Pergunta:
Ao iniciar minha revisão da língua portuguesa (do Brasil), durante a passagem pela história da língua, percebi que havia uma relação entre o galego e o português. Resumindo, constatei que o verbo pedir, no presente do indicativo, é semelhante, porém, não há o ç.
De onde veio, ou porque foi colocado este ç se a suposta forma "arcaica" do português não o tinha (pido)?
Constatei a presença do ç em ambas as [variedades da língua]: português do Brasil e português europeu, no entanto não no galego.
Uma de minhas fontes foi este endereço.
Obs.: Sou formado apenas no ensino médio, não possuo um profundo conhecimento na língua, estou "descobrindo" este mundo com mais detalhes somente agora.
No mais, desde já, agradeço pela atenção.
Resposta:
Transcrevo o que Said Ali, na sua Gramática Histórica da Língua Portuguesa (São Paulo, Edições Melhoramentos, 5.ª edição, 1965, pág. 134), diz em nota, de forma bastante acessível, sobre a história da forma peço, 1.ª pessoa do singular do verbo pedir (manteve-se a ortografia original):
«Do verbo petere ocorrem na Ibero-România duas formas para a 1.ª pessoa do presente do indicativo: peço (de *petio), usado em Portugal e fixado na linguagem literária dêste país desde os mais antigos tempos; e pido (de peto), próprio do espanhol e de alguns falares regionais de Portugal. Observo a este propósito que laboraram em equívoco os que afirmam se usasse antigamente em português literário pido, pida, pidas, etc., em vez de ou a par de peço, peça, peças, etc. Tal maneira de dizer era tida por plebeísmo. Peço é a forma sempre usada nos textos antigos: peço que tu a çerçeasses (Santo Amaro, 514); eu mais bem te peço que nom tenho merecido (D. Duarte, Leal Cons[elheiro] 320); Senhores peço-vos hũu dom: que me outorguedes o que vos quero pedir (Livro de lInhagens fl. XVI); ora vos peço que me talhedes a cabeça com esta spada (Santo Graal 31); peçovos por mercee que me leixedes hir em vossa companhia (ib. 45); eu vos peço tanto que sejades meus ospedes (ib. 51); porem vos peço por merçee que me perdoes (Fernão Lopes, [Crónica de] D. J[oão I] 27); desto vos peço eu perdom e nom doutra cousa (ib.).»
Em galego a forma pido, «peço», é efetivamente resultado da regularização do paradigma verbal, como explica o linguista galego Manuel Ferreiro (Gramática Histórica Galega, Santiago de Compostela, Edicións Laiovento, 1996, pág. 307...