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Por Ciberdúvidas da Língua Portuguesa

 1. A saída do Reino Unido da União Europeia, conhecida como Brexit ou "Exit day" (expressão preferida pelo primeiro-ministro britânico Boris Johnson), acontece hoje, dia 31 de janeiro, às 23h locais (mesma hora de Lisboa), depois de ter sido ratificada pelo Parlamento Europeu  (jornais Observador, Público, Jornal de Notícias  e Expresso). O termo Brexit tem levantado inúmeras questões linguísticas relacionadas com a sua grafia ou com a possibilidade de o traduzir para outras línguas, mas uma vez que a palavra parece ter-se instalado nos meios de comunicação social portugueses (e internacionais), poderemos seguir as sugestões da Fundéu BBVA, que recomenda que o termo se escreva de uma de duas formas: com letra minúscula e itálico (brexit), opção que toma a palavra como um nome comum, ou com letra de imprensa com maiúscula inicial (Brexit), uso que toma a palavra como um substantivo próprio que refere um facto histórico. 

2. O Brexit é um acontecimento que alterará o funcionamento da União Europeia, mas esta mudança implicará também consequências a nível linguístico? Por exemplo, deixará o inglês de ser falado na instituições da União? Esta questão é analisada pelo professor universitário e tradutor Marco Neves, na sua crónica «O que vai acontecer ao inglês na União Europeia depois do Brexit?», divulgada no seu blogue Certas Palavras

3. No Consultório, há questões que ciclicamente se voltam a colocar. É o caso da pronúncia do antropónimo Félix, que se deve realizar como "félis" e não "féliquesse", como aqui se explica de novo. A nova atualização centra-se em questões a propósito do significado das palavras «Ladravaz e ladravão» e do «adjetivo relativo e o verbo relativizar». Mais uma vez também se aborda a questão da colocação de pronomes clíticos na frase e ainda o problema da concordância com um sujeito composto com constituintes de géneros diferentes. 

4. Entre as publicações relacionadas com a língua, destacamos, na Montra de Livros, a obra ABC da Tradução, de Marco Neves (editora Guerra & Paz), que trata, em estilo coloquial, alguns dos problemas da tradução, numa abordagem didática que privilegia a proximidade com o leitor. No plano das publicações, foi também lançada a obra Novo vocabulário ortográfico com prontuário anexo, da autoria de D'Silvas Filho, docente universitário aposentado, das edições Guerra & Paz. Uma publicação que visa estabelecer um percurso de conciliação entre o Acordo Ortográfico de 90 e a Norma de 45.  

5. A atualidade está embrenhada na própria língua que a diz, e cada facto novo é suscetível de criar novos problemas a quem fala ou escreve. Desta feita, as dúvidas advêm da situação que afetou a cidade chinesa de Wuhan, com o aparecimento do coronavírus. Ora, de acordo com as recomendações da Fundéu BBVA, que adaptamos para a língua portuguesa, o substantivo coronavírus escreve-se como uma só palavra com acento agudo na letra -i-. É desaconselhada a expressão « doença do coronavírus», visto que a palavra em causa refere um tipo de vírus e não uma doença. Para referir a propagação do vírus, deve utilizar-se o termo pandemia, que significa "surto de uma doença com distribuição geográfica alargada" (Dicionário Priberam), uma vez que já há infetados em diversos países, sendo de rejeitar o termo epidemia, cujo significado é "doença que, numa localidade ou região, ataca simultaneamente muitas pessoas" (Ibidem). Por fim, a pronúncia correta da cidade de Wuham e da província de Hubei pode ser consultada aqui

6. O problema de determinar se o ano de 2020 inicia ou fecha uma década continua a gerar controvérsia, como damos conta com a publicação da posição de Guilherme de Almeida, autor e professor aposentado de Física, que se funda em critérios matemáticos, rejeitando o argumento das convenções. 

7.  Marco Neves, professor universitário e tradutor, tem uma predileção por contar histórias relacionadas com a língua. Desta feita, foi em busca da história da letra -s-, desde a sua origem fenícia até aos sons que atualmente representa em português. Uma crónica publicada no blogue Certas Palavras, que aqui reproduzimos com a devida vénia. 

8.Camões - Instituto da Cooperação e da Língua e o Instituto Cervantes apresentaram um projeto de lançamento de um livro que visa promover as línguas portuguesa e espanhola, através da demonstração do seu poder e potencial (notícia).

9.  Os programas que a Associação Ciberdúvidas da Língua Portuguesa produz para a rádio pública portuguesa abordam, nesta semana, os temas da influência das línguas bantas no português oral falado1 em Luanda (Angola) e de um projeto didático de ensino interdisciplinar do português(notícia).

1. Programa Língua de Todos, da RDP África, difundido na sexta-feira, dia 31 de janeiro, pelas 13h20 (repetido no sábado, dia 30 de janeiro, depois do noticiário das 09h00);

2. Programa Páginas de Português, transmitido pela Antena 2, que vai para o ar no domingo, 2 de fevereiro, pelas 12h30, (com repetição no sábado, dia 8 de fevereiro, às 15h30).

Hora oficial de Portugal continental, ficando ambos os programas disponíveis posteriormente aqui e aqui.

 

Por Ciberdúvidas da Língua Portuguesa

1. No Consultório, volta-se à poesia de Eugénio de Andrade (1923-2005), por causa de uma questão sobre as figuras de estilo que constroem os dois últimos versos de "quando em silêncio passas entre as folhas", do livro As Mãos e os Frutos (1948)*. Pedem-se também esclarecimentos sobre a expressão «fazer mal» e a boa formação do termo concertinista. Completam a atualização duas perguntas relacionadas com o contacto do português com outras línguas: em «cumprimentos desde o Brasil», não haverá um castelhanismo? E no uso das hashtags (anglicismo substituível por etiqueta), podem escrever-se acentos gráficos?

* Ouça-se o apontamento que o jornalista Carlos Vaz Marques dedicou a As Mãos e os Frutos em 19 de novembro de 2012 no programa O Livro do Dia, da TSF. Escute-se também a versão musical de "quando passas em silêncio...", da autoria do compositor português Fernando Lopes-Graça (1906-194) – aqui.

