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Pelourinho // Mau uso da língua nos media

Verbos banidos por revelar

Modismos do discurso jornalístico

 «(...) Já ninguém diz, afirma, indica, aponta, reforça, anuncia ou esclarece. Tais verbos foram proscritos, excomungados pelos jornalistas. (...)» 

 

imprensa.jpg(...) [O]corre-me que há uma série de verbos que foram banidos dos noticiários das rádios [portuguesas]. Já ninguém diz, afirma, indica, aponta, reforça, anuncia ou esclarece. Tais verbos foram proscritos, excomungados pelos jornalistas. Agora toda a gente “revela”, a propósito de tudo e do seu contrário. De acordo com esta prática, teremos em breve o cozinheiro a revelar que cozinha e o Presidente que preside em noticiários apinhados de “revelações”. Também aqui não se trata de uma falta grave contra a ética ou a deontologia jornalísticas. Mas é uma rasteira que se prega ao rigor que deve separar o jornalismo da bagunça triunfante praticada nas chamadas “redes sociais”.

E já que me lancei por este caminho, ladeado de camadas de facilitismo linguístico que se vão sedimentando na prática jornalística, ocorre-me também a moda da tradução literal de algumas palavras do inglês para um português aproximativo: temos assim que já não existem provas, mas sim “evidências”, e que ninguém se suicida, porque “comete suicídio”… E ocorre-me, por fim, aquele poeta que canta a língua portuguesa «ainda bela, ainda nossa, ainda livre». Ámen, antes que «a suicidem».

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