Pergunta:
Por que motivo não se escreve "fémea"? Sendo esta uma pronúncia bastante comum em Portugal (basta fazer uma pesquisa para encontrar até títulos de notícias de alguns jornais com esta grafia), não se deveria aplicar a regra de usar o acento agudo só com função de marcar a sílaba tónica nesta situação (tal como acontece em quilómetro, termómetro, barómetro, manómetro, cronómetro, etc, em que há variação de pronúncia)?
Resposta:
Não se escreve fémea por uma razão que foi dada há mais de 70 anos, nas Bases Analíticas do Acordo Ortográfico de 1945:
«As vogais tónicas a, e e o de vocábulos proparoxítonos levam acento circunflexo, quando são seguidas de sílaba iniciada por consoante nasal e soam invariavelmente fechadas nas pronúncias normais de Portugal e do Brasil: câmara, pânico, pirâmide; fêmea, sêmea, sêmola; cômoro. [...]»
Nessa época, considerou-se, portanto, que a pronúncia normativa da palavra era com e tónico fechado, mesmo em Portugal; e hoje é assim.
Contudo, pelo menos, em Portugal, a experiência mostra-nos que a forma "fémea" está bastante espalhada. Este vocábulo aproxima-se, assim, com casos como os de gémea e Eufémia, que têm acento agudo apenas com a finalidade de marcar a tonicidade, porque a vogal pode vacilar entre os timbres aberto e fechado (cf. gémeo e Eufémia no Vocabulário da Língua Portuguesa, que Rebelo Gonçalves publicou em 1966).