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Por Ciberdúvidas da Língua Portuguesa

1. Na presente atualização do consultório:

– Falamos de regionalismos em Portugal e no Brasil, a propósito de duas expressões que só têm cabimento no registo informal ou em linguagem familiar: «está de chuva», no sentido de «tem estado a chover e parece que vai continuar», e «de menor», equivalente a «menor de idade».

– Regressamos à conjugação do verbo defetivo chover: pode ter sujeito e flexão no plural («choveram reclamações»)? Como classificá-lo gramaticalmente?

– Como se escrevem e pluralizam os substantivos compostos que têm chefe como segundo elemento? «Enfermeiro chefe» ou «enfermeiro-chefe»? E «enfermeiros-chefes» ou «enfermeiro-chefe»?

– Por último, que género atribuir ao substantivo próprio Google? «O Google» ou «a Google»?

2. Entre as muitas notícias que focam a língua portuguesa como elo entre indivíduos, comunidades e nações, salientamos:

– na sequência da aprovação da entrada de Santiago de Compostela como membro observador na União das Cidades Capitais de Língua Portuguesa, as declarações do presidente da câmara (alcalde) desta cidade galega, Martiño Noriega Sánchez, que encara esta adesão como uma aposta para «integrar a dinâmica da Galiza e do seu idioma, o galego, nas coordenadas da Lusofonia» (mais sobre a Galiza e o galego aqui e aqui);

– no contexto das primeiras Jornadas Pedagógicas da Universidade Nacional de Timor Lorosa`e, as considerações do reitor desta instituição, Francisco Miguel Martins, sobre o valor do português para os Timorenses: «[...] a língua portuguesa não é uma língua só de passado e presente. É uma língua de futuro, uma língua que nos abre ao mundo» (mais sobre a situação linguística de Timor-Leste aqui).

3. Uma chamada de atenção para os programas de rádio que o Ciberdúvidas produz para a rádio pública portuguesa:

– O til, essa ondulação breve, o til é um acento gráfico? A professora Sandra Duarte Tavares responde no Língua de Todos de sexta-feira, 28 de outubro (às 13h15*, na RDP África; com repetição no sábado, 29 de outubro, depois do noticiário das 9h00*);

– O Páginas de Português de domingo, 30 de outubro (Antena 2, às 12h30*, com repetição no sábado seguinte, como sempre, às 15h30*) aborda o tema da situação do português em São Tomé e Príncipe, numa conversa com o professor Tjerk Hagemeijer que, a par da investigadora Rita Gonçalves, do Centro de Linguística da Universidade de Lisboa, estuda a hipótese de uma nova variedade do idioma no arquipélago.

 *Hora oficial de Portugal continental.

Por Ciberdúvidas da Língua Portuguesa

1. Em Portugal, supostamente um «país de brandos costumes», a comunicação social dá ampla projeção a um crime de extrema gravidade, cujo suspeito perpetrador anda foragido pelas serranias do norte da Beira Alta. Fala-se de uma autêntica «caça ao homem», expressão metafórica que, adverte o político português António Bagão Félix em crónica  publicada no jornal Público em 21 p.p., releva de uma cultura de violência que nos deveria fazer refletir.* A rubrica O Nosso Idioma também disponibiliza este texto que constitui, afinal, um manifesto contra o sensacionalismo de certas metáforas do discurso mediático.

*Na imagem, uma cena de caça com um cão atacando um javali. Painel de azulejos (1680), Museu Nacional do Azulejo, Lisboa (foto do sítio MatrizNet).

2. Ainda em O Nosso Idioma e a propósito da história da palavra bera, usada coloquialmente em Portugal, transcreve-se com a devida vénia um excerto do blogue Estação Chronographica, do jornalista português Fernando Correia de Oliveira. Trata-se da evocação do contexto lisboeta em que o referido vocábulo ganhou popularidade... pelas piores razões.

3. Como definir uma família de palavras? Esta é uma das perguntas feitas na atualização do consultório deste dia, que também esclarece outras dúvidas: como saber se até é preposição ou advérbio? «De volta de» é uma locução correta? Diz-se «pedir desculpa» ou «pedir desculpas»? E haverá alguma diferença entre «casca de laranja» e «casca da laranja»?

