Pelourinho - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
 
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Registos críticos de maus usos da língua no espaço público.

Senhor Primeiro-Ministro (de Portugal),

Faça-me um favor: respeite um pouquinho só a gramática. No famoso Dia D contra a droga, o senhor esteve numa escola e durante a sua intervenção - na parte que, por azar, foi filmada pela TV - soltou um estrepitoso «enquanto que». Doeu-me. Fiquei intoxicado e não ouvi mais nada. Lembro-lhe: «enquanto» não leva «que». Já o tem.

A RDP-Antena 1 está hoje no pelourinho por um motivo muito pior do que descurar a formação linguística dos jornalistas que, em vez de «êispu», insistem em pronunciar (como ouvimos no noticiário de hoje de manhã), à maneira do dr. António Vitorino, «ecspò» e «ecspô» (Expo 98). Sejam coerentes e digam também: «livrô» em vez de «lívru» (livro) e «milhò» em vez de «mílhu» (milho). Mas isto são trocos. Pior, bem pior, é a política de «recursos humanos» da RDP, que com uma carta despediu, deixando-o s...

Porque é que os membros do júri do programa da SIC «Chuva de Estrelas» - na circunstância, Fernando Martins - dizem «performance» em vez de actuação? Porque o Inglês é uma língua «sintética»? Não. «Sintético», aqui, é o Português: actuação e exibição têm menos três caracteres do que «performance». Desempenho, menos um. Fernando Martins e muitas outras figuras do espectáculo, do futebol, da publicidade e dos negócios utilizam certas palavras anglo-saxónicas (pro...

No Telejornal da RTP1 de 25 de Janeiro, o redactor de serviço utilizou o verbo despoletar para dizer precisamente o contrário do que pretendia. Despoletar um escândalo (na circunstância, os casos de pedofilia na Madeira) significa desactivá-lo, anulá-lo. Espoleta é o disparador; é o dispositivo que produz a detonação de explosivos e projécteis. Portanto, se retirarmos este dispositivo (se despoletarmos o sistema), já não há explosão. Frequente no...

Enorme expectativa rodeia o eng. Torres Campos, o novo comissário da Expo 98. Os políticos, como o prof. Marcelo ou a dra. Maria José Nogueira Pinto, pronunciam todos mal: ècspô. Terá o eng. Campos a coragem política de dizer êispo? Não é pedir muito: basta imitar o que já começou a dizer (bem) o primeiro-ministro António Guterres. Isto é: com o o pronunciado como o o final de «livro» e «milho».

Maria José Nogueira Pinto, líder parlamentar do PP, e Jorge Lacão, líder parlamentar do PS, no Telejornal da RTP1 de 21 de Janeiro, pronunciaram: ecspô 98. Marcelo Rebelo de Sousa repetiu o mesmo erro na TVI, no dia seguinte. Devem dizer: êispo (este o pronuncia-se como o o final de «livro» e «milho»).

«A propósito da entrevista a Camané publicada no suplemento "Ípsilon" de dia 27/04 e conduzida por João Bonifácio, gostaria de dizer o seguinte:

Numa entrevista profissional, não basta parecer, há que ser.

O Sr. João Bonifácio aparenta uma grande admiração por Jacques Brel, nomeadamente pela música "Ne Me Quitte Pas".

«O meu sentimento, como é natural, é de um grande reconhecimento e de agradecimento à decisão que o senhor Presidente da República tomou em querer-me agraciar.» 1

 

Nesta frase há dois aspectos a considerar: primeiro, não se agradece a uma decisão, agradece-se a alguém; segundo, o pronome se deverá estar ligado ao verbo ao qual diz respeito (agraciar), e não ao auxiliar (querer).

 

Outra construção incorrecta muito ouvida agora também por causa da cobertura noticiosa do Campeonato [Copa] do Mundo de Futebol, esta um castelhanismo puro, é a troca da preposição de pela preposição desde em situações relacionadas com determinado lugar onde se está, circunstancialmente. Tipo: «Estamos a transmitir (ou a emitir, ou a falar, etc.) desde a Alemanha.»

Não é «“desde” a Alemanha», é «da Alemanha».

Cf. Disparatado desde + Desde

Além da Serenella Andrade, o que há de estranho na extracção da lotaria? Resposta: a patusca invenção das "dezenas de milhar", apensa a uma das redomas do sorteio. Apesar de a ninguém lembrar dizer "dúzias de ovo" ou "centenas de ano", a coisa anda por todo o lado: em acórdãos de tribunais, documentos de universidades, discursos presidenciais, entradas da Wikipedia, etc. E neste «etc.» até cabem blogues por norma bem-falantes. Ele há epidemias bem esquisitas.