«Em jornalismo, palavras, frases e parágrafos são reduzidos. As palavras longas, as frases complexas e os parágrafos extensos ficam para os ficcionistas.» O bê-á-bá da escrita jornalística lembrado nesta crónica do antigo diretor da agência de notícias Lusa, a propósito de um «tijolo compacto» de 575 palavras «para repetir quase sempre a mesma informação».
Grande escola de jornalismo, na Anop os leads não podiam ter mais de 35 palavras. Admite-se que tal espartilho disciplinador, próprio de uma agência noticiosa, possa ser consideravelmente alargado na imprensa, mas não ao ponto de deixar de lado o fundamento segundo o qual, em jornalismo, palavras, frases e parágrafos são reduzidos. As palavras longas, as frases complexas e os parágrafos extensos ficam para os ficcionistas.
Vem isto a propósito de um sólido bloco negro, tijolo compacto com que o Público nos brindou, há dias, numa análise económica assinada por um “ES Research BES”, que deve ser alienígena. Eram 299 palavras comprimidas em 12 frases num único parágrafo. O Livro de Estilo do jornal explica que um parágrafo não deve exceder duas ou três frases.
Na segunda-feira, o sólido bloco negro surgiu atenuado. Foram 575 palavras, 14 frases, seis parágrafos. Mas com algum esforço podia ser muito menos. Nas duas primeiras frases, as mesmas informações são insistentemente repetidas: «Na semana que hoje tem início destaca-se a reunião […] da chanceler alemã e do presidente francês, já esta segunda-feira. Assim, Angela Merkel e Nicolas Sarkozy reúnem-se em Berlim num encontro…»
Reunião, reúnem-se, encontro; hoje, segunda-feira… Assim não vale. Escrever 575 palavras para repetir muitas vezes a mesma informação não fica bem aos grandes “researchers”.
in jornal i, de 13 de janeiro de 2012, na crónica semanal do autor, Ponto do i, que assinala alguns erros na escrita jornalística, em Portugal.