4. Na Montra de Livros, faz-se referência à segunda edição da Gramática Derivacional do Português, obra concebida por uma equipa de linguistas com a coordenação da professora Graça Rio-Torto (Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra) e sob a chancela da Imprensa da Universidade de Coimbra.

5. Uma nota sobre o nome de uma cidade que tem sido notícia, no contexto da ofensiva militar do Iraque contra o autodenominado Estado Islâmico. Trata-se de Mossul – pronuncia-se "mossúl" –, nome próprio do género masculino que há muito se encontra fixado no português. Consulte-se, por exemplo, o Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa que a Academia das Ciências de Lisboa publicou em 1940 e o Vocabulário da Língua Portuguesa saído em 1966 e da autoria de Rebelo Gonçalves.

6. As línguas de diferentes países europeus chegaram aos quatro cantos do mundo, como veículos de expressão do poder colonial ultramarino. O português não é exceção e, como se sabe, foi até pioneiro neste processo de conquista à escala global. Assinale-se, portanto, a chamada para comunicações  do encontro internacional intitulado A língua companheira do império? Espaços formais e informais da língua portuguesa (sécs. XVI a XX), o qual se realiza em 2 e 3 de fevereiro de 2017, na Universidade de Tuscia, na Itália. Mais informação aqui.

Por Ciberdúvidas da Língua Portuguesa

1. A campanha para a eleição presidencial  nos Estados Unidos da América, marcada no dia 8 de novembro p. f., concentra sempre atenção universal, desta vez com o brinde mediático do estilo tonitruante e do tom tantas vezes  polémico do candidato republicano Donald Trump. No debate com a candidata do Partido Democrata, Hillary Clinton, realizado em Las Vegas, no dia 20 p.p., um dos entrevistadores perguntou a Trump se aceitaria o resultado das eleições de 8 de novembro. Resposta: «I'll keep you in suspense». A tradução para português não ofereceria nenhuma dificuldade – «vou manter-vos em suspense» –, não fosse a palavra suspense gerar uma série de prolações entre decididas e hesitantes. Como se escreve? Em itálico, ou não é preciso? E como se pronuncia? À francesa? À inglesa? À portuguesa – mas com que pronúncia, se os dicionários portugueses parecem dividir-se entre duas transcrições fonéticas? Tal é a discussão abordada numa nova resposta disponível no consultório, sobre o uso em Portugal de suspense – vocábulo desconcertante, mas não tanto como Trump.

2. Outras questões nesta atualização: aceita-se como variante do nome próprio Brás a forma "Braz"? Regresso à diferença entre ditongo e hiato: como distinguir? E diz-se «podes ser o queiras» ou «podes ser o que quiseres»?

3. Em foco nos programas de rádio que o Ciberdúvidas produz para a rádio pública portuguesa: no Língua de Todos de sexta-feira, 21 de outubro (às 13h15*, na RDP África; com repetição no sábado, 22 de outubro, depois do noticiário das 9h00*), a  professora Sandra Duarte Tavares esclarece várias dúvidas de uso e gramática; no Páginas de Português de domingo, 23 de outubro (Antena 2, às 12h30*, com repetição no sábado seguinte às 15h30*), privilegia-se o tema das comemorações do centenário do escritor português Mário Dionísio (1916-1993).

 

*Hora oficial de Portugal continental.

Por Ciberdúvidas da Língua Portuguesa

1. A atualização do consultório centra-se em três questões práticas da língua quotidiana: o advérbio brevemente e a locução em breve são sinónimos? O que distingue tráfico de tráfego? Existe a palavra observacional? Uma quarta pergunta diz respeito à herança tupi que a toponímia brasileira exibe dia a dia: qual a origem de Ituverava, nome de uma cidade do estado brasileiro de S. Paulo?

2. Na língua, porém, é frequente a alteração de significado quando passamos do discurso corrente a um registo mais especializado. É o caso da linguagem jurídica – como aponta o advogado Miguel Faria de Bastos no texto que deixamos na rubrica O Nosso Idioma. Nele, fazem-se algumas distinções vocabulares no âmbito do léxico corrente dos tribunais. Por exemplo: mentira é equivalente a inverdadeErrodesacerto e dolo aplicam-se a situações idênticas? E não andaremos nós a chamar erro àquilo que é, afinal, uma avaria? 

