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O nosso idioma // Maus usos da língua

18 erros de português frequentes
e que mancham a sua imagem

Uma lista para não passar vergonhas

«O que podemos fazer para eliminar de vez estes e outros erros que mancham a nossa imagem?»

 

1542753393151_erros_ortogr_ficos.jpgSempre que cometemos um erro ortográfico ou gramatical, seja em contexto pessoal ou profissional, podemos ser alvo de troça ou discriminação por quem nos rodeia. Erros linguísticos como «tu fostes à reunião?», «foi uma perca de tempo», «houveram pessoas que faltaram», «ninguém se absteu» não só mancham a nossa imagem, como também podem fazer-nos perder, em poucos segundos, um bom emprego, um bom negócio e até um relacionamento!

A competência linguística, associada ao domínio da comunicação oral e escrita, assume, inequivocamente, um valor sociocultural relevante, promovendo cada vez mais aceitação, credibilidade e prestígio social.

Vejamos então alguns erros linguísticos que, do meu ponto de vista, podem manchar a nossa imagem pessoal profissional.

ERRO 1: p[ó]ssamos

Forma correta: possamos

As formas verbais da 1.ª pessoa do plural do presente do conjuntivo são graves, ou seja, o acento tónico recai na penúltima sílaba: tenhamos, sejamos, possamos.

ERRO 2: a gente vamos

Forma correta: a gente vai

Na expressão a gente, o verbo deverá estar sempre no singular, em concordância com essa expressão.

ERRO 3: houveram pessoas

Forma correta: houve pessoas

Sempre que é verbo principal, o verbo haver só se conjuga na 3.ª pessoa do singular, porque é um verbo impessoal (há, houve, havia, haverá, haveria, haja…).

ERRO 4: ele interviu

Forma correta: ele interveio

O verbo intervir conjuga-se como o verbo que está na sua base – o verbo vir: ele veio; ele interveio.

ERRO 5: vocês ha dem

Forma correta: vocês hão de

O paradigma de conjugação do verbo haver no presente do indicativo é: eu hei de, tu hás de, ele há de, nós havemos de, vós haveis de, vocês / eles hão de.

ERRO 6: faria-o, se possível

Forma correta: fá-lo-ia, se possível

No futuro do indicativo e no condicional, os pronomes pessoais complemento (-me, -te, -o, -lhe…) colocam-se em posição mesoclítica, isto é, no meio do verbo, antes das terminações de tempo e pessoa.

ERRO 7: como deve de ser

Forma correta: como deve ser

Ao contrário do nome dever, o verbo dever não requer a presença da preposição de.

ERRO 8: à muito tempo, à 1 semana

Forma correta: há muito tempo, há uma semana

A forma verbal há (verbo haver) pode assumir um valor temporal, podendo ser substituída pela forma verbal faz: faz muito tempo, faz 1 semana. Tem um valor durativo no passado.

ERRO 9: tu fostes

Forma correta: tu foste

A forma verbal correspondente à 2.ª pessoa do singular do pretérito perfeito do indicativo do verbo ir ou ser é foste. A forma verbal fostes corresponde à 2.ª pessoa do plural: vós fostes.

ERRO 10: Derivado a um vírus

Forma correta: Derivado de um vírus / devido a um vírus

A palavra derivado é acompanhada da preposição de (tal como o verbo derivar); a palavra devido é acompanhada da preposição a (tal como o verbo dever-se).

ERRO 11: Orgão

Forma correta: órgão

Esta palavra leva acento agudo sobre a vogal «o». As palavras graves terminadas em «ão», como sótão, órfão, bênção, são sempre escritas com acento gráfico, porque o seu acento tónico recai na penúltima sílaba.

Importa referir que o til não é um acento gráfico, mas sim uma marca de nasalidade, indicando vogais nasais (ex. lã) ou ditongos nasais (ex. coração). Muitas vezes, este ditongo coincide com a sílaba tónica (como é o caso de paixão), porém, nalguns casos, pode não coincidir com o acento tónico, de que orégãos é exemplo.

