Edite Prada - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
Edite Prada
Edite Prada
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Edite Prada é consultora do Ciberdúvidas. Licenciada em Línguas e Literaturas Modernas, variante de Português/Francês, pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa; mestrado interdisciplinar em Estudos Portugueses, defendido na Universidade Aberta de Lisboa. Autora de A Produção do Contraste no Português Europeu.

 
Textos publicados pela autora

Pergunta:

Gostaria de saber qual será a forma correcta:

«O número de operadoras passa de duas para três.»

ou

«O número de operadoras passa de dois para três.»

Muito obrigada.

Resposta:

A sua questão aborda um problema de concordância pouco habitual e face ao qual não encontrei registo explícito. Com efeito, habitualmente, sempre que se coloca o problema da concordância com expressões do tipo da que apresenta, a concordância foca-se no verbo e na sua relação directa quer com o núcleo do sujeito (singular), quer com o nome encaixado, ou seja, o que é introduzido pela preposição de.

Ora, esse aspecto não é problemático para si, optando sempre pelo singular. O problema coloca-se com a concordância dos numerais variáveis em género, mais concretamente no numeral dois, ou duas. Deve o numeral concordar em género com o núcleo, ou com o nome operadoras?

Pessoalmente, prefiro a hipótese «O número de operadoras passa de duas para três», em que o numeral concorda com operadoras, sem, contudo, poder garantir-lhe que a outra hipótese seja completamente errada. Na verdade, em situações semelhantes, quando o que está em causa é a concordância com o verbo, embora se prefira o singular, o plural é aceite como igualmente adequado, ainda que destacando o segundo nome e não o nuclear. Creio que é isso que acontece quando se opta pelo numeral duas, em detrimento de dois.

Pergunta:

Por que o futuro do pretérito, que indica hipótese, é colocado entre os verbos de modo indicativo? Não seria melhor colocá-lo entre os tempos do subjuntivo?

Obrigado, meus caros!

Resposta:

O futuro do pretérito é um caso específico no âmbito dos verbos portugueses, porque a mesma forma verbal (terminação -ia, etc. acrescentada ao infinitivo dos verbos regulares — andaria) pode veicular uma ideia de tempo com sentido futuro, mas com foco no passado, em exemplos como em «Ao observar o espaço não podia imaginar o que ali se passaria pouco depois», e pode, igualmente, veicular uma ideia de hipótese, em exemplos como «Não sei o que faria se não estivesses presente». Esta duplicidade de sentido faz com que a designação da própria forma verbal seja encarada de formas distintas. No Brasil, regista-se a predominância da ideia de futuro com foco no passado, pelo que se dá à forma verbal, prioritariamente, a designação de «futuro do pretérito». Por seu lado, em Portugal, há uma preferência pela ideia de hipótese, atribuindo-se à forma verbal uma designação que é, simultaneamente, um modo verbal: condicional. Alguns dicionários de verbos e algumas páginas em linha (como, por exemplo, esta) destacam ou registam as duas possibilidades, ainda que dando relevo a uma delas.

Importa referir ainda que o verbo, quando veicula uma ideia de futuro com foco no passado, se situa ou aproxima, efectivamente, do modo indicativo, ao mesmo tempo que, quando veicula uma ideia clara de hipótese, possibilidade, se aproxima do modo condicional.

Pergunta:

Posso ou não escrever, num título, todo em maíúsculas para realce, o h de horas em maiúscula?

Exemplo: «A PROVA TERMINA ÀS 11H» (início de exame, no quadro)? Disseram-me que, mesmo estando o aviso todo em maiúsculas, o h tem de ser minúsculo, por causa de uma norma conhecida em determinado sector da ciência.

Obrigado.

Resposta:

A unidade de grandeza tempo tem um conjunto de símbolos de representação normalizada, como acontece no caso de outras  grandezas e como pode verificar-se na página do Instituto Português da Qualidade.  Entre os símbolos da grandeza tempo, o h representa a hora, devendo registar-se sempre da mesma forma, ou seja, com minúscula, sem ponto e mantendo um espaço entre o número e o símbolo. Nos casos de uma frase toda ela escrita em maiúsculas, poderá optar por escrever 9:00, como se vê com alguma frequência.

Pergunta:

Qual das preposições é correcta depois de se usar o particípio passado do verbo desesperar: Por ou para?

Ou seja, «Estou desesperado por que recebas a minha carta» ou «Estou desesperado para que recebas a minha carta».

Muito obrigado pela atenção!

Resposta:

Nos dicionários de regência consultados, as preposições indicadas para seguirem desesperado são com («desesperado com a situação») e por («desesperado por mudar de vida»).

Embora uma pesquisa Google me tenha permitido identificar muitas situações em que é usada a preposição para, creio ser de evitar o seu uso, sobretudo em frases como a que está em apreço, na qual é mais adequado o uso de por.

Pergunta:

Tenho verificado o uso de «por quê» em algumas traduções, nomeadamente, em contexto televisivo. O que me causa alguma estranheza, pois para mim, seja pronome interrogativo ou substantivo, porquê é sempre justaposto. Ao contrário da grafia brasileira que só usa o porquê justaposto, quando se trata de um substantivo.

Penso que esta confusão se deverá ao fenómeno do porque/«por que (razão)». No entanto, gostaria que me esclarecessem se existe alguma regra em português europeu em que o «por quê» se aplique.

Obrigada.

Resposta:

Não encontrei nenhuma referência que justifique o uso de por quê, enquanto locução, embora, tal como a consulente, tenha encontrado, em linha, algumas situações em que é usado.

Creio que poderá ser, como refere, uma interferência do uso de porque e por que. No entanto, a prática mais comum em Portugal é o uso de porquê, tanto nas interrogativas dire{#c|}tas como nas indire{#c|}tas, ou, ainda, quando o vocábulo é usado como substantivo.