3. Quanto aos programas de rádio que o Ciberdúvidas produz para a rádio pública portuguesa:

– No Língua de Todos de sexta-feira, 21 de outubro (às 13h15*, na RDP África; com repetição no sábado, 22 de outubro, depois do noticiário das 9h00*), a professora Sandra Duarte Tavares esclarece várias dúvidas; por exemplo: qual a pronúncia correta – logotipo ou logótipo?

– Comemora-se em 2016 o centenário do escritor português Mário Dionísio (1916-1993). Para falar desta grande figura da literatura portuguesa do século XX, o Páginas de Português de domingo, 23 de outubro (Antena 2, às 12h30*, com repetição no sábado seguinte às 15h30*), convida o poeta Nuno Júdice, antigo aluno de Mário Dionísio, e Pedro Rodrigues, da direção da Casa da Achada, sede do Centro Mário Dionísio.

*Hora oficial de Portugal continental.

4. Anuncia-se a realização do ciclo de conferências Perspetivas Didáticas e Formativas em Gramática e Texto nos dias 21 e 24 de outubro p.f. na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa. Trata-se de uma iniciativa do Centro de Linguística Universidade Nova de Lisboa que tem como conferencistas Florencia Miranda (Universidade de Rosário, Argentina) e Joaquim Dolz (Universidade de Genebra, Suíça). Para mais pormenores, consultar o programa aqui.

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1. A atualidade fez emergir, de novo, três erros recorrentes no audiovisual português, que justificam algumas chamadas de atenção:

– Com a notícia de que António Guterres vai escolher uma mulher para secretária-geral adjunta da ONU, volta a ser audível alguma resistência à formação do feminino de cargos ou profissões tradicionalmente exercidos por homens – no caso, «uma "secretário-geral adjunto"», em lugar de «uma secretária-geral adjunta». Tal como, por exemplo, é «a ministra» ou «a primeira-ministra» (e não «a ministro» e «a primeiro-ministro}, «a juíza» (e não «a juiz»), «a bombeira» (e não «a bombeiro»), «a carteira» (e não «a carteiro»), «a pedreira» (e não a pedreiro»,  «a tesoureira e a secretária» (e não «a tesoureiro e a secretário»), etc., etc.. Sobre este tópico do procedimento geral da formação do feminino no português, consulte-se, entre outras respostas e artigos, no arquivo do Ciberdúvidas: Feminino; masculinoSobre a formação do feminino + O masculino, o feminino e outras (não) regras + Os géneros masculino, feminino e neutro + O sexo das profissões + Os cidadãos e a gramática + A chanceler, a chancelera ou a a chancelerina? + Poetisa inferioriza? + O feminino de médioO feminino de músico + O feminino de maestro Ainda o feminino de capitão +  Infanta, um caso particular do feminino Sobre o uso da forma presidenta no Brasil + Pai e mãe que estais no céu + Sobre o género gramatical das palavras.

– A propósito da entrega formal, em Portugal do Orçamento de Estado na Assembleia da República em 14/10/2016, também se nota a hesitação com que se pronuncia a vogal tónica de acordos. Sobre o plural de acordo, que mantém o o fechado ("acôrdos"), consulte-se este texto no Pelourinho.

– À volta do caso de agressão que envolve os filhos do embaixador do Iraque em Portugal, fala-se na possibilidade de recorrer à figura diplomática da persona non grata. Mas, tratando-se de dois indivíduos, qual será o plural da expressão latina? Personae non gratae – nunca "personas non gratas", nem "persona non grata", como forma invariável –, como aqui se explica.

– Sobre estas e outras incorreções recorrentes no espaço mediático português, e o efeito na propagação dos maus usos da língua, vale pena a (re)leitura de Soa bem ou mal?, uma crónica de Ana Martins.

2. No consultório, são sete as perguntas em linha: na gíria militar, o que significa «passar à peluda»? E o que é um «prego fácil»?  Numa oração subordinada temporal, que marque um acontecimento futuro, o que é melhor: «quando vêm» ou «quando vierem»? Há diferença entre «de harmonia com» e «em harmonia com»? Qual é o nome coletivo correspondente ao substantivo deputado? Que nome se dá a um período de sete anos? E como chamar uma pessoa que faz uma dieta à base de peixe?

