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Por Ciberdúvidas da Língua Portuguesa

– As notícias dão relevo à intenção de Donald Trump, presidente recém-eleito dos EUA, de retirar este país do Acordo Transpacífico, também conhecido como «parceria transpacífica» – em inglês, Trans-Pacific Partnership. É de notar a grafia transpacífico: em português, pacífico também denota o que é relativo ou pertencente ao oceano Pacífico, tal como atlântico se reporta ao (oceano) Atlântico; e, ainda que a expressão inglesa apresente Trans-Pacific, nem sequer é preciso hífen com o prefixo trans-, que se agrega à palavra que modifica, como acontece em transatlântico. Finalmente, porque se fala de uma situação e de um documento bem individualizados, impõem-se as maiúsculas iniciais: escreva-se, portanto, Acordo Transpacífico2.

1 Agradecemos a José Pedro Ferreira (JPF), investigador do CELGA-ILTEC, o parecer em que se fundam estas considerações e do qual se relevam os pontos essenciais: I. A forma transpacífico tem uma base adjetival, não nominal, como sucede com todas as outras estruturas análogas: cisplatino (e não "cis-Plata"), transalpino (e não "trans-Alpes"), intraeuropeu, etc. II. O adjetivo pacífico, «relativo ao Oceano Pacífico», e o nome próprio Pacífico, «nome de oceano», são palavras homónimas. O sentido gentilício de pacífico (adjetivo) é registado na generalidade dos dicionários (excetua-se o Dicionário da Língua Portuguesa Contemporânea da Academia das Ciências de Lisboa). Acrescenta JPF:  «O mesmo acontece, de resto, com a forma atlântico (adejtivo), também homónima do nome próprio a que diz respeito, mas decerto de uso mais frequente com este sentido de gentílico de Atlântico, (nome próprio) nos países de língua portuguesa.» Reforçam esta análise o Vocabulário Ortográfico do Português, que apresenta  a forma circumpacífico, bem como o Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa da Academia Brasileira de Letras e o Dicionário Caldas Aulete, onde já figura transpacífico.

2 No espanhol, a solução encontrada é muito semelhante. A Fundéu-BBVA propõe que Acuerdo Transpacífico seja o equivalente espanhol de Trans-Pacific Partnership, cuja denominação completa em inglês é Trans-Pacific Strategic Economic Partnership. Entre os países hispano-americanos signatários deste tratado, é o mesmo que Acuerdo Transpacífico de Cooperación Económica ou Acuerdo de Asociación Transpacífico – ou melhor, em português, «Acordo Transpacífico de Cooperação Económica» ou «Acordo de Associação Transpacífico».

– Na rubrica Acordo Ortográfico (área Critérios a rever – propostas e sugestões), deixa-se um novo contributo de D'Silvas Filho, autor de Prontuário Universal – Erros Corrigidos de Português e também consultor do Ciberdúvidas, para o debate da ortografia. Trata-se do documento Vocabulário do autor para o AO90, destinado ao português europeu, texto em que D'Silvas apresenta um conjunto de regras para a escolha de vocábulos, de modo a «defender o português europeu, tão maltratado nos atuais vocabulários portugueses», sugerir  «aperfeiçoamentos no AO90, mas sem o recusar liminarmente» e «esclarecer devidamente os seus pontos dúbios».

– Engana-se quem traduz os «London bombings» de 7 de julho de 2005 por «bombardeamentos de Londres». A rubrica O nosso idioma passa a incluir um trabalho publicado em 16/5/2016 no jornal digital Observador sobre as muitas armadilhas semânticas dos chamados «falsos amigos» que o português encontra no inglês.

– O mote dos anglicismos continua no consultório: em Portugal, para falar da peça de roupa que os brasileiros chamam camiseta, diz-se e escreve-se t-shirt. Mas, já que há tanto gosto pelo inglês, não seria mais correto escrever T-shirt, como se regista no prestigiado Oxford English Dictionary? Mais questões: há diferença entre plaquetário e plaquetar? Como usar «e tal» com um numeral? Que sinónimos tem a locução preposicional «em meio a»? «Melhor do que» e «melhor que»: o que é correto?

– Sobre os programas produzidos pelo Ciberdúvidas para a rádio pública portuguesa,:

♦ Com o apoio do Instituto Camões e a colaboração de outras importantes organizações, bem como a de numerosos especialistas da área, acaba de ser publicado O Novo Atlas da Língua Portuguesa, trabalho recentra e projeta a problemática e o desenvolvimento da língua comum. O Língua de Todos de sexta-feira, 25 de novembro (às 13h15*, na RDP África; com repetição no sábado, 26 de novembro, depois do noticiário das 9h00*), conversou com José Paulo Esperança, professor catedrático no ISCTE – Instituto Universitário de Lisboa (ISCTE-IUL) e um dos colaboradores da obra, recentemente apresentada na capital portuguesa.

♦ «Da minha língua vê-se o mar. Da minha língua ouve-se o seu rumor, como da de outros se ouvirá o da floresta ou o silêncio do deserto. Por isso a voz do mar foi a da nossa inquietação» – é uma citação de Vergílio Ferreira que abre o Novo Atlas da Língua Portuguesa. O Páginas de Português  de domingo, 27 de novembro (na Antena 2, às 12h30*, com repetição no sábado seguinte, às 15h30*), entrevista Luís Antero Reto, reitor do ISCTE-IUL e coordenador deste novo livro.