2.  Em Portugal e não só, causam celeuma as revelações acerca das atividades de Isabel dos Santos, filha do ex-presidente angolano José Eduardo dos Santos, designadamente, os Luanda Leaks, isto é, um conjunto de mais de 700 000 documentos que parecem comprometer criminalmente a empresária e outras figuras, incluindo vários cidadãos portugueses. Além da palavra leak (plural leaks), o mesmo que fuga de informação (confidencial), dois anglicismos são igualmente recorrentes nas notícias a respeito de Rui Pinto, um jovem pirata informático até há pouco acusado da divulgação de segredos contratuais de clubes de futebol portugueses e europeus, mas agora também tido como autor da recolha e difusão dos documentos sobre Isabel dos Santos. Trata-se de hacker, que tem como equivalentes ciberpirata e pirata informático;  e whistleblower – literalmente «assoprador de apito» – termo ainda à espera de alternativa vernácula estável, mas que pode ser entendido como denunciador ou acusador, com conotação positiva, porque pressupõe uma ação a favor da justiça.

3. Na rubrica Controvérsias, transcreve-se com a devida vénia um artigo (Público, 27/01/2020) do jornalista português Paulo Prisco, deputado do Partido Socialista, que contesta as críticas que o professor Santana Castilho faz à política seguida pelo Ministério dos Negócios Estrangeiros de Portugal na definição e funcionamento da rede de ensino de Português no estrangeiro.

4. Na rubrica Notícias, dá-se conta do lançamento em linha de um glossário organizado pelArquivo e Biblioteca Municipal de Sines e pela Universidade de Évora, no qual se listam 300 termos e expressões antigas das gentes do concelho de Sines – um vocabulário com muitas proveniências e relacionado com as atividades agrícolas e piscatórias (consulta gratuita aqui).

5. Na mesma rubrica, regista-se o aparecimento no mercado português do Scrabble GO, versão oficial do Scrabble para dispositivos móveis, com suporte para a língua portuguesa e verificação de palavras através do Dicionário Priberam da Língua Portuguesa.

6. De Goa chega também a notícia da realização do V Simpósio Internacional Goa: Culturas, Línguas e Literaturas, pelo Departamento de Português e Estudos Lusófonos da Universidade de Goa e pelo Camões-Centro de Língua Portuguesa em Pangim. O evento, que decorre de 28 a 30/01/2020, em Goa, reúne especialistas na área dos estudos indo-portugueses, na maior parte membros do projeto temático “Pensando Goa”, financiado pela Fadesp, e investigadores goeses. No encontro, também se evocará a memória de quatro personalidades da vida académica e cultural de Goa, desaparecidos em 2019: Teotónio Rosário de Souza, Percival de NoronhaMargareth Mascarenhas e Alito Sequeira.

7. O tradutor e professor portugês Marco Neves acaba de publicar mais um livro, desta vez, sobre o tema da tradução, intitulado ABC da Tradução (edição da Guerra e Paz). O lançamento vai ter lugar em Lisboa (El Corte Inglés), no dia 30 de janeiro de 2020, pelas 18h30.

8. Temas centrais da presente semana nos programas que a Associação Ciberdúvidas da Língua Portuguesa produz para rádio pública portuguesa:

– no programa Língua de Todos,  transmitido pela RDP África, na sexta-feira, dia 31 de janeiro, pelas 13h20*, o linguista angolano Afonso Miguel fala da sua investigação de doutoramento, sobre a influência das línguas bantas no português oral de Luanda, capital de Angola;

– no programa Páginas de Português*, transmitido pela Antena 2, no domingo, 2 de fevereiro, pelas 12h30, convida-se a linguista e professora universitária Sónia Valente Rodrigues, a propósito do ensino do português em contexto pedagógico interdisciplinar e de um projeto didático desenvolvido na Universidade do Porto.

*O programa Língua de Todos é repetido no sábado, dia 30 de janeiro, depois do noticiário das 09h00; e o  Páginas de Português  tem repetição no sábado, dia 8 de fevereiro, às 15h30). Hora oficial de Portugal continental, ficando ambos os programas disponíveis posteriormente aquiaqui.

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1. campo de concentração de Auschwitz foi libertado há 75 anos. No dia 27 de janeiro de 1945, as tropas soviéticas invadiram o campo devolvendo a liberdade aos que nele ainda permaneciam. Este dia é comemorado em todo o mundo como o Dia Internacional da Lembrança do Holocausto (designação atribuída pela Assembleia Geral das Nações Unidas) (ver notícia). A memória deste período trágico da humanidade é um processo que poderá ser fundamental para impedir a repetição de factos históricos tão terríveis como os que foram vividos em Auschwitz, em particular neste momento em que os extremismos voltam a ganhar força e o antissemistismo parece conquistar seguidores em muitos locais deste nosso planeta. Contar e relembrar histórias, como a de Michael Fresco, o único português a ter estado em Auschwitz, é também fundamental para prevenir o fortalecimento das teses negacionistas, que, aqui e além, vão surgindo como tentativa de reescrever os factos. A rejeição deste fenómeno é também feita por palavras que devem ser pronunciadas e por outras que devem ser silenciadas. Esta verdade serve de mote para recordarmos alguns textos do Ciberdúvidas relacionados com léxico alusivo  ao tema: Holocausto, uma palavra para não esquecer, A grafia de holocaustoHolocausto, sem aspasNazi, nazista, liberal e liberalista, A insistência no "islamita"..., Gentílicos vários e membros da tribo de José, Judia/judaica, e Ainda os prefixos anti- e contra-. Ver, ainda.  o vídeo feito pela France Inter, quando se assinalaram os 70 anos da libertação do campo de concentração e extermínio do nazismo, aqui. E: Sobreviventes voltam a Auschwitz, 75 anos após a libertação do campo da morte.

Fotos de Auschwitz: Getty Images

2. A propósito do aniversário da libertação de Auschwitz, a Fundéu BBVA divulgou um conjunto de recomendações para o espanhol. Aqui fazemos eco de algumas delas que também são pertinentes para a língua portuguesa: septuagésimo quinto pode ser referido como ordinal (75.º) ou como cardinal (75); a palavra holocausto pode ser grafada com maiúscula ou com minúscula em função do seu significado (ver explicação em «A grafia de holocausto») e o substantivo negacionismo e o adjetivo negacionista são os termos adequados para referir a negação de factos que podem ser verificados empiricamente (como é o caso do Holocausto). 