3. Na Montra de livros, apresenta-se uma obra que revela como a comunicação de hoje motiva a criação e a adoção incessantes de novos termos. Trata-se do Novo Dicionário da Comunicação, um livro publicado em Portugal em 2015 pela Editora Chiado, no qual se recolhem alguns dos neologismos de mais frequente uso mediático, entre eles os muitos anglicismos com que se vai tecendo a globalização.

Por Ciberdúvidas da Língua Portuguesa

1. A cobertura mediática da Cimeira da Tecnologia da Informação, mais conhecida como Web Summit 2016, que, como anunciado, se realiza entre 7 e 10 de novembro em Lisboa, enche as páginas de ocorrências do anglicismo start-upempresa emergente»). É o que se verifica em notícias sobre o impacto deste acontecimento na ocupação hoteleira de Lisboa (ler Jornal de Negócios e ouvir Antena 1), enquanto se observa que o termo também aparece grafado startup, sem hífen (ler sítio da organização do evento). Sendo assim, apesar de existir expressão equivalente em português, para quem insista no anglicismo, como escrevê-lo? Com ou sem hífen? A grafia hifenizada parece ser mais correta (ver nota 2 de uma resposta aqui), mas está de tal maneira enraizada a forma sem hífen, com os seus elementos aglutinados, que o uso impôs startup, hoje aceite até por alguns dicionários de língua inglesa – por exemplo, o reputado Oxford English Dictionary (mais pormenores aqui.). Acrescente-se que o vocábulo inglês tem o plural start-ups ou startups e soa aproximadamente como "startape".

2. Apesar de tantas e tantas recomendações, voltou a ouvir-se o nefando "precaridade", em vez de precariedade, no parlamento português, durante o debate quinzenal com o primeiro-ministro português, António Costa, que, intervindo a propósito do Orçamento do Estado,  não evitou o velho tropeção. Sobre este erro, aconselhamos-lhe, entre tantos outros esclarecimentos, o que aqui se  anotou.

3. O que foi o colonialismo português no século XX? Que discurso manifestava a sua ideologia? Uma pergunta sobre a expressão «branco de segunda» traz ao consultório a história do império colonial português na sua última fase, em terras africanas. Com outra resposta vamos até Trás-os-Montes, para saber o significado de acarrejo; e, pulando como uma guariba – ou a Sebastiana de uma canção popular do Brasil –, procuramos perceber a evolução histórica das locuções comparativas «que nem» e «que só». Depois, viajamos no tempo, para evocar Gil Vicente, a propósito de um imperativo com sujeito explícito, até que o regresso ao presente e à realidade do trânsito automóvel nos confronta com o perigo de choque inscrito no verbo abalroar. Por fim, recuperemos a devida cortesia para falar da palavra obséquio e da sua pronúncia.

4. No 1.º Congreso Internacional em Línguas, Linguística e Tecnologia, que realizou de 12 a 14 de outubro no Instituto de Letras e Ciências Humanas da Universidade do Minho.  Neste iniciativa, que visou a promoção de "um diálogo efetivo entre diversos representantes de áreas de aplicação da tecnologia às línguas", participaram Ana Sousa Martins, coordenadora da Ciberescola/Cibercursos da Língua Portuguesa, e Carla Barros Lourenço (Direção-Geral da Educação), com uma comunicação intitulada Ciberescola: an easy replicable online teaching model (em português: "Ciberescola: um modelo de ensino em linha facilmente replicável").

5. Temas da presente semana dos programas de rádio que o Ciberdúvidas produz para a rádio pública portuguesa: no Língua de Todos de sexta-feira, 14 de outubro (às 13h15*, na RDP África; com repetição no sábado, 15 de outubro, depois do noticiário das 9h00*), fala-se dos desafios, nos últimos anos, do Camões – Instituto da Cooperação e da Língua, com relevo para o ensino da língua portuguesa em África; e, no Páginas de Português de domingo, 16 de outubro (Antena 2, às 12h30*, com repetição no sábado seguinte às 15h30*), dá-se conta das medidas de promoção do Português Língua Estrangeira, anunciadas pelo ministro dos Negócios Estrangeiros, Augusto Santos Silva.

*Hora continental portuguesa.

