Aberturas - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
 
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Por Ciberdúvidas da Língua Portuguesa

1. No referente às provas olímpicas para atletas com deficiência que se vão desenrolar de 7 a 18 de setembro p. f., no Rio de Janeiro, o Ciberdúvidas tem recomendado as designações parolímpicoparaolímpico, de acordo, aliás, com o parecer que, a pedido do Instituto Português do Desporto e da Juventude, a linguista Margarita Correia (Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa) emitiu em 2005, no âmbito da atividade da Associação de Informação Terminológica (entidade entretanto extinta). No entanto, a comunicação social portuguesa e entidades desportivas estrangeiras insistem a adotar um termo inspirado no inglês paralympic – uma amálgama de para(plegic) + (O)lympic (cf. Oxford English Dictionary em linha) – e aportuguesado para a língua nacional: “paralímpico”. A influência do anglicismo tem sido tão forte, que foi assimilado por grande parte dos falantes de português – portugueses, brasileirosangolanos –, bem como pelos de outras línguas de origem latina. É o caso espanhol: a Fundéu BBVA (Fundación para el Español Urgente), entidade preocupada com a defesa da língua castelhana, também se rendeu ao “paralímpico”, defendendo o uso deste termo em vez de paraolímpico. Não obstante, reitera-se a importância de respeitar os padrões de cada língua, sublinhando que, no português, o termo "paralímpico" afeta a integridade morfológica e a transparência semântica de um dos termos que lhe dão origem, olímpico, como tem sido explicado por diversos estudiosos da língua. Inclusive no Brasil, onde a forma parolímpico e paraolimpíadas é a defendida na generalidade dos registos de natureza didático-pedagógica e normativa (incluindo o Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa, da Academia Brasileira de Letras, como, de resto, o Vocabulário Ortográfico Português, no Portal da Língua Portuguesa)*. Em sentido contrário foi a opção tomada pelo Comitê Paraolímpico Brasileiro – que, tal como o de Portugal, seguiu a recomendação do Comité Paralímpico Internacional, alterando seu nome para Comitê Paralímpico Brasileiro.

* Cf., entre outros registos: Paraolímpico ou paralímpicos + Jogos Paraolímpicos ou Jogos Paralímpicos? + Sai paraolímpico, entra paralímpico Por que antes era Paraolímpico e agora é Paralímpico?

2. Falando ainda da interferência do inglês, o termo roaming volta às notícias, com a Comissão Europeia a limitar a prestação gratuita deste serviço nos Estados-membros a 30 dias seguidos ou a 90 dias por ano. Em vez do anglicismo, observa-se que itinerância é a alternativa portuguesa que começa a enraizar-se e que tem tudo para constituir uma palavra legítima, em harmonia com os padrões da nossa língua. Recomendemo-la, pois.

3. De palavras pitorescas e arrevesadas que, de quando em quando, emergem no uso é a recolha proposta pelo publicitário português José Alfredo Neto no seu Dicionário de Palavras Supimpas (Guerra e Paz, 2016). A rubrica Montra de Livros faz uma breve apresentação desta obra.

4. «Má homem» é um erro (mas há quem use), como se verifica numa das novas perguntas do consultório, onde também se pergunta: qual a pronúncia da palavra granola? E que significado tem a locução «tanto que»?

5. Sobre programas produzidos pelo Ciberdúvidas na rádio pública portuguesa, recordamos que o Língua de Todos tem nova emissão na sexta-feira, 9 de setembro (às 13h15*, na RDP África; com repetição no sábado, 10 de setembro, depois do noticiário das 9h00*), enquanto o Páginas de Português regressa no domingo, 11 de setembro (Antena 2, às 12h30*, com repetição no sábado seguinte às 15h30*).

 * Hora de Portugal continental.

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1. Depois de uma pausa coincidente com o período estival em Portugal, o consultório regressa às suas atualizações regulares. Também voltam ao seu ritmo habitual as demais rubricas do Ciberdúvidas, trazendo para reflexão e debate toda a diversidade de temas que oferecem a atualidade e a história da língua portuguesa em diferentes partes do mundo. É um reencontro, no meio das consabidas dificuldades que infelizmente continuam a ameaçar este serviço, para, mesmo assim, com grande satisfação – acrescida pela aproximação dos 20 anos do projeto aqui desenvolvido –, acolher todos quantos gostam de saber sempre mais sobre os usos e as regras da nossa língua. Bem-vindos, pois, a este recomeço de atividade no Ciberdúvidas.

2. No Pelourinho, um apontamento de José Mário Costa regista a incorreta substituição de enérgica por energética na citação de uma televisão portuguesa do discurso da ex-presidente do Brasil, Dilma Rousseff, ao Senado, que a destituiu em 31/08/2016; e, na mesma rubrica, Filipe Carvalho comenta outro erro teimoso: o castelhanizar sem porquê o apelido do futebolista Renato Sanches. Continua a discussão do uso do ponto abreviativo com o professor Guilherme de Almeida a manifestar a sua posição num texto disponível na rubrica Controvérsias. Em O Nosso Idioma, com a devida vénia às publicações e aos respetivos autores, transcrevem-se dois artigos com o denominador comum da diversidade do português: José Luís Carneiro, que, em Portugal, assume atualmente o cargo de secretário de Estado das Comunidades Portuguesas, escreve sobre os desafios do ensino do português no estrangeiro, enquanto a escritora brasileira Ruth Manus se descobre bilingue no contacto diário com o português lusitano.

3. No regresso do consultório, pergunta-se: qual é a origem do geónimo Serra Leoa? Que adjetivos derivam de clímax? É legítimo usar a expressão «de meio-dia», sem artigo definido? Em que aceções se pode empregar o termo ecossistema? «Faz-vo-lo querer ler» é uma frase correta?

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O consultório e demais atualizações regulares do Ciberdúvidas encontram-se de férias durante o mês de agosto, regressando em pleno no dia 5 de setembro*. Até lá, e como sempre, fica acessível a todas as consultas o seu vasto e diversificado arquivo – que, à presente data, ultrapassa já as 40 mil respostas e artigos à volta da língua portuguesa, em toda a sua pluralidade. Para quaisquer outros contactos, que não de âmbito linguístico, mantém-se este endereço, aqui.

Por último, mas não menos importante: um agradecimento especial a estes Amigos do Ciberdúvidas; assim como aos demais nossos consulentes que, generosamente, têm contribuído para a manutenção do serviço que aqui se presta em prol da língua portuguesa – gracioso, sem fins lucrativos e independente de quaisquer poderes, lóbis ou interesses de espécie alguma. Bem hajam todos!