* Hora oficial de Portugal continental.

Por Ciberdúvidas da Língua Portuguesa

1. Quando se estudam os topónimos, ou seja, os nomes de realidades geográficas habitadas e não habitadas, fala-se frequentemente da diferença entre, por um lado, a toponímia maior (macrotoponímia), que se centra nos nomes de núcleos populacionais e elementos da paisagem como rios e serras, e, por outro, a toponímia menor (microtoponímia), que abrange ruas ou simples lugares que convém identificar. São nomes com uma temporalidade própria, constituindo frequentemente autênticos repositórios de vestígios linguísticos deixados por antigas dinâmicas sociais. Acerca dos topónimos de Lisboa como memórias de outros tempos, a rubrica O nosso idioma disponibiliza "Rua da delicadeza", texto publicado na Folha de S. Paulo (4/06/2016), em que o seu autor, o jornalista brasileiro Ruy Castro, revela o poder evocativo desses velhos nomes (na imagem, a rua da Academia das Ciências, em Lisboa).

2. Sobre a toponímia em geral e o uso de nomes de lugar de Portugal e de países de língua portuguesa, consultem-se algumas respostas e artigos em arquivo. Algumas delas: "Toponímia", "Toponímia de um núcleo urbano", "Palavras para uma cidade", "As origens da toponímia do norte de Portugal", "A origem do topónimo Góis", "Uso do artigo definido com o topónimo Ucanha (Tarouca)", "Topónimos com artigo definido", "Origem do sufixo -elo na toponímia portuguesa", "A propósito da toponímia de Alvor", "Nomes da nossa terra", "Quarteira ou a Quarteira? Em Quarteira ou na Quarteira?", "Porquê Beja e Pombal?" "O artigo definido e os estados brasileiros", "Arneirós em Portugal e Arneiroz no Brasil", "Vila Real (Trás-os-Montes); Vila Rica (a atual Ouro Preto, Minas Gerais)", "Toponímia angolana só em língua portuguesa","Topónimos  cabo-verdianos começados por Tôp", "Guileje (Guiné-Bissau)", "Uíje, Malange"; "Maputo (cidade) e Maputo (rio)","Ilha de Moçambique", "Os naturais da ilha do Príncipe", "Timor Loro Sae (e não 'Lorosae')".

3. No consultório, as perguntas andam à volta:

– da sintaxe de «dizer que não»;

– da análise da morfologia de recém-chegado;

– do significado de «em seguida»;

– e da grafia de superenigma.

Por Ciberdúvidas da Língua Portuguesa

1. Os meios de comunicação de vários países deram relevo à escolha da palavra do ano pelo Oxford English Dictionary: a "feliz" contemplada é post-truth, termo usado adjetivalmente em expressões como post-truth politics [«política (de) pós-verdade»], ou post-truth era [«era (de) pós-verdade»]. Trata-se de um eufemismo – que tem um sinónimo, post-factual – para referir aquilo a que, de forma direta, se chama mentira1. Porém, contextualizando um pouco, convém observar que o vocábulo inglês marca uma tendência da atuação política contemporânea: a verdade aparece como um princípio ultrapassado pela História, à semelhança das situações identificadas por outros termos como pós-modernismo, pós-industrialização, ou pós-colonialismo; a finalidade é ir agora ao encontro da suposta "verdade" emocional de largos setores da população votante, exacerbando crenças infundamentadas, que a frieza dos factos não justifica. O anglicismo terá surgido no final do século passado, mas recentemente ganhou amplo uso no discurso mediático, a respeito do chamado Brexit no Reino Unido e da eleição de Donald Trump como presidente dos EUA. Em português, transpõe-se literalmente como pós-verdade (e post-factual como pós-factual), que pode ocorrer adjetivalmente2, seguindo os casos paralelos doutras línguas românicas,  por exemplo: em espanhol, posverdad (cf. Fundación para el Español Urgente – Fundéu BBVA); em francês,  post-vérité; em italiano, post-verità.

1 Na imagem, a frase latina «vincit omnia veritas», ou seja, «a verdade supera tudo».

2 Geralmente uma palavra derivada por prefixação é da mesma classe de palavras que a sua base; ou seja, se verdade é substantivo, então pós-verdade será também substantivo. Contudo, registam-se casos como o de antirrugas, em «creme antirrugas», empregado como adjetivo, apesar de a sua base de derivação corresponder ao substantivo ruga (cf. Margarita Correia e Lúcia San Payo de Lemos, Inovação Lexical em Português, Lisboa, Edições Colibri, 2005, pág. 31). Mais consistente se revela pós-factual, porque é adjetivo derivado de outro adjetivo, factual, e corresponde a post-factual, sinónimo de post-truth, como se refere mais cima.

