiores Politécnicos. O volume vai ser apresentado, em 11 de março de 2020, na Livraria Buchholz, em Lisboa, pelo poeta e crítico literário Pedro Mexia e pelo académico e ensaísta António Feijó.

5. Mudando de tom e aflorando o debate contemporâneo* à volta da linguagem preconceituosa e de estratégias para a evitar, fica o registo do vídeo que adiante se mostra – "Aprendendo português sem palavras preconceituosas":

 

* Cf. "Da minha língua vê-se o preconceito", "A linguagem do ódio",  "Palavras carregadas de preconceitos e tabus", "10 expressões racistas que deveríamos tirar do nosso vocabulário", "'Machista' e 'heteropatriarcal' a língua portuguesa?". Ler também Margarita Correia, "A discriminação racial nos dicionários de língua: tópicos para discussão, a partir de dicionários portugueses contemporâneos", Alfa – Revista de Linguística, v. 50, n.º 2, 2006.

6. Sobre os programas que a Associação Ciberdúvidas da Língua Portugues produz para a rádio pública portuguesa, assinale-se o Língua de Todos é transmitido pela RDP África, na sexta-feira, dia 6 de março, pelas 13h20*, enquanto o Página de Português tem nova emissão na Antena 2, no domingo, 8 de março, pelas 12h30*.

O programa Língua de Todos é repetido no sábado, dia 7 de março, depois do noticiário das 09h00; e o  Páginas de Português  tem repetição no sábado, dia 14 de março, às 15h30). Hora oficial de Portugal continental, ficando ambos os programas disponíveis posteriormente aqui e aqui.

Por Ciberdúvidas da Língua Portuguesa

1. O mês de março, que teve início ontem, tem o seu nome formado a partir de Martius (Marte), o deus romano da guerra, a quem este mês era dedicado. Antes do calendário juliano, era neste mês que o ano tinha início, o que coincidia com a chegada da primavera. Era o mês consagrado ao deus Marte porque nesta altura tinham início as campanhas bélicas. Há ainda países, como o Irão, em que o ano começa em março, nomeadamente a 20 de março, no momento do equinócio da primavera (mais detalhes associados ao mês de março aqui). Na tradição popular, o mês de março está associado a provérbios relacionados com a duração do dia solar («Em março, tanto durmo como faço»), com a instabilidade meteorológica («Março, marçagão, manhã de Inverno, tarde de Verão», «Em março, chove cada dia um pedaço.», «Lua cheia em março trovejada, trinta dias é molhada.») ou com a agricultura («Poda em março, vindima no regaço.», «Nasce a erva em março, ainda que lhe deem com o maço.», «Vento de março, chuva de abril, fazem o maio florir.») (outros provérbios relacionados com o mês de março aqui). 

Este tema justifica também que recordemos algumas respostas relacionadas com o mês de março: «Hoje são 2 de março» e «Eram princípios de março».

Primeira imagem: Marte, de Diego Velázquez, 1640. 

2. O termo empreendedorismo é frequentemente utilizado no domínio empresarial para referir a iniciativa de promover negócios inovadores que podem envolver alguns riscos. Embora seja já do domínio comum, a forma que este nome assumiu continua a oferecer dúvidas face à forma "empreendorismo", que aqui se esclarece, discutindo ainda a forma das palavras computorizadocomputadorizado. Na atualização do Consultório, trazemos ainda uma resposta sobre a proximidade de significados dos adjetivos radiosoradiante. Os tempos verbais voltam a colocar problemas tanto no campo da correção como no da significação, como se observa pelo cotejo das frases«Talvez possa ir hoje» e «Talvez pudesse ir hoje». No campo da sintaxe, discutimos a regência de partícipe e a função sintática do adjetivo no sintagma «série televisiva». Uma nota ainda para o enriquecimento da resposta «Guitarra "vs." viola», com um esclarecimento sobre a tradução de guitarra e de viola para o inglês e uma precisão relativamente ao uso do termo guitarra em contexto formal em Portugal. 

3. Na terça-feira, dia 3 de março, 14 estados norte-americanos realizarão as suas eleições estaduais para o processo de nomeação do candidato presidencial pelo Partido Democrata. É a designada  superterça-feira. Dado que este termo tem assumido várias grafias na comunicação social escrita (ver aqui), aconselhamos a que a sua grafia assente na aglutinação de superterça, mantendo-se o hífen já existente em terça-feira. Por outro lado, a palavra deve ser grafada com letra minúscula (uma opção similar é aconselhada para o espanhol pela Fundéu BBVA).

 4. coronavírus continua na ordem do dia, pelo que muito se escreve a propósito desta temática. Para além do que já aqui ficou recomendado (cf. Aberturas de 24/01/2020, de  30/01/2020, de 03/02/2020 e de 28/02/2020), remetemos para algumas precisões introduzidas pelo Fundéu BBVA que também se aplicam à língua portuguesa: as expressões «foco do vírus» ou «epicentro do vírus» são preferíveis a «epicentro do foco do vírus», que se revela redundante; a expressão «paciente zero» deve ser escrita com minúsculas e não necessita de aspas. A este propósito coloca-se também a questão da pronúncia de coronavírus que deve ser realizada como /kurônavírus/, não sendo correto pronunciar a primeira sílaba como "kô", pelo menos, entre os falantes de Portugal.

5. Entre as notícias relacionadas com a língua portuguesa em sentido largo, destacamos:

– A atribuição do Prémio Literário Vergílio Ferreira ao professor da Universidade de Coimbra e ensaísta Carlos Reis, cuja cerimónia de entrega tem lugar hoje (2 de março) na Universidade de Évora (notícia);

– A reabertura do Museu da Língua Portuguesa, em São Paulo, no dia 25 de junho – cinco anos após o incêndio que o destruiu em 2015.