 

* Nos Destaques, em baixo ou do lado direito, e na nossa página do Facebook, não deixaremos de assinalar eventuais novos conteúdos, sempre que for caso disso ou a atualidade assim o justificar. 

 

Por Ciberdúvidas da Língua Portuguesa

1. Começa neste dia a 78.ª Volta a Portugal, edição que em 2016 tem a curiosidade – e a excelente iniciativa – de contar com o Ministério da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, para, ao longo das 10 etapas da prova, ir dando a conhecer a ciência e as inovações tecnológicas que ligam as instituições de ensino superior às empresas e às regiões onde estão inseridas. Sugerimos passar em revista respostas e artigos a respeito das palavras, termos, origens e até expressões relacionados com o ciclismo, as bicicletas e a própria Volta: Bicicletas desbobráveis ou dobráveis; A origem da palavra pedivela; «Bicicleta reclinada»; Sobre a formação de "ciclistar"; Ciclista, corredor ou betetista?; Ciclista: derivada ou primitiva?; As palavras atletismo, ciclismo, natação, futebol, voleibol e basquetebol; Os vocábulos triatlo e triatleta; Imprensa motociclística; MOTO;«Siclistas» da SIC;«Motard».

2. Tudo aponta para uma maior presença do português nas escolas francesas com a notícia da declaração política que, em 25 de julho p.p., assinaram os ministros da Educação de Portugal e França, Tiago Brandão Rodrigues e Najat Vallaud-Belkacem, respetivamente, para reforçar a cooperação bilateral no domínio da língua (consultar nota à comunicação social do gabinete do ministro da Educação português e registo na página pessoal da ministra francesa). Brandão Rodrigues pôde mesmo anunciar que o português passa, a partir do ano letivo de 2016/2017, a integrar os currículos do sistema escolar francês como língua estrangeira. Sobre este assunto, leiam-se também os comentários registados nas aberturas intituladas "A língua entre o interesse por ela (em França) e o seu desleixo... oficial (em Portugal)" e "Parabéns, vírgula, Portugal!".

3. Em O Nosso Idioma, o tema do abuso dos anglicismos é retomado num artigo de Maria Eugénia Alves, que se interroga: «O que nos levará a esta opção linguística, se temos ao nosso alcance a familiaridade da língua materna? Uma forma de exibicionismo cultural? Parecer cosmopolita? Ou provocará o riso, como acontece n’Os Maias

4. No Pelourinho, o consultor Filipe Carvalho assinala dois «pecadilhos» com a acentuação gráfica e a vírgula entre o sujeito e o predicado.

5. Na rubrica Acordo Ortográfico, disponibiliza-se mais um manifesto contra a norma ortográfica em vigor – desta vez, dirigida ao Presidente da República Portuguesa, umcarta aberta, da autoria da professora universitária Maria Teresa Ramalho e publicada no jornal Público em 25/07/2016.

6. Na rubrica Controvérsias, dois temas em discussão:

– Na representação dos numerais ordinais, é ou não obrigatório o ponto abreviativo? O consulente João Paes Gameiro escreve-nos para contestar tal obrigatoriedade. A professora Maria Regina Rocha, por seu lado, mostra que, em Portugal, se impôs há muito o ponto nas abreviaturas, e a escrita dos ordinais não é exceção. O nosso consultor D'Silvas Filho reforça este parecer e lembra que o ponto é mesmo de tradição nas abreviaturas quando se escreve em Portugal.

– Referindo-se a metas, perfis e sucesso escolar, Arlinda Mártires apresenta um balanço muito crítico da proliferação de tarefas que, nos últimos anos, tende a assoberbar os professores em geral e os de Português, em particular.

7. Em linha, ficam ainda três novas respostas que esperavam publicação: qual é o género do substantivo telefonema? «Uma pessoa» pode ser «um bom camarada»? E o que é mais correto: «faz-se fogueiras» ou «fazem-se fogueiras»?

8. Sobre os programas de rádio produzidos pelo Ciberdúvidas para a rádio pública em Portugal:

– O que será um dicionário global da língua portuguesa? Este idioma inteiro, com variantes, com palavras teimosas e nomes entranhados noutras línguas do vasto mundo? O Língua de Todos de sexta-feira, 29 de julho (às 13h15*, na RDP África; com repetição no sábado, 30 de julho, depois do noticiário das 9h00*), conversa com José Ribeiro Pereira, coordenador do Dicionário Global da Língua Portuguesa.

– A língua portuguesa vai ganhando novas cores, novas palavras, novos sotaques, em todos os países onde é falada no mundo. Em Moçambique há quem defenda que está já a nascer uma nova variedade, diferente da europeia ou da brasileira. O Páginas de Português de domingo, 31 de julho (Antena 2, às 12h30*, com repetição no sábado seguinte às 15h30*), fala o professor Lourenço do Rosário (reitor da Universidade Politécnica de Maputo), sobre as transformações que a língua de Camões, Craveirinha, Machado de Assis ou Mia Couto está a sofrer em Moçambique.

*Hora de Portugal continental.

9. Esta é a última atualização que deixamos no Ciberdúvidas, que regressará em pleno no dia 5 de setembro, tal como anteriormente já assinalado. Para assuntos fora do âmbito gramatical e linguístico, ficam os contactos indicados neste endereço.

 

10. Finalmente, permita-se-nos um agradecimento especial ao consulente Mário Rui André e ao seu solidário apelo Agora é a vez de ajudares o Ciberduvidas (Porque a língua é um património valiosíssimo), colocado na blogosfera.