2.  Sobre a Fundéu BBVA assinale-se uma novidade deste serviço: cada parecer publicado tem agora associada uma versão áudio (ouvir aqui). Infelizmente, nos recursos existentes para apoio do bom uso da língua portuguesa na comunicação social e no espaço público em geral – um projeto sempre adiado no Ciberdúvidas, dados os seus conhecidos constrangimentos financeiros –, não se dispõe de uma funcionalidade similar. E é revelador da real importância que em Portugal se confere ao idioma nacional que até uma iniciativa com o alcance do Prontuário Sonoro da RTP já nem conste na página oficial da televisão pública portuguesa (numa pesquisa Google, ainda se encontra aqui, mas sem qualquer atualização).

3. Na rubrica Controvérsias, ainda à volta da influência semântica do inglês error sobre o português erro, apresenta-se um texto de Adelino Campante sobre o contributo da língua especializada da Física e da Química para esta discussão.

4. Também na oralidade se devem ter em atenção o registo formal e a correção linguística. Um texto intitulado "Falar bem", de Felisbela Lopes, professora da Universidade do Minho, foca essa necessidade, elaborando um diagnóstico do que há por fazer nesse domínio em Portugal. Trata-se de um artigo publicado pelo Jornal de Notícias e agora também disponível na rubrica O nosso idioma.

5. A sintaxe é o grande tema das novas perguntas em linha no consultório: é correto omitir a preposição de numa frase «não me lembro de onde ele está»? Que função sintática tem «de casa» na frase «desapareceu de casa»? Porque se há de dizer que -o é um pronome pessoal, quando, afinal, pode referir coisas (por exemplo, «tenho carro mas emprestei-o »)?

6. Uma chamada de atenção para os programas produzidos pelo Ciberdúvidas para a rádio pública portuguesa: no Língua de Todos de sexta-feira, 18 de novembro (às 13h15*, na RDP África; com repetição no sábado, 19 de novembro, depois do noticiário das 9h00*), a professora Sandra Duarte Tavares fala sobre verbos abundantes e outras questões de língua. O Páginas de Português de domingo, 20 de novembro, na Antena 2 (às 12h30*, com repetição no sábado seguinte, às 15h30*) conversa com António Pedro Pita, diretor do Museu de Neorrealismo, em Vila Franca de Xira, a propósito da doação do espólio do escritor português nascido em Goa Orlando da Costa (1929-2006), autor de Podem Chamar-me Eurídice.

7. Um último apontamento: no contexto da greve da função pública em Portugal, convocada em 18/11/2016, torna-se a ouvir "precaridade" em vez da forma correta precariedade – sobretudo da boca de sindicalistas e políticos. Sobre esta palavra tão maltratada, leia-se "Precariedade, e não 'precaridade'", uma resposta da professora Maria Regina Rocha.

* Hora oficial de Portugal continental.

Por Ciberdúvidas da Língua Portuguesa

1. O português continua a salientar-se como veículo de cultura à escala global. Dados facultados pela UNESCO e disponíveis no Novo Atlas da Língua Portuguesa – obra que teve o seu lançamento em 15 de novembro p. p., em Lisboa – evidenciam que é a 18.ª língua em que mais se traduz, e os autores que nela escrevem fazem com que alcance o 8.º lugar entre as mais traduzidas. As frases e palavras do português aparecem vertidas, em primeiro lugar, em espanhol, depois em inglês e seguem-se o francês, o alemão e o italiano; mas os escritores brasileiros e portugueses também são lidos em húngaro, catalão, sérvio e russo. E quais os autores mais traduzidos? Os lugares cimeiros vão para o brasileiro Paulo Coelho e para o português José Saramago (consultar Notícias).

2. Em Portugal e em Espanha, o termo raia, ou raya, significa o mesmo que «fronteira». Esta linha, que aparta os dois Estados e os pôs «de costas voltadas», constitui uma das mais antigas fronteiras da Europa, acabando, ao longo de tantos séculos, por conter a interação das populações e a difusão de hábitos. Paradoxalmente, a raia soube definir-se também como região de contacto linguístico transfronteiriço, pelo que hoje é possível reavivar os laços fortes com a Galiza, revelar a singularidade da Terra de Miranda, ligada a Zamora e Leão, ou prolongar linguisticamente o Alentejo quer na Estremadura espanhola quer na Andaluzia, ou vice-versa, sobretudo em Olivença e Barrancos. É, pois, de louvar o lançamento do portal Fronteira Hispano-Portuguesa (Frontespo), o qual disponibiliza os resultados do projeto homónimo, visando a investigação de um rico património linguístico que espelha a transgressão secular dos limites impostos pelos poderes centrais.

3. O consultório foca neste dia os seguintes tópicos:

– Os substantivos regulação e regulamentação são sinónimos?

– Pode dizer-se «o paciente entrou num coma», ou «dois comas, três comas...»?

– Como se usa o verbo poupar: «poupei-me a trabalhos» ou «poupei-me de trabalhos»?

– O que significa tirone?

3. A respeito dos programas produzidos pelo Ciberdúvidas para a rádio pública portuguesa:

– No Língua de Todos de sexta-feira, 18 de novembro (às 13h15*, na RDP África; com repetição no sábado, 19 de novembro, depois do noticiário das 9h00*), a professora Sandra Duarte Tavares esclarece várias dúvidas: o que são verbos abundantes? E verbos compostos?