3. Os usos do verbo faltar constituem uma das áreas críticas do português, sobretudo quando o que está em causa é a sua flexão. Convém, então, recordar, que este verbo é pessoal, ou seja, tem sujeito, e não se constrói com complemento direto. Assim, a sua flexão em enunciados como «Faltam cinco dias» ou «Falta fazer as malas» é o resultado da concordância sujeito-verbo. É neste contexto que no Consultório se analisa a função sintática de constituintes que acompanham o verbo faltar e se determina a natureza das orações que o modificam. Nesta atualização, regressamos à identificação da classe de pertença de uma palavra, neste caso dupla, na expressão «forma dupla». Apresentamos também respostas sobre a origem do topónimo Guimbra (localidade de Espinho, Aveiro), sobre a correção da expressão «fazer skate» e sobre a existência do termo mopa face a esfregona

4. Na rubrica Montra de Livros, divulga-se a obra do jornalista português Germano Silva, intitulada Porto, Profissões (quase) Desaparecidas, com a chancela da Porto Editora. Uma obra que recorda 33 profissões da cidade do Porto, entretanto desaparecidas (ou adaptadas), trazendo consigo os pregões, as características dos ofícios, a sua origem histórica e o seu contexto social. Afirma José Mário Costa, cofundador do Ciberdúvidas, «só alguém como Germano Silva nos podia dar este tão saboroso Porto, Profissões (quase) Desaparecidas – ele que conhece como poucos a sua cidade». 

5. O movimento reintegracionista que pretende aproximar o galego do português tem conquistado maior visibilidade no panorama nacional e internacional. Em entrevista ao escritor Nuno Gomes Garcia, Eduardo Maragoto, Presidente da Associação Galega da Língua, fala dos objetivos do reintegracionismo, da origem comum do galego e do português e do estado atual da língua galega (entrevista à Rádio Alfa, transcrita no Lusojornal). 

6. Entre as notícias de relevo para a língua, destacamos: 

– Uma ideia original que chega de Espanha: uma professora criou o "Hospital Ortográfico de Valladolid", espaço para onde vão as palavras que são "massacradas" pelos alunos. Em função da gravidade dos erros, as palavras passarão mais ou menos dias "internadas" (notícia). Uma ideia criativa em defesa da língua espanhola. Por cá, este hospital também teria muitos pacientes, com toda a certeza;

– O Instituto Português do Oriente, o Camões - Instituto da Cooperação e da língua e a Universidade de Macau anunciaram que vão lançar um concurso anual de tradução de língua portuguesa para chinês e de chinês para língua portuguesa. Este concurso terá, todos os anos, um tema específico e contemplará rotativamente diferentes géneros (poesia, conto, crónica) (notícia).

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1. Há quem pense  que «muitas das vezes» é forma incorreta, usada em lugar de «muitas vezes», mas no Consultório descarta-se tal ideia, porque há contextos onde essa expressão se justifica. Também na presente atualização, evidencia-se o contraste entre dois tempos do indicativo, o pretérito perfeito e o pretérito imperfeito, analisam-se frases de dois escritores – a brasileira Nélida Piñón, e o português Camilo Castelo Branco (1825-1890) – e, a propósito de fama e culto do eu, comenta-se o sentido que têm palavras como egotismo e egotista.

2. A forma e o significado das palavras motivam constantes interrogações sobre as suas relações e as suas origens; e, ao comparar as línguas existentes no mundo, descobrem-se quase sempre vocábulos aparentemente familiares ou exoticamente intrigantes, que sugerem míticos parentescos longínquos.  Na rubrica Montra de Livros, ao encontro dessa indagação, apresenta-se o livro Palavras que Falam por Nós, cujo autor, o professor universitário português Pedro Braga Falcão, desvenda os segredos da história de cada palavra, recuando ao latim, ao  grego e ao indo-europeu. E nas Notícias, dá-se conta do maior banco de dados do mundo  de associações lexicais entre línguas e dialetos  à volta do globo – num total de 3156 variedades de idiomas, incluído o português –, cuja  plataforma, CLICSdisponibiliza um mapa interativo  que permite comparar diferentes palavras  à volta do globo com o mesmo significado.

3. Em Portugal, conforme resolução que a Direção-Geral da Administração Escolar (DGAE) tornou pública em 14/01/2020, os professores de Francês, Inglês, Alemão e Espanhol vão poder dar aulas de Português no 3.º ciclo e ensino secundário, nos casos em que ainda existam alunos sem aulas nesta disciplina. A  Associação de Professores de Português considerou «[que,] à partida, não é uma má decisão», mas há vozes discordantes, como a de António Carlos Cortez, poeta, crítico literário e professor, que criticou a nova situação em artigo saído no jornal Público em 22/01/2020 e que, com a devida vénia, se transcreve na rubrica Ensino.

4. Dominando a atualidade internacional, registe-se o pânico que alastra pelo mundo por causa de um surto de pneumonia com origem na China (cf. comunicado da Direção-Geral de Saúde de Portugal em 23/01/2020)*. Sabe-se que a infeção tem como agente um vírus do tipo coronavírus, a que se atribuiu a designação de SARS-CoV-2 (ler aquiaqui e aqui). Segundo o dicionário de termos médicos da Infopédia, o termo coranavírus aplica-se a «grupo de vírus que apresentam um halo ou uma coroa (corona) quando vistos ao microscópio, e que podem causar doenças respiratórias graves e gastroenterites (entre estes vírus encontra-se o causador da síndrome respiratória aguda grave)». É um composto formado por corona, do latim corona, «coroa», e vírus, do latim virus, «sumo, suco; sémen; peçonha, veneno». Entretanto, para controlar e evitar o contágio, as autoridades encerraram a cidade donde se supõe ter-se o vírus propagado –de Wuhan, na província de Hubei, cujos nomes se pronunciam conforme os registos áudio da página da Fundéu BBVA. Refira-se, por último, que esta situação afeta a comemoração em 25/01/2020 do Ano Novo chinês, festa do calendário tradicional chinês, que marca um novo ciclo anual, desta vez, dedicado ao rato (cada ano é dedicado a um dos 12 animais da astrologia chinesa). Sobre a China, leiam-se "Como dizer os dias em chinês", "Isso para mim é chinês", "A vingança do chinês", "Dicionário de Chinês-Português/Português-Chinês", "Lexicografia bilingue", "Vinte e três anos em vinte e três palavras", "O diminutivo da palavra chinês", "Festival Literário de Macau reúne o português e o chinês", "Macau e a língua portuguesa", "O patoá de Macau, uma língua em risco", "Macau, «enorme ponte virtual» entre a China e a língua portuguesa", "O ensino do português a chineses.