 

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1. Está na berra: é o Pokémon Go, ou simplesmente Pokémon1, jogo de «realidade aumentada» (combinação do mundo físico e do mundo digital) que, também em Portugal, provoca o delírio entre os mais jovens. Como denominação de marca comercial ou título de série televisiva e videojogo, é nome próprio e escreve-se Pokémon, com maiúscula inicial. Mas, para referir as personagenzinhas virtualmente capturáveis, poderemos escrever "pokémon" – «um pokémon» –, com minúscula inicial e um k2? Sim, se acharmos que «um pokémon» surge por derivação – ainda que imprópria (isto é, sem envolver a adjunção de sufixos ou prefixos); e, assim sendo, aceita-se o k, apesar de ser letra do alfabeto português que tem várias restrições3. Não obstante, no desejável aportuguesamento, há potencialmente várias soluções concorrentes, ainda à espera do uso e do arbítrio dos falantes: "poquémon" e "poquemom", ou, testando limites, "poquemão"4. Refira-se ainda a truncação poké- ou poke- (com e sem acento), que, em questão de poucos dias, se tornou bastante produtiva, imitando outras línguas (incluindo inevitavelmente o inglês), quando aparece agora à maneira de prefixo: "pokébola", "pokémania". Neste último caso, aconselhar-se-ia o aportuguesamento ("poque-": "poquebola", "poquemania"), com a desvantagem de a relação com a marca em causa perder transparência. A verdade é que estamos no domínio da moda e, portanto, do efémero, onde grafismos e logótipos internacionais fazem tábua rasa das convenções ortográficas nacionais. Saibamos esperar pelo eventual enraizamento das formas mencionadas na língua que falamos e escrevemos. E, entretanto, ouçamos o apontamento que, com o título "A caça aos Pokémons, os gambozinos modernos", o jornalista João Paulo Guerra dedicou a este tema na rubrica O Fio da Meada, transmitida em Portugal pela Antena 1.

1 Observa o nosso consultor D'Silvas Filho que o uso do k em nomes próprios estrangeiros, tal como dispõem e descrevem as normas  de 1945 e de 1990, se limita a antropónimos e topónimos, pelo que considera que se deve escrever Pokémon em itálico ou entre aspas, para assinalar a sua condição de estrangeirismo, e aportuguesá-lo como poquémon, quando ocorre como nome comum. Ver a rubrica Controvérsias para aceder ao parecer completo deste consultor.

2 Pokémon é nome de uma marca e corresponde à amálgama da expressão japonesa poketto monsuta, adaptação do inglês pocket monsters, ou seja, «monstros de bolso» (ver artigo da Wikipédia).

3 O k, como o w e o y, continua a ter restrições, mesmo com a norma ortográfica de 1990. Entre as situações de uso destas letras, conta-se a dos derivados de nomes próprios estrangeiros. Por exemplo, o adjetivo newtoniano mantém a grafia estrangeira do nome donde deriva – Newton; e, se pokémon for tratado como derivado do nome próprio Pokémon, então, poderá conservar o k. Acontece, porém, que, quer na norma de 1945 quer na de 1990 (o mesmo acontece na norma brasileira de 1943), se apresentam apenas exemplos de derivados afixais de nomes estrangeiros, formados pela adjunção de material morfológico. No caso, de Pokémon/pokémon, não ocorre nenhuma adjunção, e, portanto, a legitimidade ortográfica de pokémon pode ser posta em causa. Mas, se considerarmos que pokémon é grafia aceitável em português, daremos a devida relevância ao acento e interpretaremos a sequência como um palavra grave. Quanto ao plural, este poderá ser pokémons; recorde-se, porém, que em Portugal, as palavras graves terminadas em -n (como cólon ou plâncton), fazem o plural em -es (cólones, plânctones), e, portanto, na perspetiva do português lusitano, a forma pokémones estará correta. Refira-se, por último, que, acerca do seu uso em inglês, se tem dito que o plural Pokémon não se distingue do singular, ou seja, a palavra em inglês não tem forma de plural; contudo, em português, o tratamento de Pokémon como nome invariável não parece ser seguido pelos falantes e revela-se problemático.

4 Os aportuguesamentos "poquémon", "poquemom" e "poquemão" teriam, respetivamente, os plurais "poquémones" (ou "poquémons" – cf. nota 2), "poquemons" e "poquemões". Dirigindo o olhar para línguas-irmãs do português, refira-se que, em espanhol, se recomenda a forma pokemon, com minúscula inicial e sem acento gráfico (ver recomendação da Fundación para el Español Urgente – Fundéu-BBVA). Note-se, porém, que a ortografia espanhola legitima o uso de letras que não façam parte da escrita mais tradicional, como é o caso de k e w.

2. Assinalam-se neste dia os 60 anos da existência da Fundação Calouste Gulbenkian, a mais importante instituição cultural em Portugal, no âmbito das artes, da beneficência, da ciência e da educação. Criada por testamento do benemérito de origem arrménia Calouste Sarkis Gulbenkian, o seu apelido ainda hoje é frequentemente mal pronunciado na rádio e na televisão: "Gulbênkian", em vez de /Gulbenkiã/. Um desleixo tão mais imerecido quanto o seu legado tanto tem beneficiado a língua portuguesa. É o caso da edição da Gramática do Português, a mais recentemente publicada no país, ou, muito antes, do decisivo apoio financeiro para a publicação do Dicionário da Língua Portuguesa Contemporânea, da Academia das Ciências de Lisboa. Ou, ainda, dos múltiplos e diversificados debates, conferênciasseminários e outros projetos relacionados com a língua, sob sua chancela.

3. Ainda da atualidade, registe-se que da visita-relâmpago a Lisboa do presidente francês, François Hollande encurtada por causa do atentado em Nice, em 14 p. p. –, nada transpirou sobre o alargamento da presença do ensino de português no seu país, para o qual ele se comprometera no discurso proferido, aquando da celebração do 10 de Junho, em Paris. Nem, tão-pouco, quanto às reuniões, para esse efeito, do grupo técnico luso-francês, anunciado, na mesma cerimónia, pelo primeiro-ministro português, António Costa.

4. A propósito ainda dos trágicos acontecimentos ocorridos em Nice, em 14 de julho p. p. e, depois, num comboio, na Alemanha, deixamos no Pelourinho um apontamento do nosso consultor Filipe Carvalho, assinalando o equívoco que, em Portugal, se gerou entre os termos atentado e ataque.

5. Já na rubrica Diversidades, voltamos ao contraste dos adjetivos emotivo e emocionante, desta feita no âmbito das línguas planeadas, com um contributo de outro nosso consultor, Miguel Faria de Bastos. Nele se evidencia como o esperanto evita a ambiguidade semântica. Também do mesmo consultor, fica disponível nas Controvérsiasresposta publicada no jornal Público em 18/07/2016, em discordância com o artigo "A torre de Babel da União Europeia, sem o Reino Unido. E agora?”, assinado por António Bagão Félix, no mesmo jornal, em 5/07/2016

6. Na rubrica Ensino, divulga-se o diagnóstico que o poeta e professor português António Carlos Cortez faz no jornal Público (18/07/2016), a respeito dos exames de Português do 12.º ano – a situação parece preocupante (mantém-se a ortografia do original): «[...] as respostas dos alunos são verdadeiros labirintos sintácticos: os alunos não dominam a subordinação, colocam a partícula “que” a propósito de tudo e de nada, usam lugares-comuns retirados da gíria futebolística [...], sem esquecer o léxico incipiente, até mesmo infantil [...]. [D]esconhecem-se as regras da acentuação e não estão consolidados quer a estrutura do parágrafo, quer o uso do hífen, quer ainda as regras de colocação de vírgulas e pontos finais (a vírgula entre sujeito e predicado é erro comum e reiterado).»

