Edite Prada - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
Edite Prada
Edite Prada
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Edite Prada é consultora do Ciberdúvidas. Licenciada em Línguas e Literaturas Modernas, variante de Português/Francês, pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa; mestrado interdisciplinar em Estudos Portugueses, defendido na Universidade Aberta de Lisboa. Autora de A Produção do Contraste no Português Europeu.

 
Textos publicados pela autora

Pergunta:

Tendo em conta a leitura que fiz de algumas respostas a perguntas já efectuadas mas ainda com dúvidas, poderiam confirmar se está correcto, ao abrigo do recente Acordo Ortográfico, em função de minúscula ou maiúscula:

«oceano Atlântico»; «Mar Negro», «mar Mediterrâneo»; «península Ibérica»; «região centro» (de Portugal), «o Norte» (região de Portugal), «Portugal continental», «o Continente» (parte continental de um país); «ilhas Britânicas»; «nordeste transmontano», «sotavento (algarvio)»; «território nacional»; «arquipélago dos Açores», «grupo Ocidental» (Açores); «cabo Carvoeiro»; «serra da Estrela».

Muito obrigada pela atenção.

Resposta:

Na base XIX do Acordo Ortográfico de 1990, alínea g), diz-se que a maiúscula é usada «Nos pontos cardeais ou equivalentes, quando empregados absolutamente: Nordeste, por nordeste do Brasil, Norte, por norte de Portugal, Meio-Dia, pelo sul da França ou de outros países, Ocidente, por ocidente europeu, Oriente, por oriente asiático».

Inserem-se claramente no que esta alínea preconiza as expressões «o Norte (região de Portugal)» e «nordeste transmontano». Como equivalentes, poderemos considerar «região centro (de Portugal)» e «sotavento (algarvio)». No caso deste último, e segundo esta interpretação, se dissermos apenas Sotavento, estamos a generalizar e poderemos usar a maiúscula, enquanto no uso de «sotavento algarvio» se recorre à minúscula.

Por seu lado, na alínea i), é referido que a maiúscula é usada «Opcionalmente, [...] em categorizações de logradouros públicos (rua ou Rua da Liberdade, largo ou Largo dos Leões), de templos (igreja ou Igreja do Bonfim, templo ou Templo do Apostolado Positivista), de edifícios (palácio ou Palácio da Cultura, edifício ou Edifício Azevedo Cunha)».

De uma forma rigorosa, creio que não poderemos incluir os restantes casos nesta alínea. Porém, se alargarmos «logradouros públicos» a referências geográficas, poderemos inserir aqui «cabo Carvoeiro, serra da Estrela, arquipélago dos Açores». E, nesse caso, como de certo modo o uso já consagra, poderemos usar indistintamente a maiúscula, ou a minúscula.

Os restantes casos não sofrem alteração com o novo acordo. Porém, o Vocabulário Ortográfico da Porto Editora, quer na versão em papel, quer na versão em linha, dá-nos pistas sobre algumas das situações que coloc...

Pergunta:

Qual o plural de «a priori»?

Obrigada.

Resposta:

«A priori» é uma expressão latina de valor adverbial, sendo por isso invariável.

Caso mantivesse o valor adjectival inicial, e considerando que estamos perante uma expressão composta por uma preposição, a (ou ab, antes de vogal), e por um adjectivo (prior, prius), poderíamos escrever a prioribus, forma que, todavia, não se utiliza.

Pergunta:

Caros amigos, a locução «na frente de» é utilizada, segundo Aurélio e Houaiss, para denotar «antes de», «anteriormente a». Mas no Brasil é muito comum alargá-la para «defronte», «perante», «diante de».

Exemplo: «Então me sentei no chão para descansar um pouco, sem perceber o que havia na minha frente.»

Encontra-se errado esse uso da expressão acima? Devemos utilizar sempre «em frente de» em casos como esse?

Obrigado pelos préstimos...!

