1. Em Portugal, a vacinação das crianças contra a covid-19 tem gerado polémica e motiva uma novidade terminológica: aceitacionismo, termo já antes encontradiço em páginas brasileiras e relativo à atitude do aceitacionista, isto é, de quem «defende que todo o bom cidadão tem o dever de assumir a sua profunda ignorância epidemiológica e entregar pacatamente o corpo nas mãos dos especialistas» – na visão do jornalista João Miguel Tavares, em crónica incluída no jornal Público (11/12/2021). Pela sua atualidade, justifica-se, portanto, a inclusão de aceitacionismo na rubrica A covid-19 na língua, onde se registam ainda três outras novas entradas: Biovac, vacinas nasais e voos humanitários.
2. Na área da produção de som, técnicos e comerciantes falam de «colunas de monição», mas não seria mais correta a expressão «colunas de monitorização»? Esta questão figura na presente atualização do Consultório, a par de dúvidas sobre um caso de oração de modo, a (im)possibilidade de classificar «sair de lá» como pleonasmo, o uso do adjetivo extraclasse e a pronúncia regional da conjunção como.
3. Em O Nosso Idioma, transcreve-se, com a devida vénia, do mural Língua e Tradição (Facebook, 30/10/2021), um apontamento do tradutor e revisor William Cruz, a respeito de uma virtude do bom estilo: a concisão. E porque o Natal se avizinha e volta a ativar-se todo o vocabulário alusivo, quantas vezes pelo desvio à norma, a professora Sandra Duarte Tavares identifica na mesma rubrica cinco erros a corrigir na época festiva (texto proveniente da revista Visão, 08/12/2021). Finalmente, uma crónica com significado especial para este portal: a que lhe dedicou, no Sapo 24 (07/12/2021), o humorista Manuel Cardoso, assinalando a aproximação do aniversário do Ciberdúvidas da Língua Portuguesa, que completa 25 anos de atividade em 15 de janeiro de 2022.
1. Com o Natal às portas, a movimentação social está em crescendo: as reuniões familiares têm lugar em maior número e os acessos a espaços comerciais e culturais aumentam. Toda esta dinâmica própria da época associada ao número cada vez maior de pessoas infetadas por covid-19 tem levado diferentes países a apertarem as medidas de proteção contra a propagação da doença, exigindo, por um lado, supercertificados para acesso a diferentes espaços e, por outro, interditando viagens para vários países da África Austral, numa atitude de «apartheid sanitário». A Covid-19 na Língua regista as entradas destacadas, a que se juntam os termos coleira, Cominarty e RoActemra.
Primeira imagem: publicada no Blogue Parábola Editorial
2. A explicitação do significado da construção «não tem nada que enganar» abre a atualização do Consultório. A esta resposta junta-se a análise dos adjetivos natalino vs. natalício e dos adjetivos mediterrânico vs. mediterrâneo. Por fim, aborda-se a possibilidade de omissão do determinante artigo indefinido numa frase e avalia-se a correção das frases «Combinámos para irmos à pista» e «Não gosto de os ver a chorarem por terem fome e eu não ter nada para lhes dar».
3. Na rubrica Ensino, Inês Gama, revisora do Ciberdúvidas, apresenta um apontamento no qual aborda a questão das expressões idiomáticas em português, tanto no plano da riqueza cultural que veiculam como no da análise linguística que proporcionam. No campo do ensino, estas são construções que «devem ser trabalhadas de modo natural e explícito desde os primeiros níveis de escolarização de modo a que não se deixe cair no esquecimento uma parte estruturante e identificadora da língua portuguesa», defende a autora.
4. Na Montra de Livros, divulga-se a coletânea A investigação e a escrita: publicar sem perecer, da Imprensa da Universidade de Coimbra, coordenada por Paula Sequeiros, Maria José Carvalho e Graça Capinha. Uma obra que percorre vários domínios da realidade da produção escrita académica, desde a pressão para publicar, passando pelo acesso à informação, pelos processos de escrita até a questões de saúde mental dos investigadores.