7. Algumas respostas ainda aguardam publicação, e, por isso, neste dia, ficam disponíveis as correspondentes às seguintes perguntas:

– Falando de uma cantora, diz-se sempre «a soprano», ou é também aceitável «o soprano»?

– Se a Odisseia conta as aventuras de Ulisses, porque não se chama esta obra "Ulisseia"?

– Se um líquido toma a forma do recipiente em que se encontra, será que, em referência a esse fenómeno, podemos empregar os verbos adequar e adquirir?

– Em Portugal, muito se tem lido acerca da mental coach do jogador de futebol Éder. Não haverá sinónimo vernáculo deste anglicismo?

8. Temas dos programas produzidos pelo Ciberdúvidas na rádio pública portuguesa:

 –  Qual é a atual situação da língua portuguesa em Moçambique? Que desafios atravessa e que futuro tem ela no mundo? É este o tema em foco numa conversa com o professor Lourenço do Rosário (reitor da Universidade Politécnica de Maputo), no Língua de Todos de sexta-feira, 22 de julho (às 13h15*, na RDP África; com repetição no sábado, 23 de julho, depois do noticiário das 9h00*).

– Ao contrário do que se vê noutras línguas, não é ainda frequente a adaptação de obras da literatura portuguesa como estratégia de aprendizagem do Português como Língua Estrangeira (PLE) – mas algo parece estar a mudar. No Páginas de Português de domingo, 24 de julho (Antena 2, às 12h30*, com repetição no sábado seguinte às 15h30*), é entrevistada Ana Sousa Martins, coordenadora da Ciberescola e autora de recentes adaptações de três clássicos: A Cidade e as Serras, de Eça de Queirós; Amor de Perdição, de Camilo Castelo Branco; e Peregrinação, de Fernão Mendes Pinto.

9. Como anteriormente anunciado, o consultório está fechado até ao próximo mês de setembro. Não deixaremos, mesmo assim, de disponibilizar novos conteúdos nas demais rubricas, sempre que o interesse e a atualidade o impuserem. Entretanto, para assuntos fora do âmbito do esclarecimento de dúvidas, fica o contacto pelo endereço eletrónico habitual: aqui.

Por Ciberdúvidas da Língua Portuguesa

1. A cobertura informativa da vitória da seleção portuguesa na final do Campeonato Europeu de Futebol realizada em Paris, em 10 de julho p. p. teve um ponto alto na receção dos seus  jogadores em Lisboa, em clima de grande euforia e palavras que marcaram exclamativamente a felicidade e o júbilo dos adeptos. Pena só que à festa e às congratulações escritas nos diversos meios de comunicação – em legendas televisivas e até em anúncios do respetivo patrocinador oficial, nomeadamente  – tenham faltado tanto, e tantas vezes,  as indispensáveis vírgulas nos muitos vocativos das frases de felicitação. É o caso da ilustração ao lado – «Parabéns Portugal»* –, que, para o efeito pretendido, carece do essencial: a vírgula antes do vocativo. Corrija-se, pois, o erro e escreva-se com satisfação ainda maior: «Parabéns, Portugal!»

* Também aqui. Outro caso em que se deteta o erro apontado: «obrigado Portugal», em vez de «obrigado, Portugal». Cf., ainda: O erro crasso no “Bom dia Portugal”«Bom dia, Maria.», «Bom dia, Maria!»...

2. Nas rubricas do Português na 1.ª pessoa, há novos artigos. Assim:

– Igualmente a propósito da vitória portuguesa no Euro 2016, a rubrica O nosso idioma acolhe um apontamento da professora Maria Eugénia Alves sobre o significado e a etimologia de três palavras associadas ao tema: mérito, brilho e sorte.

– Nas Controvérsias, as consequências linguísticas do chamado Brexit continuam na ordem do dia, agora com uma reflexão que o político português António Bagão Félix publicou no jornal Público em 6/07/2016;

– No Pelourinho, o consultor Filipe Carvalho dá conta do uso indevido do indicativo em lugar do conjuntivo depois da conjunção embora.

3. Entre as notícias com interesse para o conhecimento ou promoção da língua portuguesa, duas notas:

– Retomando o tema do uso do português em França e a promessa feita pelo presidente francês François Hollande no princípio de junho p. p., de incrementar o ensino do português no país (ver aqui a informação**), impõe-se dar realce à entrevista que Hermano Sanches Ruivo, primeiro vereador português eleito para o município de Paris, concedeu ao jornal Público (texto publicado em 11/07/2016), no contexto do Euro 2016. Das declarações de Sanches Ruivo, ressalta a seguinte passagem, acerca da presença do português no ensino francês: «[...] como é que podemos aceitar que apenas uma dezena de universidades tenham, de facto, o ensino da língua portuguesa nas suas propostas curriculares? Como é que podemos admitir ou entender que ainda tenhamos centenas ou milhares de diretores de escolas que simplesmente rejeitam a possibilidade de oferecer a língua portuguesa aos seus alunos? A realidade é que não se está a responder a um plano de desenvolvimento do ensino da língua portuguesa. Nunca foi algo que tenha sido suficientemente negociado ou pressionado pelos governos de Lisboa. E temos mais do que as pessoas suficientes potencialmente interessadas em aprender a língua.»

** «Vão ser rapidamente marcadas reuniões do grupo técnico que existe entre Portugal e França para o alargamento da presença do ensino de português» em França – garantia o primeiro-ministro António Costa, no seguimento das declarações do presidente François Hollande. Com a sua visita oficial a Portugal no dia 19, esperemos que, até lá, haja algum desenvolvimento concreto nesse sentido.

