Carlos Marinheiro - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
Carlos Marinheiro
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Carlos Marinheiro (1941–2022). Bacharel em Jornalismo pela Escola Superior de Meios de Comunicação Social de Lisboa e ex-coordenador executivo do Ciberdúvidas da Língua Portuguesa. Colaborou em vários jornais, sobretudo com textos de análise política e social, nomeadamente no Expresso, Público, Notícias da Amadora e no extinto Comércio do Funchal, influente órgão da Imprensa até ao 25 de Abril.

 
Textos publicados pelo autor

Pergunta:

Recentemente vejo várias casas comerciais a anunciarem "epilações", "epilação", ao invés de depilação. Parece-me um francesismo grotesco e ridículo, mas já vi um dicionário conceituado online que continha o termo e cujo sinónimo apresentado era depilação. Já se usará assim tanto para ser aceite esta segunda designação?! Gostaria, se possível, que comentassem este fenómeno.

Resposta:

O Vocabulário da Língua Portuguesa, de Rebelo Gonçalves, datado de 1966 e obra de referência, já regist{#|r}a o substantivo feminino epilação.

O Dicionário da Língua Portuguesa 2009, da Porto Editora, acolhe a palavra epilação, mas remete-nos para depilação (o termo preferível).

O Dicionário de Termos Médicos, de Manuel Freitas e Costa, edição da Porto Editora, regist{#|r}a epilação («de e- e do lat[im] pillum, "pêlo, cabelo"»), dizendo que se trata de «remoção de pêlos ou cabelos pela raiz»; e acolhe depilação («do lat[im] depilare»), mas diz que é «remoção dos pêlos que pode ser efectuada ao nível da pele ou por extracção completa ao nível dos folículos», estabelecendo, assim, uma pequena diferença entre epilação e depilação.

Pergunta:

Devemos escrever e dizer "Alcebíades", ou "Alcibíades"?

Muito obrigado.

Resposta:

O Vocabulário da Língua Portuguesa, de Rebelo Gonçalves, regista o antropónimo Alcibíades, mas ignora "Alcebíades".

O Dicionário Onomástico Etimológico da Língua Portuguesa, de José Pedro Machado, também acolhe apenas Alcibíades; informa-nos, ainda, de que vem «do gr[ego] Alkibiádēs pelo lat[im] Alcĭbĭădēs.» E acrescenta que, «segundo Nunes (p. 36), o nome gr[ego] poderá significar "o dotado de muita força"».

A Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira regista Alcibíades, mas por se ter tratado de um «famoso general, orador e homem de Estado grego, n. em Atenas (450 a. C.). Educado por Péricles, seu tio, recebeu as lições de Sócrates, que, mais tarde, lhe salvou a vida num combate.»

Assim, a grafia deste antropónimo é Alcibíades, embora me pareça natural, devido a duas sílabas seguidas com i, que haja uma tendência, na pronúncia, para a dissimilação do primeiro i, tal como, por exemplo, em Filipe e piscina.

Pergunta:

Deve escrever-se: "espectrometro", ou "espectometro"?

Obrigada pela vossa ajuda.

Resposta:

A grafia da palavra é espectrómetro (termo da área da física), e trata-se de «espectroscópio que tem por função medir os comprimentos de onda das componentes de um espectro de radiação electromagnética»; vem «do lat[im] spectru-, "espectro" + gr[ego] métron, "medida"». Por sua vez, espectroscópio é «instrumento para observar o espectro de qualquer luz».

[Fonte: Dicionário da Língua Portuguesa 2008, da Porto Editora]

Pergunta:

Qual é a origem das palavras deus e diabo?

Resposta:

A palavra deus deriva do «lat[im] dăus,dei, "ser supremo, entidade superior"; voc[ábulo] semi-erud[ito] por infl[uência] da Igreja, paralelo ao fr[ancês] dieu (sIX-X), esp[anhol] dios (sX), it[aliano] dio (sXI); (...); f[orma] hist[órica] sXII deus, sXIII deus, sXIV deos, sXIV dioses». Em religião, teologia, grafa-se com inicial maiúscula, e trata-se de «ente infinito, eterno, sobrenatural e existente por si só; causa necessária e fim último de tudo o que existe»; «nas religiões primitivas, designação dada às forças ocultas, aos espíritos mais ou menos personalizados». É, ainda, «nas religiões primitivas, designação dada às forças ocultas, aos espíritos mais ou menos personalizados»; «ídolo fabricado pela mão do homem e ao qual o primitivo rende culto e atribui determinados poderes»; «nas religiões politeístas, e em especial nas antigas, divindade superior aos homens e aos gênios à qual se atribui uma influência especial nos destinos do universo»; «nas religiões monoteístas, sobretudo no cristianismo, ser supremo, criador do universo». No catolicismo, é «cada uma das três pessoas distintas existentes em um só Deus (Pai, Filho e Espírito Santo)». Em religião, trata-se de «representação figurada de uma divindade».

Em sentido figurado, deus é «indivíduo superior aos demais em saber, em poder, em beleza»; «aquele a que se devota grande veneração e afeição; aquele que é objeto da popularidade; ídolo»; e «o que é objeto ou alvo dos maiores desejos e que se antepõe a todos os demais desejos ou afetos e ao qual tudo sacrificamos».

Quanto à origem da palavra diabo, veja, por favor, a resposta anterior A etimologia de diabo. Significa, entre muitas outras cois...

Pergunta:

Como se diz correctamente?

— «Centésimas de segundo.»

— «Centésimos de segundo.»

Resposta:

O centésimo é «que ou o que corresponde a cada uma das cem partes iguais em que pode ser dividido um todo»; assim, o «centésimo de segundo» é «cada uma das cem partes iguais em que pode ser dividido o segundo». Por isso, a expressão «centésimos de segundo» está correcta.

Quanto a «centésimas de segundo», também me parece aceitável, dado que, ao dizer «centésimas de segundo», está implícito que são, por exemplo, «duas centésimas (partes) de segundo», e a palavra centésimo tem de concordar com o plural feminino partes.