5. Partilhamos, com a devida vénia, vários artigos de interesse linguístico:
♦ Sobre a origem da palavra ilha: uma crónica de Marco Neves, que, partindo da origem latina da palavra, passa em revista a sua evolução em diferentes línguas até chegar ao português e deste para o cabo-verdiano;
♦ Sobre a questão do racismo na língua: um artigo de opinião do jornalista João Miguel Tavares, que perspetiva criticamente interpretações no campo da associação negativa de termos como escuro ou preto à noção de racismo, as quais considera redutoras;
♦ Sobre o uso de emojis em substituição da linguagem escrita: uma crónica do escritor Miguel Esteves Cardoso intitulada «A iliteracia emoji».
6. Entre as atualidades relacionadas com a língua, destacamos:
♦ O Prémio Oceanos, atribuído pela primeira vez a um timorense, o escritor Luís Cardoso com a obra O Plantador de Abóboras;
♦ A divulgação dos termos mais procurados no motor de pesquisa Google, ao longo do ano de 2021, uma lista que inclui expressões como Meteorologia, Sporting ou «certificado digital» (notícia Sapo 24).
7. Nos programas da rádio pública portuguesa, Língua de Todos, emitido na RDP África, inclui uma conversa com o professor e investigador António Branco sobre o tema do pluricentrismo (sexta-feira, 10 de dezembro de 2021, pelas 13h20*, com repetição no dia seguinte, depois do noticiário das 09h00*). No programa Páginas de Português, da Antena 2, destacamos a entrevista à professora e linguista Margarita Correia, sobre a questão da criação de bases para a recolha e harmonização de termos científicos e técnicos de diferentes áreas do saber, e ainda a crónica da professora Carla Marques, que explora os significados da palavra Natal (12 de dezembro, pelas 12h30*, com repetição no sábado seguinte, 18 de dezembro, às 15h30*). O programa Palavras Cruzadas, de Dalila Carvalho, abordará questões relacionadas com os leilões, contando com a presença de Adriana Cerqueira, cofundadora da leiloeira Bid by Bid (Antena 2, semana de 13 a 17 de dezembro, às 09h50 e às 18h20*).
*Hora oficial de Portugal continental
1. Duas entradas em A covid-19 na língua, a darem conta da atualidade da pandemia: anticonfinamento e paxlovid. A primeira é uma palavra prefixada que, usada como adjetivo, passou a descrever também os grupos de manifestantes, por vezes nada ordeiros, contra a vacinação e contra as restrições sanitárias de combate à covid-19. Quanto a paxlovid, trata-se de um novo comprimido que a Pfizer anunciou e que reduz em 89% o risco de hospitalizações ou morte causadas pelo novo coronavírus.
2. No Consultório, cinco novas perguntas: o advérbio principalmente pode ter função argumentativa? Qual a origem do apelido Balcão? Que significa e como se deve grafar o termo paraparesia? Numa frase como «vi-os aos dois», que função sintática terá «aos dois»? E escreve-se «o chá está quente como o que» ou «o chá está está quente como o quê»?
3. Com ordens ou pedidos – por exemplo, «vem cá!» ou, mais polidamente, «pode vir aqui?» –, é frequente empregar o advérbio já em réplicas como «já vou», nem sempre indiciadoras de disposição para a ação imediata. Em O Nosso Idioma, transcreve-se, com a devida vénia, do jornal Público (05/12/2021) uma crónica do escritor Miguel Esteves Cardoso, que propõe o verbo neológico "jajar", para referir o uso desse já como marcador de insubordinação.
4. Em Diversidades, continua a reunir-se material a respeito das memórias coloniais e da presença crioula em Lisboa. Da série de peças que o jornal digital A Mensagem de Lisboa tem dedicado ao tema*, acrescentou-se aqui o artigo do músico e escritor cabo-verdiano Mário Lúcio Sousa, transcrito, com a devida vénia, do matutino Público, de 5 de dezembro de 2021. É uma visão muito crítica das estátuas das ruas de Lisboa, propondo o ex-ministro da Cultura de Cabo Verde uma «descolonização das mentes», visto a história lisboeta não ser alheia ao fenómeno da crioulização étnica e linguística que a expansão europeia desencadeou. Acrescente-se que o termo crioulização tem tido uso nos estudos linguísticos para referir o processo de formação dos crioulos, «por expansão e complexificação de um pidgin [sistema de comunicação linguística entre falantes de línguas diferentes], [...] que passa a ser a primeira língua de uma determinada comunidade» (Dicionário de Termos Linguísticos, no Portal da Língua).