– A propósito da doação ao Museu de Neorrealismo, em Vila Franca de Xira, do espólio do escritor português nascido em Goa Orlando da Costa (1929-2006), autor de Podem Chamar-me Eurídice, o Páginas de Português de domingo, 20 de novembro, na Antena 2 (às 12h30*, com repetição no sábado seguinte, às 15h30*) conversa com António Pedro Pita, diretor da referida instituição.

* Hora oficial de Portugal continental.

Por Ciberdúvidas da Língua Portuguesa

1. A atualidade é marcada pelos sismos que têm afetado alguns países – os mais recentes, no Japão e na Nova Zelândia. E, tratando-se de ilhas e de zonas costeiras, são notícia os alarmes de tsunami  – ou será maremoto? Sobre este tema recorrente, sugerimos a leitura das seguintes respostas: "Tsunami, tsunâmi, sunâmi", "Vaga de maremoto", "A pronúncia de maremoto", "A formação de pontapé e maremoto".

2. Na rubrica Controvérsias, um consulente contesta duas respostas – aquiaqui – que definem epistemologia como «filosofia das ciências». É verdade que o termo é hoje sobretudo equivalente a «teoria do conhecimento», de acordo, aliás, com  a definição dominante no discurso filosófico anglo-saxónico. Contudo, vale a pena lembrar que outros contextos culturais definem o termo diferentemente, como é o caso das correntes que veiculam as suas ideias na língua francesa: neste âmbito, epistemologia pode significar «filosofia das ciências».  É no que assentou, afinal, o que se esclareceu nessas duas respostas, com a devida abonação dicionarística. Razão, por isso, para se manterem em  linha, ficando ambas com a devida remissão para a perspetiva divergente – e no espaço dedicado no Ciberdúvidas precisamente ao debate e à polémica dos temas relacionados com a língua portuguesa, com pontos de vista distintos.

3. No consultório, as dúvidas deste dia dizem respeito ao uso frásico do verbo constar, à análise morfológica do substantivo vivenda e ao feminino de notário.

4. Em O Nosso Idioma, disponibilizam-se dois novos textos. O primeiro – um apontamento do jornalista Luís M. Alves, que se transcreve com a devida vénia da Revista do semanário "Expresso" de 12/11/2016 – glosa os diversos significados da palavra normal: «A palavra  normal pode ser usada  de forma diferente. Umas vezes dizemos que é uma coisa normal simplesmente para dizermos que é comum, que costuma acontecer em certo tipo de situações. Outras vezes, para afirmar que é mesmo assim que que deve ser; isto é, num sentido normativo ( "O Normal é os juízes não darem entrevistas"). (...)». E, no  segundo texto, publicado no mesmo dia no semanário "Sol", o seu autor, o jornalista José António Saraiva, desenvolve algumas reflexões sobre a evolução histórica e sociológica do uso do palavrão e do calão, fazendo uma generalização final que não foge à polémica: «[...] a democratização teve como consequência o abaixamento do nível da linguagem. A democracia degenerou em mediocracia. Basta sintonizarmos a TV num desses programas tipo Casa dos Segredos para percebermos até que ponto isso é verdade.»

5. Uma última referência para o lançamento, em Lisboa,  na terça-feira, 15/11, do Atlas da Língua Portuguesa, obra  já aqui referenciada, da autoria dos professores do ISCTE Luís Antero Reto, Fernando Luís Machado e José Paulo Esperança. Mais pormenores no trabalho Em 2100, a maioria dos falantes de português será africana*, do jornalista Luís Miguel Queirós (in "Público" deste mesmo dia), que fica disponível também na rubrica Notícias.

* Integrado no  mesmo trabalho, veja-se ainda: Paulo Coelho e Saramago são os mais traduzidos.

 6. Em Portugal, comemora-se em 15 de novembro o Dia Nacional da Língua Gestual Portuguesa (LGP). A data fica assinalada pela mensagem da secretária de Estado da Inclusão das Pessoas com Deficiência, Ana Sofia Antunes, que reiterou a intenção de o governo tudo fazer junto das pessoas surdas para  promover e tornar acessível a LGP, que, recorde-se, há 19 anos passou a ser reconhecida pela Constituição da República Portuguesa, como a segunda língua oficial do país (sendo a terceira o mirandês).Também a Presidência da República se juntou à comemoração, passando o seu sítio eletrónico a disponibilizar alguns dos mais importantes discursos presidenciais em língua gestual (fonte: jornal Público de 15/11/2016).

Por Ciberdúvidas da Língua Portuguesa

♦ A festa de São Martinho – «o São Martinho» –, em 11 de novembro, tem raízes profundas em Portugal. De norte a sul, as castanhas assadas mais o vinho novo ou a água-pé são a essência dos magustos, que ainda reúnem amigos e familiares para cumprir um ritual de tempos medievais, se não mesmo mais recuados. Entre lendas, distingue-se a figura histórica de Martinho de Tours (316-397), que, nascido em terras hoje húngaras, na antiga Panónia, se notabilizou como evangelizador da Gália, ou seja, a França dos nossos dias (mais pormenores sobre a origem da festa aqui e aqui). Retomemos, pois, alguns artigos e respostas em arquivo, direta ou indiretamente alusivos a um santo que, do meio da Europa, também ganhou a devoção das terras onde o português se criou*: "Barbela + capela + canela + caneta + ruela + tabela + viela+ oratório, etc.", "Castanha", "Água-pé", "A propósito de jeropiga", "Jeropiga, de novo", "Magusto".