– Do jornal em linha brasileiro Nexo, chega-os um trabalho com o curioso título  "Todxs contra x língua: os problemas e as soluções dx linguagem neutrx", no qual se reflete sobre a chamada «linguagem não binária» ou «linguagem neutra», conceito defendido por ativistas dos movimentos feministas e LGBT de modo a contornar o binarismo e o sexismo da linguagem.

4. Voltando a Portugal, outro assunto da atualidade: publicados os resultados do exames dos ensinos básico e secundário, observa-se uma pequena descida na disciplina de Português. No 9.º ano, a média atingiu 57%, menos um ponto percentual do que em 2015; no 12.º ano, a situação é semelhante: na escala de 0 a 20 valores, a média obtida ficou pelos 10,8, enquanto no ano passado tinha chegado aos 11 valores.

5. Temas dos programas produzidos pelo Ciberdúvidas na rádio pública portuguesa:

 –  No Língua de Todos de sexta-feira, 15 de julho (às 13h15*, na RDP África; com repetição no sábado, 9 de julho, depois do noticiário das 9h00*), o professor Carlos Rocha debruça-se sobre a origem das palavras geringonça, gíria e crowdfunding, entre outras de mais recente circulação mediática em Portugal.

No Páginas de Português de domingo, 17 de julho (Antena 2, às 12h30*, com repetição no sábado seguinte às 15h30*), passa uma entrevista com a presidente do Instituto de Cooperação e da Língua – Camões, Ana Paula Laborinho, com as suas impressões sobre a III Conferência Internacional "O Futuro da Língua Portuguesa no Sistema Mundial", que decorreu na capital de Timor-Leste, de 15 a 17 p. p.

6. Voltamos a lembrar o período de férias do consultório, fechado até ao próximo mês de setembro, a despeito das atualizações das demais rubricas, sempre que for caso disso. Para quaisquer outros assuntos, agradecemos o contacto pelo endereço eletrónico habitual: aqui.

Por Ciberdúvidas da Língua Portuguesa

1. Com o Euro 2016 a acabar, a França derrota a Alemanha na meia-final, para defrontar a seleção portuguesa na final que se realiza em Saint-Denis, nos arredores Paris, em 10 de julho p.f. É grande a expetativa, mas, fugindo à ansiedade, ocupe-se o espírito com esse outro encontro, secular, entre as duas línguas que mais se ouvirão no estádio. No caso do futebol, se a maioria dos termos entrados no português veio do inglês* – o football é uma invenção inglesa –, há também marcas do francês neste idioleto tão expressivo. Dois exemplos, frequentes no Brasil*, são chance e equipe (este aportuguesado em Portugal como equipa). Noutros domínios, muitas são as palavras de origem francesa (galicismos) que o português integrou desde o século XVIII e que tanta reprovação mereceram da parte dos normativistas dos séculos XIX e XX (Cândido de Figueiredo, Rodrigo de Sá Nogueira, Vasco Botelho de Amaral). Entre as respostas e outros textos que o Ciberdúvidas dedica aos galicismos, sugerimos a leitura dos seguintes: "O galicismo rentrée", "O galicismo etapa", "O galicismo naïf", "Sobre o galicismo 'pôr uma questão'", "Detalhe: horrível galicismo?", "Comprometer, um antigo galicismo", "Chauvista e chauvinismo", "Constatar", "O galicismo nombrilismo", "A grafia do galicismo déjà-vu", "O galicismo griffe", "A palavra pendant (galicismo)", "Linhagem", "Sobre a influência do occitano".** Sobre os galicismos entrados na nossa língua e os estrangeirismos em geral,  nunca é demais chamar a atenção para as recomendações que Rodrigues Lapa (1897-1989) deixou na Estilística da Língua Portuguesa, obra publicada em 1945.

* Para uma lista de termos do futebolês no Brasil, consulte-se Vocabulário do Futebol – expressões, gírias e termos. Para termos propriamente franceses e usados só no francês, ver glossário em "O vocabulário do futebol e do torcedor na França!", do sítio O melhor de Paris. Com interesse para a identificação dos galicismos no português do Brasil, refiram-se as páginas eletrónicas O francês no português e Palavras da língua francesa usadas no português brasileiro, bem como a tese de mestrado Dicionário terminológico bilíngüe francês-português de termos jurídicos: tratamento terminográfico e reflexões sobre terminologia bilíngüe.

** Outras curiosidades: Galo, símbolo da França A razão de o galo gaulês adornar, como símbolo, as camisols da seleção frances + Os primórdios do francês + O pão francês e outros regionalismos gastronómicos da língua portuguesa 

2. O encontro, futebolístico e linguístico, sendo o que vai ser no estádio, até podia ter sido com a Alemanha e com a língua alemã. Daí esta outra reflexão que deixamos sugerida. Qual a razão de se empregar frequentemente o adjetivo germânico, em expressões como «espírito germânico» ou «território germânico»? Que significa, afinal, germano e germânico? Aplicam-se estes vocábulos exclusivamente à Alemanha, ou são eles extensíveis a outros países e culturas? E que palavras e expressões de origem alemã mais usamos hoje no no nosso léxico? Em O Nosso IdiomaFilipe Carvalho apresenta uma síntese do que se entende por línguas germânicas e da sua influência no português; e, no Pelourinho, o mesmo consultor sublinha a importância que o trema – também denominado Umlaut em alemão – tem neste e noutros idiomas. Acerca de germanismos e da relação português-alemão, leiam-se: "Leitmotiv", "Kitsch", "Lúmpen", "Lumpemproletariado I", "A história e a pronúncia de bunker (inglês)/búnquer (português)", "Elsa", "Dicionário dos Anglicismos e Germanismos na Língua Portuguesa", "Falar português em Portugal".

3. Ainda na rubrica O Nosso Idioma, deixamos outra sugestão de leitura: a crónica Salvem-nos o inglês! (in jornal Público, 8/07/2016), do jornalista português Nuno Pacheco, ao encontro dos temas do Brexit, do predomínio do inglês na União Europeia e dos anglicismos com tanto livre-trânsito hoje no português – tal como até à primeira metade do século passado acontecia com os galicismos.

