Pergunta:
Por que razão é considerado incorreto uma mulher dizer «o meu homem» em vez de «o meu marido», ao passo que um homem deve dizer «a minha mulher» em vez de «a minha esposa»?
Resposta:
O caso apontado é uma questão de sociolinguística, que diz respeito à distribuição e à avaliação de palavras e expressões por níveis de língua e pelos chamados socioletos, ou seja, os estilos discursivos característicos dos vários grupos sociais. Nesta resposta, não poderemos apresentar uma justificação baseada em circunstâncias históricas concretas, porque muitas vezes o uso de uma palavra ou expressão depende também de uma avaliação que é aceite coletivamente sem grande discussão (a não ser, quando, por exemplo, ocorrem mudanças sociais bruscas, em que grupos e indivíduos são levados a questionar os próprios usos linguísticos estabelecidos).
No português-padrão de Portugal e nos meios urbanos, nas classes média e alta, as expressões usadas e historicamente recomendadas são de facto «o meu marido» (não o «meu homem») e «a minha mulher». Nota-se, porém, que, a despeito de o discursivo normativo considerar como afetada e referencialmente desadequada a expressão «a minha esposa» («esposa» seria a noiva, a prometida que se desposa), o certo é que em certos meios essa forma continua bem viva quando se pretende conferir maior cortesia ao discurso; daí o frequente «cumprimentos à esposa», que, não obstante, muitos podem achar de mau gosto ou piroso.
Ainda sobre mulher, acrescente-se que as outras línguas românicas se assemelham ao português quando, ao contrário do que acontece com o par marido/homem, disponibilizam a mesma palavra quer para «mulher casada» quer para «ser humano do sexo feminino». Por exemplo, o espanhol distingue marido de hombre, mas apresenta mujer nos dois casos; e, em francês, que também marca a diferença entre mari...