*Vide: "Jornalismo em crioulo de Cabo Verde e da Guiné-Bissau exercido pela primeira vez em Portugal" + "A origem do crioulo e a sua importância em Lisboa Crioulos nossos", "Nação Crioula" e "Crioulos".
Cf. "Crioulos" + "Crioulos de base lexical portuguesa". Sobre a integração social dos afrodescendentes em Portugal, leia-se igualmente "Dos afrodescendentes espera-se que não passem da 'escolaridade obrigatória'", um trabalho da jornalista Joana Gorjão Henriques incluído no jornal Público, em 9 de setembro de 2017.
5. Dois registos com interesse para a história do contexto cultural da língua portuguesa em Angola e no Brasil:
– A publicação do n.º 5 de Lavra & Oficina, gazeta da União de Escritores Angolanos, que dedica esta edição à figura de Agostinho Neto (1922-1979), poeta, político e primeiro presidente da República de Angola, cujo centenário se assinala em 2022.
– O lançamento da transcrição e tradução para português de seis cartas em tupi que documentam a Insurreição Pernambucana, que durou de 1645 a 1654, período em que o nordeste do Brasil foi zona de conflito entre Portugueses e Holandeses. A iniciativa é do filólogo e lexicógrafo Eduardo Navarro, da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo (ver também em Notícias).
6. Devido ao feriado de 8 de dezembro em Portugal – Dia da Imaculada Conceição –, as páginas do Ciberdúvidas voltam ser atualizadas na sexta-feira, 10 de dezembro.
1. No mundo inteiro vão tendo lugar reações diversas ao atual estado da pandemia. Por um lado, muitos são os países que desenvolvem esforços para vacinar segmentos mais fragilizados da população com uma «dose de reforço», numa tentativa de assegurar a sua imunidade face aos avanços do coronavírus. Por outro, os estados-membros da OMS assinaram o que ficou conhecido como o «acordo pandémico», um documento que prevê um conjunto de medidas a adotar em casos de pandemia no futuro. Estas ações são promovidas num contexto de desequilíbrio no qual muitos países, nomeadamente do continente africano, têm taxas de vacinação da população muito baixas, o que gera uma situação de «injustiça e imoralidade», como concluiu o secretário-geral da ONU, António Guterres. Esta situação poderá inclusive ser propícia ao desenvolvimento de novas variantes do vírus, cuja ação é imprevisível, como é o caso da ómicron, que tem motivado a adoção de medidas extremas por parte de diversos países europeus. Exemplo disso foi o cancelamento de voos oriundos da África austral, uma situação que António Guterres classificou como um «apartheid de viagens». As quatro expressões assinaladas constituem as novas entradas em A covid-19 na língua.
2. A atualização do Consultório traz resposta a questões como a classificação da expressão «que tal», o uso do advérbio nomeadamente ou ainda o valor da modalidade presente na frase «Duvido que chova.» Explica-se também por que razão a construção «vamos ir» configura um afastamento da norma e explica-se a diferença entre os termos operado e cirurgiado. Por fim, merece a nossa atenção a análise do provérbio «Cobra que quer morrer à estrada vai ter» e da expressão «em adição».
3. A comemoração do centenário do nascimento do Nobel português José Saramago deu mote à crónica da professora Carla Marques no programa Páginas de Português, da Antena 2, onde explora os significados do nome saramago (aqui transcrita).
4. O jornal digital Mensagem de Lisboa apresenta um novo projeto: uma secção escrita e falada em crioulo de Cabo Verde e da Guiné-Bissau. A iniciativa – concretizada pela primeira vez no jornalismo português – é o pretexto da crónica do jornalista Ferreira Fernandes, em homenagem aos já falecidos cantor Bana (1932-2013) e médica Helena Lopes da Silva (1949-2018), ambos cabo-verdianos (texto aqui transcrito com a devida vénia). Referência ainda para a entrevista em crioulo feita ao músico Dino D'Santiago, que apadrinha a ideia, assim como para o Dia Nacional da Morna, Património Cultural Imaterial da Humanidade, celebrado nesta data.