Por Ciberdúvidas da Língua Portuguesa

1. Macau é «uma enorme ponte virtual» que liga a China às comunidades de língua portuguesa – foi com esta expressão sugestiva que o primeiro-ministro português António Costa, em visita oficial à República Popular da China, marcou as suas declarações no Instituto Politécnico de Macau (IPM), no final da cerimónia de inauguração de um laboratório de tradução automática para difusão do português entre os falantes de chinês (notícia da agência Lusa). De realçar, no mesmo contexto, o lançamento, pelo IPM, de uma licenciatura em Português no ano letivo de 2017/18 (ler aqui). Sobre o passado e o presente linguísticos de Macau, leiam-se "A origem do nome Macau", "Macaense e macaísta", "Dialeto, crioulo e patoá", "O futuro do português (também) em Macau", "A origem e o significado da palavra misco (Macau)", "O regionalismo panchão (Macau).

Cf. Qual a língua mais falada em Macau?

2. Assinala-se o Dia da Visão em 13 de outubro, com o qual a Organização Mundial de Saúde visa prevenir a população dos perigos da visão, como a cegueira e a deficiência visual. A respeito destas preocupações, consulte-se, por exemplo, a resposta intitulada "Amaurose".

3. Na rubrica O nosso idioma:

– ainda acerca do uso de nomes próprios de origem banta, Miguel Faria Bastos dá conta de algumas questões fónicas e gráficas das chamadas «línguas nacionais» de Angola na sua relação com o português;

– Filipe de Carvalho comenta um uso de «antes preferir» que, por ser ambíguo, pode não estar assim tão errado.

4. Sabe-se que, no português de Portugal, a colocação frásica dos pronomes átonos (ou clíticos) me, te, se, o, lhe, etc. obedece a certas regras específicas. Associados a infinitivos, devem aparecer antes ou depois destas formas verbais? E que pronomes podem combinar-se ao mesmo tempo? Por exemplo, em «vende-se-vo-la», aceita-se o grupo pronominal «-se-vo-la»? As respostas acham-se no consultório, cuja atualização inclui ainda uma questão sobre a construção a + infinitivo, com função descritiva: «pessoas a pedir ajuda», ou «a pedirem ajuda»?

5. Sobre os programas de rádio que o Ciberdúvidas produz para a rádio pública portuguesa:

– A rede do Camões – Instituto da Cooperação e da Língua abrange hoje 84 países, 72 centros de língua portuguesa, 20 centros culturais, englobando mais de 1300 docentes, 927 instituições e mais de 160.700 alunos. No programa Língua de Todos de sexta-feira, 14 de outubro (às 13h15*, na RDP África; com repetição no sábado, 15 de outubro, depois do noticiário das 9h00*), Ana Paula Laborinho, que dirige os destinos do Camões desde 2012, evidencia os desafios que o instituto foi enfrentando nos últimos anos, sublinhando a importância do ensino da língua portuguesa em África.

– A língua portuguesa é a quarta ou quinta mais falada no globo. Os números variam consoante os estudos. Certo é que o português se tornou na quinta língua com mais utilizadores na Internet e a terceira mais usada no Facebook. Mais de 260 milhões de pessoas expressam-se em português, e a língua é ensinada em mais de 80 países. Na sequência da apresentação, em 15/09/2016, das medidas de promoção do Português Língua Estrangeira, por parte do Camões – Instituto da Cooperação e da Língua, o Páginas de Português de domingo, 16 de outubro (Antena 2, às 12h30*, com repetição no sábado seguinte às 15h30*), dá-se conta das declarações do ministro dos Negócios Estrangeiros português, Augusto Santos Silva, sobre o anunciado impulso, pelo Governo de Lisboa, do ensino da língua portuguesa no Mundo.

*Hora continental portuguesa.

Por Ciberdúvidas da Língua Portuguesa

1. O contacto do português com outras línguas tem sempre novos desafios: por um lado, a pressão do inglês exige-lhe a alternativa de soluções vernáculas; por outro, é necessário conciliá-lo com o contexto bilingue ou multilingue dos países onde tem estatuto oficial – como acontece em Angola. Por exemplo, ocorre perguntar como se combina numa mesma sigla as iniciais de palavras portuguesas com um nome formado em cuanhama, uma das línguas bantas faladas em  território angolano. É este um dos tópicos em foco na atualização do consultório, onde outras dúvidas pedem respostas: que significam bera , ressecar e transecto? Qual o plural de meia-maratona e de afetivo-sexual? Que sentido têm as formas verbais do futuro numa frase interrogativa? E como usar o verbo tratar-se em referência a um tema ou assunto?

