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Por Ciberdúvidas da Língua Portuguesa

1. Embora ao longo da vida reavaliemos constantemente o que sabemos, a verdade paradoxal é que a aprendizagem requer certo grau de estabilidade e coerência na transmissão e apreensão de conhecimentos, como sublinha uma resposta a uma pergunta feita no Consultório: no estudo dos textos e da sua diversidade, em contexto escolar, deve falar-se de tipos de texto, de modos literários ou géneros discursivos? Outra questão diz respeito ao ensino da gramática: que critério distingue uma oração subordinada adverbial causal de uma oração coordenada explicativa? A presente atualização traz ainda dúvidas sobre morfologiavariação e etimologia.

2. O protagonismo crescente de um jovem futebolista português, o benfiquista João Félix – bem eloquente no encontro de domingo, 3 de janeiro p.p., com o Sporting –  trouxe de novo à ribalta mediática a errónea  pronúncia do apelido Félix. Foi assim que na rádio e na televisão raros disseram bem "Félis", e não com o encontro consonântico [ks]. Recorde-se que, por razões históricas, o x final quer deste nome próprio quer do nome comum fénix soa como o -s de lápis* .

Sobre este tópico, consultem-se os seguintes artigos e respostas: "/Félis/, tal como quer e diz, sempre, Bagão Félix", "Feliz com Félix", "Félix".

3. Quem  imagina que a língua inglesa tem palavras com origem no português? Basta recordar que marmalade, o conhecido doce de laranja de tradição britânica, é a anglicização do nosso marmelada. O Nosso Idioma transcreve com a devida vénia a crónica que o professor universitário e tradutor Marco Neves escreveu, a propósito dos lusismos do inglês, para o portal Sapo 24 e o blogue Certas Palavras em 3/02/2019.

4Nelson Rodrigues (1912–1980) foi dos mais talentosos e criativos escritores em língua portuguesa. Jornalista, romancista, folhetinista, com uma vastíssima obra como teatrólogo – ainda hoje considerado o mais influente dramaturgo do Brasil –, foi como cronista de costumes e do futebol brasileiro que mais  se notabilizou no seu tempo. Nesta faceta, da sua torrencial produção (escrevia três crónicas por dia, todos os dias), ficou para sempre toda uma galeria de imagens e expressões saborosíssimas, como conta o jornalista e escritor Ruy Castro, no Diário de Notícias de 2 de fevereiro de 2019. «O óbvio ululante» foi uma das que passou para a história do bem escrever em português, assim contado pelo autor de O Anjo Pornográfico – A Vida de Nelson Rodrigues (ed. Tinta da China):

«Nelson dizia que "só os profetas enxergam o óbvio". E exemplificava com a história de seu amigo Otto Lara Resende, que, durante anos, passou de carro todos os dias em frente ao Pão de Açúcar e nunca o vira. Um dia, casualmente, Otto olhou pela janela e viu a monumental pedra na baía de Guanabara. Freou de repente na pista de alta velocidade, saiu alucinado do carro e, tendo palpitações, apontava para o Pão de Açúcar e exclamava: "De onde saiu? De onde saiu? Ontem não estava aqui!" As pessoas que pararam atrás dele tiveram de abaná-lo. E Nelson concluía: "Era o encontro triunfal do Otto com o óbvio. O óbvio ululante!".»

5. Finalmente, uma chamada de atenção para as palestras que o linguista brasileiro Aldo Bizzocchi regista em vídeo no seu canal Planeta Língua, no Youtube. Realce, desta vez, para a discussão que Bizzochi desenvolve ao encontro do que muitos de nós já perguntaram com alguma irritação: porque não falamos todos a mesma língua, da mesma maneira?

 

 

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1.  A presente atualização do Consultório traz-nos uma resposta que aborda a razão pela qual a palavra subir não viu o intervocálico ser substituído por um v, na sua evolução desde o latim. Noutra resposta, comprova-se que o complemento do nome pode ser introduzido por outras preposições que não o de. As preposições de que regem o verbo esquivar-se dão matéria a outra explicação. Ainda a coocorrência da forma acusativa do pronome pessoal com o verbo ir, numa sequência de auxiliares, permite realçar a diferença entre a correção e os usos. Por fim, demonstra-se que efetivamente, realmente decerto poderão não ser advérbios de afirmação e esclarece-se que depois de reticências tanto se poderá usar maiúscula como minúscula. 

Pintura de René Magritte, A arte da conversação, 1950

2. Ana Martins, consultora do Ciberdúvidas da Língua Portuguesa e responsável da Ciberescola da Língua Portuguesa, centra-se no tema da didática da gramática para discutir, partindo dos resultados de uma investigação que realizou, a perspetiva que assume que os métodos tradicionais de ensino-aprendizagem não são eficazes ao serviço da melhoria das competências comunicativas, num apontamento disponível na rubrica Ensino.