* Mais informação aqui, aqui  (Portugal) e na Secretaria de Estado de Saúde do estado de São Paulo (Brasil). Na imagem, ilustração de um coronavírus (fonte: Wikipédia).

5.Ainda no plano da atualidade, registe-se o anúncio feito pelo director executivo do Instituto Internacional da Língua Portuguesa, Incanha Intumbo, sobre uma parceria com a Universidade de Cabo Verde para a promoção da língua portuguesa.

 

6. Nos programas que a Associação Ciberdúvidas da Língua Portuguesa produz para a rádio pública portuguesa, são temas centrais da presente semana (pormenores nas Notícias): no Língua de Todos, emitido pela RDP África, na sexta-feira, dia 24 de janeiro, pelas 13h20*, fala-se da situação linguística de Cabo Verde; no Páginas de Português, transmitido pela Antena 2, no domingo, 26 de janeiro, pelas 12h30*, focam-se a técnica e a análise da escrita de diálogos.

O programa Língua de Todos é repetido no sábado, dia 25 de janeiro, depois do noticiário das 09h00; e o  Páginas de Português  tem repetição no sábado, dia 1 de fevereiro, às 15h30). Hora oficial de Portugal continental, ficando ambos os programas disponíveis posteriormente aquiaqui.

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1. Fala-se de sinais auxiliares de escrita para referir os «sinais gráficos utilizados para separar, assinalar ou destacar elementos de uma frase ou de um texto ou com funções convencionadas em contextos específicos de utilização» (Dicionário Terminológico). Neste conjunto, salientam-se as aspas, que, por apresentarem certo grau de diversidade gráfica e não obedecerem a regras estritas, motivam sempre várias perguntas. É o caso da que se encontra em linha na presente atualização do consultório, onde, a propósito do anglicismo scare quotes (literalmente «aspas de aviso, alerta»), se descrevem tipos de aspas e critérios de utilização num texto. Outros tópicos também abordados: a formação do verbo justapor; o uso frásico do verbo gravitar; o valor instrumental de uma construção relativa («com a qual», «pela qual»); a expressão «dar entrada»; o papel das palavras quantificadoras na colocação dos pronomes átonos (me, te, se, o/a, lhe, etc.).

2. Na derivação de diminutivos, toda a gente sabe que nomes como café ou José (ou o hipocorístico ) dão origem a cafezinho e Josezinho (Zezinho), que, embora conservem o timbre aberto da vogal e das palavras primitivas, perdem o acento gráfico. É, portanto, estranho insistir-se em escrever "cafézinho" ou "Zézinho"; mas incomensuravelmente mais esquisito é pôr um acento onde ele nunca existiu, como aconteceu com uma figura destacada da vida política portuguesa quando, manifestando-se nas redes sociais, grafou um erróneo "Zéquinha", em vez do correto Zequinha, que vem de Zeca (outro hipocorístico de José). No Pelourinho, um apontamento de João Nogueira da Costa dá conta do caso, que até chamou a atenção do humorista Ricardo Araújo Pereira.

3. Que sentido tem dizer que esta língua é mais antiga ou mais recente do que aquela? As línguas têm idade precisa? Trata-se de uma discussão a que se procura dar resposta nas Diversidades, com  a transcrição de um texto da autoria do tradutor e professor universitário Marco Neves e por este publicado no blogue Certas Palavras em 02/08/2018. São considerações pertinentes para refletir sobre a relação entre o fenómeno linguístico e a história social, conforme se pode ajuizar pelas seguintes palavras: «[...] não há um momento em que possamos dizer: esta língua nasceu hoje. Em geral, a linguagem é transmitida sem cortes radicais entre gerações.»

4. Passando ao campo da promoção das culturas veiculadas pela língua portuguesa, é notícia o concurso de tradução literária que vão lançar o  Instituto Português do Oriente, o Camões – Instituto da Cooperação e da Língua e a Universidade de Macau. Trata-se da primeira de várias iniciativas a realizar no âmbito de um novo protocolo que as referidas entidades assinaram em 22/01/2020 no território de Macau.

5. Assinala-se no dia 23 de janeiro a passagem de 115 anos sobre a morte de Rafael Bordalo Pinheiro (1846-1905). Caricaturista, ceramista, político e jornalista português dos fins do século XIX, Bordalo Pinheiro é muitas vezes recordado em Portugal, por ter criado em 1875 e popularizado a figura do Zé Povinho, com o gesto que lhe é típico, o chamado manguito. O programa Cuidado com a Língua! (RTP 1) dedicou-lhe um episódio em 02/10/2017. Nele, deu-se  especial relevo à fábrica de faianças que fundou e ao museu em sua memória, nas Caldas da Rainha; e a outras  curiosidades, a começar pela grafia do seu próprio nome, com ph e dois ll, e agora não. Ou, ainda, aos muitos provérbios alusivos ao humor, ao riso e… ao siso.

6. Um lembrete final, a respeito dos programas que a Associação Ciberdúvidas da Língua Portuguesa produz para rádio pública portuguesa: o programa Língua de Todos tem mais uma emissão na RDP África, na sexta-feira, dia 24 de janeiro, pelas 13h20*, enquanto o programa Páginas de Português é transmitido pela Antena 2, no domingo, 26 de janeiro, pelas 12h30*.

O programa Língua de Todos é repetido no sábado, dia 25 de janeiro, depois do noticiário das 09h00; e o  Páginas de Português  tem repetição no sábado, dia 1 de fevereiro, às 15h30). Hora oficial de Portugal continental, ficando ambos os programas disponíveis posteriormente aquiaqui.