Em Portugal, vários topónimos correspondem à invocação de S. Martinho, embora alguns casos se refiram não ao bispo de Tours, mas, sim, a S. Martinho de Dume (518/25-579), igualmente nascido na antiga Panónia, só que radicado na região de Braga, capital da Galécia. Este foi bispo da diocese bracarense e interveio na conversão dos Suevos, povo germânico que dominou essa antiga província romana durante os séculos V e VI. Dume é atualmente uma freguesia do concelho de Braga.

♦ Do mesmo modo, vários são os provérbios que marcam estes dias de outono em Portugal: além do conhecidíssimo «no dia de São Martinho, vai à adega e prova o vinho», diz-se «dia de São Martinho, fura o teu pipinho», «dia de São Martinho, lume, castanhas e vinho», «pelo São Martinho, todo o mosto é bom vinho», «por São Martinho, semeia fava e linho», «se o inverno não erra caminho, tê-lo-ei pelo São Martinho», etc. (M.ª Alice Moreira dos Santos, Dicionário de Provérbios. Adágios, Ditados, Máximas, Aforismos e Frases Feitas, Porto Editora, 2000). Para rematar, uma adivinha que não terá grande mistério (há mais aqui):

 

Tenho camisa e casaco
Sem remendo nem buraco.
Estoiro como um foguete
Se alguém no lume me mete.**

 

** A castanha.

♦ O latim soube resistir aos tempos, também se cristalizando em palavras e locuções no discurso especializado de várias línguas de origem europeia, que assim criaram ou reforçaram afinidades. É o que evidencia o uso da palavra qua, no sentido de «na qualidade de», transmitido ao português provavelmente por via inglesa, conforme propõe uma nova resposta do consultório. Outras questões: como analisar o vocábulo filósofo? O que é um debrum? E que significa «deve andar aqui matrafia»?

♦ São temas dos programas produzidos pelo Ciberdúvidas para a rádio pública portuguesa:

– No Língua de Todos de sexta-feira, 11 de novembro (às 13h15***, na RDP África; com repetição no sábado, 12 de novembro, depois do noticiário das 9h00***), a professora Cristina Maria Flores fala sobre Português Língua não Materna: Investigação e Ensino, livro que coordenou com Maria Alfredo Moreira e Rosa Bizarro.

– O Páginas de Português de domingo, 13 de novembro, na Antena 2 (às 12h30***, com repetição no sábado seguinte, às 15h30***), entrevista Filipa Soares, a propósito das VIII Jornadas de Atualização de Docentes de Português, uma iniciativa do Centro Cultural Camões em Vigo e da Associação de Docentes de Português na Galiza, que decorre em 11 e 12 de novembro p. f., na Casa de Arines, em Vigo.

*** Hora oficial de Portugal continental.

Próxima atualização do Ciberdúvidas: na segunda-feira, dia 14/11.

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1. Com a vitória surpreendente (para muitos, nem tanto assim) de Donald Trump nas eleições presidenciais norte-americanas de 8/11/2016, é de prever que continuem a ser ouvidas e lidas as palavras típicas da cobertura mediática de todo este processo. A marcar a hostilidade de diversas peças jornalísticas relacionadas com a figura de Trump, têm sido recorrentes vocábulos como racismoxenofobia, misoginia, homofobia, populismo, arrogância, megalomania, ou seja, uma série de substantivos associados a juízos de reprovação. O estilo de Trump, em claro contraste como o do seu antecessor, pede e promete também neologismos à altura dos muitos termos, alguns já esquecidos, que os mandatos dos presidentes norte-americanos foram motivando ao longo de mais de três décadas, muitas vezes como decalques do inglês: recordem-se o reaganismo, durante a presidência de Ronald Reagan (1981-1989); os bushismos – do Bush pai (1989-2003) e, dando um salto temporal, do Bush filho (2001-2009); os erros clintonianos, no período de Bill Clinton (1993-2001); e a obamania ou obamamania à volta de Obama (desde 2009). E agora, que aos tempos de Obama sucedem os de Trump, que virá aí? O "trumpismo"*? E que mais?

Para o mundo de língua espanhola, a Fundación para el Español Urgente (Fundéu BBVA) já fixou algumas palavras alusivas a Donald Trump: anti-Trump e pró-Trump, aplicando o critério de hifenizar os prefixos antes de nomes próprios, tal como se faz na ortografia do português; trumpismo e trumpazo – este último, literalmente, «choque, abalo causado por Trump» –, sem maiúscula inicial nem aspas, seguindo um critério idêntico ao existente na escrita do português (as palavras derivadas de nomes próprias mantêm as sequências gráficas estrangeiras na base da derivação, sem maiúsculas inicial, nem aspas ou itálico). No caso do português, excluindo trumpazo, que talvez pudesse transpor-se como "trumpão" («um trumpão», embora se registe golaço, que permitiria trumpaço), segundo o modelo de encontrão e apagão, ou "trumpada" (cf. "bofetada"), são possíveis anti-Trump e pró-Trump, além do já mencionado trumpismo; mas já se registam Trumpamérica e os substantivos trumpada, trumpesco,  trumpistatrumpificação e trumpestade. E, ainda, da autoria do historiador português José Pacheco Pereira, em crónica no jornal "Público" de 9/01/2021:  trumps, trumpinhos e trumpões nacionais. Todas estas palavras ainda aguardam uso mais extenso na língua portuguesa (com alguns registos nos media portugueses e brasileiros, como aquiaqui, aqui aquiaqui ou aqui, por exemplo).

