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Trabalhar em estrangeiro em Portugal

Os anglicismos desnecessários à volta da Web Summit 2021

Quem vive ou trabalha em Lisboa terá notado que, na semana de 1 a 4 de novembro, se realizou a Web Summit, na Altice Arena. Quem não viva ou trabalhe em Lisboa talvez não tenha dado conta, uma vez que o evento perdeu alguma da popularidade que tinha nas primeiras edições realizadas em Portugal.

Mas não é sobre a popularidade da Web Summit que quero escrever, até porque nunca cheguei a entender o fenómeno. É engraçado que, de há uns anos para cá, só se organizam summits. Deixaram de se fazer conferências sobre assuntos para se realizarem summits sobre esses mesmos assuntos. 

Qual é a diferença entre chamar ao evento conferência ou summit? É que à conferência acorrem empresários de pequenas e grandes empresas, que trocam contactos entre si e organizam reuniões. O termo inglês, por seu lado, sugere o acontecimento que reúne entrepreneus de start-ups que tentam arranjar connects e meetings com os grandes CEOs e stakeholders, que têm o know-how necessário para ajudar o pequeno empresário – perdão, o CEO da start-up –, dando-lhe o devido feedback. Depois disto, o CEO da start-up, à partida, terá um grande networking e estará capacitado para definir um business plan, com base num benchmarking, que lhe permitirá alcançar o seu target.

Ultrapassadas estas etapas, chega a fase da contratação. Só que, hoje em dia, não há empregos em português e deixou de se contratar, para se passar a fazer mentoring. Existem aquelas profissões antigas que continuam com o mesmo nome, como professor ou médico, mas a maioria das pessoas tem um trabalho em estrangeiro. É IT specialist, content manager, software developer, marketing manager. Toda a gente é agora manager e toda a gente é specialist (há até quem seja ambos), o que é injusto para quem gere realmente alguma coisa que não apenas o seu próprio trabalho, ou para quem é de facto especialista numa matéria.

Sabemos quão rica é a língua portuguesa, mas nem por isso deixamos de usar palavras em inglês para descrever termos básicos do nosso dia a dia. Este tema, sim, merecia a criação de uma summit para fazermos todos um brainstorming para percebermos o porquê desta trend – perdoe-se a ironia.

 

Glossário:

Web Summit – encontro internacional organizado anualmente por empresas irlandesas. Em português, traduzir-se-ia como “cimeira da internet”

Summits – conferências, cimeiras

Entrepreneurs – empresários

Start-up – pequena empresa emergente

Connects – contactos

Meetings – reuniões

CEO – diretor executivo

Stakeholders – as pessoas que intervêm em determinado negócio como sócios, clientes, acionistas e outros

Know-how – conhecimento

Feedback – parecer, comentário

Networking – rede de contactos

Business plan – plano de negócios

Benchmarking – avaliação comparativa de um negócio face à concorrência

Target – audiência a que se destina o produto da empresa

Mentoring – mentoria

IT specialist – especialista de informática

Content manager – gestor de conteúdos

Software developer – programador de informática

Marketing manager – gestor de marketing

Manager – gestor

Specialist – especialista

Brainstorming – troca de ideias entre duas ou mais pessoas

Trend - tendência

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