4. Mas o desporto não vive só de futebol, e, por isso, cumpre assinalar a medalha de prata que a portuguesa Dulce Félix ganhou na prova dos 10 000 metros nos Campeonatos da Europa de Atletismo que se realizam em Amesterdão, na Holanda. Pena é termos também de registar certo desapontamento com a maneira como, no discurso mediático, se pronuncia o apelido da atleta (há anos fizemos o mesmo reparo): tradicionalmente, deveria soar "féliche" – e não "félicse", como se ouve outra vez. Um erro que é já mudança irreversível? E que dizer da falta do ponto abreviativo seguido de vogal em expoente para representar o numeral ordinal segundo? Insistimos: é 2.º lugar, e nunca « lugar». Ou ainda do ponto indevido no numeral 10 000? Sobre o apelido em causa ler Félix; à volta do ponto abreviativo, ver A grafia (diferente) das abreviaturas e dos símbolos; e sobre a grafia dos algarismos superiores às dezenas de milhares, consultar o artigo Sobre a escrita dos números, das horas e de outras representações, de Guilherme de Almeida.

5. «Sabes muito, mas andas a pé» – dizemos nós aos convencidos. Donde virá esta expressão? O consultório procura dar resposta à interrogação. Outra dúvida: se se diz câmara, porque se diz e escreve bicameral?

6. Quanto aos programas produzidos pelo Ciberdúvidas na rádio pública portuguesa, assinalamos que o uso da vírgula é o tema central do Língua de Todos de sexta-feira, 8 de julho (às 13h15*, na RDP África; com repetição no sábado, 9 de julho, depois do noticiário das 9h00*). No Páginas de Português de domingo, 10 de julho (Antena 2, às 12h30*, com repetição no sábado seguinte às 15h30*), está em foco a Base de Dados Terminológica e Textual (BDTT), que resulta da colaboração multidisciplinar entre o núcleo de tradução do Gabinete de Relações Internacionais e Protocolo da Assembleia da República e o Centro de Linguística da Universidade Nova de Lisboa

* Hora de Portugal continental.

6. Conforme oportunamente já anunciado, o consultório linguístico tem a sua atividade interrompida até ao próximo mês de setembro. Sempre que for caso disso, não deixaremos entretanto de assinalar, mas aqui, o registo da atualidade que diga respeito à língua portuguesa e à entrada de novos conteúdos nas diversas rubricas do Ciberdúvidas. Para assuntos fora do âmbito gramatical e linguístico, ficam os contactos indicados neste endereço.

Por Ciberdúvidas da Língua Portuguesa

1. A propósito da meia-final disputada neste dia entre as seleções de futebol de Portugal e do País de Gales no Euro 2016, o consultório recebe uma nova resposta que aborda precisamente o uso do nome deste país que faz parte do Reino Unido. Curiosidade suplementar: no País de Gales, coexiste com o inglês uma língua mais antiga, do ramo céltico, o galês. Como a história linguística do território português não é alheia às línguas célticas, poderia supor-se alguma relação entre o elemento -gal de Portugal e a forma Gales, mas trata-se de hipótese improvável: -gal representa Cale (a atual Gaia ou o próprio Porto), topónimo relacionável com a raiz pré-romana *kal-, de origem obscura, que significaria «pedra» e que talvez se encontre encerrada no nome latino Callaecia, que deu Galiza; já Gales, como o inglês Wales, remontará ao anglo-saxão walh ou wealh «estrangeiro», termo que os antigos germanos tomaram da tribo céltica dos Volcas, para identificar qualquer comunidade de fala céltica. Diga-se ainda que, em galês, o país em apreço se chama Cymru, vocábulo que nada tem que ver com inglês nem com o anglo-saxão; na verdade, é uma palavra céltica – de combroges, «compatriotas» –, que corresponde a Cambria em latim e que daqui passou ao português como Câmbria, forma muito pouco usada, embora sinónima de País de Gales.

2. Ainda no consultório, assinala-se a diferença entre os adjetivos emotivo e emocionantee comenta-se a relação de muito com duas classes de palavras. No Pelourinho, um apontamento de Filipe Carvalho comenta os erros resultantes de uma deficiente aplicação das novas regras ortográficas oficialmente em vigor no país desde 2012, assinalados na página oficial da Presidência da República Portuguesa. Ainda sobre o Acordo Ortográfico, e na respetiva rubrica, fica em linha um trabalho do jornalista brasileiro Marcos Nunes Carreiro; publicado no Jornal Opção (3/07/2016), nele se pergunta por que razão há países de língua oficial portuguesa ainda à espera de o aplicar.

3. Juntando-se às muitas interrogações levantadas pela saída britânica da União Europeia (o Brexit), reabre-se o debate sobre o sistema de patentes europeu, iniciativa que exclui a língua portuguesa apesar das muitas críticas* nesse sentido. Num artigo publicado no jornal Público (6/07/2016), Gonçalo de Sampaio, presidente do Grupo Português da Associação Internacional para a Protecção da Propriedade Intelectual, apela à ação: «O Brexit abre um conjunto alargado de incertezas ao projecto da Patente Europeia de efeito unitário e do seu Tribunal, devendo-se aproveitar o momento para melhor salvaguardar as empresas nacionais. Esta é uma oportunidade de repensar o sistema que, tal como está, não beneficia o tecido empresarial português e aumentará o fosso, na área da inovação tecnológica, entre os países mais desenvolvidos e os restantes.» O artigo fica também disponível na rubrica Lusofonias, na área temática correspondente (Patentes em português).

* Leiam-se os seguintes artigos: "Portugal não deve aderir ao Acordo da Patente Europeia" (2008); "Um atentado clandestino contra a língua portuguesa" (2010); "Patente da UE: um imperativo nacional" (2011); "A bravata serôdia contra o português" (2015).

4. A respeito dos programas produzidos pelo Ciberdúvidas na rádio pública portuguesa:

– No Língua de Todos de sexta-feira, 8 de julho (às 13h15*, na RDP África; com repetição no sábado, 9 de julho, depois do noticiário das 9h00*), a professora Sandra Duarte Tavares fala do uso correto da vírgula.

– A Base de Dados Terminológica e Textual (BDTT) é um recurso que resulta da colaboração multidisciplinar entre o núcleo de tradução do Gabinete de Relações Internacionais e Protocolo da Assembleia da República e o Centro de Linguística da Universidade Nova de Lisboa. O Páginas de Português de domingo, 10 de julho (Antena 2, às 12h30*, com repetição no sábado seguinte às 15h30*), conversa com a coordenadora da BDTT, a linguista Rute Costa.

* Hora de Portugal continental.

5. Como aqui foi explicado, embora a atividade do consultório linguístico faça um intervalo até ao próximo mês de setembro, a Abertura continua a assinalar as atualidades protagonizadas pela língua portuguesa, além de registar a publicação de novos conteúdos em linha. Para assuntos fora do âmbito gramatical e linguístico, agradecemos que nos contactem neste endereço.

