Carlos Marinheiro - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
Carlos Marinheiro
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Carlos Marinheiro (1941–2022). Bacharel em Jornalismo pela Escola Superior de Meios de Comunicação Social de Lisboa e ex-coordenador executivo do Ciberdúvidas da Língua Portuguesa. Colaborou em vários jornais, sobretudo com textos de análise política e social, nomeadamente no Expresso, Público, Notícias da Amadora e no extinto Comércio do Funchal, influente órgão da Imprensa até ao 25 de Abril.

 
Textos publicados pelo autor

Pergunta:

Qual é o substantivo coletivo referente a helicóptero? Posso utilizar esquadrilha, como se se tratasse de aviões?

Resposta:

O Dicionário Eletrônico Houaiss diz que esquadrilha é, em aeronáutica, «grupo de até quatro aeronaves que realizam uma operação»; e define aeronave como «qualquer aparelho capaz de se sustentar e se conduzir no ar e que tem como função transportar pessoas e/ou objetos», incluindo, portanto, os helicópteros entre as aeronaves. Além disso, diz ainda que helicóptero é «aparelho de aviação projetado para elevar-se verticalmente, sustentar-se no ar e deslocar-se por meio do giro de hélices horizontais».

O Aulete Digital define helicóptero como «aeronave capaz de elevar-se verticalmente, pairar no ar e se deslocar por meio de rotores movidos a motor»; e considera esquadrilha, em aviação, «agrupamento de dois a quatro aviões, ger[almente] militares». Saliente-se que esquadrilha também é, na área da marinha, «esquadra composta de navios de guerra de pequeno porte».

Da mesma forma, o Dicionário da Língua Portuguesa 2008, da Porto Editora, diz que helicóptero é «aparelho de aviação capaz de se elevar verticalmente, de se deslocar em qualquer direcção e de se sustentar na atmosfera por meio de hélices de eixo vertical»; e define esquadrilha como «pequena esquadra de navios de guerra ou de aviões».

Assim, tendo em conta que avião é o mesmo que aeroplano ou aeronave, e helicóptero é, geralmente, definido pelos dicionários como aeronave, parece-me que esquadrilha é o colectivo, também, de helicópteros.

Pergunta:

Gostaria de saber se é igualmente correcto usar a palavra solho ou soalho.

Obrigada.

Resposta:

O Dicionário da Língua Portuguesa 2008, da Porto Editora, regista soalho (do lat[im] solacŭlu-, dim[inutivo] de solu-, "solo"), com o significado de «pavimento de madeira; sobrado»; e acolhe solho (do lat[im] solu-, "pavimento"), dizendo que se trata de «revestimento com tábuas de madeira colocadas a par, que se aplica em pavimentos; sobrado».

O Dicionário Eletrônico Houaiss regista solho, mas remete-nos para soalho (a forma preferível), dizendo que é o «mesmo que» este. Na entrada soalho, diz que este é «ato ou efeito de soalhar» ou, numa derivação por metonímia, «a tábua com que se assoalham pavimentos de edifícios etc.; soalhado». Este dicionário acolhe ainda assoalho, como «piso assoalhado, ger[almente] com tábuas ou tacos de madeira» ou «piso de qualquer tipo de material».

O Aulete Digital regista assoalho e diz que é «o mesmo que soalho ou sollho».

Em conclusão, soalho e solho são palavras sinónimas. No Brasil, também assoalho é o mesmo que soalho ou solho.

Pergunta:

As palavras escravo e servo são sinônimas em quais sentidos ou acepções e em quais são apenas semelhantes ou mesmo diferentes? Faço-vos este questionamento pois os dicionários nem sempre me parecem claros quanto a estas igualdades e diferenças de sentido.

Quanto ao servo da gleba medieval, era, ou não, escravo, tinha, ou não, liberdade?

Muito obrigado.

Resposta:

O Dicionário Eletrônico Houaiss diz que escravo é «que ou aquele que, privado da liberdade, está submetido à vontade absoluta de um senhor, a quem pertence como propriedade» e, por extensão de sentido, «que ou quem está submetido à vontade de outrem, a alguma espécie de poder ou a uma força incontrolável»; em sentido figurado, tem outras acepções, mas, para estabelecer a diferença entre escravo e servo, são estas que interessam.

Quanto a servo, o mesmo dicionário diz que é «aquele que não é livre, que não exerce direitos ou não dispõe de bens, que sofre qualquer tipo de domínio ou tirania» ou «aquele que obedece ou serve a alguém. Ex.: s[ervo] de Deus». Trata-se ainda de «aquele que é subordinado, dependente, na condição de criado ou escravo» e «na sociedade feudal, aquele que era ligado à gleba, e dependente de um senhor, embora não fosse escravo». Gleba, em história, era «feudo a que os servos estavam ligados».

O Dicionário da Língua Portuguesa 2008, da Porto Editora, considera escravo «aquele que vive em absoluta dependência de alguém» ou «pessoa privada de liberdade e submetida a um poder absoluto»; e diz que servo é, em história (feudalismo), «indivíduo ligado a uma terra e dependente de um senhor»; trata-se ainda de «criado; servente»; «aquele que vive em situação de escravidão; escravo»; e «pessoa oprimida ou sem liberdade». Entretanto, a expressão «servo de Deus» quer dizer «homem religioso».

Assim, em determinados contextos, há sinonímia entre os dois vocábulos, mas existem outros em que significam coisas diferentes, nomeadamente o «servo de Deus» é-o por sua livre vontade (salvo raras excepções que não vale a pena aqui ...

Pergunta:

Qual a origem da palavra cuidado?

Como se escreve correctamente:

"auto-cuidado"

"autocuidado"

"auto cuidado"

Resposta:

A palavra cuidado é oriunda «do lat[im] cogitātu-, "reflexão; pensamento"»; significa, entre outras coisas, «atenção» e «cautela; precaução».

Escreve-se autocuidado, tal como autocapa, autocrítica, autocópia, etc., com o Acordo Ortográfico de 1945 ou o de 1990.

Pergunta:

O gentílico de Maués é Mauesense, ou Maueense, qual é a regra?

Resposta:

O gentílico de Maués é mauesense, adjectivo e substantivo (nome) registado no Aulete Digital, com a seguinte definição: «relativo a Maués, cidade do Amazonas; o daí natural ou habitante.»

Juntou-se ao nome do município brasileiro o sufixo -ense, «formador de adj[etivos] (e subst[antivos]) gentílicos, dos 2 g[êneros], do lat[im] -ensis (sing[ular]) ou -enses (pl[ural], do qual, em geral, é feita a sua dicionarização em lat[im], aqui não respeitada); esse suf[ixo] é, por certo, o mais us[ado] em lat[im] para fins gentílicos, sofrendo a concorrência, dentre outros, de -ānus e, mais tardiamente, -īta ou -ītes (de orig[em] gr[ega]); na sua f[orma] vulg[ar], -ense- origina o port[uguês] -ês, esp[anhol] -és, fr[ancês] -ois e -ais; desde o lat[im], seu uso não é exclusivamente gentílico, como em circensis, castrensis e em uns quantos exemplos mais; é mister ter presente que, nos geônimos sem tradição própria dentro da língua e quando seus gentílicos não são introduzidos pré-formados, a tendência predominante é recorrer a -ense, raro a -ês, ou -ano, ou -ita (queniense, paquistanês e paquistanense, cambojano, vietnamita)» [in Dicionário Eletrônico Houaiss].