3. A propósito ainda das questões que envolvem a didática da gramática, destaque para a reação da professora brasileira Magda Soares, especialista em alfabetização, que veio contrapor a proposta de um ensino baseado no método fónico, que, na sua opinião, não é a abordagem correta para a aprendizagem da escrita por parte das crianças (notícia aqui). Ainda no Brasil, realce para a controvérsia relacionada com afirmações proferidas pelos membros do novo governo, nomeadamente a ideia de que o ensino universitário deve ser limitado a uma elite intelectual. 

4. No Pelourinho, Edno Pimentel, professor e jornalista em Luanda, esclarece o processo de flexão do verbo deter, alertando para uma incorreção presente no português falado em Angola. Por exemplo, em expressões como ««Os polícias deteram pessoas» ou «A polícia deteu pessoas», descritas numa crónica que se transcreve, com a devida vénia, do  semanário angolano Nova Gazeta.

5. Num artigo intitulado «Qual é a língua mais antiga do mundo?», divulgado no sítio nculturaMarcos Neves, tradutor e docente universitário português, esclarece que as línguas «não têm idade» – sobretudo se pensarmos na língua que se fala, que os falantes vão moldando, adaptando e transformando, indiferentes às normas ou à fixação escrita. 

6. Da atualidade relacionada com a língua, registe-se o protocolo celebrado entre o Ministério dos Negócios Estrangeiros português e o Ministério da Cultura brasileiro que prevê a digitalização do acervo literário de cerca de 140 mil volumes, distribuído por três Gabinetes Portugueses de Leitura fundados no Brasil. Entre estes documentos encontram-se manuscritos de grande valor, como é o caso de um capítulo de A cidade e as serrasobra de Eça de Queirós

7.  O programa Língua de Todos, da RDP África, apresenta uma entrevista com a formadora Laura Mateus Fonseca, responsável, na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova, por cursos livres na área editorial e de escrita criativa (sexta-feira, 1 de fevereiro às 13h15, com repetição no sábado, dia 2 de fevereiro, depois do noticiário das 09h00*). O programa Páginas de Português, difundido na Antena 2,  entrevista o novo secretário executivo da CPLP, o embaixador português Francisco Ribeiro Telles (domingo, 3 de fevereiro, às 12h30**, com repetição no sábado seguinte, dia 9 de fevereiro, pelas 15h30*).

 *  Hora oficial de Portugal continental, ficando ambos os programa disponíveis posteriormente, aqui aqui.

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1. Foco, focalizar, enfoque são hoje palavras recorrentes, fazendo eco da compulsão para tudo promover como prioritário, numa corrida de estímulos mediáticos. Em O nosso idioma, a professora Carla Marques comenta o modismo «manter (ou ter) o foco», cujo uso redunda na perda de recursos lexicais – e, ironicamente, na falta de concentração no que é importante. O remédio para este mal é sugerido na mesma rubrica, com uma lista de 20 expressões idiomáticas, para dar cor ao discurso e revitalizá-lo.

2. No consultório, não faltam recursos lexicais e gramaticais diversificados: revela-se, por exemplo, que «totalmente impossível» é expressão enfática, mas correta; que «por via postal» vem a ser o mesmo que «via correio»; e que o verbo conduzir pode ter associada a preposição para, pelo que não erra quem disser uma frase como «ele conduziram-no para um alto destino». Outras questões ainda: é legítima a expressão «mais da metade»? E empregar a preposição entre com um nome comum no singular («entre o casal»)? E estará certo coordenar o possessivo meu com um grupo preposicional («um antigo professor meu e da Amanda»)? Finalmente, uma pergunta sobre ortografia: escreve-se septuagésimo – com p?

3. Do Brasil, chegam as sempre estimulantes reflexões do linguista Aldo Bizzocchi, da Universidade de São Paulo, sobre língua e linguagem. Por isso, na rubrica Lusofonias, transcreve-se com a devida vénia um texto deste autor, que o publicou no seu blogue Diário de um Linguista, em 22/01/2019, a respeito dos desafios da análise do verbo estar no quadro da nomenclatura gramatical brasileira. Por seu lado, as Controvérsias apresentam o vídeo da discussão que Bizzocchi desenvolve no seu canal Planeta Língua, acerca de certos equívocos do discurso político brasileiro na apropriação do termo ideologia.

4. Entre a atualidade que se publica sobre a língua e a situação linguística dos territórios onde ela tem implantação, selecionamos:

– a comemoração dos 20 anos da consagração do mirandês como segunda língua oficial em Portugal, graças à aprovação da Lei n.º 7/99 pela Assembleia da República; 

– na Índia, em Nova Deli, o discurso que Constantino Xavier, académico de origem goesa, fez (também) em português, ao receber o prémio do Conselho Indiano para as Relações Culturais.

5. O programa Língua de Todos − transmitido na RDP África* – entrevista a formadora Laura Mateus Fonseca, responsável, na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova, por cursos livres na área editorial e de escrita criativa. O programa Páginas de Português, emitido na Antena 2*,  dá espaço de honra a uma entrevista com o novo secretário executivo da CPLP, o embaixador português Francisco Ribeiro Telles.