Por Ciberdúvidas da Língua Portuguesa

1. A saída do Reino Unido da União Europeia (o Brexit), na sequência do referendo realizado em 23 de junho p. p., tem também repercussões linguísticas. Com efeito, pergunta-se agora se o inglês manterá a hegemonia adquirida ao longo de décadas no funcionamento das instituições europeias – situação que permitiu ir elaborando, na política e administração comunitárias, uma modalidade burocrática de língua já um tanto afastada da matriz britânica. Na rubrica Controvérsias, transcreve-se um apontamento que o jornalista português Eduardo Oliveira e Silva publicou neste dia no jornal i e no qual sugere que esta crise da União Europeia «talvez seja a oportunidade de [o inglês] dar mais espaço a outras [línguas], nomeadamente a nossa». Registem-se outros ecos mediáticos de uma eventual reconfiguração do conjunto de línguas de trabalho da UE: "Brexit: inglês pode deixar de ser língua oficial do Parlamento Europeu" (TVI 24); "Políticos franceses querem inglês fora da UE como língua oficial" (RTP Notícias); "Parlamento Europeu. Reino Unido fora da Europa, já!" (jornal i). E, a propósito do outro brexit – a eliminação da seleção inglesa do Europeu de futebol em França –, a crónica do jornalista português Ferreira Fernandes, no Diário de Notícias de 29 deste mês, "O referendo foi o maior tiro no foot".

Acerca das repercussões do Brexit sobre as relações institucionais e políticas entre línguas no seio da União Europeia, leia-se "As línguas da Europa: o que mudará com o Brexit?", uma reflexão assinada pelos coordenadores de equipas no consórcio europeu de investigação Mobilidade e Inclusão na Europa MultilingueMIME. Deste texto, publicado no jornal Público em 1/07/2016, salientamos a seguinte passagem (mantém-se a ortografia original): «Para quem [...] se preocupa com o reconhecimento desigual das línguas e com as transferências sem contrapartidas que a hegemonia de uma língua provoca, e quem defenda a multipolaridade no mundo, o “Brexit” também não será motivo de júbilo, pois a necessidade de defender activamente a diversidade linguística continuará a ser tão imperiosa como o era. Claro que o problema não é a língua inglesa; o problema é uma hegemonia desprovida de justificação política. As inquietudes que se possam ter a este respeito seriam exactamente as mesmas se a língua dominante fosse o francês e houvesse um “Frexit”.» Sobre o estatuto, o uso e o futuro do inglês na União Europeia, leiam-se também as considerações que o tradutor e professor universitário Marco Neves fez em 24/06/2016 no blogue Certas Palavras.

2. Sobre o Campeonato Europeu de Futebol de 2016, ultrapassados os «oitavos de final», as seleções apuradas, como a portuguesa, passaram aos «quartos de final»*, depois, as «meias-finais», e, por último, a «final» da prova. Vale a pena então lembrar que, ao abrigo do Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa (Base XV, 6.º), não se hifenizam os compostos com elementos de ligação (ou seja, preposições). O contrário acontece com os compostos sem nenhum elemento de ligação, como «meia-final» (singular)/«meias-finais» (plural)** – enquanto a variante «semifinal» se grafa sem hífen. Sobre a hifenização de palavras compostas, consultem-se as seguintes respostas: "Dezasseis avos de final"; "Acerca de cor de rosa e cor-de-laranja"; "O uso do hífen segundo o Acordo Ortográfico"; "O hífen em palavras compostas e o novo acordo ortográfico"; "Meio-campo"; "Meia-diária".

* Na norma ortográfica anteriormente em vigor em Portugal, estas expressões exibiam hífen – quartos-de-final e oitavos-de-final. No quadro do novo acordo, suprime-se geralmente este hífen, mas deste preceito excluem-se as denominações de espécies botânicas e zoológicas: ervilha-de-cheiro, andorinha-do-mar.

** Vejam-se aqui outros exemplos de compostos com o adjetivo meio.

3. Na Montra de Livros, damos conta do livro Cruz, Credo, Bate na Madeira, da jornalista portuguesa Andreia Vale, que, nesta sua segunda obra, se concentra em crendices, superstições e expressões relacionadas. E, na rubrica O Nosso Idioma, deixamos em linha uma saborosa crónica do jornalista português Nuno Pacheco, intitulada "Proverbial achado" [in jornal "Público" do dia 1/07 p.p.], envolvendo um gato, uma plantação de cannabis descoberta num tellhado e... alguns dos mais expressivos rifões populares começados por "quem".

4. Em Portugal, anuncia-se o retomar das atividades letivas nos ensinos básico e secundário entre 9 e 15 de setembro p. f., conforme o calendário publicado no Despacho 8294-A/2016. Prevê-se igualmente que as provas de aferição, que, em 2015/2016, abrangeram as disciplinas de Matemática e Português nos 2.º, 5.º e 8.º anos, se estendam a outras áreas ou disciplinas no ano letivo de 2016/2017: no 2.º ano, a Expressões Artísticas e Físico-Motoras; no 5.º ano, a História e Geografia de Portugal; e, no 8.º ano, a Ciências Naturais e Físico-Química.

5. Na rubrica Notícias, deixamos disponível um vídeo-resumo dos trabalhos da III Conferência Internacional sobre o Futuro da Língua Portuguesa no Sistema Mundial realizada em Díli, de 15 a 17 de junho p.p

6. Quanto aos programas produzidos pelo Ciberdúvidas na rádio pública portuguesa:

– Língua de Império e de Comércio, do Albuquerque “tirribil” ao impiedoso Gama, o português dominou orientes. Não foi um período tão longo quanto se pensa. Mas, como no slogan de Pessoa, entranhou-se, de Ceilão a Malaca, de Goa a Macau e à costa oriental africana, entre suaílis e outros alvoroçados comércios e domínios. O Língua de Todos de sexta-feira, 1 de julho (às 13h15*, na RDP África; com repetição no sábado, 2 de julho, depois do noticiário das 9h00*), conversa com a professora Dulce Pereira sobre a classificação dos crioulos asiáticos de base portuguesa. Estão todos extintos? Mas, antes de mais, o que é uma língua crioula?

