Pergunta:
Quanto à questão formulada por Natanael Estêvão, em 4/3/2022, foi dito, ao final da resposta, que «esta construção será preferencial à que se apresenta na pergunta, pois não causa a estranheza da primeira». A par da estranheza, pergunto: seria a construção também agramatical, configurando uma exceção? Creio ser essa a dúvida de Natanael.
A propósito, nos exemplos dados pelo citado consulente, pode-se também lançar mão do recurso de usar a expressão «o fato de»: «apesar de o homem ter morrido...» (apesar do fato de o homem ter morrido); «o maior problema está em isso fugir do nosso controle (o maior problema está no fato de isso fugir do nosso controle). Portanto, pode-se imaginar uma elipse em todos os casos, contornando as contrações.
Obrigado.
Resposta:
Com efeito, como implicita o consulente, a resposta dada à questão referida não será clara quanto à gramaticalidade da construção em causa, pelo que importa explicitar os passos da análise aí conduzida.
Antes de mais, torna-se claro que uma frase como a que se apresenta em (1) é, de facto, agramatical:
(1) «*Como respondi a a professora tê-las subestimado?»
Esta agramaticalidade advém do facto de ser de regra não proceder à contração da preposição quando esta introduz uma construção com infinitivo. No caso particular da frase (1), esta situação gera a contiguidade da preposição a com o artigo definido a, o que também não é aceitável do ponto de vista gramatical.
Perante o problema que a construção desencadeia, é importante procurar na língua construções que sejam equivalentes e que possam resolver o problema criado pelo encontro da preposição com o artigo no caso concreto da frase em análise. Assim, a frase que propusemos, aqui transcrita em (2), poderá ser vista como uma solução para resolver a questão, pois permite recuperar um constituinte que poderia surgir na frase, assegurando a sua gramaticalidade:
(2) «Como respondi ao facto de a professora as ter subestimado?»
Quando se usa o termo recuperar, estamos a considerar que a própria língua assegura a gramaticalidade das suas construções, possibilitando estruturas corretas, que os falantes poderão adotar ou não.
Como refere o consulente, o constituinte «o facto de» poderia, com efeito, surgir em muitas estruturas com preposição a introduzir construção de infinitivo. Não obstante, não exis...