2. Ainda sobre os EUA, registe-se a notícia do êxito que está a ter o documentário Portuguese in New England («Os Portugueses na Nova Inglaterra»), realizado por Nelson Ponta-Garça, que nele retrata a importante comunidade portuguesa que criou raízes nos estados da Nova Inglaterra, sem deixar de conservar aspetos da sua cultura de origem, entre eles, a língua. Sobre a expansão do ensino da língua portuguesa, na perspetiva de Portugal, leia-se o estudo O Ensino da Língua Portuguesa nos EUA, um trabalho de 2014, coordenado por Luís Reto (atual reitor do ISCTE-Instituto Universitário de Lisboa, onde é também docente e investigador).

3. Na presente atualização do consultório, aborda-se uma distinção que pode ser importante no contexto do direito do trabalho: existe ou não diferença entre gravidade e severidade? Comenta-se igualmente o uso de «o quão», procura-se definir o significado de gravura e volta-se a falar do conceito de família de palavras.

4. São temas dos programas produzidos pelo Ciberdúvidas para a rádio pública portuguesa:

– O livro Português Língua Não Materna: Investigação e Ensino, coordenado pelas professoras portuguesas Cristina Maria Flores, Maria Alfredo Moreira e Rosa Bizarro, tem como público-alvo os professores, investigadores, formadores e outros interessados no ensino do Português Língua Não Materna. O Língua de Todos de sexta-feira, 11 de novembro (às 13h15*, na RDP África; com repetição no sábado, 12 de novembro, depois do noticiário das 9h00*), conversa com a professora Cristina Maria Flores sobre este útil e bem desenvolvido instrumento de trabalho.

– O Camões, Instituto da Cooperação e da Língua, através da Coordenação do Ensino Português em Espanha e Andorra e em colaboração com o Centro Cultural Camões em Vigo e a Associação de Docentes de Português na Galiza, organizam as VIII Jornadas de Actualização de Docentes de Português,  em 11 e 12 de novembro p. f., na Casa de Arins, em Vigo. Sobre este encontro, o Páginas de Português de domingo, 13 de novembro, na Antena 2 (às 12h30*, com repetição no sábado seguinte, às 15h30*), entrevista Filipa Soares, Coordenadora de Ensino para Espanha e Andorra, do Camões I.P.

* Hora oficial de Portugal continental.

Por Ciberdúvidas da Língua Portuguesa

1. Inicia-se na presente data, em Lisboa, a Web Summit 2016*, o maior encontro internacional que, na Europa, reúne especialistas e empreendedores no domínio das tecnologias e negócios em rede. Adivinha-se, portanto, que estes três dias da comunicação social portuguesa fiquem preenchidos pelo tema e pela hegemonia da língua que o veicula, o inglês. Para conter o maremoto de anglicismos que já devastam o discurso mediático, observe-se que muitos deles já têm equivalente em português, a começar pelo termo web summit, substituível por «conferência global de tecnologia», ou, como aqui já foi assinalado, «cimeira de tecnologia de informação». E as start-ups? Não se lhes retirará dinamismo nem importância se forem denominadas «empresas emergentes».

* Sobre esta conferência da tecnologia global em Lisboa, de 7 a 10 de novembro, veja-se ainda: 18 coisas que tem de saber sobre a Web Summit + A organização da Web Sumit 2016 por Portugal

2. Outro tema da atualidade, com o inglês igualmente como pano de fundo, são as eleições presidenciais nos EUAem 8 de novembro p. f. País de tão grande influência à escala mundial, a marca linguística que tem deixado em tantas línguas revela-se também no português. Como se pode (re)ver na consulta das seguintes respostas e artigos disponíveis no arquivo do Ciberdúvidas: "Língua e cultura na política externa portuguesa", "Norte-americano, ou americano?", "Estado-unidense, estadunidense, norte-americano", "Russo-norte-americano", "Os naturais de Nevada (Estados Unidos da América)", "Secretário norte-americano da defesa", "O triunfo do OK". Leia-se ainda o que aqui foi abordado sobre a palavra suspense, que bem define o clima destas eleições.

3. Prova de que o poder da tecnologia anda associado à preponderância do inglês é o tópico em debate na rubrica Controvérsias: como traduzir o anglicismo error, tão conhecido de quem opera com computadores? Terá sentido dizer que uma máquina «deu erro»? Quais são os limites do campo semântico da palavra erro? O tradutor Gonçalo Neves e o advogado Miguel Faria de Bastos lançam a discussão.

4. Chora-se «a perda de alguém», ou «a perca de alguém»? Arlinda Mártires deixa no Pelourinho um breve apontamento sobre a forma perca, muito usada em vez de perda, palavra tradicional, corretíssima e preferível.