Resposta:

Temos de fazer, creio, pelo que interpreto nos autores que refere, a distinção entre a forma fixa «na frente» e a forma «em frente» que os autores também registam. No caso de «na frente», forma fixa, a leitura é, efectivamente, «antes». Já a expressão «em frente» significa «defronte», «diante». Ora, acontece que a preposição em, criadas as condições, gera a contracção na (no caso em análise, no não é relevante…), podendo dar origem a frases em que «na frente» signifique «defronte», como os autores em análise indicam nos exemplos que dão. Retiro de Houaiss «Os condóminos optaram por uma nova pintura na frente», e de Aurélio, «Não dirá isso na minha frente».

N. E. (2/09/2015) – Com a aplicação do Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa, e conforme a sua Base XV ("Do hífen em compostos, locuções e encadeamentos vocabulares"), o substantivo que em algumas fontes se escrevia frente-a-frente (cf. dicionário da Academia das Ciências de Lisboa) perde os hífenes, passando a grafar-se frente a frente, conforme se regista no Vocabulário Ortográfico da Porto Editora e no Vocabulário Ortográfico Atualizado da Língua Portuguesa, da Academia das Ciências de Lisboa. Note-se que outros vocabulários ortográf...

Pergunta:

Certo gramático brasileiro, cujo nome não vou declinar, costumava criticar acerbamente a designação «ônibus espacial». Ele afirmava que isso equivalia a depreciar essa estupenda maravilha da ciência. Realmente, parece-me muito mesquinho chamar «ônibus» a um veículo espacial de tamanha envergadura. Esta mesquinhez só ocorre aqui no Brasil, pois em nenhum outro país tal invento é chamado «ônibus». O supramencionado gramático dizia que a expressão adequada a esse portento da tecnologia é «lançadeira espacial», devido ao fato de poder ir e voltar, como a lançadeira do tear. Estava certo o gramático? É tacanha e pobre a denominação «ônibus espacial»?

Sempre muito grato!

Resposta:

Perante realidades novas, vêem-se as línguas na necessidade de criar formas de as nomear. Quando essas realidades nos chegam do exterior, já com o nome associado, nem sempre o papel de uma língua é fácil, adoptando-se, normalmente, com o conceito, a designação.

O que temos em «ônibus espacial» é uma adaptação, com recurso, relativamente livre, a uma das traduções possíveis de shuttle. Em Portugal optou-se por outro: vaivém...

Quanto ao facto de a designação de ônibus ser mesquinha, parece-me uma interpretação pessoal que me limito a respeitar, como respeito a sua adopção. Os falantes têm, por vezes, razões que a razão desconhece...

Para mim, o mais surpreendente na escolha de ônibus é a fuga, digamos, ao seu sentido original. Ônibus, chegado à língua portuguesa via inglês, mais não é do que a evolução do dativo latino omnibus (para todos), que surgia inicialmente associado a transporte. «Transporte omnibus» seria (é!) então, um transporte para todos. Ora, não me parece ser esse o sentido ou a função do ônibus espacial, designado, deste lado do Atlântico, vaivém espacial, como já referi.

 

N. E. (6/1/2017)  A forma ônibus (no Brasil)/ónibus

Pergunta:

Por que, na frase abaixo, o emprego do verbo ter, com hífen + a partícula se, está correto? Não poderia usar «... tem se...» (sem o hífen)?

Eis a frase: «O empobrecimento do mundo tem-se agravado nas últimas décadas.»

Resposta:

A colocação do clítico é distinta em Portugal e no Brasil. A frase que submete ao nosso apreço está correctíssima do ponto de vista do português europeu, podendo, eventualmente, ser considerada marginal no Brasil.

Entre nós, a justificação do hífen prende-se com a não aceitação de um clítico associado a um particípio passado, pelo que se associa ao auxiliar. Se o hífen não estiver expresso, o pronome ocorre proclítico ao particípio, o que seria sentido, em Portugal, como pouco adequado.

Sobre este assunto poderá consultar o documento Verbos Auxiliares no Português Brasileiro.