Língua de TodosRDP África, sexta-feira, 1 de fevereiro às 13h15, com repetição no sábado, dia 2 de fevereiro. Hora oficial de Portugal continental, ficando o programa disponível posteriormente, aqui. Páginas de Português, emitido na Antena 2, no dia 3 de fevereiro, às 12h30**, com repetição no sábado seguinte, dia 9 de fevereiro, pelas 15h30. Hora oficial de Portugal continental, ficando o programa disponível posteriormente, aqui.

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1. Na Montra de Livros, Carlos Rocha, coordenador executivo do Ciberdúvidas, apresenta a obra História das Línguas, do linguista sueco Tore Janson, com chancela da Através Editora. Uma obra que aborda a evolução da linguagem humana, desde os seus primórdios, e que se revelou um sucesso editorial nos países anglo-saxónicos. 

2. A presente atualização do consultório parte da inovação linguística. A realidade é um dos fatores que motiva a criação lexical ou o alargamento dos sentidos de uma palavra, como bem ilustra a possibilidade de usar o verbo salgar num contexto de remoção de neve. A possibilidade de aproximação de sentidos entre palavras leva, por sua vez, à análise dos usos das preposições durante e por num contexto temporal. Outro plano da língua centra-se na compatibilidade entre palavras, o que conduz à reflexão sobre a possibilidade de coocorrência do pronome interrogativo quem com um topónimo. Para terminar, ainda uma questão sobre funções sintáticas associadas a um verbo transitivo-predicativo e uma outra sobre a classe da palavra branco na expressão «vestir de branco».

3. Na rubrica DiversidadesMiguel Faria de Bastos, especialista em interlinguística, apresenta um artigo sobre o esperanto, que em 20 pontos condensa a história e as características de uma língua artificial que reúne as condições para ser língua de comunicação entre os seres humanos. 

4. Na rubrica O nosso idiomaAna Martins, consultora do Ciberdúvidas da Língua Portuguesa e responsável da Ciberescola da Língua Portuguesa, apresenta uma análise do processo de nominalização e dos seus efeitos na comunicação, nomeadamente ao nível da supressão dos agentes que praticam a ação subjacente ao nome. Uma estratégia de desresponsabilização linguística?

5. Uma referência à crónica publicada por Marcos Neves, tradutor e docente universitário, no blogue Certas Palavras, onde conta a experiência em torno de uma viagem a Bilbau, a capital do País Basco, para um encontro com alunos que estudam português. Uma oportunidade para avaliar as razões para aprender a língua portuguesa, sem esquecer as dificuldades que a tarefa implica.  

6. No âmbito também da promoção da língua portuguesa pelo mundo, destacamos a reunião dos Estados Gerais da Lusodescendência, que teve lugar  em França. Estudantes, professores e empresários definiram aí estratégias para a promoção da língua portuguesa, com o objetivo de que o português deixe de ser visto como língua de emigração para ganhar o estatuto de segunda ou terceira língua a ser aprendida pelas crianças em França.

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1. Como integrar o estudo da gramática nas aulas de Português? No contexto escolar, reconhece-se a necessidade de enquadrar o conhecimento explícito da língua na realidade e nas expetativas dos alunos. E, aceitando uma visão pluricêntrica da língua, também se atende à sua diversidade nos âmbitos e nos países onde é falada: de língua materna a língua segunda, de língua de herança a língua estrangeira. Ao encontro destas preocupações, Carla Marques, consultora permanente do Ciberdúvidas, apresenta na Montra de Livros a obra Lugar da Gramática na Aula de Português, organizada pelos linguistas Paulo OsórioEulália Leurquin e Maria da Conceição Coelho, que reúnem um conjunto de textos centrados na problemática do ensino do português nos países lusófonos.

2. Que se sabe ao certo acerca da eficácia dos métodos aplicados ao ensino das línguas, em especial, ao do português, quer seja língua materna quer não? Em Portugal, parece que pouco, sustenta Ana Sousa Martins num apontamento intitulado "Números precisam-se", em linha na rubrica Ensino.

3. No consultório, uma pergunta dá relevo à análise gramatical a propósito da distinção entre adjetivos participiais e particípios passivos, enquanto outra regressa à identificação do complemento do nome. As restantes questões dizem respeito à morfologia, quando indagam pela boa formação dos termos obesogénico e representação icónica ou exigem pesquisa etimológica para criar o gentílico de Carnicães, um topónimo localizado no distrito da Guarda.

4. Das palavras, depende muito o clima das relações humanas, em casa ou no trabalho. Em O nosso idioma, transcreve-se um texto que a consultora linguística Sandra Duarte Tavares escreveu e publicou na edição digital revista Visão em 22/01/2019, a respeito da distinção dos vocábulos em categorias, de acordo com a sua capacidade de despertar ou neutralizar emoções positivas e negativas. Na mesma rubrica, disponibiliza-se igualmente uma lista curiosa, recolhida no portal Vortexmag, à volta de certos arcaísmos, ou seja, palavras que caíram ou vão caindo no esquecimento, como asinha, soer ou tença. Duas outras palavras menos usadas no léxico comum – almece e atabefe, ambas de origem árabe, denominando produtos do leite, – trá-las ao conhecimento público o colunista Miguel Esteves Cardoso nesta sua crónica no jornal Público deste dia. 

