Ana Martins - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
Ana Martins
Ana Martins
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Licenciada em Línguas e Literaturas Modernas – Estudos Portugueses, pela Faculdade de Letras da Universidade do Porto, e licenciada em Línguas Modernas – Estudos Anglo-Americanos, pela Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra. Mestra e doutora em Linguística Portuguesa, desenvolveu projeto de pós-doutoramento em aquisição de L2 dedicado ao estudo de processos de retextualização para fins de produção de materiais de ensino em PL2 – tais como  A Textualização da Viagem: Relato vs. Enunciação, Uma Abordagem Enunciativa (2010), Gramática Aplicada - Língua Portuguesa – 3.º Ciclo do Ensino Básico (2011) e de versões adaptadas de clássicos da literatura portuguesa para aprendentes de Português-Língua Estrangeira.Também é autora de adaptações de obras literárias portuguesas para estrangeiros: Amor de Perdição, PeregrinaçãoA Cidade e as Serras. É ainda autora da coleção Contos com Nível, um conjunto de volumes de contos originais, cada um destinado a um nível de proficiência. Consultora do Ciberdúvidas da Língua Portuguesa e responsável da Ciberescola da Língua Portuguesa

 
Textos publicados pela autora

Depois de a PT anunciar «Xamadas a zero xêntimos por minuto», vem agora a UZO oferecer um serviço telefónico a baixo preço para todas as redes — e avisa: «Cênt.-se para não cair».

Sem cairmos em nostalgias bafientas, há que reconhecer que deixaram saudades sloganes de antigamente, como «Aquela máquina!» (Regisconta) ou «Foi você que pediu um Porto Ferreira?». Alguns entraram até no linguajar da época; outros ecoam ainda nos dias de hoje. Lembro somente o título do livro de Dinis Manuel ...

A propósito das recentes eleições no país vizinho, falou-se frequentemente da «balcanização da Espanha». Já antes se tinha alertado para a «balcanização do Congo» e se anteviu a «balcanização do Iraque».

Balcanizar e balcanização são palavras recentes na língua e já constam de alguns dicionários.
Estes termos assentam na longa história dos Balcãs — vasta região montanhosa que, em diferentes zonas, serviu ...

Quem precisar de algumas dicas para decidir onde passar esta Páscoa pode recorrer a uma ou duas revistas especializadas em matéria de viagens.

Estas publicações têm como objectivo promover a compra de viagens a destinos turísticos, a lugares onde se desenvolveu uma indústria de férias. O destino turístico vai restaurar a alma e o corpo do comprador e vai ainda transformá-lo num ser distinto e singular. Daí que as "reportagens turísticas", que servem de ilustração às vistosas fotografias...

Todas as línguas sustentam e reflectem o reservatório ideológico e o conhecimento de senso comum de uma comunidade de falantes. O recurso a provérbios, ditos, rifões e, de uma maneira geral, a todas as formas sentenciosas consagradas, é o momento em que esses conhecimentos compartilhados são explicitados no discurso. A função deste procedimento é atribuir empatia e autoridade àquilo que se está a dizer.

Pergunta:

Gostaria de saber um pouco da história da formação dos sotaques nas diferentes regiões do Brasil: Nordeste, Centro-Oeste, Sudeste (carioca e paulista) e Sul.

Ou, para evitar maior trabalho, sugestões de sites e livros sobre esse assunto.

Desde já muito grata!

Resposta:

Para propor uma resposta a essa consulta que se revela de ordem tão ampla, atrevo-me a fazer uma introdução inspirada em parecer de Paul Teyssier na sua História da Língua Portuguesa, com tradução de Celso Cunha (São Paulo: Martins Fontes, 2001). Concordo com o autor quando afirma que as divisões "diale{#c|}tais" no Brasil são menos geográficas que socioculturais. Ou seja, há uma certa homogeneização, inclusive do sotaque, nas camadas mais cultas que seguem a "norma" difundida, sobretudo, pela televisão e seus telejornais. Há, a título de exemplo, um trabalho apontando uma notável tentativa de "higienizar" o sotaque dos apresentadores de telejornais regionais, conforme o padrão das duas maiores capitais, Rio e São Paulo. O texto completo se encontra aqui.

Teyssier arrisca, inclusive, a determinação de uma isoglossa imaginária entre o Norte e o Sul do país que se localizaria no Sul do estado da Bahia e atravessaria o país de forma horizontal.

Ataliba de Castilho, por seu lado, na obra de Rodolfo Ilari, intitulada Lingüística Românica (São Paulo: Moderna, 2001), apresenta as "variedades do português do Brasil", levantando questões fonéticas que se repetem ou se realizam de forma intermitente em regiões diversas, obedecendo, como já havia notado Teyssier, a condicionantes socioecon{#ó|ô}micas. O texto de Castilho é boa referência para uma vista d'olhos de tentativas de constituição de Atlas ling{#u|ü}ísticos, sempre parciais, já publicados ou em elaboração. No texto mencionado, Castilho tem um item com o título "A variedade dos sujeitos não-escolarizados do PB falado" que sistematiza com fatos ling{#u|ü}ísticos o teor das afirmações de Teyssier sobre as divisões diale{#c|}tais do Brasil, mais culturais do que geográficas.