2. Em comparação com outros países, Portugal tem conservado certos critérios para o registo do nome de um recém-nascido. Mas há sinais de mudança nesta situação, conforme se dá conta num trabalho da autoria da jornalista Marta Martins Silva e publicado no jornal Correio da Manhã de 9/10/2016 com o título "Mas como é que te vou chamar?", disponível também na rubrica O nosso idioma (com os devidos agradecimentos à autora e ao matutino português).

3.  A contar para o Mundial 2018 de futebol, a seleção de Portugal joga neste dia nas ilhas... "Faroe", "Faroé", "Feroé", ou "Féroe"? O nome tem conhecido variantes em Portugal1, pelo menos desde os anos 60 do século passado: Rebelo Gonçalves, no seu Vocabulário da Língua Portuguesa (1966), fixou a forma Féroe, que foi também adotada por José Pedro Machado, no Dicionário Onomástico Etimológico da Língua Portuguesa, publicado em 1981 (ler respostas aqui e aqui). Contudo, mais recentemente, o vocabulário ortográfico da Porto Editora (versão impressa, de 2009) consigna Faroé e Ilhas Faroé2, grafias que também acolhe o Código de Redação Interinstitucional do português na União Europeia. Em suma, atualmente existem duas formas corretas em Portugal: uma mais antiga, Féroe, e outra mais recente, Faroé2.

1 No Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa da Academia Brasileira de Letras (VOLP-ABL) não se registam nomes geográficos, mas a entrada faroense parece remeter para a forma Faroe, conforme grafa o Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa (1.ª edição brasileira, 2011) na definição que dá do referido gentílico: «faroense relativo às ilhas de Faroe, no oceano Atlântico, ao norte do Reino Unido, ou o que é seu natural ou habitante».

Atualização (11/10/2016) – Faltou assinalar que o Vocabulário Onomástico da Língua Portuguesa da Academia Brasileira de Letras apresenta a forma Feroé (informação do consultor Luciano Eduardo de Oliveira), à qual corresponde o gentílico feroês, que o VOLP-ABL também acolhe. O Dicionário Houaiss tem igualmente feroês e feroico, cuja definição os relaciona surpreendentemente não com Faroe, mas com a forma Féroe, que ocorre na expressão «ilhas Féroes».

2 É discutível o uso de maiúscula inicial também em ilhas, porque não é esta forma parte essencial do uso de Feroé ou Faroé: pode dizer-se ou escrever-se as «ilhas Féroe/Faroé», ou simplesmente «as Féroe/Faroé», ao contrário de Ilhas Britânicas, que não permitem a redução «as Britânicas».

3 Saliente-se que o Dicionário Priberam da Língua Portuguesa dá conta das variantes apontadas, quando regista os gentílicos  faraonse, faroês, feroês e feroico como «relativo ou pertencente ao arquipélago Faroé ou Féroe, território da Dinamarca» (sublinhado nosso).

Por Ciberdúvidas da Língua Portuguesa

1. Portugal e todo o mundo de língua oficial portuguesa se regozijam com a escolha do político e antigo primeiro-ministro português António Guterres para novo secretário-geral da Organização das Nações Unidas, ou seja, da ONU. Esta forma constitui-se como sigla (junta as iniciais da denominação por extenso), mas emprega-se como acrónimo – isto é, como redução vocabular que é lida como palavra. Por isso, nem por sombras querendo estragar o ambiente de entusiasmo criado por esta nomeação – muito pelo contrário –, renova-se aqui uma recomendação: sempre que referirmos a ONU, é essencial pronunciar este acrónimo como uma palavra aguda (ou oxítona) – "onú". Transformá-la em palavra grave (ou paroxítona) – "ónu" –, como recorrentemente se vai ouvindo nos noticiários televisivos e da rádio portuguesas não é congruente com a forma gráfica em português.*

* Cf. ONU tem a tónica no "u" + A pronúncia de algumas siglas (ONU, SMU, IMPI) + Outra vez a pronúncia de ONU + A distinção entre siglas e acrónimos

2. Acontece precisamente o mesmo com o nome Nobel – nomeadamente nesta época da atribuição dos vários galardões à volta do «prémio Nobel» –, ouvindo-se, de novo, novamente se ouve a pronúncia defeituosa "nóbel" e, até, o plural «prémios "nobéis"». Aqui se de deixa, pois, de novo, a recomendação a quantos, na rádio e na televisão, dizem mal o nome Nobel. Tal como ONU, trata-se de uma palavra aguda e, portanto, soa "nobél". No caso, como acontece em português com qualquer palavra sem acento gráfico terminada em "el" – tal como anel e papel, por exemplo**.