5. Voltando ao tema do ensino em países de língua oficial portuguesa, é de assinalar a preocupação sentida em Angola com o funcionamento das escolas, nestas notícias recentes do jornal angolano Nova Gazeta (nos títulos, mantém-se a ortografia de 1945, ainda em vigor em Angola):  "Mais de 45 por cento dos alunos não sabem ler" (29/11/2018); "Primária com materiais atualizados" (6/12/2018); "Professores com dupla efectividade têm os dias contados (23/01/2019). Da atualidade, merece igual destaque o lançamento, pela Anistia Internacional Brasil, do livro eletrónico Educação em Direitos Humanos 2018.

6. Respeitante ainda a conteúdos da Internet que veiculam informação (às vezes nem sempre com o rigor devido..) sobre a nossa língua ou, por causa dela, suscitam debate (nem sempre moderado), uma chamada de atenção para:

– a polémica que ainda rodeia a etimologia de mulato, há tempos reacesa pela historiadora brasileira Lita Chastan (ler notícia);

– uma lista dos "falsos amigos" que o português tem noutros idiomas (aqui);

– e o vídeo da saborosa conversa entre o brasileiro Gregório Duvivier e o português Ricardo Araújo Pereira, dois humoristas que glosam o tópico da diversidade do português no Brasil e em Portugal.

7. Em foco, no Língua de Todos, emitido na RDP África*, uma conversa com o professor universitário e tradutor Marco Neves acerca do seu Dicionário de Erros Falsos e Mitos do Português. O Páginas de Português, difundido na Antena 2*, centra-se numa entrevista com o novo diretor-executivo do Instituto Internacional da Língua Portuguesa (IILP), o linguista guineense Icanha Itunga, sobre a agenda para a promoção do português.

* Língua de TodosRDP África, sexta-feira, 25 de janeiro,  13h15 , com repetição no sábado, dia 26 de janeiro, depois do noticiário das 09h00 + Páginas de Português, Antena 2, 27 de janeiro, 12h30, com repetição no sábado seguinte, dia 2 de fevereiro, pelas 15h30. Hora oficial de Portugal continental, ficando ambos os programa disponíveis posteriormente, aqui e aqui.

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1. A norma angolana para a leitura e escrita dos grandes números foi fixada por decreto legislativo presidencial. Trata-se de um documento que procura resolver as ambiguidades provocadas pela hesitação entre diferentes modelos de escrita e leitura de números ao optar pela norma seguida em quase todos os países europeus: a escala longa. Neste decreto angolano determina-se ainda que este será o modelo a adotar no ensino (para mais pormenores, consulte-se a notícia). 

     Ainda recentemente o Ciberdúvidas divulgou um artigo da autoria de Guilherme de Almeida, licenciado em física e autor do livro Sistema Internacional de Unidades – Grandezas e Unidades Físicas, Terminologia, Símbolos e Recomendações, relativamente à nomenclatura dos grandes números em países europeus e não europeus. 

2. Na rubrica O Nosso Idioma, disponibilizamos duas abordagens distintas do conceito de metáfora e algumas ideias saídas de um evento que abordou as relações entre linguagem e sociedade:

— A disposição dos números num relógio é uma metáfora do tempo e da sua passagem. Quem o afirma é Sofia Nestrovski, mestre em teoria literária e colaborada de revistas brasileiras, num artigo onde explora o conceito de metáfora como forma de enriquecimento da língua e do modo de perceção do mundo (originalmente publicado no Nexo Jornal e aqui reproduzido com a devida vénia); 

Ana Martins, consultora do Ciberdúvidas da Língua Portuguesa e responsável da Ciberescola da Língua Portuguesa, apresenta um apontamento que questiona a pertinência da metáfora usada recentemente pelo Papa, que associou a maledicência ao ato de terrorismo. Serão as consequências provocadas pelo ato de dizer mal de alguém comparáveis às que resultam de uma agressão física?

— A importância da linguagem como forma de combate ao populismo foi discutida num encontro realizado em Lisboa. Segundo Ruth Wodak, linguista austríaca, esta perspetiva pode ser desenvolvida por meio da exploração do significado da própria palavra. Defende a linguista que termos como «notícia falsa», «populismo» ou «politicamente correto» só devem ser usados na imprensa se claramente definidos, com conceitos bem claros, sendo de evitar a sua aplicação acrítica a situações distintas. Esta e outras abordagens da realidade por meio da linguagem foram as propostas de diferentes linguísticas presentes no encontro, que podem ser lidas num artigo que se transcreve do jornal Público, da autoria da jornalista Liliana Borges

3. No Consultório divulgam-se as respostas a várias dúvidas deixadas pelos nossos consulentes: o verbo magoar com o pronome reflexo se é transitivo ou intransitivo? A concordância negativa é sempre feita com duas palavras de sentido negativo? Na frase «Ele foi morto pela faca», qual a função sintática de «pela faca»? Qual o adjetivo adequado: ameaçante ou ameaçador, intimidante ou intimidatório e insultante ou insultuosa? Qual a diferença entre preço preçário?