Por Ciberdúvidas da Língua Portuguesa

1. A colocação dos pronomes clíticos na frase é considerada uma das áreas críticas do português. Com regras diferentes do português do Brasil, a variante europeia conhece casos de mesóclise (colocação do pronome no interior do verbo), de próclise (colocação antes do verbo) e de ênclise (colocação após o verbo, opção considerada a não marcada). No entanto, os contextos que atraem o pronome para antes do verbo colocam, por vezes, dificuldades aos falantes. Por exemplo, é sabido que os advérbios são atratores de próclise, mas esta especificidade aplica-se a qualquer advérbio? O advérbio hoje inclui-se neste grupo? A existência de palavras com formas e significados muito similares pode gerar atitudes de hesitação perante a seleção lexical em determinados contextos de utilização e mesmo quanto à sua correção. É neste âmbito que se enquadra a dúvida relacionada com as palavras anulação e anulamento. Os casos de evolução ortográfica justificam que se possa encontrar uma mesma palavra escrita com grafias distintas em textos que pertencem a diferentes fases da evolução da língua. É este o caso de siza / sisa que, na atualização do Consultório, se explica. Algumas associações lexicais podem oferecer dúvidas quanto à sua classe de pertença. Por exemplo, o sintagma nominal «Invasões francesas» deve ser considerado como pertencente à classe do nome próprio ou devemos proceder à sua análise considerando cada uma das palavras que o compõem?  Por fim, uma dúvida relacionada com os valores aspetual e modal de uma frase da escritora portuguesa Hélia Correia

2. Na Montra de Livros divulga-se Assim Nasceu uma Língua, a nova publicação do linguista português Fernando Venâncio, que promete abordar a evolução da língua portuguesa como se de uma história se tratasse. Esta é uma obra que trata criticamente o percurso de formação da língua, discutindo alguns dos mitos instalados e estabelecendo, em diversos momentos, um cotejo com o castelhano e com o galego. Trata-se de «um livro que vem reforçar a necessidade e o desejo de repensar a história da língua portuguesa», afirma-se no texto de apresentação. 

3. E eis que o mundo do futebol volta a 'dar pontapés' na gramática. Desta feita, o problema é a assim designada "Final Four Allianz Cup", a final da taça da Liga. Uma expressão inglesa para uma competição realizada em Portugal por quatro equipas portuguesas. Nada justifica esta constante opção pelos anglicismos para referir realidades para as quais a língua portuguesa oferece soluções eficazes e claras. É a "cup", o "derby",  o "fairplay", o "golden goal", o "playoff", o "sprint" final. Enfim, uma quantidade de empréstimos lexicais desnecessários, que facilmente se ultrapassariam com recurso ao português. Já em Os Maias, de Eça de Queirós, se refletia sobre este traço de caráter dos portugueses, que preferem importar a defender e usar o que é nacional:

«Porque essa simples forma de botas explicava todo o Portugal contemporâneo. Via-se ali como a coisa era. Tendo abandonado o seu feitio antigo, à D. João VI, que tão bem lhe ficava, este desgraçado Portugal decidira arranjar-se à moderna: mas, sem originalidade, sem força, sem carácter para criar um feitio seu, um feitio próprio, manda vir modelos do estrangeiro – modelos de ideais, de calças, de costumes, de leis, de arte, de cozinha... Somente, como lhe falta sentimento da proporção, e ao mesmo tempo o domina a impaciência de parecer muito moderno e muito civilizado – exagera o modelo, deforma-o estraga-o até à caricatura.» (Edição «Livros do Brasil», p. 703)

Façamos, então,  de modo a que o texto queirosiano não permaneça dotado de atualidade.

O recurso aos angliscimos em diferentes domínios tem sido profusamente tratado no Ciberdúvidas. Vem a propósito recordar alguns dos textos que mantêm a sua atualidade: «A Final Four disputou-se mesmo entre equipas portuguesas?», «Lisbon Revisited», «Aos tropeções nos anglicismos do nosso quotidiano», «E falar português, vai desejar?», «É o lifestyle, stupid», «Talentos e talentaços», «Reflexões sobre a linguagem hodierna», «Porquê Eusébio Cup?», «Black Friday, um duplo contrassenso», «E o humor foi também em inglês?».

4. As expressões idiomáticas, coloquiais ou os provérbios guardam histórias curiosas associadas, não raro, às usas próprias origens. Conhecer este percurso da língua é também compreender a sua evolução. Porém, sobretudo para os falantes de português língua estrangeira (ou não materna), estas mesmas expressões são caracterizadas por uma opacidade de sentidos que impede a curial interpretação da intenção do locutor. É no sentido de auxiliar este processo de construção de sentidos que a plataforma Say it in portuguese divulga um conjunto já alargado de pequenos apontamentos áudio sobre expressões idiomáticas como «zangam-se as comadres», «perder o fio à meada», «em casa de ferreiro», «ter o rei na barriga», só para referir as mais recentemente divulgadas.

Por Ciberdúvidas da Língua Portuguesa

1. A toponímia é uma área da linguística que estuda os nomes próprios dados às localidades. A criação destes nomes e a sua evolução envolvem frequentemente conhecimentos da área da história e da geografia. Esta é uma área que, por norma, interessa aos habitantes de cada localidade, que procuram estabelecer as origens destas designações e reconhecem-nas como parte integrante da sua história. Todavia, há topónimos com origem obscura e alguns veem as suas origens perder-se na névoa dos tempos. Consequentemente, torna-se difícil reconstruir a sua história. Este parece ser o caso de Casal de/do Malta, uma  localidade da cidade de Marinha Grande (distrito de Leiria). Este é uma das respostas que podemos encontrar na atualização do Consultório, onde se tratam outros temas, como a natureza do verbo cobrir  em «cobrir-lhe a memória de sombras» e a função sintática de «de sombras». Ainda uma questão sobre os ditongos crescentes em português e a sua relação com a noção discutível de «falso ditongo». Por fim, analisa-se a correção da expressão «1h da tarde» e o significado e diferença das noções semânticas pacientetema

2. O estudo dos antropónimos em Portugal constitui ainda um domínio pouco trabalhado. Esta é uma área que pode tratar tanto os nomes próprios como os nomes de família (também designados apelidos ou sobrenomes). Interessando-se por este tema, o historiador português Nuno Gonçalo Monteiro investigou as alterações sofridas pelos nomes de família, contrastando a Idade Média com a viragem do século XX, num artigo que divulgamos em O Nosso Idioma.