Cf. A origem do crioulo e a sua importância em Lisboa
5. A Porto Editora divulgou as 10 palavras candidatas a Palavra do Ano. São elas: apagão, bazuca, criptomoeda, mobilidade, moratória, orçamento, "podcast", resiliência, teletrabalho e vacina. A votação decorre até 31 de dezembro e a palavra eleita será conhecida no início de janeiro de 2022.
6. Nos programas da rádio pública portuguesa, destacamos:
♦ Língua de Todos, da RDP África, que conta com a presença da professora Vanessa Amaro para falar sobre o ensino de língua portuguesa em Macau (sexta-feira, 3/12/2021, às 13h20*);
♦ Páginas de Português, da Antena 2, que convida o professor António Branco para abordar a questão da Era Digital e da construção de corpora para as línguas pluricêntricas (domingo, 5/12/2021, às 12h30*);
♦ Palavras Cruzadas, programa de Dalila Carvalho para a Antena 2, que aborda o tema da linguagem dos astros, tendo como convidada a astróloga Catarina Duarte Antunes, na semana de 6 a 10 de dezembro, às 09h50 e às 18h20*.
* Hora oficial de Portugal continental.
1. Não se fez esperar o impacto angustiante da identificação da variante ómicron (ou B.1.1.529), por mutação do SARS-CoV-2. Enquanto na Europa se vão fechando fronteiras, de África chegam recriminações pela falta de empenho dos países ricos em proteger da covid-19 as populações mais pobres. O tema merece, portanto, relevo especial na presente atualização, como adiante se mostra:
– Na rubrica "A covid-19 na língua", três entradas: ómicron, nome de uma das letras do alfabeto grego e agora também da mencionada variante do novo coronavírus; «o melhor é respirar fundo» frase proferida pelo Presidente da República português, a propósito da visita que fez a Angola em 27 e 28 de novembro p. p. – apesar do súbito agravamento da pandemia; e "Duas pandemias?", uma crítica dos escritores José Eduardo Agualusa e Mia Couto reproduzida no jornal Público, em 28 de novembro, relativa à atitude discriminatória da Europa para com a África logo após terem sido identificadas as primeiras infeções provocadas pela variante ómicron.
– À nova variante dá-se o nome da letra ómicron, de acordo com o critério de atribuir nomes das letras gregas às variantes do SARS-CoV-2, pela sequência que têm no alfabeto. Contudo, este processo deixou de ser linear, e a razão de assim acontecer foi esclarecida pelo jornalista Pedro Cordeiro em 27 de novembro no semanário Expresso, em artigo que se transcreve com a devida vénia em Diversidades.
– No Pelourinho, a professora Lúcia Vaz Pedro chama a atenção para um erro na escrita e na pronúncia de ómicron, que como palavra esdrúxula terá de exibir acento gráfico na antepenúltima sílaba.
Acrescente-se que ómicron (ômicron no Brasil) é forma «consagrada pelo uso», conforme se observava em 1966 no Vocabulário da Língua Portuguesa, de Rebelo Gonçalves. Este filólogo considerava, no entanto, preferível ómicro «quer por ter mais regular terminação, quer por facilitar [...] a formação do plural: ómicros». A verdade é que ómicron/ômicron (do grego ò mikrón, «o pequeno, ou seja, breve» – cf. Dicionário Houaiss) é a forma que se fixou no uso correto, com os plurais omícrones (com deslocação do acento) e ômicrons (este registado como variante do Brasil; ibidem). Quanto à pronúncia de ómicron, em Portugal, o -n é articulado como segmento consonântico nasal – "ómicrón(e)" (transcrição fonética: [ˈɔmikrɔn]) –, com ambos os oo abertos, recebendo o primeiro o acento tónico. No entanto, dada a tendência de muitos falantes para interpretar esse -n final como sinal de nasalidade vocálica, é aceitável a pronúncia com o nasal: "ómicrõ" [observação atualizada em 05/12/2021].
2. No Consultório, abordam-se novos casos que ilustram tópicos recorrentes do estudo do funcionamento da língua, como seja a noção de família de palavras (a de avião), de verbo defetivo (por exemplo, eclodir) e o valor semântico da preposições (a vs. para). Comenta-se ainda a pertinência da distinção entre conotação e denotação para os programas escolares em Portugal e a grafia de compostos formados por nome e adjetivo («mestre florestal»).
