Pergunta:
Em geral, gostaria de saber quando é possível substituir o Infinitivo Composto pelo Infinitivo Simples, mantendo o sentido da frase.
Sei que esta pergunta já foi respondida antes no Ciberdúvidas: «Trata-se da possibilidade da substituição de uma forma pela outra– de "intercambialidade", como se sugere na pergunta –,sem incorrer em incorreção ou alteração significativa no significado da frase. O infinitivo simples (IS) pode substituir o infinitivo composto (IC), mas a inversa não é sempre possível.»
No entanto, há casos em que me parece que a substituição do Infinitivo Composto pelo Infinitivo Pessoal altera o sentido da frase, ou cria, até, frases agramaticais (26). Fico por isso na dúvida se a resposta do Ciberdúvidas que transcrevi tinha um caráter geral. Tinha?
No caso concreto das frases 1 a 4, penso que 1 e 2 têm sentidos semelhantes, mas 3 e 4 não. Qual é a razão para nos casos 1 e 2 ser possível fazer a substituição (caso seja) e nos casos 3 e 4 não (caso não seja)?
(1) Foi bom termos tido essa reunião. (2) Foi bom termos essa reunião.
(3) É bom termos tido essa reunião. (4) É bom termos essa reunião.
Quanto aos seguintes pares de frases, consideram que têm o mesmo sentido? Quais são as regras que permitem (ou não) realizar a substituição de um tempo por outro?
(5) Espero desligar o gás. (6) Espero ter desligado o gás.
(7)No caso de não poderes vir, telefona-me. (8)No caso de não teres podido vir, telefona-me.
(9) Até ele ficar bem, não me irei embora. (10) Até ele ter ficado bem, não me irei embora.
(11) Em vez de terem ido ao mercado, podiam ter ido à praia. (12) Em vez de irem ao mercado, podiam ter ido à praia.
(13) Depois de acabares os trabalhos de casa, podemos ver televisão. (14) Depois de teres acabado os ...
Resposta:
A equivalência entre o infinitivo simples e o infinitivo composto verifica-se, nalgumas situações (cf. esta resposta). Todavia, esta equivalência não se aplica a todas as situações de uso, pelo que é necessário reconhecer algumas características distintivas das duas formas.
O infinitivo simples, por si só, não «contribui para a determinação do valor temporal das orações em que ocorre. Com o infinitivo simples, este valor depende do tipo semântico do verbo da oração principal» (Raposo et al., Gramática do Português. Fundação Calouste Gulbenkian, p. 547)
Assim, o infinitivo precisa de um tempo de referência para determinar o seu valor temporal. Entre estas referências, poderemos destacar as seguintes:
(i) o valor temporal do infinitivo simples coincide com o tempo da enunciação:
(1) «Apesar de terem muito dinheiro, são discretos.»
Nesta frase, o uso do infinitivo simples contribui também para se estabelecer um valor aspetual de habitualidade, ou seja, de situação que se repete. Este valor também pode estar presente em frases como (2), embora, neste caso, só o contexto poderá esclarecer se se trata de um evento habitual ou pontual. O infinitivo simples pode também associar-se a uma leitura de valor habitual, como em
(2) É bom termos essa reunião1.
(ii) o tempo do evento da oração subordinante serve como tempo de referência para definir o va...