Na foto: Família Chartes, Leiria

3Miguel Torga (1907-1995), uma das figuras mais marcantes da literatura portuguesa do século XX, morreu há 25 anos em Coimbra. Nascido em S. Martinho de Anta (Vila Real), Torga – Adolfo Correia da Rocha, de seu verdadeiro nome – destacou-se na poesia e na ficção com títulos como Orfeu Rebelde, Cântico do HomemA Criação do Mundo, Bichos, Novos Contos da Montanha, entre outros; mas no conjunto da sua obra os vários volumes de O Diário ocupam um lugar de relevo. O município de Coimbra, cidade onde estudou medicina e foi médico, presta-lhe homenagem a partir deste dia, com um extenso programa que compreende recitais de poesia, visitas guiadas, sessões de cinema, uma cerimónia evocativa e uma exposição – Miguel Torga e José Régio na relação com a Presença, patente até 16 de janeiro de 2021 na Casa-Museu Miguel Torga (consultar programa completo aqui). Na Antologia, Miguel Torga está representado por duas séries de excertos, ambas provenientes do seu Diário e tendo a língua como tema. É do Diário V o poema que adiante se transcreve:

Coimbra, 7 de Julho.

As palavras renascem.
Folhas de clorofila humana,
Brotam, crescem,
Murcham, desaparecem,
Mas renascem.

Que frescura teria a caravana,
A caminho da morte ou do nirvana,
Se os poetas cantassem!
 
Na imagem, fotografia de Miguel Torga atribuída a Alfredo Cunha e que acompanha o artigo "Miguel Torga e a consciência da portugalidade", do jornalista Sérgio C. Andrade, que o assinou no Público em 06/03/2016.

 

4. O  23.º aniversário do Ciberdúvidas não deixou indiferentes os seus consulentes. Muitos foram aqueles que lhe endereçaram os parabéns, agradecendo as mais de duas décadas de serviços prestados, e deixaram votos de continuidade. A estes consulentes agradecemos as gentis palavras que nos endereçaram, que muito nos estimulam a prosseguir nesta missão em prol da língua. No Correio, divulgamos algumas das mensagens que nos chegaram ao longo dos últimos dias.

5. Entre as notícias relacionadas com a língua portuguesa, destacamos o reforço da língua portuguesa em Macau, objetivo que preside à assinatura de um protocolo entre o Instituto Português do Oriente, o Camões - Instituto da Cooperação e da língua e a Universidade da Macau. Uma das metas deste protocolo é a criação de cursos de português para fins específicos (notícia).

6. Nos programas produzidos pela Associação Ciberdúvidas da Língua Portuguesa para a rádio pública portuguesa, destacamos:

– No Língua de todos*, da RDP África, o tema dos neologismos, estrangeirismos e empréstimos e ainda da pontuação;

– No Páginas de Português**, que vai para o ar na Antena 2, o tema será o seminário anual do Camões - Instituto da Cooperação e Língua, que se realizou a 8 e 9 de janeiro de 2020. 

* O programa Língua de Todos vai para o ar na sexta-feira, dia 17 de janeiro, pelas 13h20 e é repetido no sábado, dia 18 de janeiro, depois do noticiário das 09h00.  Por seu lado, **o programa Páginas de Português, é transmitido no domingo, 19 de dezembro, pelas 12h30. com repetição no sábado, dia 25 de janeiro, às 15h30. Hora oficial de Portugal continental, ficando ambos os programas disponíveis posteriormente aqui e aqui.

Por Ciberdúvidas da Língua Portuguesa

1. O Ciberdúvidas da Língua Portuguesa completa 23 anos neste dia, em que, nas Notícias,  se dá conta do balanço deste período de mais de duas décadas de trabalho árduo – eis os resultados:

– no Consultório, destinado a dar informação/esclarecimento, encontram-se, até ao momento, disponíveis para consulta livre, 35 644 respostas a questões colocadas sobre as mais diversas áreas da língua – da história à fonética e fonologia, bem como à dinâmica do texto, do discurso e até da literatura, passando pela formação de palavras, pela sua pertença a classes, pelo seu comportamento na frase (sintaxe) e por questões de semântica e de pragmática;

– já no campo da opinião ou da criação, as rubricas da secção Na 1.ª Pessoa –  O Nosso Idioma, Pelourinho, Controvérsias, Ensino, Lusofonias, Diversidades e  Acordo Ortográfico –, bem como as Notícias, a Montra de Livros e a  Antologia totalizam, de momento, 7650 artigos disponíveis em arquivo para leitura, análise e reflexão;

– acresce que, no final de 2019, o fluxo de visitas ascendia a mais de 14 milhões de visitas.

Há, pois, motivos de sobra para festejar mais um aniversário, e, na rubrica O nosso idioma, a professora Carla Marques dá os parabéns com o texto "Vinte e três anos em vinte e três palavras". Aqui se reúnem e definem, pelas memórias e emoções que evocam certos vocábulos – são exemplos solidez, validez, sensatez...–, tantos quantos os anos que já conta este serviço, sempre ao dispor de quem quer usar bem o português, conhecendo-o e praticando-o na sua unidade ou na sua diversidade. Como diz a autora, «[...] o Ciberdúvidas são as pessoas que o visitam a cada dia, são os textos sobre a língua e para a língua que aqui se partilham». Aos nossos consulentes, quer tenham o português como língua materna quer não, se deve, portanto, o registo do nosso reconhecimento grato, porque é na sua constante adesão aos conteúdos aqui em linha, manifestada também em contacto direto, através do envio quotidiano de questões, achegas, críticas, que o Ciberdúvidas tem encontrado justificação e alento para seguir caminho, ao encontro do interesse que lhe confiam.

2. É dia de festa, mas as rubricas do Ciberdúvidas não param, razão por que o Consultório tem mais uma atualização para responder a cinco perguntas: estará correto o uso de vírgulas para realçar o nome de um autor, como acontece no caso «Os Lusíadas, de Luís de Camões, são uma epopeia»? Como se analisa sintaticamente a construção «fazer de alguém tolo»? O verbo doer pode concordar no plural? O significa o nome jubarte? E diz-se «tomado de enorme alegria» ou «tomado por enorme alegria»?

