Pergunta:
Tenho sempre dúvida em relação a tempos compostos do conjuntivo, em particular, à distinção entre o pretérito perfeito composto do conjuntivo (PPC) e pretérito mais-que-perfeito composto do conjuntivo (PMPC) nestas frases:
(1) Embora ela já tenha saído/ tivesse saído há muito tempo, ainda não chegou a casa.
(2) Embora ele o tivesse visto/ tenha visto, não o cumprimentou.
(3) Embora o Jorge lá tenha ido/ tivesse ido várias vezes, perdeu-se no caminho.
Diz-se no livro de gramática que o PMPC se usa para falar de uma ação anterior a outra também passada e que o PPC se usa para falar de uma ação já realizada em relação ao presente/ futuro.
Nestes três exemplos, a oração matriz ocorre no Pretérito Perfeito do Indicativo e refere-se a uma ação do passado, e, assim, fiquei confusa com o emprego do PPC nesses exemplos.
Em relação a (4), a frase subordinante ocorre no presente, enquanto a subordinada ocorre no PMPC (i.e., tivesse amado). Não sei porque a frase é correta.
(4) A Maria duvida/ acredita que o Rio a tivesse amado. (Gramática da Língua Portuguesa 2003: 269)
Obrigada!
Resposta:
Nas frases apresentadas, os valores do pretérito perfeito composto e do pretérito mais-que-perfeito composto do conjuntivo são equivalentes.
Os exemplos apresentados em (1), (2) e (3) configuram usos do conjuntivo em orações subordinadas adverbiais concessivas. Assim, para compreender a opção por determinados tempos verbais, teremos também de considerar outros elementos da frase. Antes de mais, a conjunção embora é usada no contexto das orações concessivas factuais, ou seja, as orações concessivas que apresentam a situação como sendo real. Neste âmbito, considerando que se descreve uma situação real, existem duas possibilidades de localização temporal da situação descrita na subordinada: (i) sobreposta ao momento de enunciação ou (ii) anterior ao momento de enunciação.
Em (1), a situação «estar doente» sobrepõe-se ao momento de enunciação e vai além dele devido ao recurso ao presente do conjuntivo da oração subordinada conjugado com o presente do indicativo da subordinante:
(1) «Embora esteja doente, vai à escola.»
Em (2), «estar doente» é, através do recurso ao pretérito perfeito composto, perspetivado como uma situação perfetiva, ou seja, concluída no passado (o que significa que ele já não está doente). Para além disso, trata-se de uma situação anterior à que se apresenta na subordinante:
(2) «Embora tenha estado doente, ele vai / foi à escola.»
Neste contexto específico, o recurso ao pretérito mais-que-perfeito composto do conjuntivo não trará diferença substancial relativamente à situação descrita em (2):
(3) «Embora tivesse estado doente, ele vai / foi trabalhar.»
Em (3), descreve-se a situação como concluída e como sendo anterior à que se apresenta na subordinante. Esta última frase poderá descrever a situação de «est...