3. Angola possui um rico património linguístico, pois, além do português, são várias as línguas da subfamília banta que se falam no seu território, salientando-se o umbundo, bem visível na toponímia de Benguela e na antroponímia da sua população. Sobre a necessidade de recuperar este legado, Bonifácio Tchimboto e Ana Maria Katemo Ucuahamba escreveram Do Desprezo ao Apreço do Nome (Benguela, 20919), a que a rubrica Montra de Livros dedica um apontamento de leitura.
4. Em O Afeganistão de A a Z, uma nova entrada, Sharbat Gula, regista o refúgio que a Itália concedeu a esta mulher de 49 anos, famosa desde há mais de três décadas, quando ainda criança, fugindo à guerra no Afeganistão, foi capa da revista National Geographic.
5. O racismo é sempre condenável, mas há também atitudes antirracistas que acabam ironicamente por se confundir com o seu alvo. Desta situação é exemplo a polémica gerada em março de 2021 nos Países Baixos, por causa do fator da pele imposto na tradução em neerlandês da poetisa negra norte-americana Amanda Gorman. O episódio motivou o jornalista e escritor angolano João Melo a escrever uma crónica publicada em 17 de novembro, no jornal em linha Mensagem, a partir deste dia igualmente disponibilizada na rubrica Controvérsias.
6. Também evocativa das malhas em que, para o bem e para o mal, os impérios coloniais europeus enredaram o mundo, a data de 1 de dezembro, em Portugal, é marcada pelo feriado com que se comemora a Restauração da Independência em 1640. Este acontecimento foi seguido de uma longa guerra com Espanha no espaço ibérico e, nos domínios portugueses no Brasil e Angola, de um conflito com outras potências europeias, entre elas, os Países Baixos. Relativamente à efeméride política, que teve também ampla repercussão linguística, sugere-se a leitura de "Dedicatória a D. Duarte e conversação entre amigos", "A Restauração de 1640 na história e na geografia da língua", "A relação entre restaurar/restauração e reformar/reforma", "Restauração" e "O primeiro de janeiro".
Na imagem, uma gravura alemã do século XVII que representa os acontecimentos de 1 de dezembro de 1640 em Portugal.
7. Devido ao feriado de 1 de dezembro, em Portugal, as páginas do Ciberdúvidas têm a sua próxima atualização na sexta-feira, 3 de dezembro.
1. Portugal entra na 5.ª vaga de covid-19, acompanhando, ainda que em menor escala, a Europa no aumento de infeções e de internamentos hospitalares. Em simultâneo, surgem também novas estirpes do vírus, algumas das quais se mostram mais ameaçadoras para a saúde pública. Entre elas encontra-se a B.1.1.529/Ómicron. Este quadro levou a Agência Europeia do Medicamento (EMA) a aconselhar a «vacinação pediátrica» para crianças entre os 5 e os 11 anos de idade. Na sequência desta decisão, também a Sociedade Portuguesa de Pediatria veio divulgar um parecer onde se considera esta vacinação segura e eficaz. Atendendo à evolução da situação, o primeiro-ministro português António Costa anunciou um conjunto de medidas que incluem o regresso do país à situação de calamidade, a partir do dia 1 de dezembro, decisão que, até ao momento, não implica o fecho do país. Optou-se, assim, por um cenário de «confinamento contido», procurando não prejudicar o normal decurso das atividades sociais e económicas. A covid-19 na língua acompanha o desenvolvimento dos acontecimentos registando as quatro expressões atrás destacadas, às quais se juntam ainda as entradas fomite e «Quadro de pressão negativa».
2. A CNN Portugal assinalou a sua inauguração no dia 22 de novembro, chegando, no dia do lançamento, a mais de 1,4 milhões de telespetadores. Tendo vindo substituir a TVI24, o novo canal promete trazer novidades no campo da informação. Um reparo para o facto de nas emissões noticiosas se optar por títulos em língua inglesa, como breaking news, expressão que facilmente se substituiria por «notícias de última hora», que tem já alguma tradição em Portugal e que honraria a língua em que se pretende fazer jornalismo.