4. Na atualidade relacionada com a língua, destaque para o projeto lançado em parceria pelos Institutos CamõesCervantes, que visa divulgar o potencial do português e do espanhol, através da publicação de obras de diversas áreas (literatura, comunicação, economia ou ciência). Este projeto – no âmbito das comemorações do 5.º centenário da circum-navegação, iniciada por Fernão de Magalhães e completada por Juan Sebastián Elcano – deu já o primeiro passo com o lançamento da obra Camões e Cervantes – contrastes e convergências, de Helder Macedo e Carlos Alvar

— Uma nota ainda para o termo hacker, que tem estado presente nos media portugueses devido à detenção de Rui Pinto, pirata informático português, num caso relacionado com o Football Leaks. O uso desta palavra levanta de novo a questão da tradução do termo para português, que pode ser resolvida por meio do recurso à expressão pirata informático.

    Recorde-se também a distinção entre hacker cracker e a respetiva tradução para português, numa resposta disponibilizada no consultório (aqui).

 5. Temas dos programas de rádio da presente semana produzidos pelo Ciberdúvidas para a rádio pública portuguesa: uma conversa com o professor universitário e tradutor Marco Neves a propósito da sua mais recente publicação, o Dicionário de Erros Falsos e Mitos do Português, no Língua de Todos, emitido na RDP África*, onde o autor desmonta erros inventados e mitos sobre a linguagem e seus estudos; e uma entrevista o novo diretor-executivo do Instituto Internacional da Língua Portuguesa (IILP), Icanha Itunga, sobre a agenda para a promoção do português, no Páginas de Português, difundido na Antena 2 *.

* Língua de TodosRDP África, sexta-feira, 25 de janeiro,  13h15 , com repetição no sábado, dia 26 de janeiro, depois do noticiário das 09h00 + Páginas de Português, Antena 2, 27 de janeiro, 12h30, com repetição no sábado seguinte, dia 2 de fevereiro, pelas 15h30. Hora oficial de Portugal continental, ficando ambos os programa disponíveis posteriormente, aqui e aqui.

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1. Muitos falantes de português – diz a descrição linguística sobretudo no Brasil – tendem a pronunciar certos encontros de consoantes, por exemplo, o de corrupção ou o bs de absurdo, inserindo um "i" ou um "e", com o resultado de tais palavras soarem como "abissurdo" e "corrupição". Esta vogal metediça, censurada pela norma-padrão, que a vê como "pronúncia viciosa", decorre de um fenómeno do funcionamento mais abstrato do português e torna-se, portanto, mais difícil de controlar, como sugere uma resposta da presente atualização. Outros caprichos da língua abordados no consultório: como justifico a colocação pós-nominal de mais em «muitas pessoas mais», quando noutros casos o advérbio figura antes do nome («escrevi mais um livro»)? Como se explica que a raiz da palavra pedra, que é pedr-, passe a petr-, quando ocorre no adjetivo pétreo? Como aceitar que porém possa ser, afinal, um advérbio? Blá-blá-blápá-pá-pá são palavras?

2. De caprichos também se tomam os gentílicos e os nomes geográficos. Dê-se o caso do nome pátrio de Estados Unidos da América: americano, norte-americano, estadunidense (ou estado-unidense)? A escolha não é apenas linguística, observa a linguista Ana Sousa Martins num texto lido na rubrica "Cronicando" do programa Páginas de Português,  transmitido pela Antena 2, em 6/01/2019.

3. E que fazer dos deslizes com o verbo haver, o substantivo precariedade e o auxiliar modal dever? No Pelourinho, transcreve-se, com a devida vénia, um apontamento da revista Sábado 3/01/2019, a respeito de três tropeções do primeiro-ministro português António Costa no uso dos referidos vocábulos.

4. Foi em 2009 que o Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa começou a ser aplicado no Brasil, com obrigatoriedade legal a partir de 2016. A revista digital brasileira Nexo assinala os dez anos da sua entrada em vigor no país – em Portugal também no mesmo ano de 2009, em 13 de maio, de  e em Cabo Verde em 2015 –,  com um teste de conhecimentos sobre normas de acentuação e hifenização.

5. Registe-se, por último, mais um caso da abusiva intromissão do inglês na vida desportiva em Portugal. A Liga Portuguesa de Futebol chama Allianz Cup  à competição patrocinada pela seguradora Allianz Portugal e, à final, Final Four. Porque não "Taça Allianz", ou  "Taça da Liga", e "Final a quatro", ou, simplesmente, "finais" às meias-finais que se realizam em 22 e 23/01/2019 e à final propriamente dita, disputada em 26/01/2019? Casos como este, que  são antigos, já têm sido comentados no Ciberdúvidas – aqui, por exemplo.