5. Regressa o consultório neste dia com cinco novas perguntas:

– «Pode-se conhecer uma pessoa», ou «pode conhecer-se uma pessoa»? Onde colocar o pronome pessoal se?

– «De tanto que falei, fiquei rouco» é uma frase correta?

– O substantivo que corresponde a ciciar é "cício"?

– O diminutivo gatinho é uma forma da palavra gato ou é palavra diferente?

– Que função sintática tem o pronome pessoal nos em «ele era-nos muito querido»?

6. Como que num regresso a casa, às origens e aos laços de parentesco, assinale-se que, na Galiza, o diário oficial do governo autonómico desta região de Espanha passou a disponibilizar uma versão em língua portuguesa. A tradução é automática, mas este pode ser um passo para a aproximação que certos setores da sociedade galega têm afirmado como necessária para a promoção do próprio galego.

7. Um registo final para o lançamento do novo Portal de Serviços + simples + acessível do Camões – Instituto da Cooperação e da Língua, na terça-feira, dia  8/11/2016.

Por Ciberdúvidas da Língua Portuguesa

1. Como anteriormente já referido, as atualizações regulares do Ciberdúvidas regressam na segunda-feira, dia 7 p.f., ficando também reativado o consultório. E, como sempre, fica disponível todo o vasto e diversificado arquivo do Ciberdúvidas.

2. Dois registos mais de atualidade:

 ♦ As conclusões da cimeira da CPLP realizada em Brasília, de 31/10 a 1/11 p.p.: Chefes de Estado e de Governo da CPLP aprovam Declaração de Brasília + Emissão especial da XI Conferência de chefes de Estado e de Governo da CPLP  + Aprovada proposta para que português seja língua oficial na ONU. E, ainda: Novo Atlas da  Língua Portuguesa apresenta-se em Brasília.

 ♦ Os temas dos programas produzidos pelo Ciberdúvidas para a rádio pública portuguesa:

— O acréscimo de alunos namibianos na aprendizagem do português – 280 para 1800, atualmente –, e as suas razões. Uma conversa com Angelina Costa, coordenadora-adjunta do Ensino do Português no Estrangeiro, colocada em Vinduque. Língua de Todos, sexta-feira, 4 de novembro (às 13h15*, na RDP África; com repetição no sábado, 5 de novembro, depois do noticiário das 9h00*).    

— E porque é que há um teatro em Nova Iorque chamado “Saudade”, essa palavra tão especial da nossa língua que vai de Lisboa ao Rio de Janeiro, do Mindelo a Maputo, de Bissau a Luanda e a São Tomé? É a história que nos conta o diretor da companhia Saudade Theatre, Filipe Valle Costa. No programa Páginas de Português de domingo, 6 de novembro, na Antena 2 (às 12h30*, com repetição no sábado seguinte, às 15h30*).

*Hora oficial de Portugal continental.

Por Ciberdúvidas da Língua Portuguesa

1. Novo Atlas da Língua Portuguesa (na imagem), da autoria do reitor do ISCTE-Instituto Universitário de Lisboa, Luís Antero Reto, e dos professores, também do ISCTE, Fernando Luís MachadoJosé Paulo Esperança vai ser apresentado na XI Conferência de chefes de Estado e de Governo da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), que se realiza em Brasília, de 31 de outubro a 1 de novembro p. f. Importante contributo para uma cartografia e um conhecimento atualizados do português, a obra tem edição em português e em inglês, incluindo um prefácio do ministro dos Negócios Estrangeiros português, Augusto Santos Silva. Na notícia da agência Lusa que reproduz declarações de Luís Reto sobre o livro de que é coautor*, frisa-se que «"a ideia foi fazer um atlas com um conjunto de indicadores”, económicos, demográficos, geoestratégicos, por exemplo, “onde está a ser ensinado português, onde está a crescer mais o português”, [...] dando destaque aos casos dos Estados Unidos e China». A Montra de Livros também assinala este acontecimento editorial, disponibilizando a Introdução e o Índice deste novo e útil recurso informativo sobre a nossa língua comum.

* A noticia completa pode ser lida em Um "Atlas da Língua Portuguesa" que pretende afirmar a lusofonia + Em 2100, a maioria dos falantes de português será africana. 

2. Esta cimeira de Brasília marca o 20.º aniversário da CPLP, com o Brasil assumindo a respetiva presidência, depois do anterior mandato de Timor-Leste. As notícias disponíveis dão conta do propósito de os Estados-membros aprovarem uma nova visão estratégica da instituição para a próxima década. São igualmente assuntos em discussão: o cumprimento dos compromissos da Guiné Equatorial determinante para sua controversa entrada de pleno direto na CPLP (nomeadamente, a introdução do português no sistema de ensino do país e a abolição da pena de morte**), o impasse político na Guiné-Bissau, a entrada de novos países com estatuto de observadores (República Checa, Eslováquia, Hungria, Costa do Marfim e Uruguai ) e a indicação da próxima secretária-executiva, a são-tomense Maria do Carmo Silveira, para iniciar funções em 2017. Na cimeira, marcará presença, também, o futuro secretário-geral da ONU, António Guterres. Mais informação sobre esta Conferência de chefes de Estado e de Governo da  CPLP, em Brasília, aqui e aqui. E, ainda, as declarações do presidente português, Marcelo Rebelo de Sousa, já no encerramento dos trabalhos, aqui + CPLP: Aprovada proposta para português ser língua oficial na ONU e projeto mobilidade para 2019 + CPLP: Guiné Equatorial pede apoio técnico para abolir a pena de morte.