3. No Consultório, analisa-se a etimologia do nome lengalenga, os significados e ortografia do verbo assilhar e identifica-se a classe de pertença do verbo andar na expressão «andar na faculdade». Responde-se ainda a uma questão relacionada com a função sintática dos constituintes que acompanham o verbo seguir em «Siga depois até à estrada alcatroada». Nesta atualização, contamos com a identificação dos recursos expressivos presentes em «hipocrisia tão santa», expressão patente num sermão de Pe. António Vieira, e ainda com a explicação sobre a formação do plural com marcas de bebidas e o cotejo de alguns traços dialetais das variantes de português europeu e brasileiro.
4. Na Montra de Livros, divulga-se o Dicionário de expressões (anti) racistas, uma publicação que surge na sequência do Dia Nacional da Consciência Negra, assinalado a 20 de novembro, no Brasil. Trata-se de um repositório de expressões comuns que têm um fundo racista e que são usadas não raro sem uma intenção pejorativa. Esta publicação assume-se como um passo no sentido de promover uma língua mais igualitária e livre de preconceitos sociais de natureza diversa.
5. Na rubrica Controvérsias, transcrevemos, com a devida vénia, um artigo do ensaísta e crítico literário Eugénio Lisboa a propósito das comemorações do centenário do escritor José Saramago, que o autor do texto associa a um comportamento de «espalhafato lusíada», equiparável à atitude que se tem para com a grandeza dos Descobrimentos.
6. Entre as notícias relacionadas com a língua, destaque para a 2.ª formação técnica do projeto «Terminologias Científicas e Técnicas Comuns de Língua Portuguesa», que decorre na Universidade de Brasília até ao dia 26 de novembro.
7. Nos programas divulgados pela rádio pública portuguesa, destaque para os seguintes temas:
♦ O ensino do português, numa perspetiva pluricêntrica e intercultural no seio da CPLP, em Língua de Todos, transmitido pela RDP África (sexta-feira, 26/11/2021, às 13h20*);
♦ A pluricentralidade de ensino da língua portuguesa nas instituições de ensino superior de Macau e ainda aspetos do vocábulo saramago e as palavras dispêndio e dispendioso, no Páginas de Português, programa da Antena 2 (domingo, 28/11/2021, às 12h30*) ;
♦ A linguagem dos auditores de empresas e a astrologia, no programa Palavras Cruzadas*, realizado por Dalila Carvalho e transmitido pela Antena 2, de 29 de novembro a 3 de dezembro, às 09h50 e às 18h20*.
* Hora oficial de Portugal continental.
1. O recrudescimento de casos de covid-19 em novembro de 2021 motiva o regresso de medidas restritivas, impostas pelas autoridades políticas e sanitárias. Nos Países Baixos e noutros países europeus, há oposição popular, com os manifestantes mais violentos a causarem graves distúrbios. Outros têm do combate contra a pandemia visão alternativa e organizam corona parties (ou seja, «festas covid»), numa estratégia de contágios propositados. Muitos, por seu lado, apresentam sinais de coronafobia, ou seja, de extrema ansiedade por receio de contágio. As quatro expressões sublinhadas somam-se assim, nesta atualização, ao reportório de termos, ditos e conceitos que constitui a rubrica A Covid-19 na Língua.
2. O que significa «gado de bico»? Um provérbio português, que inclui esta expressão, é o tópico de uma das seis questões em linha no Consultório, onde também se pergunta: qual é a origem da expressão «bicho de sete cabeças»? O que significa apaludado? Os nomes de grupos musicais – p. ex., «os Xutos e Pontapés» – usam-se sempre no plural? E tem sentido pluralizar envio? Por último, uma dúvida foca a sintaxe do verbo começar quando ocorre como verbo pleno.
3. O latim parece ausente do currículo não universitário, e, por este motivo, os jovens deixam de se aperceber da relação do português com as línguas românicas, suas irmãs. Em O Nosso Idioma, transcreve-se, com a devida vénia, o artigo de opinião que a professora Cristina Fontes publicou no Correio do Minho (21/11/2021), sobre a importância dessa herança no léxico e no quotidiano. Na mesma rubrica, disponibiliza-se ainda outro texto, da linguista Margarita Correia, que salienta os benefícios da diversidade linguística e cultural para a educação (Diário de Notícias, 22/11/2021).
4. No que toca a notícias ou outras peças jornalísticas à volta do português e da sua relação com outras línguas, registo para:
– O ciclo de encontros dedicados ao discurso académico, promovidos no âmbito da Universidade de Coimbra e do Instituto Politécnico de Leiria (ver Notícias).
