Carlos Rocha - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
Carlos Rocha
Carlos Rocha
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Licenciado em Estudos Portugueses pela Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, mestre em Linguística pela mesma faculdade e doutor em Linguística, na especialidade de Linguística Histórica, pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. Professor do ensino secundário, coordenador executivo do Ciberdúvidas da Língua Portuguesa, destacado para o efeito pelo Ministério da Educação português.

 
Textos publicados pelo autor

Pergunta:

Qual a explicação para a não palatalização (ou pelo menos parcial) das consoantes d e t na região Nordeste do Brasil? Ao mudar-me de Pernambuco para o Sudeste da Bahia/Baía, percebi uma mudança sensível na pronúncia do d e do t que são lidas “dji” e “tchi”, assim como no Sudeste do Brasil; deparei-me, assim como vários conterrâneos, ainda por cima, com o preconceito e com a discriminação por não pronunciar as ditas consoantes com palatalização. Qual a explicação linguística para este fenômeno em ambas as regiões? Gostaria, outrossim, de saber se existe alguma regra que defina a pronúncia-padrão das vogais átonas (como, por exemplo, o e com som de i, ou o com som de u).

Resposta:

Não encontrei fontes que explicassem a ausência de palatalização na região em apreço. Contudo, sabendo que a palatalização da consoantes oclusivas dentais t e d é uma inovação na história da língua portuguesa do Brasil, parece-me que é de inferir o conservadorismo de certos falares de Pernambuco. Explicar tal conservadorismo é, em última análise, uma tarefa da sociolinguística, que tratará de correlacionar essa atitude dos falantes pernambucanos com diferentes aspectos das comunidades em que se integram.

Quanto a uma regra que defina a pronúncia das vogais átonas, a mais generalizada diz respeito às vogais que se encontram em posição pós-tónica final: comer — [koˈme], [koˈmeR] > come, [ˈkomi]; actor — [aˈto], [aˈtoR] vs. acto, [atu]. As descrições referem-se uma tendência no Rio Grande do Sul para pronunciar este e e u finais como [e] e [o], respectivamente. Noutras posições, regista-se certa variação: por exemplo, e e o pretónicos são pronunciados como [e] e [o] no Centro-Sul e [ɛ] [ɔ] no Norte e no Nordeste (os chamados "e aberto" e "o aberto"): pegar — [peˈga] vs. [pɛˈga]; morar — [moˈra] vs. [mɔˈra] (ver Paul Teyssier, História da Língua Portuguesa, Lisboa, Edições Sá da Costa, 1982, pág. 81). Mas é também possível encontrar situações em que as vogais e e

Pergunta:

Durante o tempo em que prestei serviço militar, era frequente designar por "Chicos" os militares do quadro permanente, e por «meter o chico» o acto de, após o serviço militar obrigatório, seguir a carreira militar.

Gostaria muito de saber a origem dessa expressão.

Muito obrigado.

Resposta:

A expressão é de facto muito conhecida, com o sentido referido pelo consulente, mas infelizmente não encontro a sua origem comentada em nenhuma fonte. Talvez algum consulente nos possa dar uma pista.

Pergunta:

Gostaria de saber o que significa a frase «Estás aí, ou és de gesso?». Ignoro se de facto existe, se está deturpada, se tem origem vulgar ou, pelo contrário, se baseia nalguma história e a frase prevaleceu.

Muito obrigada.

Resposta:

Não encontro registo da expressão nem sei de fontes que identifiquem a sua origem. Não obstante, várias hipóteses se podem formular: uma anedota; uma rábula do antigo teatro de revista; um programa humorístico de rádio ou televisão. Mais hipóteses?

Pergunta:

Ao fim de alguns anos de estudo prático com um violino, os violinistas costumam adquirir um calo no pescoço devido à fricção de uma parte do violino chamada «queixeira» ou «mentoneira» com o colo. A essa calosidade costumam denominar por «rodrigo». Gostava de saber como é que a palavra «rodrigo» que define o calo no colo provém, quase com certeza, de «Rodrigo». É que não encontro nos dicionários. Obrigado.

Resposta:

Não nos é por enquanto possível determinar a origem desta palavra. Mas, agradecendo a informação do consulente sobre a existência do termo, aqui fica o registo de rodrigo, substantivo masculino, «calo no pescoço devido à fricção de uma parte do violino chamada "queixeira" ou "mentoneira" com o colo», à espera dos resultados de uma futura pesquisa.

Pergunta:

Sobre a vossa resposta à pergunta «A capital da República da Macedónia», a transliteração seria "Sekópie", como se lê Skopje em macedónio. Logo, talvez, Skopie... Não haverá na Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) uma academia ou outra instituição que possa fazer um vocabulário para resolver (de vez) estas dúvidas toponímicas?

Resposta:

A sua sugestão tem sentido, mas parece-me que o caso em apreço não se resolve tendo em conta uma (simples?) transliteração. Há também certos critérios fonológicos e ortográficos em formas que são aportuguesamento de topónimos estrangeiros. Explico-me melhor:

a) "sekópie" é transliteração possível apenas em português europeu, porque o e átono nessa variedade é de tal modo breve, que muitas vezes cai, permitindo encontros de consoantes: por exemplo, se, entre falantes portugueses, secar soa "scar", então "sekópie" salienta-se como boa transliteração porque soa "scópie";

b) contudo, em português brasileiro (e noutras variedades), a transliteração "sekópie" é estranha, porque a fonologia do português brasileiro, continuando a do português medieval e clássico, impõe a prótese de um e em empréstimos começados por s + consoante: é por isso que Strassbourg é Estrasburgo e não "Setrasburgo", e Stuttgart é Estugarda e não "Seturgarda".

Sendo assim, continuo a achar que Escópie ou Escópia são aportuguesamentos adequados de Skopje.

Quanto às entidades ou instituições que podem intervir na fixação da ortografia da onomástica (incluindo a toponímia), já aqui nos referimos à acção da Academia Brasileira de Letras e da Academia das Ciências de Lisboa (ver Textos Relacionados).