ERRO 12: Rúbrica

Forma correta: Rubrica

A palavra rubrica tem o seu acento tónico na penúltima sílaba (bri) e escreve-se sem qualquer acento gráfico, seja qual for o seu significado: “assunto, apontamento, matéria”, “programa radiofónico ou televisivo” ou “assinatura abreviada”.

Tendo a sua origem no latim rubrica, estava relacionada com o adjetivo rubrus (vermelho) e designava a terra ou argila vermelha que se usava para escrever os títulos dos livros antigos e dos manuscritos medievais.

Deve, assim, usar-se a palavra grave rubrica para todas as aceções.

ERRO 13: Saiem

Forma correta: Saem

A forma verbal saem corresponde à 3.ª pessoa do plural do presente do indicativo do verbo sair e grafa-se sem qualquer «i» entre a vogal «a» e a vogal «e». A inserção da vogal «i» ocorre na oralidade (e com implicação na escrita) com o objetivo de estabelecer a ligação entre as duas vogais em hiato (encontro de duas vogais que não formam ditongo).

ERRO 14: Mau-estar

Forma correta: Mal-estar

A palavra composta mal-estar é formada pelo advérbio mal e pelo nome estar. O seu antónimo é bem-estar.

ERRO 15: Previlégio

Forma correta: Privilégio
A palavra privilégio escreve-se com «i» na primeira sílaba, pois provém do latim privilegiu. Essa vogal é frequentemente articulada como [e] devido a um processo fonológico designado dissimilação: um determinado som perde propriedades fonéticas que tem em comum com um som vizinho, diferenciando-se dele.

ERRO 16: Alcoolémia

Forma correta: Alcoolemia

A palavra alcoolemia pronuncia-se com «e» fechado e escreve-se sem qualquer acento gráfico. Na sua formação entra o elemento -emia, que é um radical de origem grega que exprime a ideia de sangue. Este elemento entra na composição de várias palavras, como anemia, leucemia, glicemia, toxicemia. Trata-se de palavras graves, cuja sílaba tónica é a penúltima (mi), pelo que não devem ser escritas com qualquer acento gráfico.

ERRO 17: Ciclo vicioso

Forma correta: Círculo vicioso

O adjetivo vicioso está relacionado com o nome vício e entra na combinatória «círculo vicioso». Esta expressão designa uma sequência de acontecimentos ou situações que se repetem sucessivamente e se reiniciam, havendo um impasse na sua resolução.

ERRO 18: Despoletar

Forma correta: Espoletar / Desencadear

O verbo despoletar é derivado por prefixação a partir do verbo espoletar. Provêm ambos da terminologia militar e passaram a fazer parte da linguagem corrente. O verbo espoletar, que significa originalmente “pôr a espoleta em, fazer deflagrar a granada”, passou a significar também “desencadear uma ação”. O verbo despoletar, por sua vez, tem o significado de ação contrária de espoletar (“tirar a espoleta a, travando ou impedindo o disparo de”) e passou, por força do uso linguístico, a substituir o verbo espoletar, veiculando o significado desse verbo: “deflagrar, desencadear uma ação, fazer surgir repentinamente”, com base no valor de reforço do prefixo des- (presente em palavras como desinquieto, destrocar, desandar).

Ainda que tenha assumido esse significado, desaconselha-se o seu uso como sinónimo de desencadear em registo formal.

O que podemos fazer para eliminar de vez estes e outros erros que mancham a nossa imagem? Devemos ler muito (e bem!) para que sejamos expostos à palavra bem escrita. Tal como a leitura, a consulta de dicionários é também uma prática que deve ser regular no nosso dia a dia, sempre que tivermos alguma dúvida na grafia e significado de uma palavra.

Assim, se pretendemos projetar uma imagem pessoal e profissional credível, a nossa comunicação deve ser clara, relevante e, sobretudo, deve ter um elevado padrão de excelência linguística.

Cf‘À muito tempo que não te via’, ‘hades’ cá vir. Estamos a dar mais erros de português? 

Fonte

Artigo incluído na edição digital da revista Visão em 5 de maio de 2021.

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