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1. No Pelourinho, um apontamento de Ana Sousa Martins, coordenadora da Ciberescola da Língua Portuguesa, que denuncia as consequências de uma má tradução da palavra inglesa negro, colocando em evidência a dimensão ofensiva que introduz na versão portuguesa do livro A Estranha Morte da Europa, de Douglas Murray (texto divulgado na rubrica "Cronicando" do programa Páginas de Português (Antena 2, de 30/12/2018). 

2. A atualização do Consultório centra-se nas áreas da etimologia, sintaxe, semântica e pragmática, estando as questões relacionadas com a origem do apelido Albuquerque, a omissão do artigo definido num título de jornal, o uso do quantificador quanto, o significado de baixo-ventre e a opção pelo singular ou plural numa construção anafórica.

3. Quanto à atualidade relacionada com a língua, destacamos os seguintes eventos:

 – o lançamento da obra Sobre conflito linguístico e planificação cultural na Galiza contemporânea. Dez contributos, de Elias J. Torres e Roberto Samartim, com a chancela da Através/Editora, no dia 18 de janeiro, na Livraria Centésima Página, em Braga, pelas 18h00;

 – a apresenação da obra Camões e Cervantes – contrastes e convergências, de Helder Macedo e Carlos Alvar, uma edição do Camões, I.P. e do Instituto Cervantes, no dia 21 de janeiro, no auditório do Camões, I.P., pelas 16h30; 

– e  uma nova sessão de "Camões dá que falar", com a presença de Catarina Furtado, apresentadora de televisão e embaixadora do Fundo das Nações Unidas para a População (UNFPA), evento organizado pelo para Camões, I.P., no dia 22 de janeiro, pelas 18h00, no auditório do Camões, I.P., em Lisboa. 

4. No que respeita aos programas de rádio da responsabilidade do Ciberdúvidas, destacamos a conversa com o novo diretor-executivo do Instituto Internacional da Língua PortuguesaIcanha Itunga, sobre projetos e perspetivas, no programa Língua de Todos, na RDP África, sexta-feira, 18 de janeiro às 13h15 (com repetição no sábado, dia 19 de janeiro), depois do noticiário das 09h00*. Destacamos também o programa Páginas de Português, que entrevista o linguista Afonso Miguel, que acabou de defender a tese de doutoramento intitulada Integração morfológica e fonológica de empréstimos lexicais bantos no Português Oral de Luanda, na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa (programa emitido na Antena 2, no dia 20 de janeiro, às 12h30**, com repetição no sábado seguinte, dia 26 de janeiro, pelas 15h30*).

*  Hora oficial de Portugal continental, ficando ambos os programa disponíveis posteriormente, aqui aqui.

5. Um registo final  para a resolução do Conselho de Ministros do Governo português, que aprovou no dia 18 p.p. uma proposta de lei que determina o uso da expressão Direitos Humanos nos documentos oficiais do Estado, em substituição de Direitos do Homem, decisão que foi apresentada como um contributo para a promoção da igualdade de género. Cf. Governo substitui “Direitos do Homem” por “Direitos Humanos” + Nada de escrever "direitos do Homem": Governo adota a expressão "direitos humanos"

A propósito da problemática da linguagem inclusiva, recordamos alguns textos disponíveis no Arquivo do Ciberdúvidas: A busca de harmonia de uma língua que une e divideA linguagem inclusiva, esse "perigo público"Infanta, um caso particular de femininoSobre o uso da forma presidenta no Brasil e em Portugal; A tropa no feminino; "Os sem palavras", de Helena Matos; "Car@s leitorxs (e utentas"), de António Bagão Félix«Amigas e amigos» e «amigos e amigas» ; "Os cidadãos e a gramática", de Maria Regina Rocha; "Calem-se", de Miguel Esteves Cardoso; "Dobrar a língua", de Fernanda Câncio;  O sexo das palavras, de Nuno PachecoGramática ainda não tem sexo, de Henrique Monteiro;  "O que fazemos com a linguagem?", de Anselmo Borges; "Quem fala assim não é gago nem gaga", de Ricardo Araújo Pereira; "Desigualdades sociais, desigualdades linguísticas", de Aldo Bizzocchi; etc,

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1. Falar toda a gente sabe, mas, em público, quem já não encontrou dificuldades?  Em O nosso idioma, a linguista e consultora permanente do Ciberdúvidas Carla Marques identifica cinco erros a evitar para aprender uma competência que está longe de ser inata (artigo originalmente publicado na Leya Educação de janeiro de 2019). Na mesma rubrica, sobre o abuso de anglicismos, transcreve-se com a devida vénia um outro texto, da autoria de Lúcia Vaz Pedro, que o publicou na sua coluna semanal, "Portugal atual", no Jornal de Notícias de 13 de janeiro de 2018.

2. Quem melhora com o tempo é como o vinho do Porto – diz-se. Mas resistirá uma garrafa desse néctar a um rótulo mal redigido? No Pelourinho, comenta-se um exemplo da falta de cuidado nos textos que se leem em rótulos e embalagens.