** Cf. O plural de Nobel e a sua pronúncia + Fugiu o Nobel, ficou o erro + Bem-haja, José Saramago! + Prémio N[ó]bel ou Nob[él]? + A pronúncia de Nobel

3. A propósito dos muitos jovens que nem estudam nem trabalham, em contexto de crise económica, a designação «nem nem» ou nem-nem e o seu estigma vão criando raízes na perspetiva mediática e nos estudos internacionais – cf. notícia sobre o estudo Society at a Glance 2016 (= Panorama da sociedade 2016) da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE). Como escrever e usar esta palavra? Atendendo a assim-assim (advérbio), nem-nem hifenizado perfila-se como boa opção; e, apesar de se dizer/escrever «os nem-nem», não será descabido aceitar que o plural deste neologismo seja nem-nens. O conceito começou por aparecer em notícias e estudos em inglês – associado a neet, nome comum que resulta da conversão da sigla correspondente a not in education, employment, or training, o mesmo é dizer «(que) não está a estudar, nem a trabalhar, nem em estágio». Voltando a atenção para uma língua-irmã, diga-se que, em espanhol, o inglês neet se traduz como nini* (ni trabaja ni estudia = «nem trabalha nem estuda»), cujo plural é ninis (cf. Fundación para el Español Urgente – Fundéu BBVA).

4. Na rubrica Ensino, disponibiliza-se um texto intitulado "Estudo autónomo programado em sala de aula: o caso do projeto Ciberescola.com" da autoria de Ana Sousa Martins, coordenadora da Ciberescola/Cibercursos da Língua Portuguesa. Trata-se de um artigo publicado na revista Nova Ágora (n.º 5, setembro de 2016), do Centro de Formação de Associação de Escolas Nova Ágora (Coimbra). Na mesma rubrica, fica também o acesso à comunicação que Carla Lourenço (Direção-Geral da Educação, Ministério da Educação) e Ana Sousa Martins apresentaram na 7th International Conference on Computer Supported Education (7.ª Conferência Internacional de Educação assistida por Computador), realizada em maio de 2015, em Lisboa.

5. O consultório discute nesta atualização se existe ou não diferença entre mão-cheia e mancheia, retoma o problema das regências antes de orações subordinadas («ter dúvidas de que esteja correto», ou «ter dúvidas que esteja correto»?) e recua à Idade Média galego-portuguesa para falar da locução «a eito».

6. Nos programas de rádio que o Ciberdúvidas produz para a rádio pública portuguesa:

– A língua portuguesa tem convivido, em Cabo Verde, com outras línguas africanas desde o século XV. Foi aqui que surgiu o primeiro crioulo africano de base lexical portuguesa. No arquipélago, as duas línguas têm convivido e têm vindo a evoluir. O programa Língua de Todos de sexta-feira, 7 de outubro (às 13h15****, na RDP África; com repetição no sábado, 8 de outubro, depois do noticiário das 9h00****), entrevista a professora cabo-verdiana, Ana Josefa Cardoso sobre a convivência das duas línguas em Cabo Verde e no sistema de ensino do país.

– Cleonice Berardinelli ultrapassou, em agosto, a marca dos cem anos de vida. Especialista em literatura portuguesa, Cleonice, ou dona Cleo, como é carinhosamente chamada pelos amigos, é uma personalidade incontornável nos estudos camonianos e pessoanos. Associando-se à celebração do centenário de vida de Cleonice Berardinelli***, o Páginas de Português de domingo, 9 de outubro (Antena 2, às 12h30****, com repetição no sábado seguinte às 15h30****), tem a participação do professor e escritor português António Carlos Cortez, para falar da importância deste nome incontornável no mundo académico em língua portuguesa.

