F. V. Peixoto da Fonseca (1922 — 2010) - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
F. V. Peixoto da Fonseca <BR> (1922 — 2010)
F. V. Peixoto da Fonseca (1922 — 2010)
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Fernando Venâncio Peixoto da Fonseca (Lisboa, 1922 - Lisboa, 2010) Dicionarista, foi colaborador da Enciclopédia Portuguesa e Brasileira e da atualização do Dicionário de Morais, membro do Comité International Permanent des Linguistes e da Secção de História e Estudos Luso-Árabes da Sociedade de Geografia de Lisboa, sócio de Honra da Sociedade da Língua Portuguesa e da Academia Brasileira de Filologia. Antigo decano dos professores do Colégio Militar, era licenciado, com tese, em Filologia Românica, distinguido com a Ordre des Palmes Académiques. Autor de várias obras de referência sobre a língua portuguesa, entre as quais O Português entre as Línguas do Mundo, Noções de História da Língua Portuguesa, Glossário etimológico sobre o português arcaico, Cantigas de Escárnio e Maldizer dos Trovadores Galego-Portugueses, O Português Fundamental e O Ensino das Línguas pelos Métodos Audiovisuais e o Problema do Português Fundamental. Outros trabalhos: aqui.

 
Textos publicados pelo autor

Pergunta:

Lembro-me de que sempre vi escrita a denominação Média-Pérsia para designar a união dos medos e dos persas (o segundo grande império mundial), mas de uns tempos para cá tenho observado a estranha grafia Medo-Pérsia para referir-se ao mesmo império. Acho-a inusitada porque medo é adjetivo e Pérsia é substantivo. Julgo que o nome correto desse antiqüíssimo império deve trazer os dois substantivos: Média-Pérsia. Que dizeis?

Muito grato.

Resposta:

O adjectivo medo-persa é relativo a Medos e Persas: império medo-persa, isto é da Média e da Pérsia. Os Medos eram os naturais ou habitantes da Média, tal como os Persas o eram da Pérsia.

Medo é o adjectivo relativo à Média e o substantivo que indica o natural ou habitante deste país.

Também prefiro a designação Média-Pérsia.

Pergunta:

Estou a ler textos de crítica literária e frequentemente vejo a forma «mesmo se» em vez de «mesmo que»; e «ainda se» em vez de «ainda que». Estará correcto?

Exemplos:

«Vou restringir-me a tal facto, mesmo se o que gostaria de afirmar é que a questão vai além.»

ou

«Ainda se bem fundamentadas, as razões não procedem.»

Resposta:

Ainda que é locução conjuncional concessiva (p. ex., «ainda que lá vás, não venhas tarde»). Ainda se também o é (p. ex., «ainda se lá fores, não te demores»). Mesmo que e mesmo se igualmente têm o mesmo emprego («mesmo que lá vás» ou «mesmo se lá fores»). Como vê, trata-se de locuções de emprego minímo.

Pergunta:

Pergunto-vos se existe alguma relação etimológica entre as palavras múnus e remuneração.

Grata.

Resposta:

Múnus vem do latim mūnus, que significava cargo, função, dádiva, graça, funeral, espectáculo. Remuneração tem por étimo o latim remuneratio (pelo acusativo remunerationem) e já queria dizer «remuneração, recompensa». Munus tem ainda o sentido secundário, mas muito frequente, de presente que se dá (e não que se recebe). De munus provêm ainda os verbos munerare, «fazer presente de», e remunerare, «recompensar, gratificar».

Pergunta:

Gostaria de saber se a palavra "adeuses" existe, formando-se através do plural do nome adeus, i. e., «as despedidas» «os adeuses».

Resposta:

Existe, como se pode verificar, por exemplo, nesta citação de Machado de Assis (Dom Casmurro, p. 172): «Conto também os adeuses do velho Pádua.»

Pergunta:

Um amigo meu enviou-me um texto que eu duvido que fosse escrito nos meados do século XIX.

Por exemplo, inclui as seguintes frases:

1. «Por corrigir os 10 mandamentos, embelezar o Sumo Sacerdote e mudar-lhe as fitas.»

2. «... alargar as pernas ao Tobias.»

Estes fragmentos dão-me a ideia que são ortografia contemporânea e não de 1856. Não seria que se escrevia "Thobias" em vez de Tobias?

Já estou nos EUA há 40 anos, mas, se me clarificar, agradecia muito.

Obrigado.

Resposta:

Tobias com h (Thobias) nunca foi correcto em português, em época alguma.