Carlos Marinheiro - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
Carlos Marinheiro
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Carlos Marinheiro (1941–2022). Bacharel em Jornalismo pela Escola Superior de Meios de Comunicação Social de Lisboa e ex-coordenador executivo do Ciberdúvidas da Língua Portuguesa. Colaborou em vários jornais, sobretudo com textos de análise política e social, nomeadamente no Expresso, Público, Notícias da Amadora e no extinto Comércio do Funchal, influente órgão da Imprensa até ao 25 de Abril.

 
Textos publicados pelo autor

Pergunta:

Podiam dizer-me a diferença entre as seguintes palavras: corno, chifre, haste e chavelho? Sei que algumas referem-se a ossos e outras referem-se a protuberâncias de pêlo solidificadas; umas aplicam-se a determinados animais, e outras a outro tipo de bestas, mas nos dicionários não fica clara essa diferença.

Obrigadíssimo!

Resposta:

A palavra corno (da anatomia zoológica) é «cada um dos dois apêndices ósseos presentes na parte superior da cabeça de muitos ungulados; nos bois, cabras e antílopes é permanente, não ramificado e revestido por uma bainha rígida de ceratina; nos veados é ramificado, trocado anualmente e revestido por pele [sin.: aspa, binga, chavelho, chifre, galho, guampa, guampo, haste]» ou «revestimento rígido e ceratinoso do corno dos bovídeos e de outros animais». Por analogia, ainda se trata de «apêndice ou excrescência na cabeça de diversos animais, à semelhança de cornos, como, p. ex., os tentáculos de um caracol ou as antenas de um inseto; chavelho, chifre».

Assim, as palavras chifre, haste e chavelho são sinónimas de corno, e será o contexto a determinar o uso de uma ou outra.

Corno vem do «lat[im] cornu,us, "chifre, substância de que é feito o chifre, o que é feito de chifre, em forma de chifre"; (...) ; f[orma] hist[órica] sXIII corno, sXIII cornus»; como vocábulo das angiospermas, trata-se de «design. comum às plantas do gên. Cornus, da fam. das cornáceas, que reúne 65 spp., nativas de regiões temperadas do hemisfério norte, algumas da América do Sul e da África, várias cultivadas como ornamentais, por seus frutos comestíveis ou pela madeira», e deriva do «lat[im] cien[tífico] gên[ero] Cornus (1735), do lat[im] cornus ou cornum,i, "pilrito (a planta), pilriteira (a árvore)"; c[om]p[are (com)] corníolo».

Chifre deriva do «esp[anhol] chifle (sXVIII), "corno, especialmente o empregado para conter munições e líquidos"; segundo Corominas, o sign[i]f[icado] básico parece ter sido "tubo" e, antes, "a...

Pergunta:

Qual o significado da palavra fleumático?

Resposta:

O adjectivo fleumático significa «impassível; imperturbável»; «indiferente»; e «pachorrento»; na qualidade de nome (substantivo) é «pessoa que domina as emoções; pessoa serena» e, em psicologia, «tipo caracterológico que se define pelas reacções lentas, pela emotividade difícil e pela ponderação».

A palavra vem «do gr[ego] phlegmatikós, pelo lat[im] tard[io] phlegmatĭcu-».

[Fonte: Dicionário da Língua Portuguesa 2008, da Porto Editora]

Pergunta:

Hoje tive uma dúvida acerca do verbo que se deve utilizar quando queremos dizer que estamos inscritos num curso. É: «Agora ando a fazer um curso de pós-graduação», ou «Agora ando a tirar um curso de pós-graduação»? Espero a resposta.

Obrigado...

Resposta:

Pode utilizar um ou outro: «fazer um curso» ou «tirar um curso».

Com efeito, o verbo fazer significa, entre muitas coisas, «prosseguir um plano de estudos, tendo em vista a obtenção de diploma qualificativo ou grau académico», a exemplo de «Fez os seus estudos universitários em Inglaterra», «Na faculdade, fiz Alemão, Inglês e Italiano», «Que cadeiras estás a fazer neste ano?».

Por sua vez, o verbo tirar quer dizer, entre várias coisas, «obter alguma coisa como resultado de determinada acção ou empreendimento; obter alguma coisa através do trabalho, da experiência» («tirou uma excelente classificação no exame»).

[Fonte: Dicionário da Língua Portuguesa Contemporânea, da Academia das Ciências de Lisboa]

Pergunta:

Agradeço que me esclareçam sobre o modo mais correcto de dizer:

a) «... nem um gesto nem uma palavra conseguem resgatá-lo à banalidade»

ou

b) «... nem ... .... ... resgatá-lo da banalidade»

Qual das preposições é mais correcta?

Muito obrigada.

Resposta:

O Dicionário da Língua Portuguesa Contemporânea, da Academia das Ciências de Lisboa, diz que o verbo resgatar («Talvez do cast[elhano] resgatar») significa «conseguir a libertação de alguém sujeito a cativeiro, a troco de dinheiro ou de outro valor; pagar o resgate»; «efectuar o pagamento de uma dívida; honrar compromisso assumido»; «remir um pecado, uma culpa»; «reabilitar alguém cujo valor, honra... foi maculado»; e «cumprir compromisso assumido». Quer dizer, ainda, «salvar da morte ou ruína», a exemplo de «o banheiro já resgatara muitas vidas ao mar».

Parece-me que é nesta última acepção que se enquadra a sua pergunta: resgatar ao mar, resgatar à solidão, resgatar à banalidade, etc. Em todos estes exemplos, contrai-se a preposição a com o artigo definido (o ou a).

Pergunta:

Mais uma vez tenho de recorrer à vossa ajuda.

A palavra frei pode ser considerada um diminutivo? Ou é só uma redução do nome frade?

Resposta:

A palavra frei («membro de ordem religiosa» ou «cavaleiro das ordens religiosas e militares») é uma variante «apocopada de freire», e não de frade (nem o podia ser); e uma palavra apocopada é aquela que sofreu apócope, ou seja, «supressão de fonema ou de sílaba no fim de uma palavra».

[Fonte: Aulete Digital]