– A tradução de Os Lusíadas para turco* pelo diplomata Ibrahim Aybek, que assim cumpriu um desejo surgido em 2008, nos seus tempos de estudante do programa Erasmus em Portugal. Título da epopeia camoniana em língua turca: Lusitanyalılar.
* O turco é a mais importante língua da família turcomana ou túrquica (a que já se chamou altaica), que abrange idiomas falados da Lituânia à Ásia Central. Relacionadas com a Turquia, leiam-se as respostas "O natural de Istambul" e "Paxá". Na imagem, O Velho do Restelo (1904), de Columbano (1857-1929).
– Uma lista de oito termos publicada em 2017 pela BBC Culture e incluída em tradução na Notícias, na qual se mostra como, da literatura à técnica e à ciência, muitas foram as palavras inventadas que introduziram novas maneiras de pensar à medida que se internacionalizavam e se adaptavam foneticamente a outras línguas.
5. A respeito dos programas de rádio produzidos pela Associação Ciberdúvidas da Língua Portuguesa para a rádio pública portuguesa:
– O ensino do português, numa perspetiva pluricêntrica e intercultural no seio da CPLP, é o tema de uma entrevista com Bernardino Valente Calossa, professor da Universidade Mandume Ya Ndemufayo (Lubango, Angola), em Língua de Todos, transmitido pela RDP África (sexta-feira, 26/11/2021, às 13h20*).
– Sobre a pluricentralidade de ensino da língua portuguesa nas instituições de ensino superior de Macau, fala a professora Vanessa Amaro (Instituto Politécnico de Macau), em Páginas de Português, que vai para o ar na Antena 2 (domingo, 28/11/2021, às 12h30*). Também neste programa, a crónica da professora Carla Marques, dedicada ao vocábulo saramago, nome de homem e nome de planta, numa homenagem ao José Saramago (1922-2010), por altura do início das comemorações do centenário do Nobel português da Literatura. Espaço ainda para a professora Sandra Duarte Tavares comentar as palavras dispêndio e dispendioso.
* Hora oficial de Portugal continental.
1. O início da celebração do centenário de José Saramago, um autor cuja complexidade das temáticas que desenvolve e pela linguagem singular que o caracteriza – nomeadamente na pontuação – "assusta" tantas vezes alunos e professores, é pretexto de uma reflexão da professora Lúcia Vaz Pedro, sobre «o enorme potencial que constitui o estudo do Nobel português da Literatura, e como fazer para ultrapassar as dificuldades em sala de aula».
2. No Consultório, entraram sete novas perguntas: a pronúncia dialetal da palavra baldio, o fenómeno de reanálise em nomes próprios como Tiago, a diferença entre serôdio e sorôdio. Esclarece-se ainda o funcionamento dos adjetivos relacionais, nomeadamente no que diz respeito às suas excecionalidades e casos particulares; as construções com os verbos pensar e repensar e com o nome compaixão. Por último, uma explicação da expressão «meter o Rossio pela Betesga» na obra de Almeida Garrett.
3. Sobre a introdução no dicionário francês Le Petit Robert do pronome não binário neutro iel – junção de il («ele») e elle («ela») — , a agência Lusa deu conta de uma acesa querela desencadeada entre linguistas gauleses. É o que fica transcrito na rubrica Diversidades, via jornal digital Observador, com a data de 19 de novembro de 2021.
4. Com o número de doentes internados a duplicar num mês em Portugal, mesmo assim, a situação é considerada pelas autoridades sanitárias como «moderadamente preocupante». Esta expressão e a entrada Task force II são os dois registos mais recentes em A covid-19 na língua.
1. Em Portugal, como em grande parte da Europa, continuam a aumentar os números da pandemia, e volta o confinamento com o teletrabalho. Deste cenário dão testemunho as novas entradas de A covid-19 na Língua: «nómada digital», expressão alusiva ao trabalho remoto devido às restrições na circulação e concentração de pessoas; e «testes gratuitos», em referência aos testes rápidos de antigénio efetuados nas farmácias e laboratórios portugueses aderentes ao regime excecional de comparticipação governamental, que voltaram a ser gratuitos a partir deste dia.
