Pelourinho - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
 
Início Português na 1.ª pessoa Pelourinho
Registos críticos de maus usos da língua no espaço público.

É cada vez mais frequente, entre quem fala e quem escreve nos “media” portugueses, o desconhecimento do conjuntivo. Veja-se esta frase, proferida há dias, na SIC, pelo jornalista Rodrigo Guedes de Carvalho:
     «Não deixa de ser curioso que a federação inglesa, assim que terminasse o jogo, tente que Figo seja castigado. Não deixa de ser curioso que...

«Fica connosco Sócrates!”», titulava o jornal “24 Horas” na sua edição de 22 de Junho p.p., numa referência ao primeiro-ministro português.

Faltou a vírgula entre as palavras «connosco» e «Sócrates», pois a palavra «Sócrates» é um vocativo. Um dos casos de utilização obrigatória da vírgula é precisamente aquele em que ela tem a função de isolar o vocativo: «Meninos, viram onde eu pus o relógio?», «Vem connosco, Maria.», «Minha querida mãe, que bom ouvir as tuas palavras!»

«Eu fui um dos que desapareceu (…)»,contou o que lhe acontecera num programa de ilusionismo José Carlos Malato, o apresentador do concurso da RTP 1, “A Herança.”1
     O apresentador foi um daqueles que desapareceram. Desapareceram vários, e ele foi um deles. A expressão «um dos que» pede uma forma verbal no plural, pois o sujeito é o pronome “que” relativo a “dos” (de + os = daqueles): «Eu fui um dos que desapareceram (…)».

«Os remédios na farmácia (…) saiem mais caros do que no Continente.»2
     Saem: assim se escreve correctamente a 3.ª pessoa do plural do presente do indicativo do verbo sair. É frequente este erro, devido à tentativa de representação escrita do que se ouve. Outras formas verbais com o mesmo tipo de terminação: caem, atraem, contraem, distraem, subtraem, traem.


«Moscovo apelou aos sequestradores de quatro russos para não os executar1
     A utilização do infinitivo pessoal ou flexionado (executar eu, executares tu, executar ele, executarmos nós, executardes vós, executarem eles) é objecto de alguma dificuldade. Para a ultrapassar, veja-se a regra geral: no caso de uma frase em que haja duas acções, se o sujeito for diferente, deverá usar-s...

     «Viva os estagiários» era um título na rubrica “Quentes & Boas” do jornal “24 Horas”1, da responsabilidade de Gracinha de Sousa Botelho.
     Primeiro erro, de concordância: tal como o sujeito («os estagiários»), também o verbo («viver») vai para o plural.
     Segundo erro: a frase tem de terminar com um ponto de exclamação.
     Portanto: «Vivam os ...

     Pior – pior, porque se trata da televisão pública portuguesa, com suplementares obrigações na defesa da língua – foi o erro cometido pelo mesmo jornalista, na véspera.
     «Passam a haver menos carros da Brigada de Trânsito nas principais auto-estradas do país», anunciou, em mais um atropelamento do verbo haver...

     «O Suécia-Inglaterra – lembrava no próprio dia do jogo o apresentador do “Jornal da Tarde” da RTP-1 – começa às 20 horas. Os nórdicos ainda não garantiram o apuramento, mas têm a tradição como aliado.» E, de seguida, lá veio o escusado e recorrente espanholismo: «O outro jogo do mesmo grupo [do...

Sílvia Alberto, apresentadora do concurso “Dança Comigo”, da RTP-1 1, referindo-se ao professor de dança e a ela própria: «... o mestre e a sua aprendiz...»
     Sendo certo que a Sílvia não deve ter dúvidas quanto ao seu género, conclui-se que é melhor ...

   A propósito da estreia mundial do filme O Código da Vinci, voltou a ouvir-se a troca do género do nome Opus Dei. É o Opus Dei, e não “a” Opus Dei. Preferindo-se em português, então, sim, é a Obra de Deus.