Pergunta:
Desejo saber se é gramaticalmente aceito em Portugal «enquanto me dirigia-lhe».
Sei que é válida a soma de pronomes oblíquos como em «deparou-se-me» ou «agradecer-to-ei», coisa que não é válida no Brasil.
No entanto, a presença de enquanto antes do pronome oblíquo me exige a próclise. Assim, qual das possibilidades é verdadeira?
1. Enquanto lhe dirigia-me.
2. Enquanto lhe me dirigia.
3. Enquanto me lhe dirigia.
4. Enquanto me dirigia-lhe.
5. Enquanto me dirigia a ela.
Felicíssimo pela atenção da equipe do Ciberdúvidas. Sempre me ajudam prontamente quando necessito.
Resposta:
Apenas a oração apresentada em 5. está correta. Vejamos, de seguida, as razões que o justificam.
Quando dois pronomes clíticos coexistem na mesma frase, não é possível colocar um em próclise (antes do verbo) e outro em ênclise (depois do verbo), como se constata nas frase (2) e (3):
(1) «A Rita deu uma flor ao António.»
(2) «*A Rita não lhe deu-a.»
(3) «*A Rita não a deu-lhe.»
Este critério permite, desde logo, rejeitar as orações 1 e 4 apresentadas pelo consulente.
Para além disso, quando formam um grupo, os pronomes clíticos têm uma ordem fixa: «se + pronome clítico dativo + pronome clítico acusativo»1, ou seja, em primeiro lugar coloca-se o pronome se, seguido do pronome com função de complemento indireto e, por fim, o pronome com função de complemento direto, ordem que se ilustra em (4):
(4) «Histórias de lobisomens, ouvia-se-lhas vezes sem conta.»2 (se + lhe + as)
Esta ordem será respeitada caso coexistam apenas dois pronomes:
(5) «A Rita deu-lha.» (lhe + a = pronome dativo + pronome acusativo)
(6) «A boca abriu-se-te de espanto.»2 (se + te = se + pronome dativo)
Por fim, as formas do pronome de primeira e segunda pessoas do singular e do plural (me, te, n...