Em 1892, Adolfo Coelho, o conhecido promotor das Conferências do Casino, lançava a obra Os Ciganos em Portugal – com um estudo sobre o calão. Esta publicação enquadra-se num conjunto mais vasto de investigação de âmbito etnográfico e antropológico portugueses, temas que na época oitocentista se assumiam como centrais no panorama cultural.
A presente obra divide-se em três grandes partes: A Língua dos Ciganos em Portugal, O Calão e a Língua dos Ciganos e Esboço Histórico e Etnográfico.
Na primeira parte, o leitor pode encontrar uma lista com expressões e frases usadas pelos ciganos, que inclui dizeres curiosos como «Parnés de sanacay» (Moedas de oiro), «Es di chibé» (É de dia), «Ya chaso» (Já venho) ou «Abriluncho. Abela com las habunchas en el mandiluncho» (Abril. Vem com a favas no mandil). Ainda na primeira parte, surge o vocabulário, por ordem alfabética, que apresenta os termos próprios da língua dos ciganos. Esta secção reúne palavras específicas, que se encontram no gitano, como parga (que significa choça) ou curchelo (braço) ou derivadas da língua portuguesa ou espanhola, tais como lechute (de leite), peruna (de pera) ou basisaro (de vaso).
A segunda parte da obra é dedicada ao calão, que é distinguido da língua cigana e perspetivado no eixo da sua evolução histórica e na perspetiva da linguística comparada, considerando, por exemplo, os falares da germania ou o argot. Várias listagens de palavras apresentam palavras da gíria ou do calão português, numa perspetiva ao longo dos séculos e com atenção aos falares de alguns grupos sociais como o calão dos contrabandistas de Albergaria-a-Velha.
Na terceira parte, Adolfo Coelho traça a evolução dos ciganos em Portugal, a partir das referências que a eles a literatura foi fazendo, considerando textos desde o Cancioneiro Geral de Garcia de Resende à Farsa dos Ciganos, de Gil Vicente, e os documentos legais que a eles se foram referindo (dos séculos XVI e XVII). Por fim, a abordagem etnográfica dos ciganos conta com a descrição do tipo físico de homens e mulheres, sendo referidos a sua alimentação, traços, vestuário e ocupações, entre outros aspetos.
Esgotada há muito (pelas Publicações Dom Quixote), a obra pode ser acedida via digital.
Cf. Morreu José Gabriel Pereira Bastos, antropólogo e estudioso das comunidades ciganas
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