2. A sigla DGS, correspondente a Direção-Geral da Saúde, tão falada em Portugal nestes tempos da pandemia da covid-19 – similar a uma outra igualmente bem conhecida, mas pelas mais sinistras razões, de antes do 25 de Abril de 1974 –, dá o mote para a a crónica de tom humorístico intitulada "O infortúnio das siglas", que o jornalista, poeta e escritor luso-moçambicano Luís Carlos Patraquim assina na rubrica O Nosso Idioma.
3. No Consultório, ficaram sete novas perguntas em linha relacionadas com os seguintes tópicos: a pronominalização do nome família; a tradução do anglicismo mute (uma funcionalidade de plataformas de videoconferência); a pontuação da exclamação «ai, meu Deus!»; a expressão «à época»; a forma pronominal no-la; o uso poético de «água ardente»; e a regência do adjetivo correspondente.
4. Entre os temas da atualidade, assinalem-se:
– O início em 16 de novembro de 2021 das comemorações do centenário de José Saramago (1922-2010).
Sobre o Nobel português da Literatura, lembramos, entre outros textos no arquivo do Ciberdúvidas: Uma língua que não se defende, morre; As palavras; De novo, a vírgula de Saramago: Ler e reler Saramago; Saramago, o escritor que brinca com a pontuação, Saramago, o Ibérico; Memorial do Convento, «uma permanente homenagem à língua portuguesa»; e As armadilhas da língua.
– A homenagem ao escritor Mário de Carvalho promovida pela Faculdade de Letras de Lisboa, no âmbito das comemorações dos 40 anos da sua vida literária, no dia 22 de novembro p.f., pelas 18h30*. Sessão pública presidida pelo PR português, Marcelo Rebelo de Sousa, e em que são oradores os professores Paula Morão e Manuel Frias Martins.
Cf. Era bom que trocássemos umas ideias sobre o Mário de Carvalho + Mário de Carvalho: «Nem tudo o que vem de antes é clássico»
– A preocupante falta de professores nos ensino básico e secundário em Portugal, situação que leva a que a disciplina de Português, segundo o jornal Público (18 de novembro de 2021), seja uma das afetadas no conjunto do currículo.
5. Destacam-se os temas centrais de três dos programas que a rádio pública portuguesa dedica à nossa língua:
– As línguas pluricêntricas (como é o caso do português) e os desafios que colocam à elaboração de gramáticas são os tópicos comuns às entrevistas incluídas em Língua de Todos (RDP África, sexta-feira, 19/11/2021, às 13h20*) e Páginas de Português (Antena 2, domingo, 21/11/2021, às 12h30*);
– A linguagem das empresas está em foco no programa Palavras Cruzadas*, realizado por Dalila Carvalho e transmitido pela Antena 2, de 22 a 26 de novembro, às 09h50 e às 18h20*.
* Hora oficial de Portugal continental.
1. Com o surto da quinta vaga da pandemia do covid-19 e o aumento de casos de internamentos, vários países europeus, como a Áustria e os Países Baixos, decidiram impor um confinamento nacional para quem não esteja vacinado. Tal é o contexto da atualização da rubrica A covid-19 na língua, onde se registam as seguintes expressões: «confinamento de não vacinados», «dias sombrios», «direito a desligar» e «vacinas de 2.ª geração».
2. No Consultório, explica-se a função sintática desempenhada por «braçal», na expressão «trabalhador braçal», e «da Amália», na expressão «um fado da Amália». Além disso, indica-se a pronúncia das sequências vocálicas ee e oo, em palavras como compreender e cooperação. Refere-se igualmente o plural de glúten e como se deve escrever em português bricolage. Também se revelam o significado do verbo rotear e a construção correta de frases negativas com pronomes.
3. Na rubrica Lusofonias, ficou em linha uma crónica do jornalista e escritor moçambicano Luís Carlos Patraquim à volta da palavra lusofonia que «chegou muito depois da Independência» do seu país natal.
4. A palavra docuficção, um neologismo cinéfilo com recente consagração dicionarística, está em destaque em O nosso idioma, num apontamento da professora Lúcia Vaz Pedro.
5. «Qual será o palavrão mais usado em Portugal? A pergunta e a resposta saõ do professor universitário e tradutor Marco Neves – em crónica transcrita, com a devida vénia, também na mesma rubrica, do blogue do autor, Certas Palavras, com a data de 15 de novembro de 2021.
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