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Os aldrabões sem nome

A tradução do inglês fraudster

«Em inglês, um fraud pode ser a pessoa que defrauda, mas, como se presta a confusões com a acção, que também é fraud, arranjou-se aquele sufixo manhoso -ster  que corresponde ao nosso -isteiro, dando fraudster e, por conseguinte, "fraudisteiro".

 

Wikipédia mantém uma lista alfabética de golpistas fraudulentos a que chama List of fraudsters. Se engoliu em seco quando leu “golpistas fraudulentos”, ajude-me, se fizer favor, a traduzir a palavra ​​fraudster​.

Nós também temos sufixos jeitosos, mas "fraudeiro" ou "fraudista" não soam bem e nestas coisas o soar é que é importante.

Sendo uma actividade humana muito concorrida, faz-nos falta uma designação rápida.

Vigarista é muito bom, mas tem uma amplitude excessiva, podendo descrever aldrabices de baixos quilates. Podemos dizer a uma criança «não sejas vigarista» e ninguém se ofende.

Mas a fraude é um plano maquiavélico de longo curso e o indivíduo desprezível que o põe em prática precisa de um substantivo só para ele.

Que tal embusteiro? Ou «"banhista" da cobra»?

O "fraudisteiro" joga com a gula das pessoas e justifica-se com isso, dizendo que a ganância do otário é a melhor aliada que se pode ter.

Temos um excesso de palavras para descrever o acto, como burla e fraude, mas falta-nos a adaptação aos praticantes, como "burlista" ou "fraudulário".

Será porque queremos separar o autor do crime? Queremos pensar que o Teodoro burlou ou defraudou mas não é propriamente um burlador ou um defraudista, porque também faz outras coisas?

Em inglês, um fraud pode ser a pessoa que defrauda, mas, como se presta a confusões com a acção, que também é fraud, arranjou-se aquele sufixo manhoso -ster  que corresponde ao nosso -isteiro, dando fraudster e, por conseguinte, "fraudisteiro".

Que tal "ludibrista"? Mais sério, embora se preste a confusões, seria falsificador ou impostor financeiro.

A melhor solução seria conseguir incorporar a palavra ladrão, que é aquela que mais se adequa, apesar de haver muitos ladrões que ficariam – e com razão – muito ofendidos com a partilha.

Fonte

Crónica incluída no jornal Público em 18 de janeiro de 2023.

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