3. No consultório, pergunta-se o que significa a sigla SJ, que aparece associada ao nome de vários sacerdotes católicos. Da atualização fazem igualmente parte questões a respeito de concordância verbal, orações relativas, determinação nominal, neologia e locuções adverbiais.

4. Quanto ao que é notícia com interesse para o conhecimento e promoção da língua portuguesa:

– Refira-se a realização do VI Fórum de Linguística Aplicada: Ensino e Aprendizagem de Línguas, que decorre entre 16 e 18 de janeiro de 2019, na Faculdade de Ciências Sociais e HumanasUniversidade Nova de Lisboa (UNL). O evento tem organização do Centro de Linguística da UNL de Lisboa e o Programa de Pós-Graduação em Linguística da Universidade Federal do Ceará, através do Grupo Gramática & Texto e do Grupo de Estudos e Pesquisas em Linguística Aplicada, Ensino e aprendizagem de Línguas. Saliente-se a participação da linguista brasileira Maria Helena de Moura Neves, autora de duas conhecidas obras descritivas: Gramática de Usos do Português (2000) e Guia de Uso do Português – confrontando Regras e Usos (2003). E assinale-se também a presença de Ana Sousa Martins, coordenadora da Ciberescola da Língua Portuguesa, que fará uma comunicação (ler programa e resumos aqui).

– Entre 17 e 19 de janeiro, a editora galega Através apresenta em Lisboa uma nova coleção de arte e pensamento, a coleção Alicerces. São lançados quatro livros: Novas masculinidades. O feminismo a (de)construir o homem de Jorge G. Marín; Sobre a eutanásia. Quando decidir que uma morte é vital, de Brais Arribas; Nem tudo é arte? Mod@s de olhar, de Natalia Poncela; e Confio-te o meu Corpo. A Dramaturgia Pós-Dramática, de Afonso Becerra.  É uma iniciativa de justificado registo, porque esta editora publica textos sobre temas atuais, escritos por investigadores e ensaístas da Galiza, de acordo com as normas do português contemporâneo.

5. Ainda quanto a atualidades, o tópico do dia vem do Reino Unido (RU), onde em 15/01/2019 o Parlamento rejeitou o acordo proposto pela primeira-ministra Theresa May para a saída deste país da União Europeia (UE). É o chamado Brexit, que se arrasta desde 2016 e que parece não ter, para já, solução à vista. Sobre a formação do nome Brexit e o vocabulário ativado ou criado pelo debate à sua volta, leiam-se os seguintes artigos do arquivo do Ciberdúvidas: "Brexit vs. Bremain", "A Torre de Babel da União Europeia, sem O reino Unido", "O inglês, língua oficial da União Europeia, mesmo depois do Brexit?", "As línguas na Europa: o que mudará com o Brexit?", "Brexit e as patentes: uma oportunidade para Portugal".

N. E. (10/04/2019) – Em inglês, a palavra Brexit tem duas pronúncias: "bréksit", maioritária no Reino Unido, e "brégzit", mais frequente, por exemplo, nos Estados Unidos (ouvir o registo do canal Emma Saying, no Youtube, e os do sítio eletrónico da Oxford University Press). Em Portugal, coexistem as duas pronúncias: embora o único dicionário que, até à data, consigna a palavra – o da Porto Editora, disponível na Infopédia – a transcreva com [gz], ficando, portanto, "brégzit", há quem prefira a solução britânica e articule "bréksit" (cf. Helder Guégués, "Brexit: como se pronuncia? – Boa desculpa", Linguagista, 27/07/2017). Sobre as duas pronúncia concorrentes, ler, em inglês, David Shariatmadari, "The real Brexit debate: do you pronounce it Breggsit or Breckit?", The Guardian, 27/07/2017 (tradução: "O verdadeiro debate do Brexit: pronuncia-se Breggsit ou Brecksit?"; este artigo é mencionado por Helder Guégués, op. cit).

6. O programa Língua de Todos, na RDP África, sexta-feira, 18 de janeiro às 13h15 (com repetição no sábado, dia 19 de janeiro), depois do noticiário das 09h00*, dá destaque a uma conversa com o novo diretor-executivo do Instituto Internacional da Língua Portuguesa, Icanha Itunga, sobre projetos e perspectivas. No programa Páginas de Português, emitido na Antena 2, no dia 20 de janeiro, às 12h30** (com repetição no sábado seguinte, dia 26 de janeiro, pelas 15h30**), entrevista-se o linguista Afonso Miguel, que acabou de defender a tese de doutoramento intitulada Integração morfológica e fonológica de empréstimos lexicais bantos no Português Oral de Luanda, na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa.

*  Hora oficial de Portugal continental, ficando o programa disponível posteriormente, aqui.

