Pelourinho - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
 
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Registos críticos de maus usos da língua no espaço público.

«[…] agora chegou a hora de o enfrentarmos  de frente […]»

Bom dia, Portugal, RTP 1, 13 de março de 2014, 8h53

Não me recordo de já ter lido ou ouvido tal expressão, mas sei que é mais um pleonasmo vicioso. Enfrentar é sempre «atacar de frente», «encarar», «defrontar», «estar ou colocar(-se) defronte a». Aquele «de frente» é, pois, uma demasia criticável, um excesso condenável, a juntar a muitos outros de que já aqui demos conta.

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«Os muitos problemas de um homem perturbado têem origem na relação conflituosa com o pai.»

Confrontação (1998), MOV, 15 de março de 2014, 15h35

«A DFB [Federação de Futebol da Alemanha] fez saber que o médico responsável pelo controlo admitiu o erro do adjunto e pediu despensa das funções que desempenhava».
                                                                           O Jogo, 28 de fevereiro de 2014, p. 36.

<i>Beibi, ti amo, amorê</i>

«Letras assentes no mau português (…) repetidas até à exaustão e rimas em que o “amor” pede sempre “dor”». Texto publicado no semanário “Nova Gazeta” de 27/02/2014 sobre o «mau-gosto [que] impera na música angolana» que passa na rádio e na televisão do país – hoje nos antípodas da qualidade dos poetas e autores cantados em tempos mais recuados, e difíceis.

 

Um «ter a haver» cacofónico

«Houve nove reequilíbrios financeiros. Tem a haver também com a constituição de um gabinete de projeto para a nova ponte Vasco da Gama»
Sérgio de Azevedo, deputado do PSD, relator da Comissão de Inquérito sobre as Parcerias Público-Privadas
Olhos nos Olhos, TVI24, 17 de fevereiro de 2014, 19m13)

«No panorama, ouve algum investimento em vinhos franceses, italianos e americanos […]»
OJE, 10 de janeiro de 2014, p. 15.

«As exéquias fúnebres […] levaram a que alguns, sem noção do ridículo, tivessem invocado o facto de Portugal ser um estado laico, questionando desta forma a participação de dignatários do Estado nas celebrações religiosas […]».

«E pluribus unum», Rui Tabarra e Castro, Opinião, OJE, 10 de janeiro de 2014, p. 8.

A vírgula isolando o vocativo: <br> uma regra em vias de extinção?

Depois do mau uso do conjuntivo/subjuntivo – melhor: não uso, pura e simplesmente –, a obrigatoriedade da vírgula nas frases com vocativo deixou praticamente de se cumprir no espaço público português. 

De dicionário em punho  <br>  para decifrar os anúncios e a publicidade... em inglês

«Não é fácil encontrar emprego ou trabalho hoje em dia [em Portugal]» - diz Wilton Fonseca, a propósito da presença maciça de anglicismos nos anúncios de ofertas de trabalho (crónica original publicada no jornal português i).

 

Anglicismos escusados e... sem tradução

«São dois mil tumores. Quer dizer que cada pessoa, que cada tumor, “on average”, vai ser analisado por vinte pessoas diferentes. Quanto mais pessoas olharem mais “reliable” vão ser as leituras que elas fazem [...]».

Carlos Caldas, Bom dia, Portugal (RTP 1, 10 de fevereiro de 2014, 8h49)