3. Ao linguista, escritor, ensaísta e tradutor Fernando Venâncio continua a comunicação social portuguesa a dar especial atenção, na sequência do lançamento, em outubro de 2019, de Assim Nasceu uma Língua (Guerra e Paz). Trata-se de uma obra que não só divulga mas também aprofunda o debate sobre a génese e o perfil do português como língua autónoma e apta a ser usada em diferentes domínios. O livro tem tido receção entusiástica no âmbito jornalístico e nas redes sociais, facto comprovado pelos vários artigos que lhe são dedicados, entre os quais se salientam a crónica "O til de Fernãdo Venãcio", do historiador e político Rui Tavares (Público, 23/12/2019), e o trabalho que o jornalista José Mário Silva publicou com o título "As palavras têm história" (semanário Expresso, 11/01/2020). Ambos os textos se transcrevem com a devida vénia em O nosso idioma – aqui e aqui.

4. Da atualidade relacionada com as relações entre os países de língua portuguesa, destaca-se a deslocação do presidente da República Portuguesa, Marcelo Rebel de Sousa, a Moçambique, onde permanecerá cinco dias, com um programa que inclui a presença na cerimónia de posse do Filipe Nyusi, reeleito presidente da República deste país, e uma à Beira, cidade que ficou devastada pelo ciclone Idai em 2019. É de referir que, neste contexto, e assinalando o 10.º aniversário da cátedra de Português Língua Segunda e Estrangeira, da Faculdade de Letras e Ciências Sociais da Universidade Eduardo Mondlane, o presidente português condecorou a professora e linguista Perpétua Gonçalves, diretora da referida cátedra. Mais notícias aqui.

À volta de Moçambique e do português moçambicano, consultem-se os seguintes artigos e respostas: "Mito e Miopia - Moçambique como invenção literária", "A questão do galego e uma exposição sobre o português em Moçambique", "O ensino do português em Macau e Moçambique", "A língua portuguesa em Moçambique e a origem comum do português e do galego", "A Universidade Pedagógica da Beira (Moçambique) e os pseudoerros de português", "Enfermeiro e resiliência: as palavras do ano de 2018 em Portugal e em Moçambique", "O português em Moçambique e o estudo dos neologismos em Portugal", "Incêndios e tseke, as palavras do ano de 2017, em Portugal e em Moçambique", "Inovações lexicais em Moçambique, palavras inexistentes e uma viagem histórico-linguística no Cuidado com a Língua!", "O bilinguismo em Cabo Verde e os falares e escritas de Moçambique". Sobre um dos livros da autoria da linguista Pérpétua Gonçalves, leia-se a apresentação de A Génese do Português de Moçambique (2010).

5. Temas centrais dos programas que a Associação Ciberdúvidas da Língua Portuguesa produz para rádio pública portuguesa:

– no programa Língua de Todos, que vai para o ar na RDP África na sexta-feira, dia 17 de janeiro, pelas 13h20*, convida-se a professora Sandra Duarte Tavares, para falar de neologismos, estrangeirismos e empréstimos, de pontuação (principalmente de vírgulas) e de outros tópicos do uso e funcionamento do português;

no Páginas de Português, transmitido pela Antena 2, no domingo, 19 de dezembro, pelas 12h30*. entrevista-se a professora Ana Maria Martinho (Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa) a propósito do seminário anual do Camões – Instituto da Cooperação e da Língua (Camões I.P.), realizado em 8 e 9 de janeiro de 2020, na Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa, com vista a discutir a cooperação de Portugal com os países africanos de língua oficial portuguesa.

* O programa Língua de Todos é repetido no sábado, dia 18 de janeiro, depois do noticiário das 09h00.  Por seu lado, o programa Páginas de Português volta a ouvir-se no sábado, dia 25 de janeiro, às 15h30. Hora oficial de Portugal continental, ficando ambos os programas disponíveis posteriormente aquiaqui.

Por Ciberdúvidas da Língua Portuguesa

1. A conjunção então, que surge habitualmente com um valor temporal, poderá ser usada num contexto argumentativo com um valor conclusivo? Na nova atualização do Consultório, abordamos esta questão. As liberdades poéticas permitem aos autores não seguirem determinadas regras gramaticais, como acontece no verso de Fernando Pessoa: «Minha loucura outros que me a tomem», no qual não se procede à contração dos pronomes mea. Neste caso, qual a função sintática de me? A ordenação dos constituintes na frase pode, por vezes, colocar problemas a quem escreve: qual é a melhor opção «conversas de café superficiais» ou «conversas superficiais de café»? A regência de relativos por preposições continua a oferecer dúvidas a quem escreve e lê: em «As coisas a que fiz alusão», por que razão não se diz «às que fiz alusão»? Finalmente, esclarece-se qual o plural da expressão «teclas de atalho», assinalando a regra que explica este caso particular. 

2. O concurso televisivo da RTP Joker tem dado matéria para diversos reparos disponíveis no Pelourinho e, mais uma vez, assinalamos uma imprecisão. Desta feita, o apresentador leu, em diversas ocasiões, a palavra taxidermia (que significa "arte de empalhar animais" (cf. Dicionário Priberam)) como "taxidérmia", pronuncia que não está correta porque a palavra não é proparoxítona, como se explica neste apontamento

3. Um erro ortográfico é erro em qualquer contexto. Todavia, o seu impacto pode ser muito diferente em função de quem o comete ou do local onde ele surge. Quando um erro é da responsabilidade de um membro do Governo e é divulgado em redes sociais de larga escala, o seu efeito pode ser demolidor. Mais grave será ainda se o seu autor for ministro da Educação. Foi o que aconteceu no Brasil com o ministro Abraham Weintraub, que recentemente escreveu no Twitter "imprecionante", erro que veio recordar que já em agosto tinha escrito a palavra paralisação com "z", como assinala o jornalista brasileiro Mateus Vargas, num artigo divulgado no Pelourinho. 