** Hora oficial de Portugal continental, ficando o programa disponível posteriormente, aqui.

 

Por Ciberdúvidas da Língua Portuguesa

1. 15 de janeiro assinala o aniversário do Ciberdúvidas, projeto que perfaz 22 anos mantendo toda a atualidade e pertinência no mundo da língua portuguesa, como o confirmam os cerca de 1,4 milhões de consultas mensais e as questões colocadas por consulentes oriundos de um pouco por todo o mundo. É esta realidade que continua a manter bem vivo o papel do Ciberdúvidas, sempre movido pelo interesse pela língua, numa ação que se tem desenvolvido sempre de forma graciosa e universal e que, para ultrapassar as dificuldades por que tem passado, tem contado apenas com os apoios dos seus consulente mais dedicados. Por tudo isto, é momento de proclamar: oxalá possa o Ciberdúvidas continuar, por muito anos, a receber os votos de parabéns que tantos consulentes generosamente lhe enviam.

(Imagem principal: Alexandre O'Neill, A Linguagem, 1948)

2. Dúvidas suscita a língua com as suas palavras, um meio privilegiado de comunicação mas também fonte de hesitações e de dúvidas, tal como ilustra a atualização do Consultório, onde se apresentam questões que se prendem com a origem de um topónimo (Burguel), a classe a que pertence uma palavra (muitas), a funcionalidade de determinados constituintes associados ao sujeito («esse sim» ou «esse, sim») e a correção de certas expressões («É claro que» ou «Claro que»). 

3. Perplexidade traz a investigadora Helena Matos, quando defende que os falantes procuram uma língua cada vez mais assética, ideia que sustenta o artigo que publicou no jornal digital Observador e que reproduzimos, com a devida vénia, na rubrica Controvérsias Esta tendência espelhará uma sociedade que procura a neutralidade (inclusive a linguística) em todos os campos: género, raça, sexualidade... Constrangimentos que forçam os falantes ao recurso a perífrases, a longas formulações para evitar dizer o óbvio, que pode, no entanto, ferir suscetibilidades. 

4. Perplexidade ainda parece oferecer a opção de um manual escolar (destinado ao ensino secundário em Portugal) de não reproduzir alguns versos do poema «Ode Triunfal» de Álvaro de Campos, um dos heterónimos pessoanos (notícia do semanário Expresso) – opção que, aliás, parece ser comum a outros manuais escolares. Relativamente a este assunto, é de referir que a edição citada pelo manual escolar em questão (Editora Ática, já extinta) também já não apresenta um verso integral e omite uma palavra de um verso. Acresce ainda que o mesmo manual escolar apresenta à margem, na versão do manual destinada a professores, os versos suprimidos, deixando, portanto, ao professor a decisão de os apresentar aos seus alunos. Perante estes factos, usar o termo censura para descrever o sucedido parece um pouco exagerado. Será talvez uma opção de pudor.

Na imagem, a página 151 da impressão de 1980 de Poesias de Álvaro de Campos, livro publicado em 1944 pels Editora Ática e integrado na coleção Obras Completas de Fernando Pessoa. Assinala-se na foto, a vermelho, o apagamento de uma palavra no quinto verso – trata-se do plural putas – e a omissão de todo o 22.º verso, correspondente a «Masturbam homens de aspecto decente nos vãos de escada», conforme se pode comprovar pelo confronto com a versão integral do poema que o Arquivo Fernando Pessoa disponibiliza em linha. Estas supressões são conhecidas há décadas, mas não ocorriam no texto que o n.º 1 da revista Orpheu (pág. 81) apresentou em 1915. Também não se verificam noutra edição famosa, a da editora brasileira José Aguilar, num volume intitulado Fernando Pessoa. Obra Poética e publicado em 1960, com organização e anotação de Maria Aliete Galhoz [cf. artigo "História da edição nacional (até 2008)", do Projecto Modern!smo online: Arquivo virtual da geração de Orpheu]. Sobre a opção do manual Encontros – 12.º ano, da Porto Editora, de suprimir os referidos versos na versão do poema destinada a alunos, leia-se o esclarecimento publicado pelos respetivos  autores aqui. Acerca deste tema, ver ainda "Docentes repudiam corte de versos de Álvaro de Campos pela Porto Editora", trabalho da jornalista Carla Viana saído no jornal Público, em 15/01/2019.

5. Novidades linguísticas surgem constantemente em meios sociais dinâmicos, como é o caso da política. A  contestação à liderança do  PSD, no desafio feito pelo ex-deputado Luís Montenegro ao presidente do seu partido, Rui Rio, motivou a criação do neologismo riogicídio por parte do jornalista Sebastião Bugalho, num artigo intitulado A tentativa de riogicídio (no jornal digital Observador). A formação desta palavra fez-se por analogia com regicídio, que significa «assassínio de um monarca» – substituindo o radical reg-  pelo apelido Rio (último nome do político português em causa), amalgamado com o elemento -gicídio, que exprime a noção de «ação que provoca a morte ou o extermínio» (cf. Dicionário Priberam em linha). 

6. Complexo é pensar a linguagem, questionar a linguagem, associar afetos à linguagem, reformular a linguagem. São as inúmeras ações que a linguagem envolve que servem de reflexão a um texto do poeta, crítico e comentador político português Pedro Mexia, num artigo dado à estampa na E, revista do  semanário Expresso e reproduzido em O Nosso Idioma.