*** Cleonice Berardinelli licenciou-se em Letras Neolatinas pela Universidade de São Paulo, em 1938 onde teve como professor de Literatura Portuguesa Fidelino de Figueiredo, e livre docente pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, em 1959, com uma dissertação intitulada “Poesia e Poética de Fernando Pessoa”, a primeira tese sobre o autor feita no Brasil. Cleonice foi orientadora de 74 dissertações de mestrado e 42 teses de doutoramento.

**** Hora continental portuguesa.

Por Ciberdúvidas da Língua Portuguesa

1. As Controvérsias disponibilizam um texto do jornalista português Nuno Pacheco (ver Público, de 30/10/2016), com considerações sobre a eventual perda do contraste feito em Portugal entre falamos (com a tónico fechado), 1.ª pessoa do plural no presente do indicativo, e falámos (com a tónico aberto), 1.ª pessoa do plural no pretérito perfeito do indicativo. Observe-se a propósito que no Brasil não parece existir tal diferença, nem fonética nem graficamente; mas sabe-se que, não se tratando de importação brasileira, pratica-se e aceita-se a indistinção na pronúncia lusitana (não na escrita), umas vezes, a favor da vogal fechada (entre muitos falantes do Porto ou do Alentejo), outras a favor da vogal aberta (noutros dialetos nortenhos). É de notar que, em qualquer variedade normativa do português, as formas da 1.ª pessoa do plural do presente e do pretérito perfeito, no indicativo dos verbos regulares da 2.ª e 3.ª conjugações, são homónimas, ficando a sua destrinça a cargo da interpretação do contexto: «vendemos muitos livros todos os dias» vs. «ontem vendemos muitos livros»; «partimos de casa sempre às 7h00» vs. «ontem partimos de casa às 7h00».

2. Nas rubricas LusofoniasO nosso idioma  e Acordo Ortográfico transcrevemos também material jornalístico em que a língua portuguesa é notícia. São casos, com a devida vénia:

– a entrevista que a presidente do Camões – Instituto da Cooperação e da Língua, Ana Paula Laborinho, concedeu ao jornal Expresso (edição de 1/10/2016);

– o artigo "O potencial da língua que maltratamos", da autoria do jornalista Nicolau Santos, publicado  no suplemento Economia da mesma edição do semanário Expresso;

– sobre o insulto "Idiota", o apontamento escrito pelo jornalista Luís M. Alves, na revista também do Expresso desse mesmo dia;

– e, no jornal Público, um texto do escritor e jornalista Viriato Teles, contra o Acordo Ortográfico.

3. Em Portugal, foi noticiado o tiroteio de 30 de setembro p. p., numa localidade chamada Porto Alto (freguesia de Samora Correia, no concelho de Benavente); e depressa se instalou a dúvida: diz-se «em Porto Alto», ou «no Porto Alto»? Numa área (aparentemente) mais pacífica, alguém se questiona acerca de um anglicismo usado em informática: é «as cookies» ou «os cookies»? No consultório, encontram-se as respostas a estas e a mais perguntas, a saber: que modo verbal se segue ao advérbio talvez? «Passar para a  frente» é pleonasmo? Nas orações que são complemento do verbo pensar, usa-se o indicativo ou o conjuntivo? «Para que» é sempre uma locução conjuncional? Depois de «ele disse que...», é obrigatório seguir-se uma oração com o verbo no pretérito?

4. E falando da comunicação social portuguesa, novamente a marca IKEA se faz ouvir como "iqueia", a rimar com feia. Bruno Nogueira, repita connosco e bem: "iquêa".

5. Comemora-se em 5 de outubro a implantação da República em Portugal, acontecimento ocorrido em 1910. Nos festejos desta data, que fica assinalada em 2016 pela reposição do feriado (suspenso em 2012, com o país  sob intervenção da troica) , cabe recordar a origem e o significado de república: do latim res publica, «coisa pública, o Estado, a administração do Estado» (Dicionário Houaiss), a palavra chegou ao nosso dias associada ao conceito de um «sistema político caracterizado pela partilha do poder delegado pela sociedade nos seus representantes eleitos para o exercício do governo da nação, por um tempo determinado» (dicionário da Academia das Ciências de Lisboa). Sobre o tema, leiam-se "Viva a república" e "Vivà república" e As palavras república e monarquia.

6. Justamente por causa do referido feriado, a próxima atualização tem data marcada para o dia 7 de outubro.