** Cf. A língua portuguesa desperta interesse na República Checa e o seu contrário na Guiné Equatorial + Língua portuguesa enfrenta «problemas sérios», avisa Santos Silva

3. Outro acontecimento de relevo destes dias é a realização da XXV Cimeira Ibero-Americana, na cidade colombiana de Cartagena, nos dias 28 e 29 de outubro. Brasil e Portugal estão entre os 22 países representados – Portugal pelo seu presidente, Marcelo Rebelo de Sousa, e pelo primeiro-ministro, António Costa –, que contará igualmente com a presença do recém-eleito novo secretário-geral da ONU, o português António Guterres. Trazido necessariamente para o radar dos media, vem então a propósito lembrar que o substantivo e adjetivo composto ibero-americano – em português, sempre ibero, palavra grave ("ibéro")*** – conserva o hífen, mesmo com a aplicação do Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa. Tal como as demais combinações de nomes pátrios e gentílicos (luso-americano, hispano-árabe, anglo-francês, etc.). O primeiro elemento combinado adota geralmente uma forma invariável com o aberto final: diz-se, portanto, «relação luso-americana» e «acordos luso-americanas», nunca "lusa-americana", nem "lusos-americanos"; e pronuncia-se "lusò-americana". Sobre este assunto, consultem-se, entre outros esclarecimentos disponíveis no arquivo Ciberdúvidas: "Ibero, de novo", "A grafia de Ibero-América", "'Íbero', porquê 'íbero'?!" e "Luso-africano e lusodescendente" + Lusodescendente.

*** "Íbero" não se aceita em português. Em espanhol, a par de ibero, também é correta a variante íbero (cf. dicionário da Real Academia Espanhola; ver também as recomendações da Fundación para el Español Urgente (Fundéu BBVA) para a boa redação na cobertura jornalística da XXV Cimeira Ibero-Americana).

4. Novas perguntas no consultório: «precedendo concurso», ou «procedendo concurso» – qual a expressão correta? Álbum e redil são nomes coletivos? Na «associei um novo seguro ao meu carro», pode-se substituir «o meu carro» pelo pronome lheEscreve-se «mão de obra», ou mão-de-obra?

5. A Senhora das Preces é a destinatária da crónica do advogado Domingos Lopes, que transcrevemos do original na rubrica O Nosso Idioma: «[...] Lembre-se a Senhora do que sofre a nossa língua com tanto deletelow costshoppingstartuptake away and so on. A Senhora sempre falou português com seus pais e familiares e amigos, pois que as santas também vivem como as outras pessoas, exceção feita à santidade. Salve com a sua ajuda todas as palavras postas em perigo porque delas se precisa até para rezar. Apresse-se Senhora e receba a prece. [...]». E, no Pelourinho, fica disponível um curto apontamento do constitucionalista Vital Moreira, escrito no blogue Causa Nossa: «Enquanto umas dúzias de fundamentalistas continuam a gastar energias a contestar ingloriamente o Acordo Ortográfico, os órgãos de comunicação [em Portugal] vão sujeitando tranquilamente a língua a "tratos de polé", sem protestos visíveis» 

6. Sobre os programas de que o Ciberdúvidas produz para a rádio pública portuguesa, lembramos que o Língua de Todos de sexta-feira, 28 de outubro (às 13h15*, na RDP África; com repetição no sábado, 29 de outubro, depois do noticiário das 9h00****), convida a professora Sandra Duarte Tavares para falar, entre outros tópicos gramaticais, da diferença entre til e um acento gráfico. No Páginas de Português de domingo, 30 de outubro (Antena 2, às 12h30****, com repetição no sábado seguinte, como sempre, às 15h30*) dá-se relevo ao português de São Tomé e Príncipe, numa conversa com o professor Tjerk Hagemeijer e com a investigadora Rita Gonçalves, do Centro de Linguística da Universidade de Lisboa.

**** Hora oficial de Portugal continental.

 7. Um registo de pesar: o falecimento do locutor, jornalista, realizador de rádio e atual provedor do telespectador da RTP Jaime Fernandes (1947-2016). Fica como uma das vozes mais belas de sempre na rádio e na televisão em Portugal. E sempre, sempre, com um extremo rigor com a palavra certa e no bem falar ao microfone ou na pantalha – como se viu nas vezes sem conta em que abordou o tema, no programa Voz do Cidadão. Por exemplo, à volta de (alguns) erros no discurso televisivo em Portugal (aqui) ou sobre a razão do erro «"ciclo" vicioso» (aqui). 

8. As atualizações do consultório do Ciberdúvidas fazem uma breve pausa, para regressar no dia 7 de novembro p. f. O formulário para envio de dúvidas fica desativado, mas, para outros assuntos, mantêm-se disponíveis como sempre os contactos indicados aqui.