4. A origem da expressão «sem eira nem beira» perde-se no tempo e, para a consciência linguística dos falantes atuais, o seu significado original é opaco e quase misterioso. Numa tentativa de esclarecer o significado original da expressão, Alexandre M. Flores, ensaísta, professor e investigador, indo até ao mundo agrícola e ao da arquitetura, vai em busca da sua história, encontrando duas possíveis interpretações que apresenta num breve artigo que aqui transcrevemos. 

5. Também a lexicógrafa Ana Salgado procura a origem de expressões que usamos no nosso quotidiano. Deste feita, abordou a locução "discutir o sexo dos anjos", cuja origem parece remontar ao século XV e a um concílio onde se debateu efetivamente se os anjos teriam sexo (crónica divulgada na plataforma Gerador).

Pormenor da pintura Madona Sistina, de Rafael Sanzio (1512).

 

Por Ciberdúvidas da Língua Portuguesa

1.  É possível falar-se de uma mala pesada de tédio? Ser, é, e basta recordar um dos versos de "Notas de Tavira", assinado por Álvaro de Campos, um dos heterónimos da criação pessoana: «Trago o meu tédio e a minha falência fisicamente no pesar-me mais a mala...». A propósito deste verso e da sua construção retórica, explica-se no Consultório o que é uma hipálage. Outros tópicos também suscitam questões: que função sintática tem «do passado» na expressão «detetive do passado»? O que estará certo: «ato de coragem patriótico», ou «ato de coragem patriótica»? Que sentido tem o prefixo nuper- em nupercitado? E sabe-se qual é a origem da expressão idiomática «às duas por três»?

2. A Associação Portuguesa de Linguística (APL) lançou no final de 2019 a sua primeira revista temática, subordinada ao tema Avaliar Aprendizagens Gramaticais na Escola e disponível em linha no página digital  da APL. Na Montra de livros, a professora e linguista Carla Marques, consultora permanente do Ciberdúvidas, faz a apresentação desta nova publicação no domínio da investigação linguística desenvolvida em Portugal.

3. Fazendo eco dos acontecimentos que marcaram o ano transato, transcreve-se na rubrica O nosso idioma um texto do humorista português Ricardo Araújo Pereira, sobre o tema da intraduzibilidade entre línguas e, em particular, acerca do Black Friday de 29/11/2019, cuja tradução literal, «Sexta-Feira Negra», se arrisca a ter usos risíveis, assim levantando dúvidas quanto ao seu futuro na língua.

Cf. "Black Friday, um duplo contrassenso"+   «"Viernes negro», alternativa a Black Friday» é a recomendacão da Fundéu/RAE para o castelhano.

4. Ainda à volta de palavras inglesas, registe-se mais um caso de criatividade anglófona. Em referência à decisão inesperada dos duques de Sussex – o princípe Harry (ou Henrique) e Meghan (Meg) Markle – de renunciarem às suas funções oficiais na família real britânica, a comunicação social do Reino Unido cria e difunde uma nova denominação, Megxit, inspirada no modelo de Brexit («saída do Reino Unido da União Europeia»). Em princípio, Megxit, uma amálgama do hipocorístico Meg e do nome comum exit, «saída», é para deixar sem tradução; mas, tendo essa veleidade mais ou menos ociosa, a tarefa não se afigura fácil: «saída à Meg»? Aceitam-se sugestões.

5. Lisboa torna-se a Capital Verde Europeia 2020 a partir de 11/01/2020, dia em que recebe o testemunho da cidade norueguesa de Oslo. Este galardão, com que a União Europeia distinguiu a cidade em 21/06/2018, tem associado um programa extenso que inclui a plantação de 20 mil árvores, a inauguração de espaços verdes e do Museu da Reciclagem, várias exposições e conferências, espetáculos e atividades com escolas e universidades. Sobre ambiente, sustentabilidade e ecologia, consultem-se, do arquivo do Ciberdúvidas, os seguintes artigos e respostas: "Orgânico, ecológico, biológico, natural", "Conservação, preservação e salvaguarda", "A palavra sustentável", "A utilização de sustentabilizar e sustentabilização", "Etimologia de meio ambiente", "O uso de ecossistema", "Neologismos da polémica ambiental", "Ambiência e ambiental",  "Ecopista", "O género de biota", "Ecoturismo + área-destino", "Lótico e lêntico", "A palavra oleão", "Linguística Eco-", "Do clima à ortografia", "Prioridade às mudanças climáticas, a formação do verbo desunhar, a língua portuguesa no mundo e um curso de esperanto em Angola".

CfLisboa Capital Verde: "Estamos juntos e vamos vencer", diz Marcelo com elogios ao Governo e a Guterres

6. No domínio da promoção do português, parece não faltarem notícias sobre o interesse que motiva noutros países europeus. Assim, na República Checa, a delegação do  Camões – Instituto da Cooperação e da Língua de Portugal na Faculdade de Letras da Universidade de Praga regista cada vez maior procura (cfRádio Renascença em 09(01/20120); e, em Roma, capital da Itália, surge uma nova cátedra de língua portuguesa ainda no decurso do mês de janeiro de 2020, conforme anúncio feito em 08/01/2020, em Lisboa, no seminário anual do Instituto Camões.

7. Quanto aos programas que a Associação Ciberdúvidas da Língua Portuguesa produz para a rádio pública portuguesa, tem destaque uma conversa que a jornalista Paula Torres de Carvalho dá ao programa Língua de Todos, (RDP África, sexta-feira, dia 10 de janeiro, pelas 13h20*), sobre o Manual de Comunicação, um guia escrito em coautoria com o jornalista José Mário Costa com a finalidade de orientar o bom uso da linguagem nas várias plataformas do  Comité Olímpico de Portugal (mais informação nas Notícias). No programa Páginas de Português (Antena 2, domingo, 12 de janeiro, pelas 12h30*), Sónia Valente Rodrigues, professora da Faculdade de Letras da Universidade do Porto (FLUP), evoca a personalidade e o legado do linguista e professor universitário Joaquim Fonseca (1941-2019), que desenvolveu na FLUP trabalho pioneiro em Portugal, sobretudo na ligação dos estudos didáticos aos estudos linguísticos e literários.

* Hora oficial de Portugal continental,  ficando os programas Língua de Todos e Páginas de Português  disponíveis posteriormente aqui e aqui.