Nos discursos dos governos e de variadas entidades da sociedade civil tem sido frequente a referência à grande diversidade linguística que caracteriza o espaço geográfico da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), com o reconhecimento de que o plurilinguismo, ao contrário de ser fator complicador, é um grande ativo que deve ser preservado e cultivado.
Ao lado do português, que é língua oficial, convivem no espaço da CPLP em torno de 330 línguas, com diferentes estatutos e números de falantes, o que representa, aproximadamente, 5% da diversidade linguística mundial1. Línguas africanas, principalmente da família bantu, crioulos de base portuguesa, línguas indígenas sul-americanas e línguas europeias e asiáticas de imigração se somam para desenhar o cenário plurilíngue e pluricultural dentro do qual o português é língua de comunicação comum.
Essa grande diversidade linguística desafia os governos dos países lusófonos a desenvolverem políticas voltadas à preservação do património linguístico das línguas que convivem com o português, que cresce em projeção global, mas que deve reafirmar o seu papel como veículo de mediação intercultural, abraçando todas as diferenças em busca de um diálogo comum que promova a aproximação entre os povos. Os desafios, portanto, refletem-se no tratamento dado às línguas no espaço da CPLP, no sentido de sua preservação, do seu ensino, além da sua inclusão no mundo digital, o que representa um dos fatores mais importantes para a manutenção e projeção das línguas no século XXI.
Outro aspecto essencial é o da formação de professores capazes de agir na diversidade, compreendendo que a língua que ensinam não deve ser fator de discriminação e de exclusão de outros povos e línguas, mas de sua preservação e proteção. Assim, uma formação docente adequada deve dar ao professor ferramentas para lidar com a adversidade, com a discriminação e a exclusão social, que afetam seriamente muitas salas de aula nas quais o português é língua de instrução e de educação.
Afirmar, portanto, o português como língua de mediação intercultural significa o desenvolvimento de políticas linguísticas comuns por parte da CPLP com o objetivo de superar a história de divisão e isolamento dessa língua, projetando-a como espaço de negociação e de convergência linguística e cultural. Isso possibilitaria, no emaranhado das diferenças, estabelecer pontes, diálogos entre línguas-culturas, em busca de uma convivência mais respeitosa, inclusiva e democrática.
1 OLIVEIRA, G. Apresentação - A revista do IILP e as línguas do espaço CPLP. Revista Platô, vol. 1, n.1, 2012. Disponível em: https://iilp.cplp.org/plato/numeros_publicados.html. Acesso em: 01 nov. 2020.
Áudio:
[AUDIO: Edleise Mendes – A diversidade linguistica na CPLP]
Apontamento transmitido em 8 de novembro de 2020 no programa Páginas de Português (Antena 2).