– Com o verão chegado a Portugal, e com o calor, as aulas chegaram ao fim. Tempo de balanço do ano letivo que passou, mas, antes de os alunos trocarem as salas de aulas pelas areias das praias, os exames nacionais. Mais de 100 mil alunos do 9.º ano e mais de 75 000 do 12.º ano, em Portugal, foram avaliados na disciplina de Português. O Páginas de Português de domingo, 3 de julho (Antena 2, às 12h30*, com repetição no sábado seguinte às 15h30*), falou com Edviges Ferreira, presidente da Associação de Professores de Português, sobre os exames.

 * Hora de Portugal continental.

7. Como já aqui assinalámos, o Ciberdúvidas interrompeu o seu consultório linguístico até ao próximo mês de setembro, mas a Abertura continua a dar nota da atualidade respeitante à língua portuguesa, bem como a dar conta da publicação de conteúdos nas demais rubricas. Para outros assuntos fora do âmbito gramatical e linguístico, ficam os contactos indicados neste endereço.

Por Ciberdúvidas da Língua Portuguesa

1. Em Espanha, voltam a realizar-se eleições legislativas em 26 de junho p. f., para definir uma nova representação parlamentar e permitir – espera-se – a formação de novo governo*. Sem esquecer a diversidade linguística de Espanha, dê-se, no entanto, a devida atenção à língua castelhana – a que também se chama espanhola –, senhora de uma longa e admirável história. À sua tendência hegemónica na Península Ibérica, também não escapou o português, e, entre os muitos castelhanismos naturalizados e, portanto, sem história de censura normativa, contam-se botija, cabecilha, cavalheiro, granizo, guerrilha e novilho (sobre estes vocábulos, ler aqui). Mas há também os castelhanismos menos ou nada aceitáveis: basta referir o controverso uso de desde com valor espacial, mas fora da correlação com as preposições até, como acontece em «estamos a transmitir desde Madrid», frase que é necessário corrigir, substituindo desde por de: «estamos a transmitir de Madrid»**. Causa de muitos mal-entendidos entre falantes de português e falantes de espanhol, faça-se ainda breve referência aos falsos amigos oficina/oficina, talher/taller, oferta/oferta, esquisito/exquisito, entre muitos outros pares traiçoeiros.

É de registar o papel ativo e dinâmico da Fundación del Español Urgente – Fundéu BBVA a respeito dos mais variados aspetos do uso do espanhol, apresentando listas de formas recomendadas para a redação sobre a atualidade (claves de redacción). Consulte-se a lista de formas que dedica, em 24/06/2016, às eleições legislativas espanholas.

** Sobre este tema da influência do castelhano e de outras línguas de Espanha no português, (re)leia-se ainda: Saramago, o Ibérico + Castelhanismos, a propósito de Saramago + Como reconstituir a pronunciação do português antigo + O novo Acordo Ortográfico e o galego + Língua preciosa + A farsa galega: sobre a implementação da “Lei Paz-Andrade”

2. O Reino Unido continua na ordem do dia, agora que, com o resultado do referendo de 23 de junho p. p., a sua saída da União Europeia ficou decidida e vai mesmo concretizar-se. A nova situação torna a União Europeia uma incerteza, enquanto promete manter a bom ritmo a exportação de criações do mesmo tipo que Brexit* (forma já aqui comentada), bem como da fraseologia e do estilo do discurso anglófono. Dê-se o caso de uma frase escrita no jornal português Diário de Notícias (DN): «No último comício da campanha, em Londres, Farage defendeu que no final do dia esta é uma decisão sobre que bandeira os eleitores querem ter: a britânica ou a europeia.» ("Brexit. Aconteça o que acontecer, 'keep calm and carry on'", DN, 23/06/2016). Ainda que a «no final do dia» seja atribuível sentido literal – com efeito, o referendo terminou às 22h00 –, reconheça-se que a expressão faz eco da locução inglesa «at the end of the day», usada informalmente para marcar uma conclusão e equivalente a «no fim de contas». Não teria sido mais português escrever «... Farage defendeu que, no fim de contas,...»? Parece-nos que sim.

* Pela sua importância histórica, o Brexit de 23 de junho de 2016 é já um nome próprio e, portanto, pode dispensar o itálico ou as aspas, como acontece com nomes próprios estrangeiros. Sobre os anglicismos em geral, sugere-se leitura dos seguintes textos: Anglicismos; Anglicismos desenfreados; A vuvuzela dos anglicismos; Anglicismos escusados e sem tradução; Web Summit, start-up e feature: como usar em português?; Por uma campanha de alfabetização de economistas, gestores e deputados; Acerca dos estrangeirismos; Lisbon South Bay; É o lifestyle, stupid; Estrangeirismos sem freio; Excessiva utilização de anglicismos; E o humor foi também em inglês?; Estrangeirismos nos jornais; A mania de se pronunciar à inglesa tudo e nadaA Champions de José MourinhoWelcome!?Contra a "ditadura" do inglês na produção científica.

3. Em Angola, anuncia-se a elaboração de um atlas linguístico por técnicos angolanos formados por uma investigadora norte-americana, segundo informação do diretor do Instituto de Línguas Nacionais, José Domingos Pedro. Este projeto lançado pelo Governo angolano visa dar a conhecer melhor a realidade linguística de Angola, país onde, além do português, se falam quase duas dezenas de línguas nacionais, entre as quais já se encontram oficializados, por exemplo, o umbundo, o quimbundo e o quicongo. Sobre as línguas de Angola, leia-se a entrevista que, em 10/10/2013, Edno Pimentel fez a Amélia Mingas, professora da Faculdade de Letras da Universidade Agostinho Neto, em Luanda.

4. Quanto aos programas produzidos pelo Ciberdúvidas na rádio pública portuguesa, assinalamos que, no Língua de Todos de sexta-feira, 24 de junho (às 13h15*, na RDP África; com repetição no sábado, 25 de junho, depois do noticiário das 9h00*), se fala de pluricentrismo do português no contexto da III Conferência Internacional sobre o Futuro da Língua Portuguesa no Sistema Mundial, que decorreu em Díli de 15 a 17 de junho p. p. O Páginas de Português de domingo, 26 de junho (Antena 2, às 12h30*, com repetição no sábado seguinte às 15h30*), dá relevo às atividades que, em Portugal, o Plano Nacional de Leitura tem levado a cabo, entre elas o programa Ler Mais..., dirigido a adultos.

 * Hora de Portugal continental.

5. Como oportunamente já anunciado, o consultório do Ciberdúvidas volta em setembro f.p.