José Mário Costa - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
José Mário Costa
José Mário Costa
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Jornalista português, cofundador (com João Carreira Bom) e responsável editorial do Ciberdúvidas da Língua Portuguesa. Autor do programa televisivo Cuidado com a Língua!, cuja primeira série se encontra recolhida em livro, em colaboração com a professora Maria Regina Rocha. Ver mais aquiaqui e aqui.

 
Textos publicados pelo autor

Pergunta:

Como se escreve Helder?

Resposta:

Escreve-se com acento agudo no primeiro "e": Hélder. Segundo José Pedro Machado, no seu Dicionário Onomástico Etimológico da Língua Portuguesa (ed. Livros Horizonte, Lisboa), o nome terá origem germânica, devendo estar relacionado com o porto holandês (Den) Helder, vocábulo que significará «luminoso», «límpido». E acrescenta J.P.M.:

«Trata-se de elemento onomástico corrente, usado muito mais como antropónimo do que como apelido, embora, como creio, este seja a origem do outro; houve confusão com Elder, que também se atesta como antropónimo, tal como Hélder se atesta como apelido.»

Pergunta:

Troglodita  e cavernícola: quando se usa em registo técnico e em linguagem coloquial?

Resposta:

Troglodita e cavernícola podem ser sinónimos («que vive ou se refugia  em cavernas»).

Troglodita  deriva do grego troglodytes, pelo latim troglodyta. Tem esse sentido idêntico ao de cavernícola – «que vive em cavernas», como adjetivo, e «pessoa pessoa que vive ou debaixo da terra», como substantivo, ambos tanto para o feminino como para o masculino –, mas também se usa em sentido figurado, muito comum no registo coloquial: «pessoa rude», «pessoa grosseira». No plural, designa o grupo de quadrúmanos, entre os quais a espécie dos chimpazés.

Carvernícola, usado também como adjetivo e como substantivo dos dois géneros – «que ou o que vive ou se refugia em cavernas» –, chegou-nos do francês cavernicole, por via do latim caverna-, «cavidade» + colĕre, «babitar». 

[in Grande Dicionário da Língua Portuguesa, Porto Editora]

"Destak" é o título de um jornal de distribuição gratuita nas estações dos comboios em Portugal. "Destak": assim mesmo, com aquele k a fazer de que – tal como o do anómalo Kinas. Aquele k no nome da estapafúrdica mascote do próximo campeonato/copa europeu/européia de futebol foi justificado como forma expedita de "passar" melhor o evento que se vai realizar em Portugal, em 2004 (...)

 

Pergunta:

Não parece que a palavra media seja inglesa e sim latina, significando meios e cujo singular é "medium". Tem sido usada pelos anglo-saxões e que a pronunciam “à inglesa” como fazem com outras expressões latinas. Nestas circunstâncias, usar a forma "mídia" é assumir uma submissão cultural próxima da aceitação de um processo de colonização, aliás muito semelhante ao que está a acontecer com a palavra "randomizar" para a qual existe uma palavra latina correcta e perfeita decorrente da palavra aleatório.

Gostava de conhecer a posição do Ciberdúvidas.

Obrigado.

Resposta:

Como já respondemos anteriomente [Cf. «media», média, ¦mídia¦ + "canasto"/canastro + Ainda à volta da palvra latina media], tem toda a razão na crítica que faz a esse modismo da pronúncia à inglesa da palavra latina media. Pronuncia-se /mèdia/, e não /mídia/. Assim como ninguém diz "midiático", mas /mediático/; nem "midiatizável", mas /mediatizável/, por exemplo.

Veja-se ainda em O uso de ‘media’ (= «meios de comunicação social») as reservas quanto à opção dos dicionários da Porto Editora no aportuguesamento  da palavra latina media para "média". E, ainda, a resposta O uso de "media" (= «meios de comunicação social»)

 

P.S.–  No Brasil, adaptou-se a forma escrita "[a] mídia" (como substantivo singular, e não plural), com registo, já, no dicionário Houaiss, juntamente com os derivados "midiático", "midiatização" e "midiatizar". Enfim, mamarrachos "midiáticos" que se introduzem na língua...

 

Cf.. Ouvir ainda a explicação da  linguista Margarita Correia no programa Língua de Todos, na Antena 2, do dia 24/11/209 ,

     Alguns exemplos destes metadiscursos:
     O fogo amigo. O que é "o fogo amigo"? "O fogo amigo" é referido sempre que um míssil apontado para um alvo iraquiano se mostra menos "inteligente" (outra subtileza linguística deste conflito…) e, em vez de atingir o "inimigo" pretendido, lança a morte nas suas próprias forças. Se as "baixas" (outro vocábulo ora muito em voga) não falassem inglês, o "fogo amigo" passaria a ..."danos colaterais".